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22.1.18

A VIDA É... UM COMBOIO - PARTE XIII






Encontrava-se sozinha na sala, indecisa, entre ler “Mar me quer” de Mia Couto, que Matilde lhe oferecera pelo Natal, e que ainda não tivera oportunidade de ler, ou procurar na televisão um filme. Martim já dormia, mas ela, inquieta, não tinha vontade de se deitar.
Relembrou tudo o que acontecera naquele dia, desde que o chefe a chamara de manhã, para lhe comunicar que ficaria no lugar de Carlos. Quando assumisse oficialmente, passaria a ser mais um membro da sociedade de advogados onde trabalhava há doze anos, sempre como simples advogada, porque pouco tempo depois de ter entrado como estagiária, o seu patrão e principal acionista da empresa, morrera subitamente, e o filho assumiu o lugar. Ele tinha sessenta por cento da sociedade, e cada um dos outros quatro advogados, mantinha uma quota de dez por cento, que lhe era oferecida, quando era promovido. Amélia era assim a única advogada não sócia, e aquela a quem os outros entregavam os casos que não lhes dava interesse nem lucro.
Por vezes interrogava-se, porque não saía, montava um pequeno escritório e trabalhava por conta própria.  Mas seria começar de novo, e a ela ia faltando a paciência, para tanta luta.
Desde menina, sempre soube que teria que lutar, para conseguir o que queria. Nunca teve ninguém que a amparasse e protegesse. A mãe morrera quando ela tinha três anos, e o pai, vivia demasiado atarefado em conseguir ganhar o suficiente para criar os dois filhos, para se preocupar com as carências afetivas que ela pudesse ter.
Ricardo o irmão, habituou-se a olhar apenas para si, e a viver o seu próprio abandono afetivo, da maneira que menos lhe doesse. Amélia, menina sensível, apenas se sentia feliz quando a avó Maria, visitava o filho e passava dois ou três dias com os netos. Mas as visitas eram sempre muito breves, havia muito trabalho na quinta, e o avô também não gostava de estar muitos dias sem a esposa por perto. No primeiro dia de aulas, Afonso, viu-a sozinha, e foi ter com ela. Deu-lhe a mão e levou-a a participar da brincadeira no recreio. Nesse dia, Afonso ganhou um amor incondicional da menina, que durou até depois da sua morte, quando descobriu a sua traição. Nunca namorou outro homem, nunca sequer trocou um beijo com outro rapaz que não fosse Afonso.
Por isso a traição do marido lhe doeu tanto. E daí o ter-se excluído de viver qualquer outro sonho de amor. Foi opção sua. Então porquê, agora aquele desassossego? Agora que finalmente ia fazer parte da sociedade, era para se sentir feliz, e não estava. Teriam os amigos, razão. Deveria ela dar uma nova oportunidade à sua vida amorosa?
Olhou o relógio. Meia-noite. Tinha passado o serão ensimesmada com os seus pensamentos, não acabara de ler o livro, nem vira o filme. Suspirando, levantou-se, foi à cozinha, aqueceu um copo de leite e bebeu.  Antes de entrar na casa de banho para lavar os dentes, foi ao quarto do filho, aconchegou-lhe a roupa e beijou-o murmurando:
- Dorme bem, meu amor!





Este é o post de amanhã. Porque amanhã não estarei em casa,vou andar por Alcobaça, na rota dos amores de Pedro e Inês.  Provavelmente só vos visitarei à noite se não chegar muito cansada.  

21 comentários:

Larissa Santos disse...

Bem, hoje foi apenas a relembrar coisas do passado. Fico em pulgas .))

Bjos
Boa noite

Os olhares da Gracinha! disse...

Um desassossego bem compreensível! bj

Cantinho da Gaiata disse...

Coitada anda desassossegada, até já começou a se lembrar do passado,gostei de saber.
Bjs

chica disse...

Gostei de mais esse capítulo! Vamos te acompanhando!

beijos praianos, tuuuuuuuudo de bom,chica

noname disse...

Boa viagem Elvira, divirtam-se :-)

esteban lob disse...

La vida, apreciada Elvira, es eso y mucho más. Atractiva historia y preciosa "portada".

Abrazo austral.

Pedro Coimbra disse...

Hoje foi em modo analepse.
Amanhã há mais novidades.
Abraço

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!


Isabel Sá
Brilhos da Moda

Joaquim Rosario disse...

bom dia
É sempre bom fazer uma reflexão da nossa vida. eu que o diga !!!
JAFR

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está a ficar bem interessante.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

No Reino do Infinito disse...

E o comboio da vida de Amélia está a aproximar-se, daí o seu desassossego! I
Infinitos empolgados!

_ Gil António _ disse...

De capítulo em capítulo até ao capítulo final. Gostando de ler e acompanhar...
.
Soneto: * Amor ... ou castigo do coração? *
.
Desejando um dia muito feliz
.

António Querido disse...

Boa viagem a Alcobaça, não canse muito, almoce num restaurante que fica logo de frente ao Mosteiro e (Quem passa por Alcobaça, não passa sem lá voltar).

Com o meu abraço

Cidália Ferreira disse...

Este episódio deixa muitas dúvidas e certezas nos ar, looool estou ansiosa para ler o último :)

NEXT...

Beijo e um excelente dia.

Jack Lins disse...

Olá querida Elvira,
Primeiramente quero te desejar um ótimo ano, repleto de coisas boas.
Quanto ao texto de hoje, muito lindo, voltarei com calma para acompanhar desde o início.
Grande beijo.

FILOSOFANDO NA VIDA disse...

Mais um curioso episódio. Deixou dúvidas par tira nos próximos. Abraços, tenha uma tarde feliz e que se estenda ao anoitecer.
Abraços, tenha uma tarde feliz e que se estenda ao anoitecer.

Teresa Isabel Silva disse...

Aposto que vais trazer mais inspirações depois desse passeio!
Aguardo mais novidades!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

Anete disse...


Vamos adiante, veremos as novidades do capítulo seguinte...
O meu carinho

Edum@nes disse...

Amélia está triste,
não no meio do arvoredo
Amélia, o amor existe
dele não tenhas medo!

Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Muito boa a história com detalhes que me agradam muito.
Beijinhos,
Ailime

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Um conflito interior que mostra o quanto ela está carente de uma amor que a compreenda, dê carinho e respeito.
Beijos!