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15.5.19

ESCRITO NAS ESTRELAS - PARTE I

REEDIÇÂO


Amigos, para a semana terão uma nova história.  Até lá vou reeditar, uma pequena história (3 dias). Alguns talvez se lembrem outros por serem leitores recentes não a terão lido. É uma história diferente por se tratar de gente sénior. Espero que vos agrade
                                                           




                                                                 I


O homem estacionou o carro e entrou no centro comercial apressado. Tinha sessenta e cinco anos, era alto e delgado. Com o uma farta mas bem curta cabeleira completamente branca, e algumas rugas apresentava ainda uma certa beleza apesar da idade. Os olhos azuis, qual pedaço de céu em dia ensolarado, o nariz retilíneo e a boca bem desenhada, eram parte do seu encanto. Apesar da idade, e das rugas, era ainda um homem muito interessante.
No olhar inquieto e no movimento das mãos, notava-se que apesar da sua presença forte, estava nervoso. Vinha para um encontro, que podia mudar toda a sua vida, mas… com quase vinte e quatro horas de atraso.
Quando Abílio tinha vinte anos, namorara Ema, uma rapariga da vizinhança, cinco anos mais nova.
 Ele sabia que ela era uma menina, mas gostava do jeito da gaiata, da sua personalidade,e pensara que como tinha uma vida à sua frente, podia esperar uns anos para que a rosa que se adivinhava naquele botãozinho, crescesse e desabrochasse esplendorosa.
Porém o pai da jovem não esteve pelos ajustes, proibiu o namoro, e ameaçou que o denunciaria às autoridades como pedófilo, se voltasse a vê-lo com a filha. Por essa altura Abílio foi para a tropa, e alguns meses mais tarde partiu no paquete Vera Cruz para uma comissão no norte de Moçambique.
Abílio não esquecia a sua pequena Ema, e tinha esperança de quando acabasse a comissão e regressasse a Portugal, o pai dela tivesse mudado de ideia, e não pusesse obstáculos ao seu namoro com a filha.
Isso mesmo escreveu numa carta amorosa, em que lhe falava das saudades que tinha dela, e lhe pedia uma fotografia para o acompanhar naquele tempo de provação.
A carta veio devolvida pouco tempo depois, como vieram as restantes que escreveu durante seis meses, até se convencer que era tempo perdido. 
Então um dia numa revista de espetáculos, viu umas páginas em que vários soldados pediam madrinhas de guerra, e resolveu escrever para a revista com o mesmo pedido. Aguardou impaciente, com um certo receio de não receber nenhuma carta, mas recebeu muitas.
 Ou era chique, ou moda, as moçoilas terem um afilhado de guerra. De todas as cartas, ele escolheu a de Fernanda, uma jovem de Santar, uma vila beirã de que nunca tinha ouvido falar até à data, mas cuja carta lhe pareceu a mais atilada de todas. 
De regresso à Pátria, ansioso por ver a sua amada Ema, sofreu o desgosto de saber que se tinham mudado para parte incerta, logo após a sua partida para África. Guardou no coração, todos os seus sonhos do futuro, e a recordação de um amor que nada mais lhe dera do que um terno e ingénuo beijo, e decidiu levar a vida em frente.


continua



13 comentários:

chica disse...

Gostei muito do início e,P por ele, já vemos quantas emoções haveremos de ter!Bjs e tudo de bom,chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Interessante vou acompanhar.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Edum@nes disse...

Estou conhecendo aquele navio. Nele embarquei, no Cais de Nacala, em Moçambique de regresso a Lisboa onde cheguei no dia 1 de Março do ano de 1966. Será que também lá vinha o Abílio?

Tenha um bom dia de Quarta-feira amiga Elvira. Um abraço.

Joaquim Rosario disse...

Boa tarde
Penso que já li esta historia , mas há pormenores que esquecem e é sempre bom reler historias da nossa autora .
JAFR

Larissa Santos disse...

O amor quando se entranha,mesmo com a ausência é difícil esquecer. Adorei :))
Hoje :- Sinto o perfume no ar numa distância atroz

Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira

Tais Luso de Carvalho disse...

Você descreve o personagem inicial de uma maneira encantadora, é objetiva, mas consegue dizer tudo. Já começou quase em guerra com o pai de Ema!
Vou seguir esse conto que promete ser muito bom, aliás, como os outros mas, que por falta de tempo não consigo segui-los até o final. Mas em breve conseguirei. Mudaram-se...hum... aguardo! rss
Beijo, amiga!

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde de paz, querid amiga Elvira, tenho andado fora de casa e não li o final da outra.
Vou procurar acompanhar esta que já gostei muito do início e me lembrou dos meus quinze anos onde eu e uma prima tínhamos um afilhado de guerra numa terra da Africa em me recordo mais pois nao nos era permitido namorar (rs) e nada mais do que isso foi... apenas escrever e conversar.
Gostei de ardor como você define o personagem.
Creio que o pai embargou toda correspondência anterior...
Vamos ver o próximo e me deixou super curiosa.
Tenha um dia abençoado!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Cidália Ferreira disse...

Gostei muito deste episódio. Há casos assim!! Outros tempos...

Beijos, boa noite.

Janita disse...

Até agora ainda não posso garantir ter lido ou não esta história, mas estou a gostar de ler.

Devia ser moda, porque eu, por volta dos dezoito ou dezanove anos. também tive um afilhado de guerra e escrevíamos aerogramas ou cartas com o carimbo «por avião». Foi um tempo engraçado, esse.

Um abraço, Elvira.

Anónimo disse...

A história é nova para mim, Elvira, embora me recorde vagamente da moda das madrinhas de guerra.

Abraço,

Maria João

teresa dias disse...

Agora sim, vou seguir uma história desde o início.
E gostei deste início de história de vida de Abílio, o tal que andou pela minha terra de coração: Moçambique, enviuvou de Fernanda e através da uma rede social reencontrou Ema, o amor da sua vida.
Será?
(Já li a II parte...)
Venha mais.
Beijo.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Muito interessante este conto.
Vou ler o capítulo seguinte.
Um beijinho.
Ailime

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Com dúvida se li ou não, mas vou continuar lendo, pois suas histórias são sempre envolventes seja na primeira leitura ou nas releituras.
Beijos carinhosos!