No seu quarto, Clara trocou a roupa que vestia por um
pijama de algodão composto de calções floridos e t-shirt branca. Foi à casa de
banho, escovou os dentes, soltou o cabelo e regressou ao quarto disposta a dormir.
Tinha por hábito ler um pouco antes de adormecer, mas como se irritara com Ricardo acabara por não trazer nenhum livro.
Foi até à porta que dava para o terraço. Afastou o
cortinado, e olhou.
No céu uma
esplendorosa lua cheia iluminava toda a terra. “Boa noite para acampar”- murmurou pensando no irmão.
Teve vontade de sair para o terraço, mas pensou que
todos os quartos deviam dar para ele, e não tinha vontade nenhuma de voltar a
ver o dono da casa, naquela noite. Sim, porque apesar da aliança que ele lhe enfiara no dedo, ela nunca perdera a noção de que era apenas uma empregada, que por obrigação contratual, vivia em casa do seu patrão.
Talvez que a aliança lhe desse um estatuto especial, perante o mundo em que ele se movia, mas ali dentro daquelas paredes, era apenas a sua empregada. O contrato que ambos assinaram, era bem explícito. Ela devia proceder como sua esposa, em todos os eventos onde se fizessem representar, e deveria ser uma mãe para as crianças, acompanhando-as como tal até à sua maioridade. Depois assinariam o divórcio e ela era livre de fazer da sua vida o que bem entendesse. Aos quarenta e um anos. Era para todos os efeitos um contrato absurdo, mas tinha as suas contrapartidas. Desde logo tinha uma mesada mensal que era o dobro do que recebia no emprego anterior, tinha casa e alimentação para ela e para o irmão, que assim podia ir para a Universidade, tirar o Curso de Biologia, que era o seu sonho de menino e que ela nunca lhe poderia proporcionar. E o melhor de tudo, cuidar de crianças, era para ela que sempre as adorara, uma forma de realização pessoal. Fechou o cortinado, e deitou-se, mas o sono teimava em não chegar.
Talvez que a aliança lhe desse um estatuto especial, perante o mundo em que ele se movia, mas ali dentro daquelas paredes, era apenas a sua empregada. O contrato que ambos assinaram, era bem explícito. Ela devia proceder como sua esposa, em todos os eventos onde se fizessem representar, e deveria ser uma mãe para as crianças, acompanhando-as como tal até à sua maioridade. Depois assinariam o divórcio e ela era livre de fazer da sua vida o que bem entendesse. Aos quarenta e um anos. Era para todos os efeitos um contrato absurdo, mas tinha as suas contrapartidas. Desde logo tinha uma mesada mensal que era o dobro do que recebia no emprego anterior, tinha casa e alimentação para ela e para o irmão, que assim podia ir para a Universidade, tirar o Curso de Biologia, que era o seu sonho de menino e que ela nunca lhe poderia proporcionar. E o melhor de tudo, cuidar de crianças, era para ela que sempre as adorara, uma forma de realização pessoal. Fechou o cortinado, e deitou-se, mas o sono teimava em não chegar.
De algum recanto da sua memória, as lembranças
começaram a sair em catadupa.
Viu-se bem pequenita, num baloiço do jardim, de uma
grande moradia, empurrada pelo seu pai,
sob o olhar amoroso da mãe.
Tivera uma infância feliz. Seu pai era um empresário bem-sucedido,
e sua mãe uma mulher muito apaixonada. Ambos se amavam muito e a amavam da
mesma maneira.
Clara só tinha um problema. Era filha única, e o seu
maior sonho era ter um irmão, com quem dividisse carinho e brincadeiras. Era a
única menina da sua turma, que não tinha irmãos. Mas para sua felicidade até o
irmão chegou, como o melhor dos presentes, três dias antes de fazer dez anos.
Porém antes de completar dezassete anos, a sua vida
sofreu uma reviravolta inesperada. Por uma daquelas crises que de vez em quando
assolam um país, varrendo a economia, os negócios do pai começaram a correr mal, e ele não foi capaz
de travar a falência. Desesperado, sem saber como honrar os diversos
compromissos com os credores, conduziu sem destino até que numa estrada montanhosa, não
muito concorrida, fez com que o carro mergulhasse no vazio, acabando por morrer
na explosão que se sucedeu ao embate.
Embora o coração da mãe ainda batesse, durante quase um
ano, após a morte do marido, na verdade a mulher que ela fora, morrera no momento em que recebeu a
notícia da morte do companheiro. Apesar da pouca idade, Clara chamou a si a tarefa
de cuidar do irmão e da mãe, e ao mesmo tempo limpar o nome do pai. Começou por
despedir duas das três empregadas, e por a esplêndida casa da família à venda, o carro topo de gama, que o pai oferecera à mãe pelo seu aniversário, no ano anterior, bem como
algumas obras de arte onde o pai aplicara bastante dinheiro ao longo dos anos.
Claro que fora a mãe quem assinara os documentos, mas
fora ela com a ajuda do advogado do pai, quem tratara de tudo.
Não foi fácil, a sua vida após a morte do pai. Com o dinheiro das vendas, pôde pagar as dívidas do pai e limpar o seu nome. Depois teve que procurar uma casa modesta para habitarem, o que não foi possível naquela zona onde os alugueres eram bastante caros.
Conseguiu arranjar um apartamento na zona de Alcântara, com dois quartos, sala, casa de banho e uma pequena cozinha.
19 comentários:
A vida tem razões que a própria razão desconhece, e tece teias tamanhas que enredam as frágeis vidas.
Boa noite, Elvira
Coitada da Clara começou a sofrer bem nova e pelo que me parece agora vai ser mais uma etapa dessas.
Beijinhos e até breve.
Gostando muito! Trama bem montada! Bjs chica
Se ontem comentei que tenho conhecimento de muitos contratos semelhantes, hoje comento que muitos deixaram de ser contratos para dar lugar a grandes romances.
Abraço
Bom dia
Temos aqui uma historia que nos vai deixar todos os dias apaixonados !!
JAFR
Mulher pronta para a luta!!! Bj
Está a ficar interessante minha amiga.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Com o tempo tudo passa. Acabará por se esquecer de muito do que passou. E sorrir para a vida que tem para viver!
Tenha um bom dia amiga Elvira.
Um abraço.
Toda a gente sabe que este casamento, de aparência, se vai transformar num grande e profundo amor - ou isto não fosse estória - porém, as razões que a jovem pensando, nos contou, não justificam ter tomado esta decisão.
Para ele, o patrão, foi bom, mas deve uma jovem renunciar a um casamento por Amor apenas para ter casa, dinheiro, cuidar de crianças e dar uma vida melhor ao irmão?
Eu, uma eterna romântica, ainda não estou convencida...
Tenha um óptimo dia, amiga Elvira.
Um abraço.
PS- Lembro agora que houve outra personagem da Elvira que fez um casamento idêntico, mas foi porque a mãe estava gravemente doente, ou será que estou a fazer confusão?
Uma vida sofredora- Estou a gostar :))
Bjos
Votos de uma óptima Quinta - Feira
A passar para continuar a acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Creio que ela não lhe vai fazer a vida fácil!! :)
Beijos e um excelente dia.
Não sei se conseguiria viver assim de fachada.
Espero que haja um desfecho em que o amor prevaleça.
Abraço Elvira
Boa tarde Elvira,
Um história que promete.
A trama aí está e agora vamos acompanhar.
Um beijinho.
Ailime
Finalmente consegui entrar para dizer que realmente a vida tem muitos baixos e altos...
Beijinho e bom resto de semana
Ola, Elvira!
Hoje vim mais cedo. Estou curiosíssima (rsrs), você escreve muito bem...
Tem talento!
Até amanhã, se Deus quiser,
bjs!
Estou acompanhando mais lenta que voce Elvira.
Mas, consigo entender e gostar.
Nem sempre fazemos as melhores escolhas _ nossos momentos e as muitas dificuldades nos levam a atitudes que aos olhos dos outros é dificil de entender.
Aceitou, agora vai cumprir mas nem por isso perdeu o direito de questionar e fazer valer suas vontades no que acredita correto.
Gostando desse enredo.
A história da Clara, a mim, deixou-me os olhos cheios d´água.
Acredito vai virar um grande romance.
Beijos!
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