Pousou
o telemóvel sobre a mesa-de-cabeceira, e dirigiu-se à casa de banho. Despiu-se, enfiou a roupa que acabara de despir, no cesto da roupa suja, abriu a torneira da água e meteu-se debaixo do chuveiro. Depois do duche, enxugou-se, enfiou
o robe sobre o corpo nu e regressou ao quarto. Retirou do armário umas calças de ganga e um suéter que vestiu. Voltou à casa de
banho, pendurou o roupão no cabide atrás da porta e olhou com
desconfiança a imagem que o espelho lhe devolvia. Pese toda a atração que provocava no sexo oposto, Gil nunca se considerara um homem bonito. Podia reconhecer que no conjunto dos seus traços, tinha um aspeto agradável, mas bonito não era. Todavia a imagem que naquele momento, o espelho lhe devolvia, nada tinha que merecesse um segundo olhar. Certo que
continuava a ter um porte atlético, mas os olhos mortiços e rodeados de olheiras, o
olhar cansado, a barba incipiente de quem passara o dia sem se barbear, o ricto
amargo na boca e o cabelo húmido, estavam longe de lhe dar um ar muito atraente.
Respirou fundo, passou os dedos pelos cabelos, puxando para trás uma madeixa
rebelde, endireitou a gola do suéter azul, e apertou o cinto nas calças de ganga.
Por fim saiu da casa de banho, desceu as escadas e dirigiu-se ao seu escritório.
O jantar seria às oito como era hábito, ainda tinha tempo para ver o correio, e
verificar alguns documentos que precisaria para o dia seguinte. Depois ao serão
analisaria a proposta que Luna, a sua agente lhe fizera chegar. Precisava
embrenhar-se no trabalho a fim de esquecer por algum tempo, o hospital, Sara e
Mariana a sua filha. Gostava de pensar nela dando-lhe o nome que iria ter, e
não como uma bebé. Era uma estupidez, o seu lado prático reconhecia-o, mas no
seu coração era como se ao pronunciar-lhe o nome lhe enviasse um sopro de vida
que a fortalecesse.
Mariana,
fora o nome da sua mãe. Uma mulher humilde e trabalhadora que criara sozinha os
três filhos, já que o marido, um mulherengo incorrigível, a quem ela ia perdoando todas as traições, acabara por troca-la por outra mulher mais jovem, logo após o nascimento de Laura, a mais nova dos três irmãos. Por
isso, ele escolhera esse nome para a filha. Como uma homenagem e um
agradecimento à mulher que tanto os amou e tanto se sacrificou por eles. Pena
que tivesse morrido tão jovem, sem que ele pudesse dar-lhe a velhice que ela
merecia, mas o maldito cancro acabara com ela em menos de um ano, precisamente na altura, em que ele ia assinar o primeiro grande contrato da sua vida. Graças a isso pôde montar a
pequena empresa de artigos desportivos, com que o irmão sonhava e pagar a
Universidade à irmã.
Depois
foram oito anos em que somou verbas astronómicas não só com o futebol, mas
também com os contratos publicitários. O nome de Gil Gaspar, tornou-se no toque
de Midas. Foi já nos anos finais dessa época dourada que conheceu aquela que viria a ser a sua mulher.
Sara
era uma jovem completamente desconhecida, muito bonita e com uma excelente figura, que sonhava vir a ser modelo, e que um agente de publicidade descobrira e convidara
para fazer par com ele numa campanha publicitária.
Era uma beleza, mas mais do que isso foi a sua timidez e o seu ar ingénuo que os
encantara, a ele e ao fotógrafo.
O
anúncio fora um êxito, e a agência convidara-a para alguns desfiles, mas o
mundo da moda é um mar de intrigas e interesses, onde é preciso muito mais do
que uma carinha bonita e algum talento, para se chegar ao cume.
14 comentários:
Simples e bem escrito texto, Elvira!
Gil continiua sua vida...
Beijinhos, flor, boa semana.
Proseando num dia
E agora vamos conhecer o percurso da Sara?
Boa semana
Estou a gostar e aproveito para desejar uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Ora então vamos ficar à espera que a Mariana venha a este mundo e fazer o funeral à Sara. De resto, logo se verá.
Boa semana !!!
E nós vamos te lendo, gostando ,esperndo mais! beijos, ótima semana! chica
Acompanho mais uma bela história de VIDAS!
Bj
Mais um belo episódio:))
Hoje :- Melancolia da lágrima
Bjos
Votos de uma óptima Segunda - Feira
A história está a adensar-se, curiosa para ver onde nos leva.
Bom dia, Elvira
Com o desenvolvimento, a curiosidade, também ela aumenta, resta-nos aguardar pelos próximos textos m(sorrisos)
Adorei episódio!
-
Sonho d'alma livre...
Beijo e uma excelente semana.
Foge!!! O tempo que o Gil demorou com conjecturas sobre a sua pessoa, bem apessoada ou nem tanto, e a autora demorou na descrição dos passos dados, após o banho do rapaz, já a Sara tinha entrado em campo e a história estaria no auge. Mas quem manda, pode. :)
Um abraço e boa semana, Elvira.
PS- Não se apresse, ande ao ritmo que puder, isto é uma brincadeira minha, quiçá de mau-gosto. Não leve a mal.
Este capitulo já o li. Voltarei para ler o próximo. E assim vou acompanhando mais um conto escrito, se puder até ao fim!
Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço
Oi Elvira! Aqui estou, lendo, gostando e aguardando os futuros acontecimentos.
Abraços e um ótimo final de semana para ti e para os teus.
Furtado
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