O homem semicerrou os olhos, analisando o ambiente que o rodeava. Na pista, vários casais dançavam alegremente como se estivessem celebrando a própria vida.
Pela quinta vez, a mulher perguntou:
- Vamos dançar, querido?
Esboçou um gesto de impaciência. Desagradava-lhe a
insistência feminina.
Naquele sábado tinha decidido misturar-se na multidão que
se divertia. Entrara ali como podia ter entrado em qualquer outro recinto
semelhante. Mas já se cansara.
Pousou o copo e levantou-se. Era um homem alto, bem
proporcionado. Vestia umas calças justas, pretas, e uma camisa solta por fora
das calças. Era moreno de cabelos e olhos escuros.
-Já vais embora?- perguntou a mulher que antes o
interrogara.
- Já. Lamento não corresponder às tuas expectativas. Não
me apetece dançar.
- Que pena! Ia gostar de te conhecer melhor.
Não respondeu. No fundo estava desejando sair dali.
Na rua, parou por breves instantes, aspirando
profundamente o ar noturno. Depois encetou o caminho de regresso ao seu
estúdio, seguindo pela margem do Sena, observando o movimento dos pares de
namorados que por ali passeavam, entre silêncios e beijos. Tão diferente do movimento
de dia, onde grupos, de amigos ou famílias faziam piqueniques, e conviviam em
amena cavaqueira.
Ele também gostaria de passear por ali com a mulher que
amava.
Porém sabia que isso não ia acontecer. Com tanta mulher
bonita, logo tinha que se apaixonar pela única que nunca poderia ter.
Apertou os punhos ao pensar nela. Que estaria fazendo? Ia
casar, ele sabia. Só não sabia quando. Que fosse em breve. Ele havia de
sobreviver. E depois quem sabe, sabendo-a casada, deixasse de pensar nela e
naquele amor maldito. Entrou no velho prédio e subiu as escadas de madeira,
gastas pelo tempo até às águas furtadas, onde tinha o seu estúdio.
O local estava longe de ser luxuoso, mas da janela, ele
tinha uma das mais belas panorâmicas do mundo. E uma esplêndida luz para as
suas pinturas. Despiu a camisa, que atirou para o velho sofá, e em tronco nu,
dirigiu-se à janela.
Enquanto a sua mente se perdia em tortuosas recordações,
a seu lado, no cavalete, numa tela por acabar, uma jovem mulher, olhava
enlevada o bebé que amamentava.
Era a última tela para a sua próxima exposição.
16 comentários:
Continuo a acompanhar e estou a gostar.
Um abraço e Bom Dia de Reis.
Andarilhar
Já li, resta-me desejar-lhe rápidas melhoras e que tenha o sol a entrar-lhe pelas janelas e sorria por ser grisalha! Abraço.
Há histórias de amor assim!
Ainda não melhorou?
Bj amigo
Uns alegres outros tristes, porquanto, é assim na vida. "Quem me ama eu não quero, quem eu quero não me ama"!
Tenha um bom dia de Reis, amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
A passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Um salto até Paris. Muito bem, a história promete!
Telas
Sena
aguarda-se
a próxima cena
passo a página
Se tiver tempo...espreite aqui:
https://mgpl1957.blogspot.pt/2017/01/biblioteca-municipal-de-miranda-do-corvo.html
Bom fim de semana e cuide dessa saúde!!!
a passar por aqui hoje para desejar um bom fim de semana!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Bom sábado, Elvira...
Acompanhando o capítulo de hoje e percebendo sentimentos confusos, conflituosos... Uma tela a pintar que traz esperanças...
Bjs
O Simão está apaixonado pela irmã (adoptiva).
Interessante!
A curiosidade aguça-se :)
Oi Elvira,
Alguma coisa não me cheira bem nesse trio de amigos.
Cá se saber o quê.
Beijos
Lua Singular
Vamos ver.. será que o facto de a ver casada o vai mesmo ajudar a esqucê-la?
Sempre um traço comum nos contos: a curiosidade que despertam. Aplauso!
Boa noite, querida Elvira!
Contemplei o cenário e me coloquei no lugar do que já visualiza o próximo trabalho...
Bjm muito fraterno
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