Esperando por Francisca, Afonso recordava aquela tarde três meses antes, quando Graça lhe aparecera no escritório, com aquela que hoje era sua mulher. Habituado a ver belas e desenvoltas mulheres, a jovem parecera-lhe um ser indefeso e assustado. Avançou para ela.
- Boa tarde. Sou Afonso, advogado, viúvo e com duas
meninas de tenra idade. Parece-me que a minha irmã já lhe falou do nosso plano.
Pretendo alguém de confiança, que goste de crianças e que possa criar as minhas
filhas com carinho. A Graça contou-me a sua situação, sei que está com
dificuldades e precisa de ajuda para criar os seus filhos. O que lhe proponho,
não é um casamento normal como é evidente, mas um casamento de conveniência, de modo
a que os meus sogros não possam ter a veleidade de me tirarem as crianças,
alegando que não tenho tempo para elas, ou que estão entregues à empregada.
Casando-me, aos olhos da comunidade tenho uma família estável. Eu cuidarei que
nada falte a seus filhos, e você cuidará que as minhas não sintam a falta da
mãe nestes anos mais próximos em que ela tanta falta faz. Elas são demasiado pequenas, uma tem três anos, a outra, doze meses. Quando crescerem não terão memórias da mãe, mas de quem esteve
sempre com elas. Em público seremos um casal, com uma família feliz, dentro de
casa seremos uma espécie de amigos, ou companheiros de trabalho com deveres comuns. E claro, teremos quartos
separados.
A jovem mantinha-se calada. Dava para ver que estava
nervosa pela maneira como retorcia a asa da mala. Estava envergonhada. Afonso
percebeu-o. Continuou.
- Não fique envergonhada, como se eu estivesse a tentar
comprá-la. Veja isto como um contrato de trabalho, embora seja um contrato
especial. Amei muito a minha mulher. Esse amor é o escudo que não me deixa voltar a pensar em me apaixonar e ter um casamento normal. Só as minhas filhas me interessam. A Graça disse-me, que
também não tem interesse em ninguém. É verdade?
Francisca assentiu com a cabeça. Ele continuou.
-Exijo respeito absoluto. Não posso impedi-la de voltar a
apaixonar-se. Mas se isso acontecer quero que seja franca. Arranjarei maneira
de libertá-la. Estas são as minhas condições. Espero que as aceite e que me ponha as suas. Depois farei um documento escrito que registarei em cartório e cada
um ficará com uma cópia. Não quero correr riscos.
Calou-se. Pela primeira vez a jovem olhou-o nos olhos.
Depois murmurou:
- Aceito as suas condições. Tem razão quando diz que me
sinto como se estivesse à venda. Estou tremendamente envergonhada. Mas o que
me oferece é muito atractivo para uma mãe que vê seus filhos precisados de
coisas tão básicas como vestir e calçar e não sabe como comprá-las. Se não
fossem eles, não estaria aqui. Não me desagrada cuidar das suas meninas e
acredite que o farei de todo o meu coração, tentando que elas não sintam a
falta da mãe. Mas o que me oferece não é um emprego de ama, e daí esta sensação de algo
imoral.
Afonso admirou-lhe a franqueza. Ela continuou.
17 comentários:
Vai dar em romance, aposto!
Bfds
Gostando de acompanhar e esperando mais! bjs, chica
Um estranho contrato mesmo! Entretanto, vamos ver os próximos passos, de repente surpresas podem surgir...
Torcendo... A vida tem umas "ondas" interessantes...
Bom fim de semana, Elvira...
Abraços
Estou como o Pedro isto vai dar romance.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Continuando a acompanhar a história...
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Também acho que vai dar romance.
Bjn
Márcia
Parabéns, Elvira. Estou a gostar muito da narrativa;li, de seguida, os últimos 6 capítulos. Confesso que me surpreendeu, pela positiva, a trama engendrada.
Bjo
Tanto Francisca como Afonso, são pessoas íntegras e de carácter, pelo que daquele contrato só pode resultar uma boa relação de amizade e entre-ajuda ou...
Os próximos capítulos, que aguardo expectante, o dirão.:)
Um abraço, Elvira.
Tenho a leitura de alguns episódios anteriores em falta... Tenho de voltar atrás. :)
Bom fim de semana, Elvira.
Não acredito no que acabei de ler! Melhor dizendo, acredito que os dois pombinhos, dentro do mesmo ninho, não serão capazes de resistir à tentação?
Boa noite e bom fim de semana, amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Um acordo assinado. Promessas de respeito e de muita amabilidade.
O elo mais forte - As crianças.
Oi Elvira
Eu não aguentaria essa situação, iria trabalhar e colocaria minhas filhas na creche. Quanto mais difícil é a vida, mais causos temos que contar aos nossos amigos.
Beijos
Minicontista2
Situação estranha, vamos ver como se desenvolve. Abraço Elvira
Geralmente, a franqueza leva à solução, seja ela boa ou ruim. Continuo gostando.
Abraços,
Furtado
Eu estou amando a história. E bastante curiosa também risos.
Beijos!
A Francisca é uma mulher corajosa...vamos ver!
Enviar um comentário