Duas semanas e três dias depois…
Teresa encontrava-se sentada
no sofá da sua sala.
No regaço tinha um livro
aberto, “A Bíblia da Gravidez”, mas o olhar perdia-se no espaço, para além da
janela, e o pensamento recordava a conversa tida, com o pai biológico do seu
filho. Saber quem era, tinha as suas vantagens, sabia que o bebé tinha os genes
de um homem inteligente, empreendedor, e porque não reconhecê-lo? - bonito. Por
outro lado, agora em sossego permitia-se interrogações que na altura não lhe
surgiram, e que eram uma preocupação acrescida. Ele dissera querer fazer parte da vida
da criança, antes mesmo do seu nascimento. Queria acompanhá-la às consultas, às
ecografias e no parto. Estava no seu direito, se ela fosse casada ia querer ter
o marido consigo nessas alturas. O problema, é que o pai biológico do seu filho
era alguém completamente desconhecido. Como é que ela ia permitir situações que
lhe iam expor parte do seu corpo? Ainda que os dois viessem a desenvolver uma relação
de amizade, uma mulher não partilha a sua intimidade com os amigos. Como é que
não lhe ocorrera isso durante a conversa? E como ia agora abordar o assunto com
o empresário?
Será que estava a ser demasiado pusilâmine? Afinal ia fazer trinta anos, não era uma adolescente. “Uma adolescente hoje em dia, sabe mais da vida, e das relações íntimas que tu” segredou-lhe uma vozinha na sua cabeça. E era verdade.
Crescera a ouvir a sua avó a
dizer-lhe que não devia confiar nos homens, que eles eram seres egoístas,
incapazes de amar. “Olha para a tua mãe, rapariga. Não lhe bastava o meu
exemplo, nem o desprezo do pai que desde que nos abandonou, nunca mais se
lembrou que tinha uma filha. Tinha que se deixar enrabichar por uma cara bonita
e meia dúzia de palavras estudadas para a iludir. E o que é que ganhou com
isso? Um coração cheio de amargura e uma filha para criar”.
A sua mãe, nada dizia, mas tantas vezes a viu chorar, que sem se dar conta, o seu inconsciente foi criando barreiras que a afastavam do sexo oposto, desde muito nova. Mais tarde, já na cidade, a frequentar a Universidade, e vendo as colegas felizes com os seus namorados, desejou ser como elas, e durante algum tempo tentou cultivar amizades com os rapazes do seu curso. No segundo ano aceitou até as juras de amor do Alfredo, um colega dois anos mais velho, que pouco depois, estava a tentar levá-la para a cama. Teresa, achava que ainda era muito cedo, recordava a história da avó e da mãe, e tinha medo de entregar a sua virgindade, sem que a relação fosse mais séria. Porém numa festa de anos de outra colega, bebera mais que a conta, e acabara sendo convencida. E não podia ter sido pior. Não só porque estava bêbada, e não se recordava de parte do que acontecera, mas também porque a atitude do namorado depois disso mudou por completo. Ele só queria ter sexo, e um tanto arrependida, Teresa disse-lhe que não voltaria a ir para a cama com ele enquanto não tornassem oficial o noivado. A resposta foi como uma facada no peito. Alfredo disse que não ia haver noivado nenhum, não tinha idade para se prender, numa relação dessa natureza. Mais, disse-lhe que ela era uma antiquada, e que ninguém espera casar com a primeira pessoa com quem dorme, isso era no tempo dos seus avós ou bisavós. Teresa convenceu-se então de que os príncipes só existiam nas histórias para crianças. Na vida real só existiam sapos. Mais, pensou que a sua avó sempre estivera certa, e jurou a si própria, que nunca mais daria poder a um homem algum, para lhe causar sofrimento. Felizmente que no ano anterior, a tia-avó Julieta, condoída do sofrimento que tinha todos os meses, a convencera a ir a uma consulta de ginecologia, e a médica a aconselhara a tomar a pílula, para evitar esses incómodos. Não fora isso e talvez, ela se visse, aos vinte e um anos, na mesma situação da mãe e avó. Essa fora a razão, que na hora em que decidira ser mãe a levou a tomar a decisão de procurar o Centro Médico e recorrer à doação de espermatozóides e à Inseminação Artificial, na altura em que achou ter chegado a hora de cumprir o seu sonho de ser mãe.
14 comentários:
Isto promete :-)
Boa noite, Elvira
Um coração magoado e desiludido que vai descobrir o amor?
Abraço, bfds
Já por cá passei para pôr a leitura em dia.
Bom fim de semana!!!
Já acompanhei e gostei,Esperando segunda feira agora pra mais! bjs, chica
Gostei deste capitulo.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Boa tarde!
A estória está cada vez melhor!:)
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Não, não me troques por ninguém
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Beijo, e um bom fim de semana.
Completamente legítimas as preocupações da futura mãe.
Essa exigência do pai que nem sequer teve intenções de ser pai do filho, quanto mais concebê-lo, não se ajusta à situação.
Assistir ao parto?.Já agora...só se for na condição de marido!
Até ao fim de nove meses, muita água vai correr sob as ponte. :)
Um abraço e bom FDS.
Teresa concentrada na leitura. Sem que ao mesmo tempo queira ou consiga eximir-se dos pensamentos que lhe surgem naquele momento.
Tenha um bom fim de semana amiga Elvira. Um abraço.
E daqui a 9 meses vem a segunda fase e o pai da criança vai querer participar em muito mais coisas...
Bom fds.
Boa noite Elvira,
A acompanhar com muito gosto esta bela história.
Um beijinho e bom fim de semana.
Ailime
Acompanhando, gostando e aguardando os futuros acontecimentos.
Abraços,
Furtado
O passado passa mas deixa marcas.
Continuo entusiasmada...
Bjs.
Muito legal esse capítulo com memórias do passado!
Abraços fraternos!
Solidificação da construção psicológica da personagem com base no seu passado, com mais dados do que aqueces que tinham sido facultados na fase inicial e já alguma curiosidade para com o pai do filho... vamos ver
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