-Enquanto ela tentava
convencer-me, de que teria que lhe dizer o assunto que ali me levava, avancei
para a porta e abri-a sem lhe dar tempo para sair do seu lugar e me impedir.
-Oh! Foi muito arriscado!
- Eu sei. Ela pediu desculpas
ao chefe e perguntou se chamava os seguranças para me porem na rua, mas
felizmente ele resolveu que me dava uns minutos de atenção.
- Meu Deus, mulher! E não tiveste medo? E como é ele? Pareceu-te
uma pessoa compreensiva? O Gustavo diz que é um homem duro.
-Eu sei, também mo disse.
Confesso que quando me sentei na sua frente, de súbito recordei a conversa com
o teu marido e temi ter-me precipitado, não sabia bem como dizer-lhe ao que ia.
Porém quando ele me disse que estava à espera, como quem diz que não tem tempo a
perder, respondi-lhe que eu também estava à espera e ia esperar por nove meses,
se tudo corresse bem.
Inês olho-a espantada. Abriu a
boca e tornou a fechá-la, sem se atrever a interrompê-la.
-Claro que ele ficou surpreso, quis saber quem
eu era e aí contei tudo. E sabes que mais? Não me pareceu o bicho papão que me
pintaram no Centro Clínico. É um homem duro, sim. Provavelmente por tudo o que
lutou para chegar onde chegou. Mas também é um homem educado e compreensivo,
que acedeu ao que lhe pedi.
- O quê vai desistir da
criança?
-Por favor, Inês, não insultes
a minha inteligência. Tu achas que eu lhe ia pedir semelhante coisa?
- Então?
- Pedi-lhe para acabar com as
investigações, para deixar os tribunais fora do caso, falei-lhe da quantidade
de abortos durante os três primeiros meses, e prometi-lhe que depois de passar
essa fase, nos reuniríamos para discutir o futuro, tendo em conta o bem da
criança.
-E ele?
- A princípio, pareceu renitente.
Como se pensasse que eu aproveitaria estes três meses para fugir deixando-o de
fora da vida do filho. Mas depois de mais de uma hora de conversa penso que ele
confiou em mim. Sempre pensei ser mãe solteira, porque na verdade não acredito
no amor, nem confio nos homens. Desde menina aprendi que o amor traz
sofrimento, vi muitas vezes a minha avó chorar em silêncio a dor do abandono do
meu avô. E que dizer da traição do homem que me gerou, com falsas promessas de
amor, e sonhos de uma vida a dois, que nunca pensou concretizar? Talvez por
isso nunca me tenha apaixonado, e no meu sonho de futuro, só entravam eu e o
meu filho, ou filha, sem qualquer figura paterna à nossa volta. Acontece que a
vida resolveu armar-me uma cilada, e meteu-nos aos dois na mesma armadilha.
Para que consigamos sair dela sem muitas feridas, não pudemos lutar um contra o
outro desperdiçando as nossas forças. Temos que nos unir e tentar sair dela com
o mínimo de feridas possíveis. Foi isso que tentei fazer-lhe entender e creio
que o consegui.
- Sempre te achei uma mulher
de coragem, mas nunca como hoje tive tanta certeza disso – disse Inês.
- Bom, agora que já te contei
o que se passou, deixo-te só para que tomes contacto com este gabinete, que
vejas como estão organizadas as pastas, etc. A pastelaria tem uma página na Web, e uma conta de
email, o endereço eletrónico está nesta agenda, e encomendas e faturas podem
chegar pelo correio normal ou por email. Mas tudo o que chegue por email,
independentemente da pasta eletrónica onde o arquives, tiras uma cópia em papel
e arquivas na pasta correspondente. Pode parecer um pouco arcaico, mas é essencial, se houver uma falha de Internet, ou se por engano apagares o original. Com uma cópia em papel nunca ficas sem essa informação. Mas o teu pai virá para aqui logo que possa e
ajuda-te. Bom trabalho.
11 comentários:
Um capítulo da vida que fecha para dar início a outro.
Abraço
Para uma e outra, aqui se inicia um novo ciclo.
Forte abraço, Elvira.
Ela teve coragem e as coisas passam a andar,vamos esperando! beijos, chica
Boa tarde Elvira,
Teresa é uma mulher corajosa e com ideias claras e definidas.
Sabe o que quer e transmite essas ideias de forma bem transparente.
Beijinhos,
Ailime
A passar por cá para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Minha querida Elvira
Ansiosa por mais um capitulo
No entanto cuide de si acima de tudo para poder cuidar das suas netas e de todos os que ama
Até sempre
O encontro correu bem. Pior não seja no futuro.
Continuação de boa semana amiga Elvira. Um abraço.
Elvira
posso nao ter deixado comentário nos post anteriores, mas ando a seguir o conto com muito interesse.
admiro-a imenso como consegue narrar as cenas com tanta mestria.
beijinhos e saúde
:)
Realmente, coragem não falta à Teresa...
Excelente escrita, Elvira. Parabéns!
Bjs.
A sorte foi lançada!
Abraços!
Um texto de transição, muito bem escrito e penso que a seguir já estamos preparados para o grande desenvolvimento
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