Seguidores

10.6.20

ISABEL - PARTE XXI






A caminho de casa, Isabel interrogava-se. Que raio se passava com ela? Seria o aproximar dos quarenta anos? Um problema hormonal? 
Entrou no prédio e dirigiu-se ao elevador
- Boa tarde menina, - saudou a porteira que se dirigia para a porta da rua com um balde e uma esfregona.
- Boa tarde dona Rosa. Desculpe não a tinha visto. E dizendo isto abriu a porta do elevador.
- Não faz mal menina. Tenha cuidado ao sair do elevador, o chão pode não estar seco ainda.
- Terei cuidado. Até logo e obrigada pelo aviso
- Até logo menina. Vá com Deus.
A conversa com a porteira tivera o condão de a desviar dos seus pensamentos e sentia-se agora mais calma.
Quando dez anos antes, ela fora morar para aquele prédio, já a dona Rosa lá estava. Era uma mulher sozinha. O marido morrera há anos e o único filho que tivera emigrara para França. Queria fugir dum futuro sem esperanças. Lá casou e lá foi pai por duas vezes. A princípio vinha sempre a Portugal, todos os anos em Agosto. Depois os filhos começaram a crescer, foram para a escola, arranjaram amigos e foram-se desinteressando das férias em Portugal. Afinal lá é que era a sua terra e lá estava o seu futuro. Se a nora fosse portuguesa, decerto faria pressão para vir ver a família. Mas não era. Aos poucos as visitas foram rareando. A última vez que viu o filho e os netos foi no funeral do marido. Nessa altura o filho insistiu em levá-la, tinha lá boa vida, boa casa que comprara há poucos meses, e até tinha um quartinho para a mãe. Mas ela não quis. Costumava dizer “Vivi aqui toda a vida, quero morrer aqui". E depois eles têm lá a sua vida, os seus costumes e eu ia para lá servir de estorvo. São outras terras, outras modas."E burro velho não aprende línguas". "Aqui, tenho a sorte de ter este trabalho, tenho a casa, não pago renda, os inquilinos são como amigos, tratam-me com carinho que mais hei-de querer?”
Um dia Isabel perguntou-lhe: - Mas não tem saudades deles?
-Ai menina, se tenho. É uma mágoa sem tamanho. Mas sabe a minha avó sempre dizia. Quando casamos uma filha, ganhamos um filho, quando casamos um filho perde-mo-lo.
- Nem sempre dona Rosa, nem sempre.
- Claro, menina há excepções. Mas do mesmo modo que uma filha puxa o marido para nós, a nora também puxa o marido para a família dela. É a ordem natural das coisas, não há como fugir dela.
Isabel tinha um carinho especial pela porteira. Talvez fosse a solidão das duas que as aproximava, ou porque de certo modo a senhora lhe fazia lembrar da sua falecida mãe. 
Tomou um duche rápido, envolveu-se num roupão de seda e dirigiu-se à cozinha.
Não lhe apetecia cozinhar. Procurou no frigorífico as sobras da véspera. Tinha um pouquinho de frango assado. Também um resto de arroz branco. Meia alface, um pimento, e um tomate.
Na dispensa havia sempre uma lata de milho. Decidida fez uma salada de frango.                             

15 comentários:

noname disse...

UI, mas os dois moram no mesmo prédio? ai destino, ai destino eheheheh

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Este jantar tem sobremesa???

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história e desejar um ótimo feriado!

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

Aí está o tipo de jantar que também me calha na rifa, de vez em quando, e que odeio do fundo do coração. Mas nem vale a pena reclamar, pois seria mais uma razão para chatices.
Bom feriado!!!

Maria João Brito de Sousa disse...

:) Aqui, o destino tem um nome; Elvira Carvalho.

Parece que o destino acaba de aproximar os dois protagonistas desta história :)

Forte abraço, amiga!

Isabel disse...

Olá minha querida Elvira
Cada vezmais intrigante esta narrativa
Viva Portugal!

chica disse...

E vamos nós acompanhando ,gostanto e esperando! beijos, chica, ótimo dia!

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia:- Está a ficar uma Estória muito interessante de acompanhar
.
Um dia (feriado ou não) feliz
Cumprimentos

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Acompanhando....

desejosa de ler mais :(

bom feriado!

beijinhos

:)

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Um bom diálogo entre as duas e "cheira-me" que daqui vai nascer qualquer coisa. Talvez Isabel ainda venha ser neta da porteira amiga.
Um beijinho e bom feriado, com saúde.
Ailime

Duarte disse...

Desejo que tenhas um bom dia da RAÇA e que esta capacidade tua tão criativa não esmoreça jamais.
Beijinhos nossos.

Os olhares da Gracinha! disse...

O destino a orientar a história!!!
Bj

Edum@nes disse...

Neste epísódio de hoje nada de surpresas. Mas acredito que Isabel irá ter uma agradável surpresa não tarda muito!

Tenha, amiga Elvira, um bom dia de Camões, de portugal e das comunidades portuguesas. Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Muito bom! Como este mundo é pequenino!! :)
-

Deambulando na frescura das manhãs...


Beijos e uma excelente noite! :)

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Acompanhando mais um capítulo legal!
Beijos!