Tinham acabado de adormecer as crianças. Já era tarde, e
ela estava cansada. Mais do que isso, estava nervosa, inquieta. Há meses que
descobrira o amor pelo marido. Desde então, tantas vezes se deixava levar pela
imaginação sonhando com ele. Mas Afonso parecia não reparar nela. Com os filhos
era amoroso. Francisca tinha-o surpreendido várias vezes emocionado com eles.
Mas com ela era diferente. Era gentil, educado, mas nada
mais. Mas esta noite parecia diferente. Como se a parede invisível que parecia separá-los tivesse desaparecido.
Abriu-lhe a porta, e desviou-se para ela passar.
- Senta-te.
Indicou-lhe o sofá. Esperou que o fizesse, e sentou-se
quase a seu lado.
- Faz hoje onze meses que entraste no meu escritório.
Estavas nervosa como agora e pareceste-me muito tímida. Fiz-te uma proposta,
aceitaste e pouco depois fazias parte das nossas vidas.
Remexeu-se inquieta. Porque lhe estava a contar aquilo
que ela sabia bem demais? Com que finalidade relembrava agora aquele dia? Teria ela feito alguma coisa que não podia, segundo aquele malfadado contrato? Mas o quê? Se ao menos não tivesse rasgado a sua cópia, quando percebeu que se tinha apaixonado por ele.
Sem capacidade de lhe adivinhar os pensamentos, Afonso
continuou:
-Tornaste-te rainha e senhora desta casa, por mérito
próprio. Mas continuas a ser um mistério para mim. Sei que aceitaste a minha proposta
por necessidade absoluta, a Graça falou-me qualquer coisa sobre isso. Gostava
que me falasses de ti.
- De mim?
Espantou-se. Não acreditava que um advogado, entregasse a
sua vida e a de suas filhas a uma mulher sem fazer uma investigação sobre ela.
E tinha razão, Afonso tê-la-ia feito, não fora a total confiança que a irmã tinha na amiga.
- Sim. Tenho a certeza que a minha irmã te contou tudo sobre
mim, o meu amor por Olga, e a minha dor quando a perdi. Mas a mim, só me disse que podia confiar em ti de olhos fechados.
Solidariedade feminina.
De tudo o que Francisca ouviu, o seu coração apaixonado, reteve apenas a frase. " o meu amor por Olga".
Sentiu vontade de chorar. Tentando disfarçar a mágoa, fez o que ele lhe pedira. Falou de si. Contou do seu desgosto por não
ter ido para a faculdade, da pressão dos pais para que se casasse com o filho
dos amigos, da vida na cidade, do desastre financeiro do marido e do seu gesto
cobarde, que a atirou a ela e aos filhos para uma vida de desespero e privação. Calou-se ao mesmo tempo que deixava escapar um soluço angustiado.
Durante os próximos 6 dias estarei fora. Não sei se conseguirei visitar-vos.
Esta história continuará a sair, pois está programada.
Se não for antes, até à volta.
Se não for antes, até à volta.
14 comentários:
Foi uma boa conversa entre os dois... Necessária! Vamos esperando! bjs, chica
a passar por cá para acompanha a história e desejar um ótimo dia!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Olha, eu, por mim, continuarei religiosamente a passar por aqui e a ler...
:)
Querida amiga, este "Estranho Contrato" está muito bem levado, com argumentos de peso e razões que são do dia a dia. Nota-se que es uma grande observadora do mundo que te rodeia e ademais sabes transportar à escrita essas notas de sentimentos e raiva que o mundo tem: felizmente tão só por vezes.
Estou a gustar muito. Até já o comentei na Aula de Cultura Portuguesa de Valência. Estão a seguirte!
Abraços de vida e boa viagem.
Vamos aguardar tomara que o sentimento seja reciproco.
bjokas =)
Como já não falta muito tempo para o Natal. Se antes não acontecer? Se calhar é na noite consoada, depois da ceia, que Afonso e Francisca vão fazer a festa deles. é enquanto o Papai Noé, distribui os brinquedos pelas crianças?
Boa noite amiga Elvira, uma abraço,
Eduardo.
Afonso continua a agir muito com a razão, vamos ver quando é que ele passa a agir com o coração...!
Os dois já gostam muito um do outro, mas ainda não sabem o que o outro sente.
Bjn
Márcia
Olá Elvira!
Muitas mulheres passam por isso: a pressão imposta pelos pais, que certamente só querem o melhor para os filhos mas acaba por ser uma fonte de infelicidade no futuro.
Abraço
Até já Elvira :)
Venha de lá esse romance que os pombinhos já têm o ninho feito!
Aguardando o desenrolar da acção!
Beijinhos
Acho que já está mais do que na hora de cada um dizer quem sou, o que sinto e o que quero. Continuo gostando e aguardando os acontecimentos.
Abraços,
Furtado
Uma boa conversa atinge a uma boa solução para todos. o Natal será maravilhoso, é o que sinto.
Beijos
Minicontista2
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