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17.3.20

DIVIDA DE JOGO - PARTE X





Apesar de todas as preocupações, não só conseguiu dormir, como só acordou, quase às oito da manhã. Tomou banho, vestiu-se, arrumou o quarto, e foi para a cozinha, onde fez um sumo de laranja e umas torradas. Contrariamente ao habitual, não ligou o rádio para não acordar o homem que devia estar a dormir no quarto de hóspedes.
Saiu de casa às nove horas. 
Habitualmente ia a pé para o emprego, a clínica não ficava longe de casa, mas como tinha decidido ir ao orfanato ver a Irmã Madalena, na hora do almoço, decidiu levar o carro.
O trabalho na clínica não era fácil de suportar naqueles dias. As pessoas conheciam-na, sabiam do suicídio do marido. Queriam mostrar-lhe que estavam solidárias com a sua dor. Não faziam por mal, mas quando mais falavam, mais a faziam recordar o momento difícil que estava a passar.
Quando a clínica fechou a porta para o almoço, ela meteu-se no carro e dirigiu-se ao orfanato. Comeria alguma coisa depois, se tivesse tempo.
A Irmã Madalena, supervisionava um grupo de crianças, que brincavam no pátio. Abraçou-a com carinho.
-Que bom que vieste, Eva. Tenho estado tão preocupada contigo. Como estás filha?
- Como Deus quer, Irmã. Preciso muito de falar consigo. Não tem ninguém para cuidar dos meninos?
- Claro que sim, filha. Podes ir chamar a Irmã Maria? Deve estar na biblioteca.
Eva encontrou-a, no corredor, antes mesmo de chegar à biblioteca. Transmitiu-lhe o recado e seguiram as duas para o pátio. Depois, a Irmã Madalena levou-a até ao seu gabinete, onde Eva lhe contou tudo o que tinha acontecido depois do último encontro que tiveram no funeral de Alfredo. Por fim estendeu-lhe a carta que o advogado lhe entregara. A Irmã estava espantada. Abriu os braços e a jovem refugiou-se neles.
- Pobre menina. Como deves estar a sofrer! Tu sabes que não me agradou o teu casamento com o Alfredo. Havia qualquer coisa nele que não me agradava. Mas tu estavas tão feliz, que pensei que me tinha enganado. 
-E fui feliz durante uns meses, Irmã. Depois o comportamento dele alterou-se. Passou a sair quase todas as noites, chegava tarde a casa. Às vezes vinha eufórico, mas a maioria das vezes, vinha aborrecido. Perguntava-lhe se o podia ajudar mas ele não se abria. E o dinheiro desaparecia. Ultimamente era com o meu ordenado que governava a casa.
Pensei que ele tinha uma amante. Quis falar com ele, obrigá-lo a confessar. Deixou-me a falar sozinha e foi atirar-se daquele terraço. Nunca imaginei que fosse jogo, muito menos que fosse capaz de jogar a casa e a própria mulher.

2.7.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE XXXVIII





A criança estendeu-lhe os braços com a boneca na mão dizendo:
- “Suana”
-Chama-se Susana a tua boneca?
-Sim.
- Depois explico-te - disse Isabel ao ver o marido franzir as sobrancelhas.
Ele aproximou-se e disse-lhe:
-Tens as torradas frias. Vai comer que eu acabo de lhe dar a papa.
- Depois faço outras, e comemos juntos, - respondeu. - Queres torradas, ou preferes filhoses.
- Torradas. Os doces, só à sobremesa, senão tenho de passar o resto do ano no ginásio, - disse sorrindo.
A menina acabara de comer. Isabel pôs o prato na mesa, limpou a boca da criança, tirou-lhe o babete, desapertou o cinto e ia tirá-la para a por no chão mas Ricardo apressou-se a pegar-lhe ao colo.
- O pai hoje ainda não ganhou um beijo da sua Princesa.
A menina deu-lhe um beijinho rápido, ansiosa para ir brincar. Ricardo fez-lhe a vontade. Depois foi à sala, trouxe o cavalinho de baloiço para a cozinha e ela apressou-se a montá-lo.
Ricardo sentou-se à mesa e encheu dois copos de sumo de laranja, enquanto Isabel punha manteiga nas novas torradas.
-Porque é que a boneca se chama Susana? – perguntou em voz baixa
- Parece que a amiguinha com quem brinca no parque se chama assim. E como é a única amiga que tem…
-Bom, por mim não tem importância, mas não te custa?
- Já não é tão doloroso. O tempo ensina-nos a viver com a recordação. Minha mãe sempre dizia, que quando Deus fecha uma porta, abre uma janela. Quero muito acreditar nisso.
-E a Matilde é essa janela?
-É.
- Está um dia lindo, depois do almoço, pudemos ir dar uma volta até Cascais ou Sintra, - disse Ricardo mudando de assunto. Gosto de ver o mar.
-Esqueces que temos convidados?- perguntou Isabel.
- E daí? Decerto eles vão gostar mais de passear do que ficar o dia inteiro em casa. Ou não te apetece sair?
-Claro que sim. Eu também gosto de ver o mar. Faz-me sentir em paz comigo e com o mundo, e até esquecer preocupações.
- O que te trás preocupada?
- A Natália. Já te disse, que ela tem sido como uma mãe para mim. Com o nosso casamento e a minha saída do prédio, fica muito só.
-A mim parece-me que não será por muito tempo. Ela e o Artur andam muito entusiasmados.
-É disso que tenho medo. Que por solidão, ela se envolva numa relação que a faça sofrer.
Tinham terminado o pequeno-almoço, e ambos se levantaram. Ela começou a tirar a loiça da mesa, e ele ligou a máquina do café.
-Parece-me minha querida, que te sentes fadada para carregar o mundo nas costas. A Natália e o Artur, são adultos, têm mais do que idade para saberem o que querem e o que fazem. Se tiverem que ser felizes, são, e se tiverem que sofrer, sofrem. Tu não podes fazer nada para o evitar, não tens qualquer interferência no destino deles. Por isso, põe um sorriso nesse rosto lindo e deixa de te preocupar - disse colocando as chávenas de café na mesa.
No chão, Matilde alheia à conversa dos adultos, saíra do cavalinho para embalar nele os seus amiguinhos “Bias “ e “Suana”.


O meu pc foi hoje para a oficina, mas o técnico diz que só quarta feira me dirá se vale a pena ou não arranjar, pois se a avaria for grande o melhor será comprar um novo já que aquele já é muito velhinho. 
Ter que escrever qualquer coisa, como este aviso no Smartphone, para mim que sou um calhau com olhos nestas coisas. é uma aventura.



10.8.18

FOLHA EM BRANCO - PARTE XII





Pouco passava das dez da manhã, quando um raio de sol, poisou sobre a face de Miguel, acordando-o.
De momento estranhou ter dormido vestido no sofá, mas logo a lembrança do que tinha acontecido na véspera, e de que não estava sozinho em casa o trouxe à realidade.
Levantou-se, sacudiu as calças, bastante enrugadas, passou a mão pelos cabelos e deu uma olhada rápida ao quarto, cuja porta se encontrava aberta. Estava vazio, a cama feita. Logo, a jovem teria acordado cedo.
Encontrou-a na cozinha
-Bom dia, - saudou olhando-a directamente, nos olhos, numa muda pergunta.
-Bom dia Miguel. Está tudo na mesma, como se tivesse a cabeça completamente oca.
Admirou-se com a sagacidade da jovem. Tinha lido nele como num livro aberto.
- Já comeu alguma coisa?
-Fiz umas torradas e um sumo de laranja.
-Bom. Vou tomar um duche e depois falamos.
- Algum tempo depois, regressou, envolto num roupão, o cabelo pingando, o rosto recém-barbeado.
- Tenho que ir ao quarto. Desculpe, mas é lá que guardo toda a minha roupa.
- Não precisa pedir desculpa. O quarto é seu. Aqui a intrusa sou eu, - respondeu a jovem. Preparo-lhe o pequeno-almoço. Torradas?
-Não. Só um sumo de fruta e café.
Quando voltou, já a jovem tinha o sumo pronto e preparava a cafeteira para o café.
Miguel sentou-se, rodou o copo entre os dedos e perguntou:
- Já tomou alguma decisão?
-Que decisão - retorquiu ela em sobressalto.
- Bom suponho que não estará disposta a ficar o resto da vida, sem  
memória. Penso que o melhor será procurar-mos ajuda especializada. Que me diz de consultar um psiquiatra? Ontem disseram-me que existe um, muito bom, aqui mesmo na cidade, - disse enquanto levava o copo de sumo aos lábios.
Reparou que a jovem estava lívida, os lábios trementes, e os olhos rasos de água..
Sentiu pena dela, mas que raio, ele não sabia como ajudá-la, e o tê-la trazido para casa talvez tivesse sido um erro. Ela era muito bonita, e ele era um homem. Quando os vizinhos soubessem que estava lá em casa, iam começar a falar. Ele nunca se preocupara com a sua reputação, mas ela era diferente. Era quase uma menina. Naquele momento, com o cabelo preso num gracioso rabo-de-cavalo, ninguém diria que tinha mais de dezasseis anos. Sobressaltou-se. E se era menor? Ainda se ia ver metido nalgum imbróglio.