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7.5.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XLII


Paula saíra de casa no Domingo de manhã, sem qualquer ideia do sítio onde ia passar férias, decidindo apenas partir para o sul. Seguiu pela estrada, até Setúbal, aí apanhou o barco, que a deixou na península de Tróia, seguindo depois pela estrada nacional até Sines, terra natal do grande navegador, Vasco da Gama, e aí fez a primeira paragem para visitar o Castelo e se encantar com toda a paisagem envolvente. Retomou a viagem até Porto Covo, onde voltou a parar, para almoçar e dar uma volta pela localidade que Rui Veloso imortalizou. A meio da tarde estava tão encantada, que resolveu passar aí essa semana, e para tal procurou alojamento. Foi uma semana em que apenas se deslocou uma vez à ilha do pessegueiro, onde, embora não visse nenhum pessegueiro, sentiu a estranha sensação de insularidade, observou os vestígios arqueológicos romanos, as ruínas do antigo forte, e ouviu do guia, a Lenda do Menino da Gralha e a Lenda de Nossa Senhora da Queimada.  O resto dos dias passou-os ora na praia, ora passeando pela bonita localidade. Revigorada pelo descanso e pelo tempo passado ao ar livre, quase esquecera os acontecimentos do último mês. Quase, porque naquele domingo, já por várias vezes se lembrara do casamento de Júlio Correia, da festa a que ela não quisera ir, e interrogava-se se António simpatizara ou não com a tal mulher que os noivos lhe queriam apresentar. Imaginava-o a dançar com ela, e isso dava-lhe um estranho aperto no peito. “Que raio se passa comigo?” - interrogou-se mentalmente. Ele não é nada meu. Tem o direito de ir à festa e dançar com quem quiser. Mas esse pensamento não aliviava aquele aperto no peito. Tentando esquecer, fez a mala, pagou a estadia e fez-se à estrada. Estava na hora de prosseguir a viagem.
Vinte minutos depois chegava a Vila Nova de Milfontes, e decidiu que aí ia ficar alguns dias. Enquanto tomava um café, procurou na Internet um hotel num local sossegado mas suficientemente perto para conhecer a localidade. Encontrou um cujo nome “Moinho da Asneira” lhe chamou a atenção e resolveu ir até lá e ver se o local lhe agradava.  Como gostou alugou quarto  e tendo guardado as suas coisas saiu para um passeio.
Durante aqueles dias, Paula deixou-se encantar pela bonita vila. Passeou pelas ruas de casas imaculadamente brancas, onde o azul dos céus, parecia ter descido para contornar portas e janelas, banhou-se nas límpidas águas da praia do Malhão, provou as típicas iguarias da gastronomia alentejana em restaurantes muito agradáveis como a “Tasca do Celso” ou o “Pátio Alentejano”, fotografou o forte de S. Clemente, construído nos finais do século XVI, projetado pelo arquiteto italiano Alexandre Massai, para defender a vila dos piratas, que navegavam pelo rio Mira. Admirou e fotografou o monumento aos aviadores, homenagem a Brito Pais, Sarmento de Beires, e Manuel Gouveia, que daqueles campos partiram em 1924 para um arriscado voo até Macau.
Foi com um sentimento de pena que no quinto dia decidiu seguir viagem, não sem antes ter ido ao posto de turismo saber o que mais podia ver nos arredores. A simpática empregada, informou-a que seria uma pena se não visitasse a praia das Furnas, local de rara e selvagem beleza, as pequenas cascatas do mesmo nome, ou o Cabo Sardão. Deu-lhe alguns folhetos com preciosas informações para lá chegar, e a jovem decidiu seguir as suas sugestões. Afinal estava de férias. Se bem que começava a estar cansada das férias. Suspeitava que o mês projetado se ia ficar pela metade. Tinha saudades do trabalho, das conversas com a sua secretária, do irmão, de Cidália, e até do seu pai. E quem sabe de volta ao trabalho voltava a encontrar o empresário? Afinal, ambos se moviam no mesmo meio. Com estes pensamentos, chegou ao primeiro dos locais assinalados no mapa. E não pôde deixar de pensar que apesar de todos os elogios da empregada, eles ficavam muito aquém das maravilhas que os seus olhos viam. Foi já ao fim da tarde que chegou à Zambujeira do Mar, onde iria jantar e dormir.


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15 comentários:

Teresa Isabel Silva disse...

Fiquei curiosa com essa lenda!

Bjxxx
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Janita disse...

Um belo episódio este, em que viajámos com a veraneante e tivemos um brinde especial, apesar de triste. «A Lenda da Gralha.»
Pobre menino, que morreu para salvar a sua avezita. Mas gostei, sim!

Sobre a Ilha do Pessegueiro já tinha lido sobre a sua história.

Um abraço e obrigada, Elvira.

aluap disse...

O nosso país tem lugares e lendas encantadoras para se conhecer.
Um abraço.

Gaja Maria disse...

Escolheu uma zona lindíssima e cheia de recantos para as férias, mas as saudades apertam...

Cantinho da Gaiata disse...

Fiquei curiosa com as lendas, então tive que ir cuscar.
A lenda da gralha é bem triste.
Gostei de saber da lenda da ilha do pessegueiro, gostaria de a visitar mas aínda não tive oportunidade.
Bjs e até amanhã.

Edum@nes disse...

Muita gente elegante,
passa férias em beleza,
Porto Covo, Praia grande
e na Praia da samoqueira

Pastelaria do Marquês,
de férias no Porto Covo
tomar o pequeno almoço
Paula, lá terá ido, talvez?

Paula foi à Ilha do Pessegueiro, mas não há lá nenhum pessegueiro. O que lá há é uma bela praia. De lá seguiu para a Praia do Malhão, Vila Nova de Milfontes, Praia das Furnas e Zambujeira do Mar. Não terá ido à Praia do Almograve? Para onde eu costumo ir habitualmente, desde há muitos anos!

Tenhas uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

chica disse...

Gosto de lendas e valeu te ler! beijos, chica

Kique disse...

Gostei da lenda interessante este pais onde as historias do povo nos conseguem surpreender
Bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - Peito vrs Tomates

Cidália Ferreira disse...

Um conto muito bem elaborado!
Este episódio não é em vão, tem muito conhecimento da sua parte! Amei!
Mas será que o destino não os cruza antes dela terminar as férias?? :)
*
Quantas vezes me culpo pela chuva que cai
Beijo. Boa noite!

Tintinaine disse...

Gostava de voltar a Porto Covo e à praia das Furnas. Já fiz esse trajecto há mais de 20 anos, mas cometi um grande erro, fiz paragens muito curtas em cada terra visitada. A ideia de chegar até ao Algarve e passar lá algum tempo, estragou-me essa viagem. Se o arrependimento matasse!

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, Elvira!
Li este capítulo de "Um homem dividido" e achei muito interessante a sua narrativa, que me prendeu a atenção do começo ao fim. Parabéns.
Boa continuação da semana, Elvira.
Um abraço.
Pedro

Pedro Coimbra disse...

Um local mágico e propenso à reflexão.
O que é que irá inspirar?
Abraço

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
São tantas as sugestões e pelos vistos tão boas , que dá vontade de fazer o trajeto que a Paula fez .
Talvez um dia mas acompanhado , pois não gosto de ferias sozinho.
JAFR

Os olhares da Gracinha! disse...

Mais um belo capítulo que proporciona um bom momento de leitura!
Também gosto de lendas... BJ

Anónimo disse...

Uma vez que as cataratas continuam por cá, evito as leituras nocturnas que se me tornam muito difíceis e penosas.

Só agora leio este interessante episódio e parto já a seguir para o próximo.

Abraço, amiga Elvira.

Maria João