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4.6.20

ISABEL - PARTE XVII

                                             
- E depois? Não falaram? Não trocaram número de telefone? Não sabes como encontrá-lo?
Isabel abanou a cabeça e então contou o encontro do dia anterior, e de como ela fugira da estação de serviço de Palmela.
-Ó Isabel, tu estás irremediavelmente apaixonada - sentenciou Amélia.
- Estás louca! - Como posso estar apaixonada por um homem que mal conheço? De quem, nem o nome sei?
- Sempre achei que a tua fortaleza, a tua indiferença para as coisas do coração, era mais aparente que real. És uma mulher dedicada e sensível. Basta ver como cuidaste dos teus pais. Julgaste viver um grande amor…
- Não julguei. Eu vivi um grande amor – interrompeu Isabel
- Será Isabel? Eras uma menina ingénua e sonhadora que nada sabia da vida. Aos dezoito anos, não nos apaixonamos pelo homem. Enamoramos-nos do próprio amor. O homem, vem por acréscimo. E se muitas vezes é o companheiro ideal, que nos vai acompanhar pelo resto da vida, na maior parte das vezes os príncipes não passam de sapos disfarçados, que transformam os nossos sonhos em pesadelos. Culpa deles, ou nossa? Provavelmente de ambos, não sei. Consegues olhar para ti hoje, e, comparar-te à Isabel que eras nesse tempo? Claro que não. Quem nos diz, que se o Fernando não tivesse partido,  teria acompanhado a tua evolução? Ou quem sabe, não ficaria lá atrás no seu cantinho? Quem sabe se vocês, seriam hoje um casal feliz, ou se estariam divorciados? Ninguém.
Mas tu assumiste que ele era o teu grande amor e criaste à tua volta uma espécie de casulo, onde te encerraste, com a tua dor. Por causa disso afastaste todas as hipóteses de viveres um novo amor. Um amor de mulher, mais madura, que conhece a vida, os seus sonhos e as suas dores.
Isabel permanecia com os cotovelos em cima da mesa e o rosto entra as mãos. No fundo ela sabia que a amiga tinha razão. Mas custava-lhe admitir a verdade, até para si própria. Amélia passou-lhe a mão pelos cabelos, num gesto carinhoso, e acrescentou.
- Se a vida te está dando outra oportunidade não a desperdices minha amiga. Quem sabe se é a derradeira? E nada pior, do que viver o resto da vida imaginando, o que ela poderia ter sido e não foi por sermos covardes.
- Mas eu não sei nada sobre ele. Nem sequer o nome. Apenas que tem uns olhos cinzentos que parecem mergulhar dentro de nós até ao mais ínfimo da nossa alma. E uma voz rouca, sensual…
- E um corpo alto atlético e moreno, e uns braços fortes onde gostavas de te acolher – riu Amélia.
- Não sejas assim, - disse zangada. Vamos-nos deixar de conversas e trabalhar. Marca as entrevistas para quarta-feira. Uma para as dez horas a outra para as quinze. Telefona à Dulce e pergunta se a campanha do início das aulas que lhe entreguei antes das férias está pronta, quero vê-la. Como foi o Paulo que a aprovou, gostava que ele a visse. Se a gravação estiver pronta, telefona-lhe e pede para ele passar por cá para a ver.
Amélia afastou-se e levando a mão à testa, imitou o gesto do militar perante um superior dizendo:

- Sim chefe.

14 comentários:

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Gostei muito da conversa que Amélia teve com Isabel. A sua criatividade bem presente.
Vamos esperar que príncipe dos olhos cinzentos não tarde.
Beijinhos,
Ailime

Pedro Coimbra disse...

O reencontro está para breve...

Maria João Brito de Sousa disse...

Estou de saída para exames imagiológicos, mas voltarei para saber novas dos seus olhos, Elvira.

Por enquanto, o homem dos olhos cinzentos continua bem presente na mente da sua protagonista.

Abraço!

Os olhares da Gracinha! disse...

Uma conversa interessante!!! Bj

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Muito interessante este capitulo.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia:- Acompanhando a Estória que está cada vez mais interessante
.
Um dia feliz
Cumprimentos

noname disse...

eheheh vamos ver qual será a reviravolta que a vida dará a Isabel :-)

Bom dia, Elvira

Alexandra disse...

Uma problemática interessante que a Elvira desenvolve aqui numa conversa entre Isabel e a amiga.

Aguardemos o que as sincronicidades reservam a Isabel.

Um abraço :)

chica disse...

Estou adorando e brevemente teremos novidades...Legal de ler! bjs, chica

Cidália Ferreira disse...

Está interessante a estória!:)
-
A esperança pode renascer no amanhã

Beijos e uma excelente tarde...

Edum@nes disse...

Isabel está apaixonada. Pelo homem dos olhos cinzentos. Desde aquele dia em que lá na praia, em Lagos, foi agarragada pelos braços seus fortes!

Tenha uma boa tarde amiga Elvira. Um abraço.

aluap disse...

Sim, é uma falácia dizerem que está apaixona por um homem sequer sabe o nome!
"Cada coisa a seu tempo".

João Santana Pinto disse...

Mais do que a continuação do conto, este texto é uma lição de vida e que a personagem fez por não dar a merecida atenção.

Um amor de juventude, um primeiro amor, não pode ser visto como o único e muito menos ser o impedimento para 20 anos sem amar, para uma vida sem amor... O amor por vezes falha, mas a vida sem a tentativa, não tem lá grande cor...

Gostei mesmo muito e não estava à espera desta abordagem, daí o valorizar ainda mais

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

É sempre muito positivo conversas entre amigas, rola muitos desabafos, a alma fica exposta.
Beijos!