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2.8.18

FOLHA EM BRANCO - PARTE IV


                                          

Numa parede um grande sofá, parcialmente coberto por uma manta alentejana, onde pontificavam algumas almofadas redondas, de croché, amarelas e castanhas, parecendo gigantescos girassóis. Na parece contrária, um grande quadro com dois jovens, vestidos de uma forma esquisita, talvez um traje do século XVIII, ou princípio do século XIX,  e sob ele um aparador. No centro da sala, uma mesa, cujo pé fora um dia, duma máquina de costura. Por toda a sala, quadros espalhados mostravam bem qual a profissão do dono da casa.
Num canto na parede do sofá, uma porta, que Miguel abriu dizendo;
- O quarto.
Depois reparando que a jovem continuava a olhar o retrato acrescentou,
-Eram os meus avós.  
E pegando-lhe na mão disse;
- Venha ver o seu quarto. Como a casa só tem um, enquanto aqui estiver, fica no quarto, eu fico aqui no sofá. Não será por muito tempo, logo vai lembrar de tudo e voltar à sua casa.
Miguel sabia que isso não era certo. A jovem poderia levar muito tempo para recuperar a memória, e ele talvez estivesse a meter-se numa camisa-de-onze-varas, como diria a avó Ermelinda se fosse viva. Mas sem saber porquê, sentia necessidade de animar a jovem, tanto quanto sentia de a proteger.
O quarto era pequeno. Uma cama de ferro, pintada de branco, uma mesa-de-cabeceira antiga com tampo de mármore, sobre o qual um  candeeiro com abajur em bola, e um livro. Havia ainda  um pequeno armário de portas escuras e lisas.
Na parede sobre a cabeceira da cama, um crucifixo de madeira, completava a decoração do quarto.
-Vamos, - disse Miguel, venha ver o resto da casa. Afastou um cortinado junto ao aparador e seguiram por um largo corredor.
Nele em tábuas corridas amontoavam-se dezenas de livros, o que demonstrava o gosto de Miguel pela leitura.
- Esta é a minha biblioteca. Pode ler o que quiser, e quando quiser.
E aqui é a cozinha.
A cozinha como tudo na casa era pequena. Num canto o fogão, e a seu lado uma grade de madeira com algumas panelas e frigideiras penduradas. Encostado à parede interior uma mesa rectangular com duas cadeiras, e sobre a mesa, num nicho na parede, alguns pratos e copos. Na parede que dava para o exterior a um canto uma porta, depois um frigorífico, e quase junto ao fogão, uma janela. Sob esta o lava loiça.

14 comentários:

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou a acompanhar com interesse esta novela.
Um abraço e continuação de boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

noname disse...

Rico de haveres não será, mas sê-lo-à, com certeza, de sentimentos e amor ao próximo, bons valores terá deixado a avó Ermelinda :)

Bom doa, Elvira

chica disse...

Cenário maravilhosamente descrito... BOm te ler! bjs, chica

António Querido disse...

Vamos ver se a magana não se começa a apaixonar pelo quarto!

Voltarei para saber! Abraço e boas férias.

Jaime Portela disse...

Lidos os 4 primeiros capítulos, apenas tenho a dizer que a sua escrita está cada vez mais ao nível dos bons romancistas.
Do que poderá sair desta história, que começa com uma eventual tentativa de suicídio, não faço a menor ideia, mas tenho a certeza que será mais uma história incrível e bem contada.
Elvira, um bom resto de semana.
Beijo.

Edum@nes disse...

Uma manta alentejana,
na cozinha tem um fogão
terá no quarto uma cama
para descansar a paixão?

Tenha com saúde umas boas férias amiga Elvira.
Um abraço.

Anete disse...


Lendo o seu novo conto com carinho... Suspenses e descrições bem feitas...
BOAS FÉRIAS, ELVIRA!!!
Abraço GRANDE

Cidália Ferreira disse...

Como nos descreve, estamos perante uma casa muito antiga. Pode ser bom para a jovem se lembrar de alguma coisa, começando pelos pais ou avós. Por vezes, vêm mais depressa à memória as coisas antigas do que as mais recentes. Digo eu, não sei!! Lool


Sonho que me acalenta...

Beijo e uma excelente tarde!

Joaquim Rosario disse...

boa tarde
Uma descrição de uma casa de um ser solitário mas um artista e um bom coração !
JAFR

Meu Velho Baú disse...

Além de artista tudo indica que seja um homem de bom coração.
Mais uma história que promete
Bom fim fim de semana

Kique disse...

Mais um capitulo que li com deleite
Bjs

Hoje em Caminhos Percorridos - Cuidado com a Periquita

Pedro Coimbra disse...

Apartamento típico de um homem solteiro...
Abraço, bfds

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Para ser lar de homem solteiro, o cenário é lindo e bem arrumado.
Beijos!

Os olhares da Gracinha! disse...

Continua a bela descrição que nos coloca lá!!!bj