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23.10.18

ENTRE O AMOR E A CARREIRA - PARTE XXXVII



Deu a notícia nessa noite, no fim do jantar, explicando aos filhos, que deixando a vida militar, não mais se ausentaria de casa. A primeira reação delas, foi gritar e bater as palmas de alegria. Depois abraçaram-no e Ricardo  sentiu um nó na garganta e os olhos húmidos. “Ultimamente estou muito emotivo”- pensou.
Também o cunhado o abraçou manifestando alegria. Apenas Clara não se manifestou. Será que não tinha ficado feliz? Mas se fora ela quem lho pedira quando um mês atrás ele estivera para desistir. Procurou os seus olhos tentando entender, mas ela mantinha-os obstinadamente fixos na carpete, como se nunca a tivesse visto antes. 
Mais tarde seguiram a rotina de todos os dias ao deitar as crianças e quando elas adormeceram, Clara fez menção de se recolher, mas Ricardo segurou-lhe no braço dizendo:
-Ainda é cedo. Desce comigo. Tenho uma proposta séria para te fazer.
Ela não respondeu. Limitou-se a descer as escadas e a segui-lo à biblioteca. Aí chegados sentou-se no sofá, colocou as mãos no regaço e aguardou.
- Parece que não ficaste feliz, com a minha saída do exército. Incomodou-te?
- Como podes pensar assim? Acaso não te incentivei a fazê-lo? Claro que fiquei feliz, por ti, pelas crianças e até por mim. Simplesmente já sou grandinha para pular de alegria. Aliás se era essa a conversa séria que íamos ter, não estou interessada.
- Não precisas ser irónica. E não, não era sobre isso que queria falar contigo, mas sobre a adoção das crianças.
- Adoção? – Perguntou surpreendida.
- Bom, penso que já falámos sobre a minha condição financeira. Ainda que talvez não tenhas uma verdadeira noção dos meus bens, e penses que tenho esta quinta e algum dinheiro. Não é assim. Grande parte da minha fortuna já vem de um tataravô do ramo materno. Parece que esse meu antepassado foi um dos coronéis fazendeiros que fez fortuna com o cacau e o café no Brasil. As gerações seguintes, não fizeram mais do que gerir e aumentar o património. Eu mesmo fiquei abismado, quando aos trinta anos tomei posse dessa herança, pois foi essa a vontade expressa do meu avô. Parece que ele não confiava muito no meu pai, e como a filha morreu muito nova, os seus bens passariam para mim, mas apenas e só quando completasse trinta anos.
 Até lá, ela era gerida por um grupo de gestores que por sua vez estariam a ser assessorados por uma firma de advogados, de sua inteira confiança. Esta quinta, eu já tinha herdado quando a minha avó morreu. O Francisco gere os meus bens, herdados do meu pai e da minha avó, tudo o resto,  continua a ser gerido da mesma maneira, por aqueles  em quem o meu avô confiava, e estende-se por participações em muitas empresas, na hotelaria, restauração, e indústria automóvel, e imobiliária. 
Não estou a dizer isto para te deslumbrar, nada disso, o dinheiro para mim só é importante na medida em que me permita viver com um certo desafogo, dar um bom futuro aos meus filhos, e ajudar algumas instituições. Tanto assim que resolvo deixar essa herança para os meus futuros herdeiros e não retirei dela um centimo.
 Porém esse mesmo património, que um dia será dos meus filhos, pode tornar as crianças vítimas de gente ambiciosa e sem escrúpulos, pois se me acontecer alguma coisa, quem ficar com a sua guarda, ficará com acesso aos seus bens até à maioridade, e nem mesmo tu com todo o teu amor poderias fazer nada. Perante a lei, uma madrasta, não tem força, se em disputa com outros familiares de sangue, mais ou menos chegados. Os meus receios prendem-se principalmente com Bernardo, pois a família de Marisa não é flor que se cheire, e embora os seus pais já tenham morrido, ela ainda tem dois irmãos e sobrinhos, e há gente que por dinheiro é capaz de tudo.
Se os adotares, passarás a ser legalmente a mãe deles com todos os direitos e deveres que isso acarreta. Entendes?
- Sim. E é evidente que quero adotá-los. No meu coração eles já são meus filhos. Porém gostaria de te alertar para uma coisa. Supõe de dentro de dois, três, cinco anos, sei lá, encontras alguém com quem te entusiasmas e quebras o contrato, para resolveres o teu futuro com essa pessoa. Sabes que uma adoção não se pode anular?
- Isso nunca acontecerá. Os nossos destinos foram ligados naquela igreja. Ainda que tu queiras sair no final do contrato, eles serão para sempre os nossos filhos. Posso então dizer ao Francisco para avançar com o processo de adoção?
-É claro que sim.
-Obrigado. Mas ainda tenho uma outra proposta para te fazer. Já deu para perceber que gosto muito do teu irmão. E gostaria de adotá-lo, de modo a torna-lo igualmente meu herdeiro. Ele seria oficialmente o irmão mais velho das crianças, uma mais-valia para eles, e uma ajuda para ti, no caso de me acontecer qualquer coisa. Não que esteja a pensar morrer amanhã, mas é sempre bom acautelar o futuro. Como vai fazer dezassete anos, é ele quem tem que aceitar ou não a adoção, mas sei que ele te pedirá conselho e só fará o que decidires. O que achas da minha proposta?
- Que é de uma enorme generosidade, e que deves pensar bem nisso. Se o queres fazer que seja porque o coração to pede, e não por interesses obscuros.
- Não me ofendas Clara! Que diabo de homem, pensas que eu sou? Achas que era capaz de usar um truque tão baixo para te levar para a cama?
Clara nunca o tinha visto tão zangado
-Desculpa. De modo algum quis ofender-te.
Agarrou-lhe no braço mas com um safanão, ele soltou-se e saiu da sala, deixando-a sozinha.





Pronto. Entornou-se o caldo. Será que estes dois algum dia se vão entender?
O que vos parece?

18 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Boa Tarde, querida amiga Elvira!
Não aposto em violência de nenhum tipo... mas, aqui, ela bem que mereceu o 'safanão'... assim também já é demais!
O homem tem bom coração e ela não está conseguindo ver isso...
Toda regra tem exceção.
Acomponhando a história pode ser que me decepcine com a conduta dele.
Deus a abençoe muito!
Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem

noname disse...

Isto está muito intrincado, estou ansiosa para ver o que vai dar, ou melhor, qual será o caminho, para o que já deduzo vai dar eheheheh

Boa noite, Elvira

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Não sei não, Ricardo é uma pessoa muito cautelosa,com tudo muito bem calculado, não sei até que ponto este fato não aborrecerá Clara. Ele é uma pessoa traumatizada e isso condiciona muito a sua forma de agir.
Beijinhos,
Ailime

Edum@nes disse...

Será que Ricardo ficou, mesmo, ofendido com o abanão? Ou será que ele tem alguma na manga para tramar Clara?
Entre trocas a baldrocas, muita coisa pode acontecer. Portanto, penso que se entre eles existe mesmo amor. Vão acabar por se entender!

Tenha uma santa noite de descanso e bem dormida sem insónias.
Um abraço amiga Elvira.

Cantinho da Gaiata disse...

Ai ai, ela anda a brincar, então depois de tudo ainda não ganhou a confiança do homem? Está a brincar com a vida...
Pode ser que mude desta vez.
Fico esperando, beijinhos e até amanhã.

Janita disse...

Não se entornou nada o caldo, este repelão do Ricardo, não é nada que já não tenhamos visto. O rapaz tem boa índole, e daqui a 24 horas já está arrependido...pede desculpa e volta tudo ao normal...
...ela faz uma contra proposta, entram num acordo e mais dia menos dia, estão nos braços um do outro a lamentar o tempo que perderam com picuíces...

Uma boa noite, Elvira.

Cidália Ferreira disse...

Que duros... mas o amor está lá! Penso que Clara vai pensar, porque protegendo como protege o irmão, só pode quebrar esta dureza!!

Amei. Acho que se vão entender!

Beijos. Boa Noite

chica disse...

Espero que se ajeitem e deem chance ao amor! Gostando muito! bjs praianos,chica

lourdes disse...

Arre, que o homem é burro! Ainda não percebeu que já ama a Clara? Os homens às vezes são mesmo tantans! Ele não está a fazer isto tudo só pelos filhos.
Bjs

Anete disse...


Novamente colocando em dia a minha leitura por aqui...
Creio que os dois logo se entenderão e o romance "pegará fogo"... Dois carentes que precisam de tempo e de perseverança p avançar... Confiança é uma conquista!

Abraços e BOA QUARTA-FEIRA...

Pedro Coimbra disse...

Uma boa zanga até acende o desejo...
Abraço

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Continuo a pensar que vai surgir algo de importante que os possa reconsiderar e os una de uma vez por todas .
JAFR

Isa Sá disse...

A passar para acompanhar a história e desejar um ótimo dia.

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

Com tanto dinheiro e tão desprendido não seria o caso de me financiar num negócio que ando a planear há anos?
É que eu gostava tanto de ir para o Ribatejo criar cavalos!

Larissa Santos disse...

Sim acho que temos o caldo entornado. A Clara é muito segura, mas também teimosa, kkkk
:))

Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gosto do comentário da Lurdes, "Arre, que o homem é burro!".
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Maria João Brito de Sousa disse...

O que me parece? Parece-me que só um respingo do caldo se entornou, que o grosso do conteúdo continua intacto :)

Abraço, Elvira.

Os olhares da Gracinha! disse...

Vai mudar ... para ser feliz!!!bj