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21.10.19

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE IV





Pousou o telemóvel sobre a mesa-de-cabeceira, e dirigiu-se  à casa de banho.  Despiu-se, enfiou a roupa que acabara de despir,  no cesto da roupa suja, abriu a torneira da água e meteu-se debaixo do chuveiro.  Depois do duche, enxugou-se, enfiou o robe sobre o corpo nu e regressou ao quarto. Retirou do armário umas calças de ganga e um suéter que vestiu. Voltou à casa de banho, pendurou o roupão no cabide atrás da porta  e olhou com desconfiança a imagem que o espelho lhe devolvia. Pese toda a atração que provocava no sexo oposto, Gil nunca se considerara um homem bonito. Podia reconhecer que no conjunto dos seus traços, tinha um aspeto agradável, mas bonito não era. Todavia a imagem que naquele momento, o espelho lhe devolvia, nada tinha que merecesse um segundo olhar.  Certo que continuava a ter um porte atlético, mas os olhos mortiços e rodeados de olheiras, o olhar cansado, a barba incipiente de quem passara o dia sem se barbear, o ricto amargo na boca e o cabelo húmido, estavam longe de lhe dar um ar muito atraente. Respirou fundo, passou os dedos pelos cabelos, puxando para trás uma madeixa rebelde, endireitou a gola do suéter azul, e apertou o cinto nas calças de ganga. Por fim saiu da casa de banho, desceu as escadas e dirigiu-se ao seu escritório. 
O jantar seria às oito como era hábito, ainda tinha tempo para ver o correio, e verificar alguns documentos que precisaria para o dia seguinte. Depois ao serão analisaria a proposta que Luna, a sua agente lhe fizera chegar. Precisava embrenhar-se no trabalho a fim de esquecer por algum tempo, o hospital, Sara e Mariana a sua filha. Gostava de pensar nela dando-lhe o nome que iria ter, e não como uma bebé. Era uma estupidez, o seu lado prático reconhecia-o, mas no seu coração era como se ao pronunciar-lhe o nome lhe enviasse um sopro de vida que a fortalecesse.
Mariana, fora o nome da sua mãe. Uma mulher humilde e trabalhadora que criara sozinha os três filhos, já que o marido, um mulherengo incorrigível, a quem ela ia perdoando todas as traições, acabara por troca-la por outra mulher mais jovem, logo após o nascimento de Laura, a mais nova dos três irmãos. Por isso, ele escolhera esse nome para a filha. Como uma homenagem e um agradecimento à mulher que tanto os amou e tanto se sacrificou por eles. Pena que tivesse morrido tão jovem, sem que ele pudesse dar-lhe a velhice que ela merecia, mas o maldito cancro acabara com ela em menos de um ano, precisamente na altura, em que ele ia assinar o primeiro grande contrato da sua vida. Graças a isso pôde montar a pequena empresa de artigos desportivos, com que o irmão sonhava e pagar a Universidade à irmã.
Depois foram oito anos em que somou verbas astronómicas não só com o futebol, mas também com os contratos publicitários. O nome de Gil Gaspar, tornou-se no toque de Midas. Foi já nos anos finais dessa época dourada que conheceu aquela que viria a ser a sua mulher.
Sara era uma jovem completamente desconhecida, muito bonita e com uma excelente figura, que sonhava vir a ser modelo, e que um agente de publicidade descobrira e convidara para fazer par com ele numa campanha publicitária.
Era uma beleza, mas mais do que isso foi a sua timidez e o seu ar ingénuo que os encantara, a ele e ao fotógrafo.
O anúncio fora um êxito, e a agência convidara-a para alguns desfiles, mas o mundo da moda é um mar de intrigas e interesses, onde é preciso muito mais do que uma carinha bonita e algum talento, para se chegar ao cume. 


14 comentários:

Cléo Gomes disse...


Simples e bem escrito texto, Elvira!

Gil continiua sua vida...

Beijinhos, flor, boa semana.

Proseando num dia

Pedro Coimbra disse...

E agora vamos conhecer o percurso da Sara?
Boa semana

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou a gostar e aproveito para desejar uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Tintinaine disse...

Ora então vamos ficar à espera que a Mariana venha a este mundo e fazer o funeral à Sara. De resto, logo se verá.
Boa semana !!!

chica disse...

E nós vamos te lendo, gostando ,esperndo mais! beijos, ótima semana! chica

Os olhares da Gracinha! disse...

Acompanho mais uma bela história de VIDAS!
Bj

Larissa Santos disse...

Mais um belo episódio:))

Hoje :- Melancolia da lágrima

Bjos
Votos de uma óptima Segunda - Feira

noname disse...

A história está a adensar-se, curiosa para ver onde nos leva.

Bom dia, Elvira

João Santana Pinto disse...

Com o desenvolvimento, a curiosidade, também ela aumenta, resta-nos aguardar pelos próximos textos m(sorrisos)

Cidália Ferreira disse...

Adorei episódio!

-
Sonho d'alma livre...
Beijo e uma excelente semana.

Janita disse...

Foge!!! O tempo que o Gil demorou com conjecturas sobre a sua pessoa, bem apessoada ou nem tanto, e a autora demorou na descrição dos passos dados, após o banho do rapaz, já a Sara tinha entrado em campo e a história estaria no auge. Mas quem manda, pode. :)

Um abraço e boa semana, Elvira.

PS- Não se apresse, ande ao ritmo que puder, isto é uma brincadeira minha, quiçá de mau-gosto. Não leve a mal.

Edum@nes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Edum@nes disse...

Este capitulo já o li. Voltarei para ler o próximo. E assim vou acompanhando mais um conto escrito, se puder até ao fim!

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço

Rosemildo Sales Furtado disse...

Oi Elvira! Aqui estou, lendo, gostando e aguardando os futuros acontecimentos.

Abraços e um ótimo final de semana para ti e para os teus.

Furtado