Levantou-se como se desse a visita por terminada. Não parecia o empresário brincalhão que conheceu no primeiro dia, tão-pouco o homem com que lidou no seu escritório, quando duvidou da sua palavra. Muito menos o homem seguro de si, envolvente e sedutor, que conheceu em Sintra. Nem sequer aquele, que ultimamente lhe ligava todas as noites, para lhe perguntar se estava bem, como fora o seu dia, ou como iam os trabalhos de preparação da festa. Parecia mais velho, acabrunhado. Como se algo muito doloroso o tivesse envelhecido de repente. Paula sentiu um aperto no peito. Obedecendo a um impulso perguntou:
- Já jantaste? Não tenho grande coisa para te oferecer,
mas se gostares de “pizza” tenho uma na cozinha que podemos partilhar.
Ele estendeu a mão, e segurou-lhe o queixo olhando-a
intensamente.
- Sabes que o que desejo partilhar contigo não é uma
pizza. De qualquer modo agradeço a tua oferta, mas hoje preciso estar sozinho,
fazer uma séria reflexão do que tem sido a minha vida, contabilizar o deve e o
haver entre o que me deu e o que me tirou. Amanhã é um dia especial, pretendo tomar algumas decisões importantes para o futuro e quero
estar de alma lavada.
Largou-a e encaminhou-se para a porta.
- Então encontra-mo-nos em Sintra antes da festa, - disse abrindo-lhe a porta.
Ele parou como se fosse dizer alguma coisa, depois
colocou-lhe as mãos nos ombros e atraiu-a a si, abraçando-a. Não a beijou. Apenas
a abraçou com força, como se necessitasse do calor do seu corpo para viver.
Paula não se atreveu a falar. Limitou-se a ficar quieta, sentindo o seu coração
bater acelerado. Depois ele largou-a e saiu sem uma palavra. Paula fechou a
porta e foi sentar-se à mesa da cozinha com as pernas a tremer. Acabava de reconhecer
que se apaixonara pelo empresário. Descobrira-o durante o tempo que durou
aquele abraço. Santo Deus, como desejara que ele a beijasse.
“Raio de sorte”,- murmurou entre dentes. “Era só o que me
faltava. Depois de um homem mentiroso e traidor, tinha que me apaixonar por
outro rancoroso e vingativo. Decididamente, tenho um coração sem juízo”
Afastou a caixa da “pizza”. Tinha perdido o apetite. De
súbito lembrou-se do envelope. Foi até à sala e abriu-o. Verificou o conteúdo.
Estava tal como naquele dia em que fora aos escritórios, confrontá-lo. A única
diferença era um cheque de cem mil euros.Voltou a guardar os documentos no
envelope e foi guardá-lo na mala. Foi à cozinha, encheu um copo de leite, e
bebeu-o. Apagou a luz e foi para o quarto. Tinha que estar na casa do
pai antes do progenitor sair de casa. Depois ia para Sintra, e o dia ia ser
muito longo. Despiu-se, enfiou o pijama, foi à casa de banho, escovou o cabelo,
lavou os dentes e foi-se deitar.
Uma hora depois continuava às voltas na cama, presa numa
inquietação que não a deixava dormir. Temia o dia que se avizinhava. Como ia
ela encarar o empresário sem deixar transparecer os sentimentos que acabara de
descobrir? Felizmente, depois daquele evento, provavelmente não o veria com
frequência, e talvez conseguisse esquecer aquele sentimento, antes que ele
criasse profundas raízes no seu coração. O novo dia já adentrava pela madrugada
quando extenuada acabou por adormecer.
Como é que ele sabia a morada dela? - pergunta a Susana. Foi dito por duas vezes em episódios diferentes que ele investigou a vida dela.
Porque amanhã é o 25 de Abril, esta história continuará dia 26. Será de novo interrompida a 27 para continuar dia 30. 28 é domingo e 29 o Sexta é aniversariante.