Apesar de todas as preocupações, não só conseguiu dormir, como só acordou, quase às oito da manhã. Tomou banho, vestiu-se, arrumou o quarto, e foi para a cozinha, onde fez um sumo de laranja e umas torradas. Contrariamente ao habitual, não ligou o rádio para não acordar o homem que devia estar a dormir no quarto de hóspedes.
Saiu de casa às nove horas.
Habitualmente ia a pé para o emprego, a clínica não ficava longe de casa, mas como tinha decidido ir ao orfanato ver a Irmã Madalena, na hora do almoço, decidiu levar o carro.
Habitualmente ia a pé para o emprego, a clínica não ficava longe de casa, mas como tinha decidido ir ao orfanato ver a Irmã Madalena, na hora do almoço, decidiu levar o carro.
O trabalho na clínica não era fácil de suportar naqueles dias. As pessoas conheciam-na, sabiam do suicídio do marido. Queriam mostrar-lhe que estavam solidárias com a sua dor. Não faziam por mal, mas quando mais falavam, mais a faziam recordar o momento difícil que estava a passar.
Quando a clínica fechou a porta para o almoço, ela meteu-se no carro e dirigiu-se ao orfanato. Comeria alguma coisa depois, se tivesse tempo.
A Irmã Madalena, supervisionava um grupo de crianças, que brincavam no pátio. Abraçou-a com carinho.
-Que bom que vieste, Eva. Tenho estado tão preocupada contigo. Como estás filha?
- Como Deus quer, Irmã. Preciso muito de falar consigo. Não tem ninguém para cuidar dos meninos?
- Claro que sim, filha. Podes ir chamar a Irmã Maria? Deve estar na biblioteca.
Eva encontrou-a, no corredor, antes mesmo de chegar à biblioteca. Transmitiu-lhe o recado e seguiram as duas para o pátio. Depois, a Irmã Madalena levou-a até ao seu gabinete, onde Eva lhe contou tudo o que tinha acontecido depois do último encontro que tiveram no funeral de Alfredo. Por fim estendeu-lhe a carta que o advogado lhe entregara. A Irmã estava espantada. Abriu os braços e a jovem refugiou-se neles.
- Pobre menina. Como deves estar a sofrer! Tu sabes que não me agradou o teu casamento com o Alfredo. Havia qualquer coisa nele que não me agradava. Mas tu estavas tão feliz, que pensei que me tinha enganado.
-E fui feliz durante uns meses, Irmã. Depois o comportamento dele alterou-se. Passou a sair quase todas as noites, chegava tarde a casa. Às vezes vinha eufórico, mas a maioria das vezes, vinha aborrecido. Perguntava-lhe se o podia ajudar mas ele não se abria. E o dinheiro desaparecia. Ultimamente era com o meu ordenado que governava a casa.
Pensei que ele tinha uma amante. Quis falar com ele, obrigá-lo a confessar. Deixou-me a falar sozinha e foi atirar-se daquele terraço. Nunca imaginei que fosse jogo, muito menos que fosse capaz de jogar a casa e a própria mulher.