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1.11.16

ESTRANHO CONTRATO - PARTE IX



Depois do almoço, e de ajudar a mãe a arrumar a cozinha, Francisca foi deitar os filhos para dormirem a sesta. As crianças não tardaram a adormecer. Ela sabia que o pai sempre ficava a cochilar àquela hora e a mãe não perdia a novela. Assim deixou-se ficar no quarto pensando. Mas por mais que tentasse pensar noutras coisas, o pensamento sempre ia parar na proposta da amiga. Era uma maluquice. Mas e se desse resultado? Não conhecia Afonso. Como seria ele? Era mais velho que a irmã. Mas seriam muitos anos? Não se lembrava de ter ouvido a idade. Mas também que importava isso. Ela não pensava aceitar. Ou aceitaria? Que estupidez, aquilo eram coisas da Graça, o irmão ia lá querer casar com alguém só por causa das filhas. Metia-as num bom colégio interno e pronto. Ficava tudo resolvido. Mas a amiga dissera que o irmão queria alguém que lhe cuidasse das filhas como se fosse a mãe. Bom para ela, isso não era entrave. Adorava crianças. E então meninas. Quando estava grávida sonhava tanta vez com meninas, vestidos e lacinhos. Mas o destino brindara-a com dois meninos.
Cansada acabou por adormecer. Acordou sobressaltada com a mãozinha de Simão acariciando-lhe a cara. Soergueu-se e olhou para o filho mais novo. Dormia profundamente. Pôs um dedo sobre os lábios indicando ao filho que não fizesse barulho, para não acordar o irmão, sentou-o na cama e calçou-lhe os ténis. Verificou que um estava roto. Estremeceu. Mais uma despesa! Devagarinho, saíram do quarto fechando a porta com todo o cuidado para não acordar João.
- Mãe, tenho sede, -disse o menino mal saíram do quarto.
Dirigiram-se à cozinha. Francisca encheu um copo de água e estendeu ao filho. A criança bebeu um pouco, e perguntou de súbito:
- Quando é que o pai volta?
- Não sei.
- Não vai voltar nunca mais, pois não, mãe?
Francisca sentiu um aperto no peito. Abraçou o filho:
- Porque dizes isso?
O filho respondeu com outra pergunta:
- É verdade que o pai morreu?
- Quem te disse isso?
- Ouvi uma conversa da avó com a vizinha. Não chores. Eu não choro, vês?
- És um menino muito corajoso, Simão. É verdade, filho. O teu pai agora é uma estrelinha no céu. Mas não contes ao teu irmão. Ele é muito pequenino, vai sofrer muito e não queremos isso pois não?
- Claro, mãe. É um segredo só nosso. E não quero que chores, - disse abraçando a mãe com toda a força dos seus quase cinco  anos.



15 comentários:

Edum@nes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Edum@nes disse...

A proposta da amiga Graça, dá que pensar a Francisca, aceita ou não aceita. Só poderá ter a certeza se aceita ou não aceita, depois de conhecer o Afonso?
Até lá fico esperando, pelo desenrolar dos acontecimentos dos próximos capítulos!
Boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

chica disse...

Está lindo o desenrolar e tocante a parte do menino...bjs,chica

Rogério G.V. Pereira disse...

Eu sei que há crianças fortes (olá se as há)
mas tens de criar um ambiente mais verossímil...

o mais acertado (e humano) seria depois dessa tentativa
(não chores...)
chorarem os dois

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

Tenha um ótimo dia.

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

Bom dia!
Passando para acompanhar a história.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Há situações que podem ser dramáticas, estou a gostar da história.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar

Marina Filgueira disse...

¡Hola, Elvira!

Es un relato muy interesante bien pudiera ser realidad, se desarrolla entre la tristeza y también la picaresca, me ha gustado leerte, tienes un gran talento para relatar historias, vivencias. Te felicito.

Te dejo mi gratitud y mi gran estima.
Un abrazo y, se muy feliz.

Rui disse...

Bom. O futuro próximo, a sua decisão, já nós sabemos ! :)
A minha expectativa é se o casamento, como tal e não como contrato irá resultar ! ... Cá para mim, é fatal que sim ! ... Aposto ! rsrsrs

Abraço

Anete disse...

Estou gostando desses últimos acontecimentos... Penso que terminará bem, a vida tem dessas coisas surpreendentes...
Hoje, feriado por aqui/Dia de Finados...
Bjs

António Querido disse...

Não esperei por sexta feira, passei hoje para lhe deixar o meu abraço!É uma honra receber tão ilustre convite, OBRIGADO, quem sabe um café no fim de almoço???

Lua Singular disse...

Oi Elvira
Da uma tristeza danada contar para os filhos. Meu marido morreu e meu filho tinha 2 anos. Foi uma barra. Aos nove anos arrumei outro pai pra ele. E vivemos felizes a 24 anos
Acompanhando....
Beijos
Lua Singular

Gaja Maria disse...

Estou ansiosa para saber mais. Abraço Elvira

Rosemildo Sales Furtado disse...

Acho que o filho mais novo já deveria saber a verdade sobre o pai. Acredito que sendo mais novo, menor será a dor.

Abraços,

Furtado

Smareis disse...

Acompanhando e adorando.
Beijos!