- Não foi por mal, Miguel, juro que não foi. Eu só queria tirar o carro da trajectória da carrinha, disse redobrando o choro.
O homem estava impressionado com o sofrimento da jovem. Percebeu que o sentimento de culpa era tão grande que a jovem não aguentara, e o subconsciente se refugiara na amnésia.
- Não fiques assim. A culpa não foi tua. Foi um acidente. Pensa que podia ter sido o contrário. Podia ser o teu pai que estivesse ao volante, e ele teria reagido exactamente da mesma maneira. Qualquer condutor reage dessa maneira. É instintivo. Não te atormentes. Tenta descansar. Vou buscar-te um copo de leite morno. Dizem que acalma.
Foi à cozinha e voltou com o copo de leite. Ajudou-a a deitar, e puxou-lhe a roupa para cima, cobrindo-a como se ela fosse uma criança.
- Agora, sê uma menina bonita e dorme. Amanhã conversamos.
- Não quero ficar sozinha, Miguel – murmurou segurando-lhe a mão
Sobressaltou-se o homem.
Dominando-se sentou na beira da cama.
-Está bem, dorme. Eu estou aqui.
-Cansada de tanta emoção, depressa a jovem adormeceu.
Ele ficou durante um bom bocado velando-a. Assim abandonada no sono, parecia ainda mais bonita, mais indefesa.
Sentiu-se incomodado. Como se a sua admiração de algum modo maculasse a pureza da jovem.
Levantou-se, apagou a luz e saiu rumo ao seu quarto.
Finalmente a jovem recuperara a memória. Mas havia ainda muita coisa por esclarecer. Se o acidente fora em Abril, e em Sevilha, o que fazia ela no final de Setembro em Lagos? Que teria acontecido, e por onde andaria, nesse intervalo temporal?
De toda a história ele retivera uma coisa. Com a morte do pai, ela ficara sozinha no mundo. Isso explicava porque nunca ninguém a procurara. Mas ela dissera que o pai gastara todas as economias na compra da casa. Onde seria essa casa. E a jovem estava preparada para viver sozinha? Teria meios financeiros para isso?
Em toda a sua vida, Miguel nunca se tinha visto numa situação tão complicada.
Que devia fazer? Nem sequer podia recorrer à ajuda médica, pois as sessões de psicoterapia tinham sido suspensas até depois do Ano Novo.
Já o dia despontava, quando finalmente adormeceu.
Quando Luísa chegou, admirou-se com a porta do quarto fechada, sinal de que Miguel ainda dormia. Desde que trabalhava na casa, era a primeira vez que tal acontecia.
13 comentários:
Realmente, de abril para setembro são mais de quatro meses e nesse período pode ter acontecido muita coisa. Vamos aguardar.
Abraços,
Furtado
Lembro-me de ter comentado quando pela primeira vez aqui foi publicado o conto que quase fiz o mesmo com o meu pai e padrinho nas curvas de Rio Maior.
Tivemos sorte.
Abraço
A passar por cá para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Bom dia
Acabou um sofrimento , mas não acabou o conto e ainda vai correr muita tinta.
JAFR
Mistério desvendado. Coitada....
O acidente que foi o causador da amnésia ontem fiquei quase com a certeza mas a escritora está sempre a nos pôr à prova ....agora é onde está a casa que o pai lhe deixou :((
Beijinhos
Vou aguardar para ver o que vai acontecer!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Este capitulo foi muito emocionante. Correram-me as lágrimas.
Bjos
Votos de uma óptima Quinta- Feira
Impactante a descoberta e vem muito mais ainda!!! Lindo! bjs, chica
Continuo a acompanhar com interesse.
Um abraço e continuação de boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Já pensei tantas vezes que uma coisa assim me podia acontecer.
Boa tarde Elvira,
Factos na verdade perturbadores bem reveladores da amnésia da jovem.
Vamos aguardar que ela continue a lembrar-se do que se passou entre Abril e Setembro.
Beijinhos,
Ailime
Ora muito bem. Foi um acidente. E onde esteve esse tempo todo? Internada? será que fugiu de algum lado?? Instigante...
Beijos e uma excelente tarde!
Enviar um comentário