-Bom o Jorge é um dos viticultores da região demarcada do
Dão. Tem uma quinta numa terra ali para os lados de Viseu. Porquê? Não estás a pensar procurá-lo pois não?
- Claro que estou. É meu pai, quero conhecê-lo.
-Tens noção que ele pode não acreditar em ti, e
rejeitar-te? Estás quase a fazer vinte e três anos e ele nunca soube que tu
existias. Por outro lado, quando o encontrei, estava acompanhado pelo enteado
que ele criou como um filho. O menino que era quando ele casou, é hoje um homem
de quase trinta anos.
- Não lhe vou bater à porta, e dizer, “Olá boa tarde, eu
sou tua filha.” Mas vou tentar vê-lo, saber que tipo de pessoa é. Talvez nem
lhe diga que sou sua filha, mas quero conhecê-lo. E se depois resolver que devo dizer-lhe, ele tem como tirar as dúvidas rapidamente. Hoje em dia com o exame de ADN, fica-se logo a saber a verdade. Preciso de arranjar trabalho. Pode
ser que tenha mais facilidade lá que em Lisboa. Pelo menos por um tempo. Depois regresso.
-Vejo que estás decidida. Quando partes?
-Para a semana. Logo que tenha tratado de tudo por aqui.
Depois ficas-me com a chave do correio e passas por cá, de vez em quando, por
causa das faturas?
-Claro. E queres que as pague?
- Não. Mandas-me uma mensagem com os dados para pagar no
multibanco.
- Bom, então penso que está tudo dito. Telefona-me antes
de ires para que venha buscar as chaves.
Pôs-se de pé, e estendendo os braços acolheu neles a
sobrinha. Deu-lhe um beijo na testa e afastando-a um pouco disse fitando-a:
-Cuida de ti, Lena. Lembra-te. Aconteça o que acontecer,
estarei sempre aqui para ti.
-Obrigado, tio. Julgo que sabes que gosto muito de ti.
Telefonar-te-ei para te contar o que acontecer.
Fechou a porta quando o tio saiu e regressou à sala
Guardou cuidadosamente os documentos no envelope, e voltou a colocá-lo na caixa
que levou para o seu quarto.
Sobre a cómoda, numa moldura, uma senhora ainda jovem e
bonita, sorria-lhe. A jovem pegou na moldura e ficou olhando-a com tristeza
durante alguns minutos. Na sua cabeça havia uma interrogação contínua desde que
fizera aquela descoberta.
“Como é que foste capaz, de me fazer isto, mãe? Como foste
capaz de me roubar o direito a ter um pai?”
Aproximou-se do espelho e olhou-se. Depois olhou o
retrato. Não havia dúvida, as duas eram bastante parecidas. O mesmo rosto
redondo, os mesmos olhos e cabelos negros.O formato do nariz. Porém ela era
bastante mais alta do que a mãe, e o queixo e boca não tinham qualquer semelhança. A sua
boca era maior, os lábios mais carnudos. Seriam esses os traços do seu pai? Recolocou
a moldura sobre a cómoda.
A casa sem a presença da mãe, parecia-lhe enorme, fria e
vazia. Abraçou-se a si mesma, na tentativa de minimizar a solidão e tristeza que sentia.
Que não era só pela ausência física da mãe, mas pela mágoa que lhe causara
descobrir, que a mulher que ela considerava cheia de garra, uma mãe
coragem, a quem sempre adorou, era afinal uma santa com pés de barro, uma mulher capaz de
por vingança, sonegar à própria filha o direito a conhecer o pai.
Amigos, entre hoje e amanhã, sairão três partes da história, ou seja mais duas para além desta. Dia 28 é um dia muito especial, é a festa de anos do filhote, dia 29 tenho cá a neta, e depois mete-se o fim de semana que desejo que gozem em paz, pelo que o capítulo XI só sairá segunda feira.
Amigos, entre hoje e amanhã, sairão três partes da história, ou seja mais duas para além desta. Dia 28 é um dia muito especial, é a festa de anos do filhote, dia 29 tenho cá a neta, e depois mete-se o fim de semana que desejo que gozem em paz, pelo que o capítulo XI só sairá segunda feira.
15 comentários:
Ela está certa! Tinha que ir ter com o pai.Saber dele, vê-lo... Que bom que foi comunicado enquanto ele tá vivo!
Adorando! beijos, chica
Sempre pronta para ler as novidades!! Helena faz bem, oxalá não se arrependa...Tudo indica que não!! :) Amei!
Beijos e um excelente dia!
Então está mesmo decidida. Faz muito bem. Acho que ainda vai ser útil ao Pai. :))Bom este capitulo. Venham os outros ;))
O meu olhar triste, reflecte no coração
Bjos
Votos de um óptima Terça-Feira
Helena faz muito bem em procurar o seu pai. Se ele for um pai verdadeiro, penso que ficará muito contente em conhecer a filha que lhe foi escondida pela mãe que o não deveria ter feito!
Tenha uma boa tarde amiga Elvira.
Um abraço.
Não querendo ser mais papista que o Papa, quer-me cá parecer que ainda vai ficar tudo em família...é cá um palpite!!!
:)
Como está decidida ... vamos aguardar!bj
Muitos parabéns ao teu filhote!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
O pai deve ser boa pessoa e é de louvar ela (filha) querer mudar-se para uma região cada vez mais abandonada.
Estou a gostar muito deste conto, agora ainda mais porque mete um viticultor da região demarcada do Dão (a minha terra faz parte da Região Demarcada dos Vinhos do Dão e da Região Demarcada do Queijo da Serra).
Quanto ao resto, cheira-me que ainda vamos falar muito do enteado.
Abraço, cont. boa semana.
Se fosse eu também quereria conhecer o meu pai. Logo se vê como vai correr :)
Boa noite Elvira
Só tem que fazer a viagem para conhecer o pai
Bjs
Hoje em Caminhos Percorridos - BRUNINH@
A história mete vinho do Dão! Cada vez estou a gostar mais!
Boa noite Elvira,
Estou a gostar muito do desenrolar da história.
Creio que o pai não a rejeitará e o enteado, quem sabe, se não virá a ser um noivo para Helena:))?
Beijinhos,
Ailime
Lendo tudo de seguida como gosto.
Acredito que vá à procura do Pai, tem esse direito.
Bjs
Espero que ela não se decepcione ao conhecer ao pai. Talvez a mãe escondeu a verdade do pai para poupa-lá mais tarde.
Bjs!
Retomando, depois de uma ausência ocasionada por excesso de atividades profissionais, para retomar essa bela história.
Beijos carinhosos!
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