Carlota nasceu num bonito dia do final de maio, uns anos antes do início da segunda grande guerra.
Décima terceira filha de um casal pobre, de uma aldeia esquecida, neste país, governado na época, pela mão de ferro de Salazar, Carlota viveu os primeiros anos da sua vida, sempre com a sensação de que precisava comer. Pequena, franzina, sempre com um sorriso gaiato no rosto, aparentando ter menos idade do que realmente tinha. Tal como os seus irmãos, não foi à escola, que isso era coisa de ricos, e depois para que precisava uma mulher de estudar?
Uma mulher precisava saber cuidar da casa, do marido, cerzir a roupa dos filhos, enfim ser a fada do lar.
Nunca teve uma boneca, até ao dia que resolveu cortar o vestido de uma das irmãs mais velhas para costurar uma boneca de trapo, conhecida na altura por matrafona, o que lhe valeu uma valente tareia da mãe.
Como era pequena e franzina, na aldeia, ninguém lhe dava trabalho, pois achavam que não teria forças para o executar, pelo que foi ficando em casa até quase aos dez anos, altura em que o senhor João, um dos homens ricos da aldeia, lhe deu trabalho a apascentar o seu rebanho no monte.
Os primeiros dias, foi com muito medo, dizia-se que de vez em quando um lobo esfaimado, atacava o rebanho. Com o tempo foi perdendo o medo. Um dia porém deixou fugir as ovelhas, para uma propriedade vizinha, e o dono deu-lhe uma tareia tão grande,que a atirou para uma cama de hospital. Foi a primeira sova, das muitas que a vida, lhe reservava.
Quando saiu do hospital, já havia outra criança da aldeia a apascentar o rebanho do senhor João, pelo que Carlota regressou à casa paterna. Pouco depois, uma das irmãs mais velhas, já casada e com filhos, pediu aos pais se a deixavam ir lá para casa, era uma ajuda para cuidar das crianças. Para os pais, era uma boca a menos, para repartir a comida que raramente chegava, pelo que acederam prontamente. Foi assim que Carlota chegou à Seca do Bacalhau, na Azinheira, uma pequena localidade, na margem do rio Coina, perto do Barreiro.
Na casa da irmã, não haviam luxos, mas tinha uma cama só para si , e na mesa, sempre um prato de sopa, e um pedaço de pão.
Aí esteve três anos, cuidando dos sobrinhos, até que completou catorze anos, idade com que podia legalmente trabalhar na Seca. Podia ter o seu dinheirinho, coisa que até aí não soubera o que era.
A irmã e o cunhado, mal ganhavam para o sustento da casa, roupas e calçado, só quando a filha do capitão, ou a mulher do empregado de escritório lhes dava, as roupas que deixaram de servir aos filhos, ou de que elas próprias deixaram de gostar. Aí era uma festa, para ela e para as crianças. Com muito jeito para a costura, ela acertava-as ao corpo, e até pareciam novas.
27 comentários:
Gostei! Vida difícil, que parece a ser um bom começo!
Beijo. Boa noite
Pois esta tua crônica, intitulada "Carlota" prendeu minha atenção até o seu final. Carlota era a boneca feita pela menina com o tecido de um vestido da sua irmã mais velha. A menina tinha uma vida difícil, tanto na casa dos pais como quando esteve trabalhando para o homem rico, no trabalho duro que tinha que fazer. Depois melhorou um pouco morando com a irmã, que ir casada, onde foi para cuidar de seus filhos. Aí ficou até faze catorze anos, quando já tinha idade para obter trabalho. Uma vida difícil da menina, que comove, tanto pelo trabalho que passou como pela sua bravura.
Parabéns pela bela crônica, amiga Alzira.
Tenha um ótimo final de semana.
Grande abraço.
Pedro
Volto, minha amiga Elvira, para me desculpar por ter trocado o seu nome.
Um grande abraço, Elvira.
Pedro
Querida Elvira, Pedro me falou da tua crônica, muito bonita, emociona. Então vim ler logo e achei o mesmo, história muito bem contada, como sempre. Porém ele se atrapalhou, pois Carlota era o nome da menininha - pelo que li.
Emociona, realmente!
Beijo, querida amiga. Parabéns!
Um ótimo fim de semana, com muitas inspirações.
Nova corrida, nova viagem! Cada uma que começa sem sabermos onde nos leva é uma espécie de sonho.
Siga o baile!
Bom dia. Mais um conto que me parece bom. Gostei deste episódio :))
Hoje:- O acordar da quimera
.
Bjos
Votos de Sábado muito feliz.
Muito bom o início de mais esse conto que acompanharemos por aqui! beijos, chica
Carlota. Já com um percurso difícil. Vejamos o que a vida lhe trará.
Bom começo, Elvira.
Bj
Olinda
Aqui vamos partir para mais uma aventura e esta promete.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Vida dura nos tempos em que se aprendia a dar valor ao trabalho e ao dinheiro, comecei essa azáfama aos 14 anos!
Bom fim de semana amiga Elvira.
bom dia
mais uma historia que começa de uma forma que nos cativa a não perder o resto da mesma.
um bom fim de semana para todos .
JAFR
Acho que acompanhei a história da Carlota, terei de ler mais 1 ou 2 textos para ver se me lembro.
Um abraço.
¡Hola Elvira!!!
He pasado un rato muy entretenido leyendo precioso relato, sobre los pasos andantes de la pequeña Carlota. Será ficción... Pero se parece mucho a uno, de algunos hechos reales que yo he conocido en mis tiempos añejos.
Si, por aquel entonces en vez de ir a la escuela, más de uno se iba a trabajar a otra casa pudiente, sencillamente por un placo de comida y unos harapos, a fin y al cabo.
Cambió mucho la vida a Dios gracias.
Ha sido un placer pasar esta tu casa a leerte. ¡Me ha encantado! Felicidades.
Te dejo mi gratitud y mi estima.
Un abrazo y se muy -muy feliz.
Olá... Já comecei a gostar da Carlota e torcerei por ela a cada capítulo.
Um bom sábado, Elvira. Bjs
Parece um bom começo!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
adoro acompanhar os seus contos, este parece muito envolvente!
Tenha um ótimo fim de semana.
Era uma época dura mas, onde se fizeram homens e mulheres de valor e com valores. Hoje, um qualquer gaiato destes tempos, não saberia fazer nada de nada.
Boa noite, beijinho Elvira
Uma vida já nada facilitada!!!bj
Mais um conto que prende nossa atenção e nos emociona.
Beijos carinhosos!
Ainda no início e já estou a ver o percurso da triste Carlota.
Mais uma história magnífica contada pela amiga Elvira.
Beijinho e bom domingo.
Carlota desafortunada,
passou as passas do Algarve
levou uma carga de porrada
sem ter feito disparate!
Tenha um bom dia amiga Elvira.
Um abraço.
Com esta narrativa levaste-me às Guardeiras, a terras de Moreira, onde, então, existiam famílias numerosas, carregadas de filhos.
Segurei esta nova obra tua que começou bem.
Como narras!
Abraços nossos
OiElvira,
Que vida difícil
Eu sempre tudo que queria com muita birra.
Só estudei, nunca fiz nada em casa, Era ótima aluna e nunca fazia lição de casa a fazia no banheiro da escola rapidinho.
Era terrível.
Um lido adormecer
Lua Singular
Boa tarde Elvira,
Como eram duros aqueles tempos!
Vou continuar a ler.
Beijinhos,
Ailime
Querida Escritora Elvira fico sempre encantada com as historias que publicas aqui, são sempre uma viagem no tempo e a outros costumes que eu desconhecia, os termos característicos da terra, as aflições passadas, as alegrias sentidas por pequenas coisas, e os valores da época tão diferentes dos de hoje. A vida era valorizada nas pequenas coisas... Fico realmente envolvida a ponto de emocionar-me com o sofrimento descrito por você de como era dura a vida, naquele tempo, por conta da guerra, que sabemos só traz dor.
Parabéns e obrigada por compartilhar.
Beijinhos, Léah
.
Me lembra uma daquelas historias fortes que tao bem sabe contar Elvira
Vamos seguir.Sabes que ultimamente,nem sempre consigo dar conta dos meus amigos ,mas vou fazendo da maneira melhor que encontro. ok?
beijinho
Gosto muito quando as coisas começam na base do sacrifício, pois sempre terminam com superação. Pelo que li no primeiro capítulo, a Carlota parece ser deste tipo. Aguardemos!
Abraços,
Furtado
Enviar um comentário