-Queres contar-me o que se passa?
- Desculpa, eu não queria que isto acontecesse. Se
soubesse que ia ser assim, não teria aceitado a tua proposta. Pensei que já estava esquecido. Juro, - disse entre lágrimas.
Soaram campainhas de alarme, nos ouvidos dele. Teve a
certeza que aquilo não era um chilique de noiva nervosa. Mergulhou o olhar
naqueles olhos achocolatados e perguntou:
-E o que pensavas que estava esquecido? Conta-me tudo,
querida.
Era a primeira vez que lhe chamava querida, e ela sentiu
a palavra como uma carícia na alma.
-Eu tinha dezanove anos. Tinha entrado nesse ano no
Instituto Superior Técnico e namorava um rapaz que frequentava outro curso no
mesmo Instituto. Era o meu primeiro namorado, até aí vivera só para os estudos,
não conhecia as manhas de que os homens são capazes. Desculpa, não quis
ofender-te.
Um dia quando saímos, ele disse que me ia levar a sua
casa, para me apresentar aos pais. Eu não vi mal nisso, pelo contrário pensei
que era um sinal de seriedade da sua parte. Era tão ingénua! Os seus pais não
estavam, em casa, nem sequer na cidade, tinham ido ao interior visitar a avó dele, mas eu só o soube, quando já era tarde demais. Assim que entrámos em casa, ele fechou a porta, guardou a chave no bolso, e começou a beijar-me e a despir-me. Lutei, com todas as minhas forças, mas quanto
mais eu lutava mais ele se excitava. Parecia um animal raivoso. Eu, não estava preparada, para nada assim.
A dor foi tão intensa, que perdi os sentidos. Quando acordei ele disse-me que
me ia levar a casa, mas que dava cabo de mim, se eu contasse a alguém o que
tinha acontecido. Quando ele abriu a porta para sairmos, fugi. Fui a pé para
casa, tentando acalmar-me para que os meus pais não dessem por nada. Nunca mais
o vi, mas durante um bom tempo vivi no terror de poder estar grávida. Graças a
Deus isso não aconteceu. Nunca contei isto a ninguém nem sequer à minha irmã, tal a dor e a vergonha que sentia.
Desde então, nunca mais quis saber de namoros. Levei anos a reviver aquela dor, em pesadelos que me deixavam quase louca. Sentia pavor cada vez que algum homem, se aproximava de mim, até que desisti de pensar no futuro ao lado de alguém, e me dediquei só à minha profissão. Contigo foi diferente. Apesar do meu medo, a primeira vez que me beijaste, não senti vontade de fugir, pelo contrário, gostei do beijo. E como já se passaram dez anos, pensei que tinha conseguido superar o trauma. Também não tinha voltado a ter o pesadelo. Até à noite passada. Talvez pela aproximação do casamento o pesadelo voltou, e o terror também.
Desde então, nunca mais quis saber de namoros. Levei anos a reviver aquela dor, em pesadelos que me deixavam quase louca. Sentia pavor cada vez que algum homem, se aproximava de mim, até que desisti de pensar no futuro ao lado de alguém, e me dediquei só à minha profissão. Contigo foi diferente. Apesar do meu medo, a primeira vez que me beijaste, não senti vontade de fugir, pelo contrário, gostei do beijo. E como já se passaram dez anos, pensei que tinha conseguido superar o trauma. Também não tinha voltado a ter o pesadelo. Até à noite passada. Talvez pela aproximação do casamento o pesadelo voltou, e o terror também.
Durante todo o tempo que ela falou, Pedro manteve-se em
silêncio a mão direita acariciando-lhe a cabeça o punho esquerdo cerrado, a
raiva fervilhando no peito contra aquele tipo asqueroso. Porém quando falou, o seu tom de voz foi tão suave, tão terno, que foi como um bálsamo para a alma atormentada da
jovem.
- Chora, se isso te faz sentir melhor, mas pensa que já passou e não voltará a acontecer. Confia em mim.
-Deixaste bem claro que o casamento seria completo,e eu devia ter-te contado logo na altura, mas não é fácil falar de uma violação. A dor e a vergonha, são como um espinho cravado na alma.
- A dor compreendo, a vergonha não. És a vítima, não a culpada. Quanto à nossa vida matrimonial, não penses nisso agora. Ela acontecerá amanhã, depois, ou noutro dia qualquer, quando estiveres mais calma e relaxada, e tiveres interiorizado, que não te irei forçar a nada e que tal como hoje pararei ao menor sinal de desconforto da tua parte.Tenho a certeza de que vamos ultrapassar isto, juntos, mas se assim não for, procuraremos ajuda especializada. Agora dorme, - disse puxando-lhe as alças da camisa para o sítio, e depositando-lhe um beijo nas pálpebras molhadas.
-Deixaste bem claro que o casamento seria completo,e eu devia ter-te contado logo na altura, mas não é fácil falar de uma violação. A dor e a vergonha, são como um espinho cravado na alma.
- A dor compreendo, a vergonha não. És a vítima, não a culpada. Quanto à nossa vida matrimonial, não penses nisso agora. Ela acontecerá amanhã, depois, ou noutro dia qualquer, quando estiveres mais calma e relaxada, e tiveres interiorizado, que não te irei forçar a nada e que tal como hoje pararei ao menor sinal de desconforto da tua parte.Tenho a certeza de que vamos ultrapassar isto, juntos, mas se assim não for, procuraremos ajuda especializada. Agora dorme, - disse puxando-lhe as alças da camisa para o sítio, e depositando-lhe um beijo nas pálpebras molhadas.
Algum tempo depois, sentiu como o corpo dela ia relaxando, enquanto a
respiração se suavizava e finalmente adormecia. Ele ficou ainda um longo tempo
acordado, aquietado corpo e alma, na certeza de ter agido como
devia.
20 comentários:
Emocionante e intenso capitulo, de cortar a respiração. Cada vez gosto mais :))
Hoje, do Gil, que por motivos profissionais não pode visitar os blogues amigos:
Coração em labaredas vulcânicas.
Bjos
Votos de uma boa Terça-Feira
Boa tarde, querida amiga Elvira!
Emocionei-me...
Encontrar um homem assim é brinde...
Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem
Amor e carinho irão ajudar a superar o trauma ... bj
Sem querer parecer insensível, a violação sempre me pareceu um caso esquisito e não posso esquecer aquele ditado popular que diz_
- O que um não quer dois não fazem!
Belo comportamento dele. Fez toda a diferença! Que bom e acho que isso abre grandes portas do coração dela... Vai dar certo! bjs, chica
Adorei este capitulo, muito bom!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Gosto bastante dos pormenores, às tantas parece tudo muito real, talvez esse seja o sinal de que o que acabámos de ler está bem escrito. Prende. Não se desiste no meio do texto.
Boa noite, Elvira.
Abraço.
Para além da confessa violação, hoje mais nada de relevante aconteceu. Joana adormeceu. Pedro não a querendo incomodar terá de esperar que ela acorde!
Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço.
Eu bem que disse no episódio anterior que podia ter sofrido de violação.Coitada. Confesso que li o texto 3 vezes, gostei, chorei e...Espero que a jovem tenha o que merece. O carinho do Homem com quem casou. Creio que, o que supostamente seria por conveniência, irá dar frutos e muito amor vai existir! :)
Estou curiosa pelo próximo..
Beijo – Boa Noite
Que grande cavalheiro, gostei da sua atitude.
Agora vou dormir e esperar cenas dos próximos capítulos.
Bjs
Grande atitude de homem
Bjs
Hoje em Caminhos Percorridos - Canção do Fim
A espontaneidade recíproca é que valoriza o prazer do amor. Se não dá agora, poderá dar depois.
Abraços,
Furtado
Emocionante, intenso e pleno de sentimento verdadeiro, no qual o respeito fala mais alto que o desejo. Que lindo!!!
Abraços!
A violação deve ser mesmo algo que marca uma pessoa para o resto da vida.
Abraço
Bom dia
Depois de ler um episodio destes , só me resta dizer :
Quem é bom merece ter o melhor , e os dois merecem uma grande felicidade .
JAFR
A passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Episódio emocionante e muito bem descrito, o trauma que Joana recordou... e fazendo toda a diferença o comportamento de Pedro agora seu marido.
Beijinhos
Boa tarde Elvira,
Tal como imaginei só poderia ser um trauma quem motivara aquela reação de Joana.
Está muitíssimo interessante a história.
Um beijinho.
Ailime
Já não me surpreende a capacidade narrativa da Elvira.
Aos poucos, a retomar a rotina dos blogues e a entrar nesta história para dizer que vou ler os capítulos anteriores-
Bjinhos
SHOW, AMIGA
https://zilanicelia.blogspot.com/
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