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14.10.19

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE I





O homem tinha entre as suas, uma mão feminina e olhava sem ver, toda a parafernália de aparelhos que mantinham a mulher artificialmente viva.
Pousou com cuidado a mão em cima da cama e com movimentos lentos levantou-se. Esticou o seu comprido corpo, passou um lenço pela testa, onde se viam algumas gotas de suor, dobrou-se e passou dois dedos pela face exangue, da mulher, numa carícia que sabia ela não sentiria. Depois lentamente dirigiu-se à porta e saiu. Era um homem alto de ombros largos, que, no entanto, se encontravam naquele momento meio curvados como se a dor que carregava fosse demasiado grande. Tinha trinta e quatro anos, era moreno, de cabelos e olhos negros, a testa alta, o nariz reto, a boca bem desenhada, e um queixo forte. Um homem muito atraente, que apesar da sua grande tristeza,  fazia virar a cabeça às enfermeiras, sempre que ele passava no corredor a caminho do quarto onde jazia a sua esposa. E passava diariamente bastante tempo no hospital, desde que há três semanas, ela, a sua mulher, fora baleada, num assalto para lhe roubarem o carro, quando se dirigia a um centro comercial.
Grávida de vinte e sete semanas, Sara não resistira aos ferimentos e morrera poucos minutos depois, de ter entrado no hospital, mas dado que a criança estava bem, os médicos decidiram mantê-la artificialmente viva, o máximo de tempo possível, a fim de conseguir que a criança se pudesse desenvolver, até poder ser retirada do ventre materno, com boas hipóteses de sobrevivência.
Era uma situação extremamente dolorosa, todavia ele estava esperançado em que a criança se salvasse. Além dele, Sara não tinha mais familiares que o seu pai, a viver há duas décadas em França, para onde emigrara e onde acabara por voltar a casar e formar uma nova família.
Apesar de os médicos dizerem que não havia a mínima hipótese de ela perceber a sua presença, ele não deixava de estar junto dela todo o tempo que lhe permitiam. Não o fazia por amor. Na verdade, o seu casamento como tal, deixara de existir há bastante tempo, quando ele se apercebera de como a mulher era frívola e egoísta. Estava até decidido a pedir o divórcio, quando ela ficara grávida, e a criança fizera com que se dispusesse a dar mais uma hipótese à relação.
Foi uma ironia do destino, que o bebé que ele tanto desejara nos primeiros anos de casados, e que Sara sempre recusara ter, para não perder a linha e ficar, como costumava dizer, “gorda como um elefante” viesse a surgir exatamente quando ele tinha pensado seriamente em pôr um ponto final no casamento. 
Apesar disso, nunca desejou um fim tão trágico para a sua mulher, e o seu coração enchia-se de compaixão por ela.

Continua

Amigos o meu olho direito está melhor Graças a Deus e às gotas. O esquerdo está na mesma, nem é de esperar outra coisa enquanto o transplante não for feito. Entretanto já fiz todos os exames que me pediram embora do último, feito na Sexta-feira, só vá buscar o resultado dia 22.
E este é o primeiro capítulo da nova história, que ainda nem chegou a meio. De modo que contrariamente ao costume esta história, sairá apenas três vezes por semana. Espero que compreendam  a minha situação.

14 comentários:

noname disse...

É claro que compreendemos :-)

Cuide-se, e quando tudo estiver bem, de novo, então haverá histórias diárias.

Beijinho, tudo a correr bem

Fatyly disse...

São boas notícias e cuida-te amiga porque fazes muita falta.

Quanto à história publica quando puderes mas não abuses pf

Beijos e um bom dia

Pedro Coimbra disse...

Olhe o copo meio cheio, a mão cheia de mel.
E esqueça a mão cheia de...
Abraço, boa semana

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
O que achar melhor para si , e para a sua saúde é o mais importante .

JAFR

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar mais uma história e desejar as melhoras!

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

Os olhos são o mais importante para nós. Velhos e cegos nem para a sucata servimos.
Há cerca de 4 anos que andava no Pedro Hispano a ser acompanhado por causa da retinopatia diabética. Na última quinta-feira lá voltei, como estava planeado, desde o ano passado.
A conclusão da médica foi que tenho uma catarata no olho direito (há 10 anos outro médico disse-me que era no esquerdo) e perguntou-me se queria ser operado. Respondi-lhe que, por enquanto, não.
Depois disse-me que a diabetes ainda não me tinha afectado os olhos e (pareceu-me) com um certo mau modo disse-me para avisar o meu médico de família que a sua intervenção se ficava por ali. Pareceu-me ter ficado chateada por eu ter recusado ir para a fila de espera da cirurgia às cataratas!

Os olhares da Gracinha! disse...

Mais uma história de algumas vidas!
...
Tudo de bom pois a visão é preciosa!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Vou acompanhar esta história e aproveito para desejar uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

chica disse...

Gostei do primeiro capítulo e vamos esperar mais ,SEMPRE QUE PUDERES, sem prejudicar teu olhos...beijos, linda semana, tudo de bom,chica

Cidália Ferreira disse...

Adorei, compreendemos sim :)

As melhoras

Beijo e uma tarde feliz!

Edum@nes disse...

Esse pelo que dá a entender. Amava mais a mulher morta, do que quando estava viva.
As melhoras dos seus olhos. Não os esforce na leitura. Eu já fui operado às cataratas, a leitura de letras miudinhas são inimigas dos meus olhos!

Continuação de boa semana amiga Elvira. Um abraço.

Teresa Isabel Silva disse...

Começa bem!
Fico feliz por saber que o olho direito está a melhorar!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Fico contente pelas melhoras do seu olho direito.
Espero bem que tudo corra o melhor possível com olho esquerdo para que finalmente possa fazer a sua vida habitual.
A história que iniciou promete.
A Elvira tem uma enorme capacidade criativa.
Beijinhos e continuação de boas melhoras.
Ailime

Rosemildo Sales Furtado disse...

Mais uma história/estória que se inicia e promete muitas emoções. Não importa quantos capítulos por semana, o importante é que venham. Primeiro a saúde amiga.

Abraços,

Furtado