A mulher que caminha apressada pelo parque da cidade, há anos, que deixou para trás a juventude, mas é ainda muito bonita. Morena, de estatura média, como a maioria das mulheres portuguesas, tem uns grandes e belos olhos negros, um rosto oval perfeito, emoldurado por uma farta cabeleira negra.
Helena
foi noutros tempos uma mulher muito bonita, mas a vida encarniçou-se de tal
modo contra ela, que fez desaparecer o sorriso da sua boca bem desenhada, o
olhar perdeu o brilho, as rugas apareceram antes de tempos e os cabelos
embranqueceram.
E se
os cabelos retomavam a cor com a tinta, não houve tratamento que lhe restituísse
a alegria perdida.
Curiosamente
nasceu no dia em que na Europa terminava a segunda Grande Guerra.
Os
seus pais eram muito pobres. Tinham casado muito apaixonados, numa época, em
que grande parte da população portuguesa, tinha mais sonhos que comida.
Helena,
foi a primeira filha do casal, que iria ter mais sete filhos depois dela. Por
companheiros de brinquedos, tinha não só os irmãos, como as outras crianças do
pátio, e até os primos que viviam perto. Tudo crianças que não sabiam o que era
uma boneca, ou uma bicicleta. Às vezes quando o Bernardino, caseiro da quinta
matava o porco, tratava a bexiga do mesmo, e a enchia de ar para dar aos miúdos
do pátio. Era uma alegria para os rapazitos. Para as meninas não havia
brinquedos. Elas eram instruídas logo de pequeninas para lavarem a loiça, fazerem
as camas, varrerem a casa e cuidarem dos irmãos mais novos. Elas podiam nem
aprender a ler, mas tinham que saber governar uma casa.
As
mães trabalhavam ali perto na Seca do Bacalhau. Um trabalho duro que as fazia
andar sempre cansadas para tudo, até para pegar num filho ao colo, ou dar-lhes
um beijo.
Quando
Helena fez a 4ª classe, foi "servir" para a casa do senhor doutor,
que ia uma vez por semana examinar o pessoal à Seca. Ele já tinha uma
cozinheira, e uma criada (era assim que se chamavam as empregadas
domésticas, naquela época) para a casa, mas precisava de alguém que a ajudasse,
já que tinha três filhos e a criada levava o tempo a queixar-se que não conseguia
sozinha tratar da casa e das crianças. E a esposa não tinha paciência para os
miúdos. Tinha as suas amigas, as visitas à igreja e as suas reuniões de
caridade.
Nessa
altura, passou a ser a Lena, e nessa casa ficou até aos dezoito anos como
"criada de servir" interna. Dormia e comia em casa dos patrões, e o
que ganhava ia quase por inteiro para ajudar a criar os irmãos mais novos.
Num
domingo de folga encontrou uma antiga amiga, vizinha do mesmo pátio, onde ambas
nasceram. Um pouco mais velha, ela tinha casado e o marido encontrava-se numa
comissão no Ultramar. No meio da conversa a amiga disse-lhe que um militar que
estava em Moçambique, na mesma comissão que o seu marido queria uma madrinha de
guerra, e a convidou para isso. Lena aceitou e em breve se correspondia com o
rapaz que até já lhe mandara a foto e era um belo moço.
Uns
meses mais tarde, o rapaz pediu-lhe namoro, prometendo-lhe que se casariam logo
que ele regressasse.
A
jovem estava farta da vida que levava. Alguém que lhe prometia uma vida
diferente era tudo o que ela pedira a Deus. Aceitou o namoro, e
mentalmente preparou-se para o casamento e para a vida que ela sonhava.
Quando
o rapaz chegou, foi falar com os pais dela, obteve autorização para o casamento
e começaram a tratar dos papéis. Arranjaram uma casinha, um anexo num prédio
perto da casa dos pais.
Não
era o que ela tinha sonhado, mas ele estava na tropa, ela deixara a casa do
senhor doutor, andava à procura de emprego, e ficava a promessa de mudarem para
uma casa melhor logo que fosse possível.
O
rapaz não tinha família fora criado com uma tia já idosa,
que já
não podia ajudá-los.
Pouco
antes do casamento, alguns eis colegas do marido advertiram-na que o jovem com
quem ela ia casar não era bem aquilo que ela pensava, e que deveria conhecê-lo melhor,
antes de casar, para não fosse sofrer algum desgosto. Ela porém estava
demasiado iludida com a “lábia” do rapaz e não acreditou em nenhum dos avisos.
Casaram-se
em Setembro de mil novecentos e sessenta e sete.
AVISO Esta história acaba amanhã
AVISO Esta história acaba amanhã
14 comentários:
Bom, passei, gostei e fiquei já a imaginar o fim da triste história.
Beijinho amiga.
!967 não foi um bom ano para casamentos, Elvira...pelo menos, para alguns.
Amanhã cá estarei para ver/ler o final desta história que me 'soa' a verídica!
Um abraço, boa semana e Bom Ano.
Creio ver ali um ponto de exclamação em vez de 1...
Gostei... vou continuar
Para o segundo dia do Ano, temos: "Perambular nesta viagem da vida"
.
Bjos e 2018 em grande.
Gostei de ler e que bom ainda posso acompanhar amanhã. Depois parto em férias! bjs, chica
Amanhã voltarei, quero ver o final dessa história bem tramada... quero ver o mistério do rapaz!
Beijinho.
Então é uma rapidinha, começa hoje e acaba amanhã. O que importa é que seja boa.
Então esta será uma história mais pequena, fiquei interessada e a torcer pela Helena
uma boa semana, um beijinho e até amanhã
Tantas as Helenas, nessa época.
Boa noite
Acaba amanhã mas pelo caminho que leva acho que o fim não vai ser cor-de-rosa.
bom dia
o namoro de antigamente era precisamente para que os jovens se conhecessem melhor , o que não me parece que tenha acontecido , mas por vezes as pessoas enganam muito e deve ter sido o que aconteceu com este casal.
vamos esperar pelo fim da historia , mas realmente não me parece que vamos ter um grande final , o que não é costume.
esperemos para ver !!
JAFR
... te sigo, lendo...
e, no fim, comento
Para o bem de Helena. Oxalá os alertas se tenham enganado!!!
Tenha um bom dia amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Estou curiosa quanto ao desfecho!!!
...
A novidade de hoje é aqui:
https://mgpl1957.blogspot.pt/2018/01/pensamentos-luz-das-velas.html
bj
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