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10.3.20

DIVIDA DE JOGO - PARTE V




O homem não respondeu. Pegou nas chaves, dirigiu-se para a porta, abriu-a e colocou-se de lado para ela entrar. Depois fez o mesmo e fechou a porta atrás de si. Então a sua mão agarrou-lhe o braço como se fosse uma tenaz, ao mesmo tempo que dizia com voz rude.
- Vamos lá, mocinha, vai levar-me para a sala, que precisamos ter uma conversa séria.
Qualquer coisa na voz dele, levou-a a obedecer, encaminhando-se para a sala. Aí chegados, ele empurrou-a sem muita delicadeza para o sofá, onde ela se deixou cair, pálida de medo e raiva. A tensão entre os dois era enorme.
Então ele rompeu o silêncio.
-Não sei como era o teu casamento, - disse tuteando-a – todavia a julgar pelo teu marido e pelo vício que o dominava, não devia ser muito feliz. Eu chamo-me André Ferreira Angeloni. Meio português, meio italiano, tenho trinta  e três anos, e sou jogador profissional. Acredites ou não, nunca nos dez anos que percorro os casinos, em todo o mundo, tinha encontrado um indivíduo tão agarrado ao vício quanto o teu marido. Naquele dia ele tinha gasto todo o seu dinheiro, mas queria a todo o custo continuar a jogar. A banca não lhe cedeu mais fichas, provavelmente conheciam-no e sabiam que ele não poderia pagar. Então ele começou a percorrer as mesas abordando os jogadores, oferecendo-lhes a casa em troca de quem lhe desse meios para continuar a jogar. Eu estou cá há pouco tempo. Não conhecia o teu marido, mas não sei que diabo me passou pela cabeça, que me prontifiquei a trocar o que me oferecia pelo que desejava. Uma avultada quantia que ele trocou por fichas,  para continuar a jogar. E claro, voltou a perder. E antes que fiques a pensar, em coisas escusas, eu nunca joguei com ele. No dia seguinte, ele não foi ao casino e dois dias depois, ouvi comentários sobre o seu suicídio. Nem sequer sabia que ele tinha feito um testamento a meu favor, nem que tinha incluído a cláusula de teres que viver comigo seis meses. Ainda não entendo porque o fez. Só o soube hoje no advogado.
A única coisa que tenho comigo, é o documento da dívida e a oferta da sua residência, e de todo o seu conteúdo, como penhora dela.
Meteu a mão no bolso e tirou o documento, que lhe jogou para o regaço.
-Aí está. Podes verificar a data e as assinaturas. Dirás que a casa vale muito mais. De acordo. Mas de qualquer modo, depois do testamento que o teu marido fez, isso já não conta. Ele o fez, de livre e espontânea vontade, e em pleno uso das suas faculdades. 
Além de jogador, eu sou um cidadão do mundo, cheguei há pouco tempo a Portugal, não sei quanto tempo vou ficar. Estou num hotel. Suponho que esta casa terá um quarto de hóspedes. Vou deixar-te só para que leias a carta do teu marido e prepares um quarto. Amanhã ao fim do dia, trago as minhas coisas. Não precisas ter medo de mim, não te digo que pudemos ser amigos, porque não creio que o desejes, mas posso garantir que não te farei qualquer mal. Juro.





16 comentários:

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Grande momento de tensão.
Vamos ver como se desenrolarão os próximos capítulos.
Um beijinho,
Ailime

Pedro Coimbra disse...

O jogo às vezes dá bons resultados :)))

Maria João Brito de Sousa disse...

Caramba! Não me arrependo nada de sempre ter sentido esta espécie de repulsa instintiva por todos os jogos de sorte. Todos!

Abraço, Elvira.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está a ficar interessante.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

chica disse...

História que faz pulsar! Instigante! bjs, lindo dia! chica

noname disse...

Arranjes um quarto? Mas é que nem morta. Empregada dele, ou quê?

Hummm, mau maria...

Bom dia, Elvira

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia:- Por vezes ainda existe quem faça da dureza um ato de nobreza. Decerto que vão acabar por se apaixonar. É tão certo como 2 + 2 serem quatro.
.
Cumprimentos poéticos
.
^^^Minha Velhinha Mãe ^^^

Janita disse...

Porra, lá para o bruto...ainda por cima jogador profissional...!!
A cláusula de viver com o meio italiano carcamano, era de partilhar a casa, não de lhe fazer a cama...quem lhe fazia a cama era eu..eheheheh

Às tantas, foi para poupar o meu coração destas violências, que não li esta história, Elvira!! :)

Abraço e veja lá não me mate do coração.

Teresa Isabel Silva disse...

Acho que perdi alguns detalhes... Vou ver se me faltou algum capítulo!

Bjxxx
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Luccas Neto disse...

Achei muito interessante atualmente esta sua postagens. Parabéns!
Escolha um numero de 1 a 10

Edum@nes disse...

O jogo continua. Só no fim se será o resultado, se positivo ou negativo. Continuo a acompanhar.

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

O que o jogo faz! Está complicado! :)
-
Transparências ...
-
Beijo e uma excelente noite!

Os olhares da Gracinha! disse...

Complicado mesmo... Bj

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Cada vez mais interessante esta história!
Beijos carinhosos!

João Santana Pinto disse...

Um momento de texto provocador, no sentido que a ideia dele a mandar preparar um quarto, seria previsível ouvir "vozes" nos comentários… eu gosto muito deste tipo de provocações nos textos, o de fazer o leitor sentir algo, mesmo que seja de desagrado, até porque a vida é tudo isso...