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14.6.16

MANEL DA LENHA - PARTE LXXXVII



Em Fevereiro de 85, a médica de família da Gravelina, depois de uma visita lá a casa, manda que ela faça fisioterapia. Consegue-se uma terapeuta para ir ao domicilio, e sob os seus tratamentos a Gravelina melhora tanto que surge a esperança de que consiga recuperar.
A filha vai todos os dias fazer a higiene da mãe, o marido prepara e dá-lhe o pequeno almoço. Mais tarde, a empregada, toma conta do resto. Ela cuida da doente, 
prepara as refeições, dá-lhe a medicação e faz alguns trabalhos domésticos, só o essencial, já que existe outra pessoa que vai duas vezes por semana para as limpezas.
Se a vida em casa do Manuel está de "pantanas," o país não está melhor. 
Nesse mês, de Fevereiro,  Mota Pinto demite-se do governo e da presidência do PSD.
Também nesse mês surge uma novidade, em termos de jogo. A Santa Casa da Misericórdia lança o Totoloto. O Manuel nunca foi muito de jogos, mas a novidade e o facto da mulher estar tão mal, e as despesas serem tantas, faz com que arrisque de vez em quando uma, ou no máximo duas apostas. Mas estava escrito que não enriqueceria com o jogo.
No final de Abril, a Gravelina tem uma recidiva. Regressa ao hospital, onde permanece mais dez dias. As melhoras que apresentara até aí desapareceram. Por esses dias morre inesperadamente em Coimbra Mota Pinto. O antigo PM, com apenas 48 anos, tinha regressado à Universidade, e à sua vida de professor. 
Nesse mês de Maio, no XII congresso do PSD , contrapondo a candidatura de João Salgueiro, aparece uma figura que todos os portugueses conhecem bem. Cavaco Silva.
Diria mais tarde que apenas tinha ido à Figueira, para fazer a rodagem do carro, mas o certo é que se opôs intransigentemente à candidatura de João Salgueiro, e recebeu o apoio de Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice, Pedro Santana Lopes, e Durão Barroso. E claro com tal apoio não lhe foi difícil vencer o seu opositor. Portugal teria vivido melhor sem Cavaco Silva? Não sabemos. Mas pior é quase impossível.
Cavaco apoia Diogo Freitas do Amaral à Presidência da República, e no dia seguinte, a antiga PM, Maria de Lurdes Pintassilgo, anuncia a sua candidatura ao mesmo cargo.
Simultaneamente é publicado em Lisboa e Pequim, o compromisso sobre o futuro de Macau.
Manuel, não tem filiação partidária. Mas gosta de ouvir todos os debates, e tira as suas próprias conclusões.Não gosta de Cavaco Silva. E quando este rompe a coligação governamental, por Soares não aceitar os pacotes laboral e agrícola, por ele apresentados, a sua aversão torna-se maior.
Enquanto Portugal assinava solenemente no Mosteiro dos Jerónimos o Tratado de Adesão de Portugal à CEE, Manuel em casa andava às voltas com uma espécie de aparelhos que a terapeuta da mulher lhe disse que fariam falta para a sua recuperação. Assim, na ombreira da porta do quarto, ele colocou uma roldana por onde passou uma corda, colocando no punho da ponta esquerda da corda, umas correias. Deste modo, todos os dias se colocava a Gravelina sentada numa cadeira, por baixo da roldana, prendia-se-lhe a mão esquerda com as correias à ponta da corda, ( recordemos que ela estava paralisada do lado esquerdo) e com a mão direita ela subia e descia a corda, obrigando o braço esquerdo a movimentar-se.


15 comentários:

António Querido disse...

O Manel da lenha também não gostava de Cavacos! Estive com ele desse lado, só gosto de lenha que me aqueça os pés!
Com o meu abraço.

Blog da Gigi disse...

Ótima semana!!!!!!!!! Beijos

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou a gostar deste enredo da mistura da vida desta família com a vida politica do país.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Majo Dutra disse...

~~~
O conto está muito interessante, Elvira.
A vida pública contrabalança a descrição
dos fatos tristes da doença de sua mãe.
Abraço.
~~~

lis disse...

Oi Elvira
Fiz uma leitura dinâmica e estou já entendendo o conto do Manel da Lenha.
E gostando.
grande abraço, uma boa semana

Rosemildo Sales Furtado disse...

Olá Elvira! O aparelho, inteligentemente criado pelo Manel, ficou barato, mas pode-se garantir um ótimo resultado com relação à paralisia do braço. A história continua interessante.

Abraços,

Furtado.

Pedro Coimbra disse...

Lembro bem o dia da morte de Mota Pinto, pai de um colega de Faculdade (o Paulo).
E esse dia que viria a ser tão importante na minha vida da assinatura do compromisso acerca do futuro de Macau.
Um abraço

Isa Sá disse...

Acompanhando a história.


Isabel Sá
Brilhos da Moda

Olinda Melo disse...


Bem presentes temos ainda na memória esses dias da década de 80.

E a Gravelina, coitada, a lutar com a doença. E o Manuel da Lenha,
um homem que não se atrapalha perante as adversidades.

Bj

Olinda

Edum@nes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Edum@nes disse...

Ano de 1985, a vida do Manuel de "pantanas", surgiu o Totoloto, todavia, a sorte não lhe bateu à porta, as melhoras de Gravelina desapareceram. Na política o Pinto morreu, o Silva apareceu como um herói sem que o tinha sido, no tempo da vacas gordas, distribuiu pelos seus amigos os muitos milhões vindos da União Europeia. Mandou destruir a frota pesqueira, fez o mesmo com a agricultura, como em Portugal há muito vento, ele terá pensado de que isso seria suficiente para sustar o povo?

Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

15 de junho d

O meu pensamento viaja disse...

!985 parece que foi ontem ... e afinal tanta água correu debaixo da ponte!

Duarte disse...

Tive o privilegio de escutar de viva vós os teus relatos e cheguei à conclusão que falas igual que escreves.
Uma vida mais, que encanta pelo que representa.
Um grande abraço, querida amiga

Odete Ferreira disse...

Sempre muito bom recordar estes factos. Também nunca gostei de Cavaco Silva.
Pena a situação da mãe... :(
BJinho, amiga

Portuguesinha disse...

Quase perco "a fala" com a história familiar.
Por isso vou comentar a questão do Cavaco. Sempre me interroguei como é que o "sr. professor" - que mal consegue organizar uma frase clara - tinha ido parar à política. Agora já sei!