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28.8.20

CILADAS DA VIDA - PARTE XXV

 





Duas semanas e três dias depois…

Teresa encontrava-se sentada no sofá da sua sala.

No regaço tinha um livro aberto, “A Bíblia da Gravidez”, mas o olhar perdia-se no espaço, para além da janela, e o pensamento recordava a conversa tida, com o pai biológico do seu filho. Saber quem era, tinha as suas vantagens, sabia que o bebé tinha os genes de um homem inteligente, empreendedor, e porque não reconhecê-lo? - bonito. Por outro lado, agora em sossego permitia-se interrogações que na altura não lhe surgiram, e que eram uma preocupação acrescida. Ele dissera querer fazer parte da vida da criança, antes mesmo do seu nascimento. Queria acompanhá-la às consultas, às ecografias e no parto. Estava no seu direito, se ela fosse casada ia querer ter o marido consigo nessas alturas. O problema, é que o pai biológico do seu filho era alguém completamente desconhecido. Como é que ela ia permitir situações que lhe iam expor parte do seu corpo? Ainda que os dois viessem a desenvolver uma relação de amizade, uma mulher não partilha a sua intimidade com os amigos. Como é que não lhe ocorrera isso durante a conversa? E como ia agora abordar o assunto com o empresário?

Será que estava a ser demasiado pusilâmine? Afinal ia fazer trinta anos, não era uma adolescente. “Uma adolescente hoje em dia, sabe mais da vida, e das relações íntimas que tu” segredou-lhe uma vozinha na sua cabeça. E era verdade.

Crescera a ouvir a sua avó a dizer-lhe que não devia confiar nos homens, que eles eram seres egoístas, incapazes de amar. “Olha para a tua mãe, rapariga. Não lhe bastava o meu exemplo, nem o desprezo do pai que desde que nos abandonou, nunca mais se lembrou que tinha uma filha. Tinha que se deixar enrabichar por uma cara bonita e meia dúzia de palavras estudadas para a iludir. E o que é que ganhou com isso? Um coração cheio de amargura e uma filha para criar”.

A sua mãe, nada dizia, mas tantas vezes a viu chorar, que sem se dar conta, o seu inconsciente foi criando barreiras que a afastavam do sexo oposto, desde muito nova. Mais tarde, já na cidade, a frequentar a Universidade, e vendo as colegas felizes com os seus namorados, desejou ser como elas, e durante algum tempo tentou cultivar amizades com os rapazes do seu curso.  No segundo ano aceitou até as juras de amor do Alfredo, um colega dois anos mais velho, que pouco depois, estava a tentar levá-la para a cama. Teresa, achava que ainda era muito cedo, recordava a história da avó e da mãe, e tinha medo de entregar a sua virgindade, sem que a relação fosse mais séria. Porém numa festa de anos de outra colega, bebera mais que a conta, e acabara sendo convencida. E não podia ter sido pior. Não só porque estava bêbada, e não se recordava de parte do que acontecera, mas também porque a atitude do namorado depois disso mudou por completo. Ele só queria ter sexo, e um tanto arrependida, Teresa disse-lhe que não voltaria a ir para a cama com ele enquanto não tornassem oficial o noivado. A resposta foi como uma facada no peito. Alfredo disse que não ia haver noivado nenhum, não tinha idade para se prender, numa relação dessa natureza. Mais, disse-lhe que ela era uma antiquada, e que ninguém espera casar com a primeira pessoa com quem dorme, isso era no tempo dos seus avós ou bisavós. Teresa convenceu-se então de que os príncipes só existiam nas histórias para crianças. Na vida real só existiam sapos. Mais, pensou que a sua avó sempre estivera certa, e jurou a si própria, que nunca mais daria poder a um homem algum, para lhe causar sofrimento. Felizmente que no ano anterior, a tia-avó Julieta, condoída do sofrimento que tinha todos os meses, a convencera a ir a uma consulta de ginecologia, e a médica a aconselhara a tomar a pílula, para evitar esses incómodos. Não fora isso e talvez, ela se visse, aos vinte e um anos, na mesma situação da mãe e avó. Essa fora a razão, que na hora em que decidira ser mãe a levou a tomar a decisão de procurar o Centro Médico e recorrer à doação de espermatozóides e à Inseminação Artificial, na altura em que achou ter chegado a hora de cumprir o seu sonho de ser mãe.

 

13.1.18

A VIDA É ... UM COMBOIO - PARTE III


- Por favor Ricardo, o que te custa ajudar-me?  Tu tens tantos amigos. Será que não tens entre eles nenhum que seja inteligente, simpático e honesto, que não se importe de doar esperma para uma inseminação?
-Estás doida, Amélia. Se queres tanto ser mãe, porque não fazes como as outras mulheres?  Arranja um namorado? Com a tua carinho e esse corpo, garanto não vai ser difícil.
- Não sejas cínico. Sabes bem que perdi a confiança na vossa espécie. Ainda não esqueci a traição de Afonso e creio que nunca esquecerei. Quero ter um filho sim, mas só um filho, não uma relação. Já falei com a minha médica para fazer a inseminação, mas pelos processos oficiais, é muito complicado, posso levar anos à espera. Só tenho duas soluções. Ou arranjo um dador extraoficial, ou tenho que me deslocar ao estrangeiro, coisa que não me agrada.  Caramba, não me digas que não consegues convencer um dos teus amigos.
- Claro que sim. Na próxima vez que sair para os copos, vou perguntar qual deles, quer doar esperma para a maluca da minha irmã, que cismou de ser mãe. Já estou a imaginar a cena. Decididamente estás louca.
- Não sejas ridículo! Primeiro, não dirás que é para a tua irmã, mas para uma amiga e não deves dar nenhuma indicação sobre mim. Também não quero saber nada, sobre ele. Apenas,  quero que seja uma pessoa inteligente, e integra. O resto não me importa. Pensa nisso. Levas o nome da minha médica e o endereço da clinica onde ela trabalha e se fará o processo. Ela me avisará depois. E quero que me jures, que nunca fornecerás a essa pessoa, qualquer informação sobre mim, ou a criança que venha a nascer.
- Continuo a pensar que estás a precisar de tratamento psiquiátrico. A traição do Afonso, deu-te volta à cabeça. Não me conheces, se pensas que vou fazer o que me pedes.
Ricardo saiu sem se despedir. Estava deveras zangado com a irmã. Era três anos mais velho que ela, formara-se em gestão de empresas, e tinha um bom emprego. Gostava demais da vida de solteiro, e não se via como chefe de família, pelo menos por enquanto. A irmã casara-se, antes mesmo de começar a exercer a profissão, mal terminara a faculdade. Desde a infância que tinha em Afonso, todos os seus pensamentos. Casara muito apaixonada e a traição do marido dera-lhe volta à cabeça. Onde é que já se vira, ideia mais estapafúrdia. Claro que não ia atender ao pedido dela. Se queria ter um filho por inseminação, pois que o tivesse sem a sua intervenção.