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31.5.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XLIX

 


Quando Anabela entrou na sala de tratamento no dia seguinte, Tiago já se encontrava deitado de bruços na marquesa de tratamento.

-Bom dia! - saudou enquanto empurrava a cadeira de rodas para junto da parece, admirada que o Joaquim não o tivesse feito. Ela não podia saber que o doente tinha dispensado o empregado e ido sozinho para a sala de tratamento.

Bom dia, - respondeu Tiago, Levantando a cabeça e observando o suave balanço do traseiro feminino enquanto ela levava a cadeira para junto da parede. Porém quando ela puxou a pequena mesa onde estava o aparelho para o início do tratamento e se preparava para se voltar, ele baixou rápido a cabeça, voltando-a para o lado da janela.

Anabela colocou as lacas de TENS e ligou o aparelho dizendo como habitualmente que ele informasse, quando estivesse bom. Depois voltou costas e dirigiu-se à sua mesa, onde tomou notas na ficha do doente.

- Como foi o seu Natal? - perguntou Tiago

A jovem levantou a cabeça, com uma expressão de surpresa no rosto, não só porque não era habitual que o doente encetasse qualquer conversa com ela, mas pelo tom cordial da pergunta.

-Foi bom, obrigada, - respondeu.

Não retribuiu a pergunta. Fitou-o durante uns segundos e voltou a olhar a ficha do doente.

-Passou-o com a sua família? - insistiu ele

Desta vez Anabela pousou a ficha em cima da mesa, e aproximou-se da maca, perguntando:

- O doutor está bem?

-Porquê? – Por me ter interessado em saber se a minha terapeuta, passou bem o Natal? Penso que seja natural, afinal estamos em contacto diário há mais de três semanas.

Naquele momento o aparelho desligou-se e a jovem apressou-se a retirar as placas e a substituí-lo pelo aparelho de ultrassons, respondendo:

-Deve compreender o meu espanto. Afinal, salvo raríssimas exceções, durante todo esse tempo, o doutor, ou estava mudo, ou quando se via obrigado a falar o fazia de forma agreste, para não empregar uma palavra pior, além de ter deixado expresso mais de uma vez que queria que eu fosse embora.

-Penso que já lhe disse uma vez, que quando você veio, eu tinha chegado a um ponto de rotura com a vida, a ponto de só querer que me deixassem morrer em paz.

- E agora? Está pronto para aproveitar a vida, e lutar pela recuperação total? – perguntou enquanto terminava o tratamento e lhe cobria as costas com a toalha e empurrava a mesa com o aparelho para junto da parede, pensando no que teria acontecido de tão importante para que a atitude do doente mudasse de tal modo.

De seguida retirou do hidrocolector a placa de calor húmido que colocou nas costas do doente, não sem antes lhe colocar por baixo mais duas toalhas.

-Se aquecer demais avise. E sim, de certo modo, pode dizer-se que passei o Natal com a família, - disse enquanto se afastava de novo para a sua mesa, a fim de registar na ficha os tratamentos já efetuados.

 

30.5.23

POESIA ÀS TERÇAS - LUÍS RAIMUNDO RODRIGUES - UM POETA



 UM POETA


Tomo do poeta

o alcance das suas palavras

de uma boca que era uma fisga

certeiras as palavras-pedra

tanto mais belas 

quanto mais ousadas

Tomo do poeta

algumas palavras

silêncio

ternura

nobreza

limite

emoção

e a real e crua leitura

das palavras____das incómodas

ruína 

obsceno

maníaco

verme

sémen

junto-as todas e guardo-as

para evitar a morte da poesia e do poeta.


NOTA: Como muitos de vós sabeis o poeta de hoje é o nosso amigo Luís Rodrigues do blogue 

Brancas Nuvens Negras , Este será, (esperamos todos os que gostamos de poesia) o primeiro de vários livros a serem publicados. 

29.5.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XLVIII

 


O dia de Natal na quinta foi vivido, por parte de familiares e empregados de Tiago, com alegria e uma nova fé, na recuperação do jovem, já que além dos progressos visíveis no seu corpo, notavam no jovem a força de vontade indomável, que sempre o guiou, até ao dia do acidente e que parecia ter-se evaporado nele. Agora eles acreditavam no sucesso do tratamento e na recuperação total pelo menos física de Tiago. As mazelas psicológicas seriam mais difíceis de eliminar, mas até nisso havia uma certa esperança, desde o momento em que Tiago telefonara ao tio e lhe pedira a informação sobre um profissional de psicologia.

Pela primeira vez, Tiago manifestou interesse em saber o que tinha acontecido aos seus amigos. Estariam vivos e estropiados como ele ou teriam morrido. Ele lembrava-se vagamente de que havia junto de si um outro médico e uma freira, mas não recordava se todos os outros estavam no edifício que lhes servia de hospital, ou se havia algum outro nas imediações da explosão. Queria saber especialmente do seu amigo Peter, mas Tiago não memorizara o número do amigo e o seu telemóvel, onde tinha o número dele, ficara destruído com a explosão.

Estranhou, quando o telemóvel do pai tocou e este depois de atender a chamada, lhe passou o telemóvel. Mas depressa a estranheza se transformou em alegria ao reconhecer a voz de Peter. Ele queria desejar as boas festas e dizer-lhe que aquela missão tinha terminado, estava de férias e viria a Portugal logo após o Ano Novo para o ver e pôr a conversa em dia.

Tiago quis saber o que se passara depois do seu acidente e se mais alguém fora ferido e foi com tristeza que soube que o outro médico e a freira que estavam com ele, não resistiram aos ferimentos e morreram durante a evacuação. Porém todos os outros estavam bem, o governo enviara soldados para proteger o pequeno hospital, bem como a aldeia onde ele se situava e não mais tiveram nenhum ataque. Também lhe disse que ele guardara as suas coisas e assim que chegara a casa, ligara para a embaixada e conseguira através deles o contacto dos seu familiares.

Telefonara de imediato para saber notícias e resolveram esperar uns dias para lhe fazerem a surpresa naquele dia.

Quando por fim desligou a chamada, e entregou ao pai o telemóvel, e emoção era tanta, que sentia um nó na garganta e os olhos húmidos.

Desde a primeira vez que trabalharam juntos estabelecera-se entre os dois, um forte sentimento de amizade. Talvez porque ambos eram filhos únicos e ambos tinham os mesmos sonhos idealistas. Tiago professava por Peter um sentimento que era mais de irmão do que de amigo, sentimento esse que reconhecia em Peter. E o não saber o que lhe podia ter  acontecido após o seu acidente, pensar que ele também podia estar estropiado ou morto era uma tristeza que lhe pesava no peito e lhe ensombrava o olhar.

28.5.23

DOMINGO COM HUMOR


 

O garoto chega a casa   depois dum exame:

-Oh mãe, chumbei a geografia por não saber onde estava o oceano Atlântico.

-Vês,  como tenho razão quando te digo que és um desarrumado


                                    **********************


Numa convenção subordinada ao tema "sexualidade", o orador a páginas tantas questiona a audiência:

- Quem é que daqui, faz amor todos os dias, levante o braço.
Vários braços se levantaram.
De seguida, continua o orador:
- Podem baixar. Quem é que daqui, faz amor uma vez por semana, levante o braço.
Mais alguns braços se levantaram.
- E quem é que daqui, faz amor uma vez por mês, levante o braço.
Mais alguns braços se levantaram.
Podem baixar. E quem é que daqui, faz amor uma vez por ano?
Ninguém se mexia. Nisto um homem bem no fundo da audiência levantou o braço todo contente e disse:
- Eu! Eu faço amor uma vez por ano! Eu!...
Diz-lhe então o orador:
- Então o senhor faz amor uma vez por ano e está todo contente?
- É que calha hoje!...  calha hoje!...- respondeu o homem.


                                                        *****************


Um homem entra numa farmácia e dirige-se à dona, uma solteirona sexagenária:
- Oh doutora, eu não posso ver uma mulher à frente sem ficar a morrer de desejo, ansiando tocar-lhe, beijá-la, morder-lhe e fazer amor louco com ela a noite inteira… o que é que me pode dar para isto?

Responde a farmacêutica:
- Dou-lhe cama e roupa lavada em minha casa, três refeições por dia, um carro de serviço e quinhentos euros por mês…


                                                         ****************

Numa reunião da Cooperativa Alentejana, diz um dos Alentejanos:
- Compadres, este ano vamos comprar uma máquina nova para apanhar azeitonas que faz tudo sozinha, ela recolhe as azeitonas das árvores, separa as folhas e ramos partidos e até retira os caroços.
Continua o alentejano:
- Vamos aumentar imenso a nossa produtividade e poupar muito na  mão-de-obra.
Diz um dos outros alentejanos:
- Isso parece realmente muito bom, compadre, mas diga-me lá, essa máquina também faz sexo?
Responde o primeiro:
- Sexo?! Oh compadre, claro que não…
Explica o segundo:
- Antão deixe-se lá dessas modernices e  manda vir as moças do ano passado!

                                                        ***************

O pai está a ver as notas do Joãozinho:
- Ó  Joãozinho, o que é isto?! Só três a matemática?
Então o Joãozinho explicou a fraca nota a matemática:
- A  professora, perguntou : Quantos são 3×2. E eu respondi 6.
E o pai concordando com o filho:
- E  está certo, meu filho!
E continuou o Joãozinho:
- A seguir perguntou : Quantos  são 2×3.
E disse o pai:
- F***-se! Então não é a mesma coisa?
E o Joãozinho:
- Pois… Foi exatamente isso que eu respondi à professora!

                                                          ***************

Um rapaz acompanha a sua namorada à porta de casa. São altas horas da madrugada. Encosta-se à parede e entala a sua querida entre a porta e o seu corpo:
- Dá-me lá uns beijinhos num sitio que cá sei!
Responde a rapariga:
- Não, é nojento…
Insiste o rapaz:
- Vá lá…
- Não dou! – recusa novamente a rapariga.
Sem desistir, mais uma vez pede:
- Dá lá… só um!
- Não! – responde a rapariga.
E o discurso manteve-se assim durante um tempo. Entretanto a porta abre-se, surge a irmã desgrenhada e sonolenta e diz:
- Olhe cavalheiro, o meu pai diz para eu dar o beijinho onde você quiser; se for preciso até ele vem cá abaixo e também dá, mas, por favor, tire a mão da campainha da porta que a gente quer dormir…

26.5.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XLVII

 


Tiago aproximou-se da mulher que se encontrava de costas e abraçou-a. Baixou a cabeça e depositou um terno beijo no pescoço feminino, enquanto as suas mãos acariciavam a barriga proeminente de quem está em adiantado estado de gravidez. Sentiu como um empurrando e rindo disse:

-Ena começou cedo, os treinos de futebol, hoje o rapaz.

A mulher riu e iniciou o movimento de se voltar nos braços dele, e exatamente nesse momento Tiago despertou um tanto confuso, sem noção de onde estava.

Passou a mão pela testa suada e pensou que o aquecimento do quarto devia estar muito alto, pois não era normal estar a suar em pleno Natal. Ou seria efeito do sonho. Tentou lembrar de mais alguma coisa mas não conseguia recordar. E que quereria, dizer o sonho que acabara de ter? A mulher grávida era sua mulher, isso ele tinha a certeza. Quereria isso dizer que afinal nada grave acontecera com a sua parte sexual e reprodutora?

Depois de na véspera ter acordado com aquela bendita ereção, ele já sabia que a parte sexual funcionava, mas isso não queria dizer que a parte reprodutora estivesse igualmente bem. E podia ter uma vida sexual satisfatória e ser estéril. Então o sonho seria a confirmação do seu inconsciente de que tudo estava bem, ou apenas a resposta ao enorme desejo que ele tinha de um dia poder ter a sua família? E quem seria aquela mulher? E porque estava de costas? O que quereria dizer tal sonho?

-Bom dia, doutor! - Saudou Joaquim ao entrar no quarto arrancando-o aos seus pensamentos.

-Bom dia, Joaquim. Os meus pais já se levantaram?

-Já sim. Já tomaram o pequeno-almoço e saíram para irem à missa das oito. A senhora sua mãe, queria vir ao quarto, mas o seu pai, disse-lhe que era melhor deixarem-no descansar, viriam vê-lo depois da missa, - disse o caseiro enquanto puxava a cadeira de rodas para junto do leito.

-Acreditas em sonhos, Joaquim? Acreditas que eles nos queiram dizer alguma coisa?

- Sonhos? Acredito que existem, pois já tenho sonhado, muito ao longo da vida. Mas nunca entendi se o que sonhava tinha ou não algum significado para mim.   Quem era muito ligada nisso era a minha falecida sogra. Ela dizia que eles sempre passavam uma mensagem, e que a Bíblia, relata sonhos que avisaram reis de vitórias e derrotas, ainda antes do tempo em que Cristo andava pelo mundo. E as pessoas costumavam procurá-la, quando tinham sonhos que as deixavam intrigadas.

- Que pena que já não esteja entre nós, - disse Tiago dirigindo-se à casa de banho. Nos últimos dias ele começara a ir para o banho sozinho, utilizando a força dos braços para movimentar a cadeira.


24.5.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XLVI



O resto do dia de Natal passou correndo entre a ajuda à amiga, e as brincadeiras com a afilhada. De vez em quando lembrava-se da quinta e pensava como estaria Tiago a viver aquele dia tão simbólico para as famílias. Continuaria isolado no quarto, ou estaria na sala ou na cozinha, convivendo com a família?

Nos últimos dias, tinha-se estabelecido entre os dois, uma relação doente-tratadora, bem mais agradável do que inicialmente, em que detetava no doente uma agressividade latente, embora Anabela suspeitasse que era mais contra a vida e o que lhe acontecera, do que contra ela. Todavia nos últimos dias parecia menos revoltado e mais disposto a lutar pela sua cura.

Ela soube desde início de que havia alguma coisa por trás do seu desespero e da sua vontade de desistir da vida, que não apenas ter perdido o andar. Provavelmente o desgosto de ter sido abandonado pela noiva, a poucos meses do casamento.

-Estás muito calada, amiga. Saudades do teu doutor?

-Não é o meu doutor, Paula. Nem são saudades. É um doente que eu queria ver a interessar-se mais pela sua recuperação, e que temo não conseguir tratar com êxito. Há qualquer coisa nele que ainda não consegui descobrir, que lhe tirou a vontade de viver e de se esforçar pela sua reabilitação. Talvez seja o facto de a noiva o ter abandonado na cama do hospital, a poucos meses do casamento.

Estavam os três sentados na sala. Patrícia já dormia há muito tempo, e olhando o relógio, Anabela disse:

-Meu Deus, são quase onze horas e amanhã tenho de estar na quinta antes das dez para a sessão matinal de fisioterapia. Vou levantar-me cedo, e como é sábado e vocês não têm de trabalhar, é melhor eu despedir-me já.

Levantou-se e abraçou os amigos, depois disse emocionada:

-Obrigado, por me acolherem na vossa família como uma de vós, e por todo o carinho e apoio que me têm dado. Bem Hajam!

Voltou costas sem esperar resposta, pois receava começar a chorar.

Muito cedo na manhã seguinte, levantou-se, tomou um duche rápido, limpou a casa de banho e arrumou o quarto sempre procurando não fazer muito barulho para não acordar o casal, ou a afilhada. Às sete, sem tomar o pequeno-almoço, que decidiu tomar no caminho ou até na quinta, iniciou a viagem de regresso.

 

23.5.23

POESIA ÀS TERÇAS - SAÚL DIAS - AMO-TE TANTO

 


Amo-te Tanto

Amo-te tanto
nem sei porquê!
Que importa o quê
do meu espanto?

Que importa o riso
que me concedes?
Que me embebedes!
Que paraíso!

Indiferente
quero-te assim.
– Sê bem de mim,
de toda a gente…

Rasgou-se o véu
do temporal.
Nem bem nem mal.
Entras no céu.

22.5.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XLV


Anabela acordou sentindo um beijo molhado no rosto. Abriu os olhos e viu a seu lado, ajoelhada na cama a pequena Patrícia. Abriu os braços e a menina correspondeu ao abraço com todo o amor e alegria que só as crianças demonstram, com toda a naturalidade por aqueles que amam. Que bom era que os adultos amassem com a mesma intensidade e fossem igualmente sinceros e transparentes. Haveria muito menos sofrimento no mundo. Mas em qualquer época do nosso crescimento tudo muda, pensou a jovem com tristeza.

- Madrinha, a mãe já está na cozinha. Ela disse para não te acordar, mas eu gosto tanto de ti e queria tanto que fosses brincar comigo um bocadinho.

-À sua malandra interesseira, - disse Anabela fazendo cocegas à afilhada que começou a contorcer o corpito rindo alto.

-Bom, então é melhor que vás ter com a mamã, enquanto eu tomo banho e me visto.

A menina saltou da cama e saiu correndo do quarto. Suspirando, Anabela saiu da cama, pegou na mochila onde tinha a roupa que trouxera e com ela na mão abriu a porta e saiu para a casa de banho no corredor.

Tomou um duche rápido, vestiu-se, tirou o secador do armário e secou o cabelo.

Depois escovou os dentes. Tudo o que estava naquela casa de banho era de seu uso exclusivo. Os donos da casa usavam o quarto maior com casa de banho que sempre fora o quarto de Paula por ter sido ela a alugar o apartamento. Ela e as outras jovens que lá viveram, durante os anos de estudo, usavam um dos dois quartos mais pequenos, e a casa de banho do corredor.

 Quando Paula casou já só lá viviam elas as duas. Conta a vontade de Paula, Anabela arranjou outro quarto mais perto da Universidade, para deixar o jovem casal viver a sua intimidade sem testemunhos, mas Paula fizera questão de sempre manter o seu quarto e a casa de banho para o seu uso sempre que ela quisesse voltar.

 Ela, dava graças a Deus, pela relação que a unia ao casal, que era mais de família, do que de simples amizade. No seu coração carente de afetos, sentia como se Paula fosse sua irmã, Diogo seu cunhado e Patrícia a sua sobrinha querida. E como familiares amados, se portaram os dois, quando a vida com o marido se tornara num inferno. Anabela nunca esqueceria o carinho e o apoio que deles recebeu inclusivo depois da morte do marido.

-Bom dia, - saudou pouco depois ao entrar na cozinha.

-Bom dia, querida, - saudou-a o casal em uníssono.

Sentou-se à mesa dizendo:

-Há muito tempo que não dormia tão bem. Foi como voltar aos meus tempos de estudante.

-Folgo em sabê-lo, mas agora é melhor tomares o pequeno-almoço. Não sei se continuas com os mesmos hábitos daquela época, mas tens aqui iogurte, torradas, manteiga e doce. Penso que de bebida continua a ser o café puro, verdade? - perguntou a amiga.

-Pois sim, um iogurte, uma torrada e café.

 

20.5.23

PORQUE HOJE É SÁBADO


António Zambujo e Miguel Araújo - Fui colher uma romã (Coliseu do Porto)...



 Eu estou bem melhor. Acabo este tratamento terça feira, mas espero se Deus quiser voltar ao vosso convívio na segunda.


Bom fim de semana

16.5.23

POESIA ÀS TERÇAS - ANTÓNIO RAMOS ROSA - É POR TI QUE VIVO

 


É por Ti que Vivo

Amo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva

Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata

Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar

Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto.

ANTÓNIO RAMOS ROSA 


Primeira semana de tratamento completa. Estou bem melhor, mas ainda vou continuar a resguardar os olhos de esforços. Até breve.

11.5.23

INFORMANDO



 Bom Amigos, peço desculpa ainda não ter dado notícias, mas o médico praticamente me proibiu o pc. , pois me deu duas semanas de tratamento intensivo, triplicando a dose das gotas que já fazia, e receitando mais Bromofenac, e Opticol. Além disso disse-me que na primeira semana apenas 10 minutos diários para leituras e computador. Quando não estou a pôr gotas estou de olhos fechados. Agradeço o vosso carinho e informo que volto logo que me sinta melhor.

Até Breve

9.5.23

POESIA ÀS TERÇAS - PABLO NERUDA - A INFINITA


 

A Infinita

Vês estas mãos? Mediram
a terra, separaram
os minerais e os cereais,
fizeram a paz e a guerra,
derrubaram as distâncias
de todos os mares e rios
e, no entanto,
quando te percorrem
a ti, pequena,
grão de trigo, calhandra,
não conseguem abarcar-te,
fatigam-se ao agarrar
as pombas gémeas
que repousam ou voam no teu peito,
percorrem as distâncias das tuas pernas,
enrolam-se na luz da tua cintura.
Para mim tu és tesouro mais rico
de imensidade do que o mar e seus cachos
e és branca e azul e extensa como
a terra nas vindimas.
Nesse território,
desde os pés à fronte,
andando, andando, andando,
passarei a vida.

PABLO NERUDA

Amigos, se amanhã não houver post novo, não se assustem. Há três dias que tenho muitas dores nos olhos, não queria parar, mas não sei se não terei de fazê-lo. Vou hoje ao oftalmologista. 

8.5.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XLIV


Na quinta, Tiago conversava com os pais na grande cozinha, onde eles decidiram que deveriam jantar, por ser mais acolhedora do que a sala de refeições, ter suficiente espaço, e evitar dar trabalho aos dois empregados que passariam a consoada com eles. De resto o doutor Azevedo, e a esposa só se juntariam a eles no dia seguinte para o almoço, já que a consoada, a passariam em casa de filha.

- Confesso que estou muito contente, com a tua evolução, - dizia naquele momento Armindo, o pai do jovem. – Da última vez que aqui estivemos,

correste connosco de um jeito que a tua mãe chorou o tempo todo.

-Desculpa, pai. Eu sei que não me portei muito bem convosco, mas a falar verdade, o meu desespero era tão grande, sentia-me tão revoltado, que a única coisa que desejava era que me deixassem sozinho até que a natureza fizesse a sua parte e eu deixasse de sofrer. Na verdade, mentalmente eu amaldiçoava os médicos, que tanto se esforçaram para me fazer viver.

-Um homem nunca deve perder a esperança, filho. Já te olhaste ao espelho? O teu corpo está bem mais forte, e com a continuação dos tratamentos tenho a certeza de que voltarás a andar. Depois ficarão apenas as cicatrizes, para recordar-te o que te aconteceu e para te lembrar que não é preciso ires para sítios longínquos, onde a paz está tão ausente como o alimento, para ajudares os outros. Aqui no nosso país, há infelizmente muita gente que tem de escolher entre a saúde e a comida.

-Além disso, - acrescentou a mãe, voltando-se para o filho, mostrando que estava atenta à conversa embora os dois pensassem, que estava distraída com a conversa da empregada. Está na hora de arranjares uma boa rapariga, e formares o teu lar. Quando somos jovens pensamos sempre que o tempo passa devagar demais para os nossos desejos. Não é verdade, a vida é curta, passa a correr e quando deres por isso estás demasiado velho para formares um lar. 

-Vamos deixar essa conversa de casamento para outro dia, -protestou o jovem.

- Eu sei que sofreste um desgosto com a Sandra, mas nem todas as mulheres são tão frívolas e egoístas como ela. A tua enfermeira por exemplo, é uma mulher muito interessante e segundo o teu tio é uma ótima profissional e uma excelente moça.

- Mãe, em primeiro lugar, uma boa profissional não se envolve com o seu doente. É  eticamente incorreto. Segundo, a Anabela tem tantas ou mais cicatrizes que eu para curar. E, como deves saber as Cicatrizes da alma, não desaparecem nas mãos de qualquer cirurgião plástico. Terceiro, acho que está na hora de me recolher, a noite vai longa e a cadeira de rodas não é o assento mais confortável do mundo.

-Sei. Tu queres é fugir da conversa. Mas tudo bem, não volto a falar do assunto, todavia não posso prometer que não voltarei a ele. O meu maior desgosto será chegar ao fim dos meus dias e saber que vou partir e te deixo sozinho.

-Por favor, querida. Hoje não é noite para falar de partidas. Vamos falar de coisas alegres, ou recolher à cama se o cansaço começa a tomar conta de nós.

-Boa noite a todos, - despediu-se Tiago enquanto dava a volta à cadeira e se dirigia para o quarto seguido pelo Joaquim.

7.5.23

DIA 7 DE MAIO - DIA DA MÃE


 Festeja-se hoje o dia da mãe. Não, não vou falar da origem do dia da mãe, que já todos conhecem, e se alguém não souber, o dr. Google conta-lhe como foi. Vou apenas desejar a todas as mães do mundo, (e se não faço exceções, é porque as outras, aquelas que abandonam ou matam os filhos, não as considero como tal. São aberrações da natureza, a que me recuso chamar de mães,) um dia muito feliz junto dos seus filhos. 

E queria lembrar aos filhos, que mãe é profissão sem reforma, que se adquire  no momento em que o médico informa a mulher que ela está grávida, até ao último suspiro da sua vida. Não o é apenas no Natal, ou no dia da mãe. E que não vale a pena gastarem muito dinheiro numa prenda toda xpto. Salvo raras exceções, o que a mãe deseja do seu filho, é um abraço, um beijo, um afago no rosto, um sorriso. Algumas se contentavam apenas em receber um telefonema, a perguntar se estão bem.

E não apenas hoje, mas sim, todos os dias do ano.

FELIZ DIA, MÃES!

5.5.23

CICATRIZES DA ALMA, PARTE XLIII

 


- É simpático da parte dele, tanto mais que o tempo que anda de casa em casa é tempo que rouba à família, - disse Anabela

-O Ricardo não tem família, foi criado num orfanato, - respondeu Diogo. É um ótimo rapaz e gosta de ver a alegria das crianças ao receberem as prendas. E na empresa todos gostamos muito dele. Vive num quarto, que o Pedro lhe cedeu gratuitamente a troco de ele lhe tomar conta da casa, quando tem de se ausentar. E nesta época, como o Pedro vai para a terra passar o Natal com os pais, nós combinamos fazer um sorteio e todos os anos o  Ricardo passa o Natal com um de nós.

A minha casa era a última da lista. Agora vai mudar de roupa e vai para a casa do Elísio, com cuja família passará o Natal este ano. É um rapaz atinado, põe de parte todo o dinheiro que pode, a fim de poder alugar uma casa. Qualquer dia arranja uma namorada e casa-se, pois segundo diz o maior sonho dele é ter uma família.

Olhem a Patrícia- disse mudando de conversa e chamando a atenção para a filha que no chão, no meio de vários brinquedos e papeis rasgados enfrentava uma luta entre o sono que lhe ia fechando os olhitos e a vontade de continuar a brincar.

-Não está acostumada a deitar-se tarde, - disse Paula levantando-se. Vou deitá-la. Vens comigo?

-Claro, - respondeu Anabela, levantando-se também.

Paula pegou na filha ao colo e seguiu para o quarto dela, seguida da amiga.

Mais tarde, depois de terem deitado a pequena Patrícia, e se terem juntado a Diogo na sala, Paula disse à amiga:

-Então conta-nos lá, como vai a tua luta com o doutor casmurro.

-Não há muito que contar. Depois de algumas batalhas verbais, a nossa relação doente-cuidadora entrou nos eixos.

- E como é ele como pessoa? Não me refiro ao moral, que um homem que tem saído do seu conforto para cuidar dos desvalidos da sorte, tem por força que ser boa pessoa. Refiro-me ao físico. É bonito, feio, ou …

-Não estou lá para lhe admirar a beleza, ou a falta dela, mas para ajudá-lo a andar de novo…

-Sabemos disso! Mas tens olhos na cara, não acredito que tenhas perdido a capacidade de admirar um homem.

-Depois do que sofri com o Óscar, tenho pouca vontade de admirar a beleza masculina. E quando cheguei, ele estava tão magro, tão magro que fazia aflição e no rosto a barba grande não dava para ver grande coisa, além de uns olhos, que apenas mostravam dor, desespero e vontade de desistir da vida.

 Com pouca vontade de continuar a falar sobre o doente, Anabela levantou-se dizendo:

-Estou cansada. Vamos trocar as prendas, e se não se importam vou dormir.

-Mas, se ainda não tocaste nas filhoses nem em qualquer outro doce! – protestou a amiga.

-Fica para amanhã. Não me apetece nada a não ser um chá, - disse encaminhando-se para a árvore a fim de recolher os presentes que trouxera, para dar ao casal.

3.5.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XLII


Eram quase sete horas quando Anabela chegou a casa de Paula carregada de embrulhos, quase tudo roupas e brinquedos para a sua afilhada, que entregou a Diogo quando ele abriu a porta dizendo:

- Tenho de voltar ao carro buscar a mala e o resto dos embrulhos.

-Entra. Está muito frio na rua. A Paula está a dar banho à Patrícia e eu vou só pôr isto debaixo da árvore e já vou buscar o que te falta.

A jovem aguardou que ele pousasse os embrulhos e entregou-lhe as chaves do carro dizendo-lhe:

-Vou ter com as meninas.

- No quarto da afilhada, Paula acabara de vestir a menina com um bonito pijama vermelho, que exibia um barbudo Pai Natal na parte de cima e dezenas de renas, nas calças.

-Olha, mãe a madrinha chegou, - disse a criança saindo a correr para os braços de Anabela que a ergueu do chão e lhe cobriu a carinha mimosa de beijos, perante o ar sorridente da mãe.

- Meu Deus, Paula como ela cresceu durante este mês! E já diz madrinha corretamente.

- É verdade! As crianças nestas idades surpreendem-nos todos os dias. E tu como estás?

Anabela pousou a criança no chão e abraçou a amiga. Só depois respondeu:

-Vai-se vivendo.

-Anda, o jantar está pronto, vamos jantar. Depois de deitar a Patrícia temos a noite toda para pôr a conversa em dia. Tens sido uma amiga má. Os teus emails só pedem notícias e dizes que estás bem, mas nunca falas do doente, nem de como ele tem evoluído.

Enquanto as duas se dirigiam à cozinha para levar o jantar para a mesa, na sala, Diogo impedia a filha de começar a rasgar os embrulhos que estavam debaixo da iluminada árvore. Pouco depois Anabela dava a sopa à afilhada, seguida de um puré de batata e cenoura com pequenas lascas de bacalhau a que foram cuidadosamente retiradas todas espinhas. Só depois da pequenita ter comido, os adultos iniciaram a refeição que decorreu em ambiente de sã amizade e camaradagem.

Depois do jantar, as duas amigas levaram a loiça suja para a cozinha, e voltaram a pôr a mesa com diversos pratos de iguarias tradicionais, entre as quais o famoso bolo-rei, o arroz-doce, os sonhos e filhoses, bem como os frutos secos, figos, nozes, amêndoas e outros.

Tinham acabado de pôr a mesa, quando a campainha tocou.

- Quem será? – perguntou Anabela, enquanto Diogo pegava a filha ao colo e se dirigia para a porta.

-É o Pai Natal, - respondeu a amiga rindo.

E na verdade, Diogo regressava com a figura do simpático velhinho, perante o olhar admirado de Anabela.

- Ô-Ô-Ô. Que linda menina temos aqui. Sabes quem eu sou? Eu sou o Pai Natal. Vim trazer um presente que me esqueci de deixar a noite passada debaixo da árvore e dizer que assim que eu sair já podes abrir os eus presentes, - disse estendendo-lhe uma caixa que a criança aceitou os olhos brilhando de alegria.

O Pai Natal despediu-se em seguida dizendo que ainda tinha muitos presentes para entregar, e Diogo acompanhou-o à porta, despedindo-se dele com um abraço de agradecimento. Logo voltou para a sala, separando os presentes para a filha e colocando na sua frente para que ela abrisse.

Na cozinha, Anabela perguntou:

-Quem era?

-Um colega do Diogo. Veio entregar o presente da firma. Como é solteiro é o encarregado de manter vivo a figura do Pai Natal para os mais pequenitos. Já o fez o ano passado, mas na altura estiveste de serviço no hospital.