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7.6.16
MANEL DA LENHA - PARTE LXXXIV
Navio-Motor "Neptuno" largando de Lisboa para uma nova campanha
foto Luís Miguel Correia
Como já se disse, a Seca da Azinheira tinha agora apenas um navio, o Neptuno que desde 1980, transformado em navio congelador, deixara de pescar nos mares do norte, mas para lá se dirigia, para carregar bacalhau já pescado.
A Seca era naquele ano de 1984, uma sombra do que já fora. E era o primeiro ano que o Manuel lá não trabalhava depois de mais de meio século, naquele trabalho. Agora o trabalho já é feito apenas com o pessoal da seca e das povoações vizinhas. Já não vem pessoal do norte, as grandes maltas, com as suas camaratas e os enormes fogões a lenha estão fechadas, o próprio armazém da lenha está encerrado. Lá dentro, a sua bancada " a serra circular" os machados, as marretas, o carro de mão e o espaço vazio, são testemunhos mudos do duro trabalho ali realizado durante décadas.
Manuel conseguiu com o gerente autorização para continuar a cultivar o seu quintal, enquanto tivesse forças para isso, e nele entretém a sua ociosidade, fazendo o que sempre fez. Cavando, semeando regando e colhendo, embora agora tenha reduzido o espaço outrora cultivado.
A ele não lhe preocupa nada que a D. Branca tenha sido presa nesse mês de Outubro.
Dinheiro de sobra para investir, ou pôr a render, foi coisa que nunca teve. Com ordenados pequenos e as sucessivas maleitas da esposa, não havia grandes sobras.
Novembro ia quase a meio, quando a Gravelina partiu uma perna. Levada para o hospital, foi-lhe colocado gesso, tendo-lhe o médico dito que não lhe era posto calcanhar na bota de gesso, porque ela teria que ficar na cama, o tempo todo da cicatrização, não podendo andar de pé. Sem mais explicações. A ela aquilo fez-lhe muita confusão, pois estava farta de ver gente a andar, com uma perna engessada, e considerava que uma perna partida, não era doença para ficar acamada.
A irmã mais nova, a viver em Lisboa, logo que teve conhecimento do que aconteceu, apareceu lá em casa com uma mala, e a disposição de ficar a tratar dela e da casa até à sua recuperação, pois sabia que a filha mais velha da Gravelina, com 4 crianças em casa, todas pequenas, não podia tratar da mãe. E ela era sozinha, o filho já estava casado, não vivia com ela, e depois lembrava-se bem de que a irmã, praticamente fora uma segunda mãe, quando ela viera da terra, ainda criança.
Ainda assim, não conseguia manter a irmã na cama, como recomendação médica. Ela insistia, que a cama lhe fazia dores nas costas, e que uma perna partida não era doença.
Essa teimosia iria afectar a vida de toda a família, naquele fatídico sábado dia 17 de Novembro.
Pouco passava das dez, quando a filha mais velha do Manuel que se aprestava para sair, (tinham decidido comprar uma mobília nova para o quarto do menino), recebeu uma chamada da tia, pedindo-lhe que fosse lá a casa com urgência.
Lá chegada, encontrou a mãe sentada na cozinha e ralhou lembrando-lhe a recomendação médica.
Ela porém disse-lhe:
-Deixa-te de sermões e vê lá como está a minha tensão.
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12 comentários:
Quanta coisa acontece e sempre bom que aparece alguém com disposição pra da mãe cuidar.. Belo capítulo! bjs, chica
Ai partir uma perna deve ser uma coisa terrivel. A pessoa deve sentir-se completamente impotente e dependente dos outros :(
Ah a tensão, tem de ser sempre vigiada com cuidado!
Abraço Elvira.
Estou a seguir esta história com muita curiosidade e interesse.
Como sempre as coisas complicam-se quando menos se espera...
Cumps
Pobre Gravelina, Elvira.
E ainda o que virá...
bjn amg
En mi infancia, en el colegio, Portugal y sus barcos por el mundo, se me hacían una sola realidad. En tus historias, apreciada Elvira, esa unión indisoluble revive con creces.
Tive um inicio de semana mais difícil e venho agora por-me a par desta fabulosa história..vou recuperar os outros posts.
Beijinho grande
elisaumarapariganormal.blogspot.pt
Há mulheres assim,
não param nem por nada
seja a perna, seja até a cabeça
a parte do corpo engessada
vejamos, então
como ela tem a tensão
Amiga Elvira, não deve ser nada fácil ter uma perna partida e ter que estar na cama. A tensão só pode ter subido e a fez parar. Estou a gostar da história e cá fico à espera de mais. Beijos com carinho
Aproxima-se tragédia...
~~~
As quedas e fraturas são ainda responsáveis
por uma larga percentagem de mortes.
Lamento o fim da frota pesqueira que podia
continuar a ser modernizada.
Abraço, Elvira.
~~~~~~~~~~
Foi uma queda que acelerou a morte da minha mãe!!!
Bjoca
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