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27.3.20

DIVIDA DE JOGO - PARTE XVIII



Três semanas se passaram.
 Eva,  perdeu o sorriso que ultimamente voltara a iluminar o seu rosto.  Saía de casa, para o trabalho e deste para casa. Ainda não tinha tido coragem de ir ao orfanato, e naquele sábado tinha que o fazer, pois a Irmã Madalena, telefonara-lhe na véspera preocupada com o seu desaparecimento. Ficaria decerto mais preocupada quando a visse. 
A jovem, perdera o apetite, emagrecera, e nos últimos dias, todas as manhãs tinha enjoos. Fez as contas, e verificou alarmada que o período já lhe devia ter aparecido há doze dias atrás. Doze dias de atraso, ela que era mais certa que um relógio suíço? Uma gravidez, era só o que lhe faltava agora, para agravar a sua situação. Foi à farmácia e comprou dois testes. Fez o primeiro e o resultado positivo repetiu-se no segundo. Como fora possível ter sido tão inconsciente? Como não se lembrara de que interrompera a tomada da pílula depois de ter ficado viúva? Logo ela que sempre se atormentara com o facto de não conhecer os pais, ia trazer ao mundo um filho sem pai. Sim porque apesar de tudo, nem por um momento pensou em abortar.
Embora sem vontade, obrigou-se a almoçar, pensando no pequeno ser que tinha no ventre. E depois do almoço, meteu-se no carro e dirigiu-se ao orfanato. Estava tão necessitada de colo.
A Irmã Madalena, percebeu isso mesmo, mal a viu. Talvez por isso o abraço com que a recebeu foi mais carinhoso que nunca. Depois no seu gabinete, esperou paciente, que a jovem desabafasse.
- E quando cheguei para almoçar, tinha desaparecido, deixando-me esta carta e os documentos de doação da casa, - terminou ela estendendo à freira a missiva que André lhe deixara.
A freira, leu-a em silêncio e devolveu-lha.
- Isso foi há três semanas, e desde aí, nem uma palavra. Que lhe parece Irmã?
- Sinceramente não sei que te diga, Eva. Ao contrário do que aconteceu quando me apresentaste Alfredo, eu gostei do André quando o conheci. Senti que era de confiança, e descansei pensando que não faria nada que te magoasse. O que fez, devolvendo-te a casa, não é de uma pessoa sem escrúpulos. Na carta diz claramente que te ama. Mas quem ama confia, não abandona sem uma explicação. É nestas alturas que eu gostava de ter uma bola de cristal, que me permitisse ver o futuro. Confia em Deus filha. ELE fará o que é melhor para ti. Se te serve de consolo,  pensa no que podia ter acontecido com a atitude maluca do teu marido. Podias ter caído nas mãos de um crápula, ficares sem a casa, teres desaparecido num qualquer antro pecaminoso. E com a Graça de Deus, nada de grave aconteceu. És jovem, tens a tua casa, e o teu emprego, és livre...
- O pior Irmã, - interrompeu-a a jovem soluçando -  é que… estou grávida.
- Valha-nos Deus! - disse a freira abrindo os braços, onde a jovem se refugiou. 



10.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE II




Perdera o apetite, e em consequência, alguns quilos. Sentia-se cansado, nervoso, e uma estranha opressão instalara-se-lhe no peito. A princípio nem ligara, porém os sintomas foram-se tornando mais insistentes, e a mãe começou a insistir com ele para que fosse ao médico. Um seu irmão tinha morrido nos anos antes de tuberculose, e ela estava muito preocupada. Por isso Pedro decidiu que ia ao médico, mais para descansar a sua velha mãe do que por vontade própria.
Estava-se nos primeiros anos da década de cinquenta, do século XX e os meios de diagnóstico no Barreiro, onde nem um hospital havia, eram quase nulos. Havia alguns médicos que tratavam de tudo e mais alguma coisa, já que as especialidades médicas eram muito raras.Quando os médicos não se entendiam com a doença, ou o caso era grave, mandavam-no para um hospital na capital.  
Todavia havia um médico que possuía um aparelho de radioscopia, no qual diziam que as pessoas se encostavam e o médico via logo o coração e pulmões. De modo que Pedro resolveu marcar consulta para esse dia, e por isso saiu mais cedo do escritório.
 A consulta estava marcada para as cinco, e ele chegou ao consultório faltavam quinze minutos para a hora marcada.
Sentou-se na sala de espera e olhou em volta. A sala de espera era simples, toda pintada de branco, com cadeiras a toda a volta, de madeira clara. Pinho, talvez. Numa das paredes o juramento de Hipócrates, numa imitação de papiro emoldurada. Na outra um quadro com uma floresta em tons dourados e vários pássaros esquisitos espreitando entre as folhagens.
Sentadas, sete pessoas aguardavam a sua vez. Uma mulher de meia-idade, de luto pesado, ostentava no dedo anelar duas alianças. Uma viúva – pensou Pedro. Depois três homens. Um deles com um grande bigode de longas guias retorcidas. Vestia bem e devia ter um grande orgulho no seu bigode. Ridículo, pensou antes de afastar o olhar para o seguinte. Este era um homem baixinho, de olhos pequenos e vivos. Vestia mal e tinha mãos grosseiras. Trabalhador de uma qualquer das quintas que existiam na zona, - deduziu. O outro era segurança da C.U.F., bastava ver a farda. Teria saído do trabalho directo para o consultório. A seguir uma mulher ainda jovem grávida.
Ostentava uma enorme barriga, que a julgar pelo tamanho estaria muito perto dos nove meses.
De cabeça encostada à parede, tinha os olhos fechados e uma cor macilenta. As pernas esticadas estavam anormalmente inchadas. Coitada, deve ser um sacrifício caminhar, - pensou.
A seu lado uma mulher mais velha, vestida de preto, passava-lhe de vez em quando um lenço pelo rosto. Apesar de não encontrar entre as duas grande semelhança, Pedro pensou que devia ser a mãe da jovem ou talvez, quem sabe, a sogra.
E finalmente a seu lado um jovem, talvez um pouco mais novo que ele. Era alto, magro, de grandes olhos escuros, rodeados por profundas olheiras violáceas. As suas mãos de dedos longos, não paravam quietas.

12.6.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE XX





- Antes de te expor a minha ideia, quero fazer-te uma confissão. Tenho um amigo, ex-investigador da Judiciária, a quem pedi para te investigar. Deves compreender que aquela carta me deixou meio maluco, pensei que estava a ser vítima de um qualquer esquema, e nem sequer acreditei na história de teres tido uma irmã que se suicidara. Desculpa, não é agradável para ninguém saber que andaram a invadir a sua privacidade, mas deves perceber a minha situação. Por outro lado, eu podia calar-me e talvez nunca viesses a descobrir que o fiz, mas para mim a sinceridade é vital. Também te digo que quando tive o resultado do teste de ADN, fiquei desconcertado, mas esse meu amigo, explicou-me como se processava e foi ele que me disse que só podia ser coisa do meu irmão.  Por razões que talvez te conte um dia, desde a escola primaria, que ele fazia asneiras e arranjava sempre maneira de passar a culpa para mim e ser eu o castigado. Foi o que fez com a tua irmã, apresentando-se como se fora eu. Provavelmente com receio de que a tua irmã descobrisse que ele era casado. E agora temos que resolver este problema. A tua irmã queria que a menina, conhecesse o pai e eu prefiro que ela acredite que eu sou o pai, a que conheça o verdadeiro.
O empregado voltou com os pratos e retirou-se desejando bom apetite.
Ricardo esperou que ele se afastasse para continuar.
- Penso que não é justo, tirar-te a criança, uma vez que seria um sofrimento para as duas, pois como disseste ela nunca conheceu outra mãe. Antes de te fazer a minha proposta, vou perguntar-te até que ponto estás disposta, a sacrificares a tua vida por ela.
- Daria a minha vida, por ela se fosse preciso, – respondeu encarando-o com firmeza.
- Era a resposta que esperava. O que te peço é bem mais simples. Casa-te comigo, e resolvemos o problema.
Ela engasgou-se. De tal modo que parecia sufocar. O seu rosto começou a ficar roxo, e era nítido que não conseguia respirar, nem sequer tossir. Rapidamente Ricardo levantou-se, colocou-se atrás dela, pôs-lhe as duas mãos debaixo dos braços, levantou-a e executou a manobra de Heimlich, fazendo com que expelisse o bocadinho de Salmão, e recomeçasse a respirar. Nessa altura já o empregado se encontrava junto da mesa, a perguntar se era necessário alguma coisa, e havia vários pares de olhos, fixos na jovem, que envergonhada, só tinha um desejo.  Tornar-se invisível. Ricardo ajudou-a a sentar-se e deu-lhe um copo com água dizendo.
- Bebe devagar. Está tudo bem agora. Desculpa, não pensei que podia provocar um acidente.
Esperou vê-la mais calma e só então voltou para o seu lugar na mesa.
- Meu Deus que vergonha! Nunca me tinha acontecido nada assim. Não conseguia respirar, pensei que ia morrer.
- Não te preocupes, pode acontecer a qualquer um. Não te apetece mais? – perguntou ao ver a posição em que ela colocava os talheres.
- Não consigo comer mais nada.
-Nem sobremesa?
- Não. Só café.


24.4.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XXXI




Levantou-se como se desse a visita por terminada. Não parecia o empresário brincalhão que conheceu no primeiro dia, tão-pouco o homem com que lidou no seu escritório, quando duvidou da sua palavra. Muito menos o homem seguro de si, envolvente e sedutor, que conheceu em Sintra. Nem sequer aquele, que ultimamente lhe ligava todas as noites, para lhe perguntar se estava bem, como fora o seu dia, ou como iam os trabalhos de preparação da festa. Parecia mais velho, acabrunhado. Como se algo muito doloroso o tivesse envelhecido de repente. Paula sentiu um aperto no peito. Obedecendo a um impulso perguntou:
- Já jantaste? Não tenho grande coisa para te oferecer, mas se gostares de “pizza” tenho uma na cozinha que podemos partilhar.
Ele estendeu a mão, e segurou-lhe o queixo olhando-a intensamente.
- Sabes que o que desejo partilhar contigo não é uma pizza. De qualquer modo agradeço a tua oferta, mas hoje preciso estar sozinho, fazer uma séria reflexão do que tem sido a minha vida, contabilizar o deve e o haver entre o que me deu e o que me tirou. Amanhã é um dia especial, pretendo tomar algumas decisões importantes para o futuro e quero estar de alma lavada. 
Largou-a e encaminhou-se para a porta.
- Então encontra-mo-nos em Sintra antes da festa, - disse abrindo-lhe a porta.
Ele parou como se fosse dizer alguma coisa, depois colocou-lhe as mãos nos ombros e atraiu-a a si, abraçando-a. Não a beijou. Apenas a abraçou com força, como se necessitasse do calor do seu corpo para viver. Paula não se atreveu a falar. Limitou-se a ficar quieta, sentindo o seu coração bater acelerado. Depois ele largou-a e saiu sem uma palavra. Paula fechou a porta e foi sentar-se à mesa da cozinha com as pernas a tremer. Acabava de reconhecer que se apaixonara pelo empresário. Descobrira-o durante o tempo que durou aquele abraço. Santo Deus, como desejara que ele a beijasse.
“Raio de sorte”,- murmurou entre dentes. “Era só o que me faltava. Depois de um homem mentiroso e traidor, tinha que me apaixonar por outro rancoroso e vingativo. Decididamente, tenho um coração sem juízo”
Afastou a caixa da “pizza”. Tinha perdido o apetite. De súbito lembrou-se do envelope. Foi até à sala e abriu-o. Verificou o conteúdo. Estava tal como naquele dia em que fora aos escritórios, confrontá-lo. A única diferença era um cheque de cem mil euros.Voltou a guardar os documentos no envelope e foi guardá-lo na mala. Foi à cozinha, encheu um copo de leite, e bebeu-o. Apagou a luz e foi para o quarto. Tinha que estar na casa do pai antes do progenitor sair de casa. Depois ia para Sintra, e o dia ia ser muito longo. Despiu-se, enfiou o pijama, foi à casa de banho, escovou o cabelo, lavou os dentes e foi-se deitar.
Uma hora depois continuava às voltas na cama, presa numa inquietação que não a deixava dormir. Temia o dia que se avizinhava. Como ia ela encarar o empresário sem deixar transparecer os sentimentos que acabara de descobrir? Felizmente, depois daquele evento, provavelmente não o veria com frequência, e talvez conseguisse esquecer aquele sentimento, antes que ele criasse profundas raízes no seu coração. O novo dia já adentrava pela madrugada quando extenuada acabou por adormecer.


Como é que ele sabia a morada dela? - pergunta a Susana. Foi dito por duas vezes em episódios diferentes que ele investigou a vida dela.


Porque amanhã é o 25 de Abril, esta história continuará dia 26. Será de novo interrompida a 27 para continuar dia 30. 28 é domingo e 29 o Sexta é aniversariante.