A voz saiu-lhe seca e rude como um tiro. Assustada, a jovem largou-lhe
o braço e deu um passo atrás.
- Outra vez? Estás muito instável. Não pensei que depois
de cinco anos voltasses assim. Não podes ser o Simão. És apenas parecido com
ele. O Simão que eu conheço não me trataria assim.
Afastou-se a correr, para que ele não visse as lágrimas
que embaciavam o seu belo olhar.
Ele ficou no jardim vendo-a afastar-se. Doía-lhe o corpo e a alma. Sentia-se impotente para
dominar os seus sentimentos. Apertou os punhos. Que podia fazer? Correr atrás
dela e confessar-lhe… o inconfessável? Não podia fazê-lo. Ia odiá-lo. E com ela
toda a sua família. Tinha que se dominar. Disfarçar. Fingir.
Mas ele nunca fora bom a fingir. Desde menino sempre quis
saber a verdade das coisas e ser verdadeiro com os seus sentimentos e as pessoas
que o rodeavam. Sentou-se e fechou os olhos.
Sobressaltou-se ao sentir uma mão no ombro.
- Que se passa, filho? Porque não entras e te divertes
como os teus irmãos? Convivem tão pouco.
- Não se passa nada, pai. Estava aqui a recordar. A
lembrar da primeira vez que entrei nesta casa, para cá morar. Até aí, vivia com
os meus avós.
-Sim? Tinhas cinco anos. Não julguei possível que
te recordasses.
-Pois. Mas na verdade até lembro, da primeira tarefa que
me deste. Disseste para vir para o jardim com os manos, tomar conta deles, e
ter especial cuidado com a Ana porque era ainda um bebé.
- E tu passaste a manhã toda com ela ao colo, - sorriu
Afonso
- Ela gostava. E eu sentia-me tão importante com isso.
O pai sorriu e mudando de conversa, perguntou:
O pai sorriu e mudando de conversa, perguntou:
-Quando é que pensas, deixar Paris e voltar para casa? A
mãe sofre, com a tua ausência.
- Sinceramente ainda não pensei nisso.
- Tens alguém lá que te prenda? – Perguntou encarando-o.
-Não. – Respondeu com firmeza, devolvendo o olhar
- Então filho, juro que não te entendo. Sei que Paris é
uma cidade linda, com uma grande concentração de artistas de todo o mundo,
muitas tertúlias, muita boêmia. Mas será que um homem pode ser feliz só com
isso? Já realizaste algumas exposições e todas foram um êxito. O teu nome anda
sempre associado ao talento. Então, o quê, ou quem, te mantem exilado da tua
pátria e daqueles que te amam?
Engoliu em seco. Mas não respondeu.
Afonso sentiu que havia qualquer coisa que impedia o
filho de regressar. Qualquer coisa de muito doloroso. Era advogado há muitos
anos. Conhecia a natureza humana. Estava habituado a descobrir nos silêncios,
coisas que lhe queriam esconder. E o filho escondia-lhe alguma coisa. Talvez
precisasse da sua ajuda e não se atrevesse a pedir. Tinha que estar alerta.
- Vamos Simão. Está na hora do jantar.
E os dois homens entraram em casa.
15 comentários:
a passar para acompanhar a história e desejar um ótimo dia!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Coitado do Simão! Lá chegará a hora em que vai compreender que o amor entre ele e a Ana não tem qualquer problema.
Continuo a acompanhar a história com muito interesse.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Será que vai começar a desbobinar? O pai e nós, ficamos à espera!
O meu abraço.
Pobre Simão. Será que não se lembra de que não são verdadeiramente irmãos?
Bj
Márcia
Para ela disse Simão,
vai-te embora Ana
ficando com a paixão que anda
apoquentando o seu coração!
Tenha um bom dia amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Situação difícil a do Simão. Desejo-lhe boa sorte.
Querida Elvira, estive a ler o teu conto desde o começo e, como sempre, interessantíssimo. Cá fico à espera do desenrolar dos acontecimentos. Um beijinho e tudo de bom para ti e para todos aí em casa.
Emilia
olá!
Adorei!
Conhecendo o blog hj e adorando!
Vou ficar por aqui pra não perder nadinha!
Bjus
Taty
Na Casa dos Abrantes
Canal
Simão é um dissimulado, afinal
Simula é mal
é mesmo mau, no fingir
Curioso pelo que aí vem...
Um abraço
Sigo os seus textos
Teremos livro?
Aguardo na minha escarpa
Pois é... inconfessável?... qual será o segredo de Simão?
Oi Elvira,
Amanhã volto quero saber o que acontece com simão."Arrumei a outra postagem".
Beijos
Lua Singular
Boa noite, querida Elvira!
Não sabe o bem que me está fazendo essa história... nada é por acaso!
Bjm muito fraterno
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