Acordou alguns minutos mais tarde, deitada no sofá da sala de recepção, com a secretária do causídico, aspergindo-lhe o rosto, e os dois homens de pé, junto do sofá.
- Sente-se melhor? – perguntou a secretária, para acrescentar de seguida, estendendo-lhe um copo. – Beba um pouco. É água com açúcar, vai fazer-lhe bem.
Aos poucos a cor voltou ao rosto da jovem.
-Sente-se capaz de continuar? – perguntou então o advogado.
- Sim. Peço desculpa, não costumo perder os sentidos, mas a surpresa, o calor, não sei.
Levantou-se. Ainda sentia um tremor nas pernas, mas tal como Cristo no Calvário, ela também não podia afastar de si aquele cálice. Logo, era urgente que o bebesse até ao fim. Voltaram a entrar no gabinete, onde o advogado retomou a leitura do documento. Quando terminou, Eva perguntou:
- Esse testamento é legal? Quero dizer, não me refiro ao património, que o meu marido, deixou ao cavalheiro aqui ao lado. Afinal a casa era herança dele, estava no seu direito. Refiro-me à exigência de que terei que viver seis meses na casa, com uma pessoa que não conheço de lado nenhum, que não sei se é boa pessoa, ou um bandido da pior espécie. Perdoe-me o senhor, - disse sem se voltar para o homem que estava sentado a seu lado, - a minha intenção não é ofendê-lo, estou apenas a constatar um facto. É legal uma pessoa dispor em testamento da vida de outra, como se fora um objeto?
- É legal, quando uma pessoa é menor, ou ainda que seja de maioridade, se é incapaz de sobreviver sozinha, o que, como é óbvio não é o seu caso. Mas também o é em algumas ocasiões especiais. Por exemplo numa aposta de jogo, as dívidas de jogo só podem ser revogadas pelo tribunal, o que pelo que julgo saber, é o presente caso. E assim sendo, terá que contestar o testamento e preparar-se para uma longa batalha judicial.
- Divida de jogo? Quer dizer que o meu marido, jogou e perdeu a casa e a própria esposa ao jogo? – perguntou verdadeiramente horrorizada.
- Por favor, doutor, se a nossa presença já não é necessária, eu gostaria de esclarecer os factos com esta senhora em particular. – Pela primeira vez, a voz grave e bem modelada do homem a seu lado, fizera-se ouvir.
-Preciso que me assinem estes documentos para fazer os registos. O resto, suponho que o senhor Alfredo Magalhães, deve ter deixado tudo explicado, na carta que entreguei à dona Eva, no início desta reunião.
Assinaram os documentos, e depois de cumprimentarem o advogado, saíram do escritório. Já no elevador, ele disse:
- Não sei se tem carro ou veio de transporte público. Gostaria que me permitisse acompanhá-la a casa. Não me parece que esteja em condições de andar sozinha na rua, muito menos de conduzir um veículo.
- Que eu lhe permitisse acompanhar-me? – perguntou com ironia. – Não estará a inverter os papéis? Afinal a casa é sua, não é verdade?
13 comentários:
Que situação a dela!!! Pobre moça! Mas vamos aguardar! bjs
Estou a acompanhar com interesse.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Estou acorrentado ao desfecho.
Torço por ela.
Um beijo e um bom, bom não;
um ótimo fim de semana.
(Elvira, você é comovente nos
seus comentários, como não o
seria em suas postagens?).
eheh em pulgas pedlo próximo capítulo.
Bom dia, Elvira
Bom fim ded semana, e continuação de melhoras
Continuo a lembrar-me bem disto, daí a minha surpresa em ter comentado apenas dois capítulos, uma vez que este já é o terceiro.
Bom fim de semana e um abraço.
Sinal de que estou vivo,
tô aqui recordando outrora
a sua vida com terá sido
como e onde estarão agora?
Bom fim de semana amiga Elvira. Um abraço.
excelente escrita. e a história promete
ficarei atento, amiga
beijo.
Olá:- Ainda vão acabar por se "dar" muito bem, digo eu. Vamos esperar pelo próximo capítulo, lol
.
Saudação poética
Mais um episódio fantástico! :)
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Sonho improvável ...
Desafios - Prosas e Poesias
Beijos e um bom fim de semana!
Que situação, caramba! Pobre rapariga...
Forte abraço, amiga.
Boa tarde Elvira,
Todas estas coisas são possíveis, mas que não deve ser fácil, não!
Coitada da Eva.
Vamos aguar o próximo episódio.
Beijinhos,
Ailime
Tadinha dela, sentindo-se como um mero objeto, como se sua vida e seu poder de decisão não tivesse nenhum valor!
Beijos carinhosos!
Já tinha lido este, mas na altura não tive tempo de comentar….
Estamos no início do conto, a autora encontra-se a fazer a apresentação dos personagens principais e dos factos que estão na origem do início da história e é algo que faz muito bem… com um controlo da cadência de um texto fluido e que prende.
As últimas semanas foram de muito trabalho e apesar do fim de semana ainda estou a recuperar, daí o meu pedido de desculpa por qualquer lapso de escrita…
Vou continuar a avançar na leitura
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