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30.6.22

PARA MEDITAR



- Estás à espera de quem?

- Já não espero ninguém! Estou só a usufruir a brisa passar...
- Não
tens família?
- Tenho! Deixei de esperá-los...
- Estão zangados?
- Não! Estamos resolvidos, de bem...Com a vida!
- Como assim?
- Aprendi com os anos de caminho que não devemos esperar ninguém!
- Mas...Uma mãe deve esperar sempre os seus filhos...
- Por muitos anos achei que sim...Depois aprendi que só esperámos na ilusão de posse...
No dia em que entendemos que ninguém pertence a ninguém, que até os filhos são do Universo...
Passámos a Ser livres para receber, sejam os filhos ou tudo o que a vida nos reserva!
- E quando os filhos não chegam?
- Quem nada, nem ninguém espera, tudo é só vida a acontecer...
- É difícil de entender!
- Eu sei. Fomos iludidos a sentir amor como apego, quando a verdade é que o autêntico Amor é saber desapegar, Amor é liberdade para amar sem prender, para amar permitido ao outro voar!
- E não sentes solidão?
- Ela não existe para quem resgatou para si o direito de também continuar a voar...
E hoje, mesmo de forma diferente, aceito e ajusto e continuo a permitir-me ao meu voo!
- E quando não conseguires?
- Eu acredito que quem se permite a Ser livre, a morte chegará leve, quando o meu corpo físico deixar de poder voar, partirei de regresso a casa!
E sabes...
Acredito também que esse é o propósito da vida, nunca deixar de voar,
Para em Alma voo para Sempre Ser!
Até lá...
Vou continuar a usufruir simplesmente a brisa passar...

(D.A)


Recebido por email, gentileza do amigo Joaquin Duarte



Alguém me sabe explicar porque é que blogues que eu sempre comentei, agora não me deixam fazê-lo e sempre me aparece a mensagem "Este blogue só aceita comentários de membros do grupo." É moda nova?


29.6.22

ÚLTIMO POEMA, NESTE MÊS DE JUNHO, EM QUE HOMENAGEEI JOSÉ SARAMAGO

Desta vez à Quarta-Feira porque ontem foi dia de festa para o filhote.





Alegria
Já ouço gritos ao longe 
Já diz a voz do amor 
A alegria do corpo 
O esquecimento da dor 

Já os ventos recolheram 
Já o verão se nos oferece 
Quantos frutos quantas fontes 
Mais o sol que nos aquece 

Já colho jasmins e nardos 
Já tenho colares de rosas 
E danço no meio da estrada 
As danças prodigiosas 

Já os sorrisos se dão 
Já se dão as voltas todas 
Ó certeza das certezas 
Ó alegria das bodas 


- José Saramago, em "Provavelmente alegria". Lisboa: Editorial Caminho, 1985.

28.6.22

PORQUE HOJE É O TEU DIA, PARABÉNS FILHO.

 Nasceste a 28 de junho, noite de S. Pedro, há  42 anos . Eras tão pequenino. Uma miniatura de gente 

 A  primeira ida à praia....

As  primeiras férias no Algarve
Um pouco mais velho com o pai

aos sete anos
Na adolescência, A fase do cabelo comprido...

Quando terminou o secundário...
Antes da ida para a marinha... Que pena não tenho nenhuma foto fardado.
A fase de galã...
Com a namorada...
Ainda no hospital, com a  sogra, quando veio mostrar-nos a  primeira filha acabada de nascer.

Com a mulher...

Na casa do seu clube do coração
Numa foto com a mulher e Mariana a filha mais velha

Numa foto recente com as duas filhas Mariana e Margarida à espera da transmissão do jogo.


Parabéns filho!  Nós teus pais, desejamos-te uma longa vida cheia de saúde e felicidade junto da tua mulher e filhas.

27.6.22

MEDO DE AMAR - PARTE XXIII




Miguel já adormecera há muito, e as duas adolescentes, por estarem de férias e terem autorização para dormir mais tarde, viam um filme na TV.

Aproveitando que estavam sozinhas, Helena perguntou:

- Como está a tua relação com o Fernando?

- Não sei se posso dizer que tenho outra relação que não seja a de empregada patrão, além da amizade que sempre tivemos.

-Mas, todos sabemos do amor que te tem, e com esta convivência mais assídua, não surgiu nenhuma chama entre vocês? Nem um beijo? Desculpa a curiosidade, mas ele disse ao teu irmão que tinha muita esperança de que em breve aceitasses o seu amor.

- Na verdade temos trocado uns beijos apaixonados. A química entre nós é muito grande, mas não consigo esquecer o Quim e a sua morte repentina. Morro de medo de me entregar de corpo e alma a um novo sentimento e de um momento para o outro voltar a sofrer um desgosto igual.

-  Não chegaste a procurar a ajuda de um psicólogo? Laura, precisas de ajuda especializada para ultrapassar esse pânico. O próprio Fernando te podia ajudar, mas se não queres contar-lhe, posso dar-te o número de telefone de uma psicóloga. Ela é muito boa, foi ela que ajudou a Rita a ultrapassar o divórcio do seu primeiro marido, que quase a destruiu.

Não podes viver com esse pânico, agora que te apaixonaste de novo. Nem renunciar a uma vida que não só te iria fazer feliz, mas que seria igualmente boa para as crianças. Elas adoram-no. E necessitam de alguém que ocupe o lugar do pai nas diversas situações que vão encontrar na vida, para os ajudar a encontrar o caminho certo.

Tu sabes que criei a Matilde sozinha. Eu pensava que lhe bastava e que ela era feliz. No entanto a sua alegria, quando conheceu o pai e a Matilde de agora que casamos e ela sente a presença do pai todos os dias é uma jovem muito mais equilibrada e feliz.

 Talvez a Sara, nunca encare o Fernando como um pai, ela tem viva a memória do Quim, mas ela adora-o e vai sempre vê-lo como um tio querido. Mas para Miguel é totalmente diferente. Primeiro porque os rapazes por norma sentem sempre mais a falta de uma figura masculina, que seja o seu herói, depois ele nunca conheceu o pai.  

-Eu sei tudo isso, repito-o a mim mesma, vezes sem conta. Sei que o Fernando os ama muito, conheço-o desde criança e embora estivéssemos  afastados vários anos após ter conhecido e casado com o Quim, ele sempre esteve presente em casa dos meus pais e junto do Gonçalo.  É um homem de sentimentos firmes, que amava muito os seus pais e que se sente solitário e carente desde que eles morreram. 

Sei que será um bom pai para os meus filhos, mas a o meu medo é maior de que tudo o resto.  eu não conseguiria resistir a outra morte repentina, a passar pelo mesmo que já passei com o Quim. Tu não sabes o que é estar com uma pessoa que amas de todo o coração, a passar um serão em família, e de um momento para o outro ele diz que está com uma dor de cabeça terrível. Levantei-me para ir buscar um comprimido e um copo de água e quando voltei já estava inconsciente.

 Chamei a ambulância, que o levou para o hospital e fiquei à espera que uma amiga chegasse para ficar com a Sara. Quando cheguei ao hospital disseram-me que ele chegara já sem quaisquer sinais vitais e que não conseguiram reanimá-lo.   Não houve tempo para um beijo, para um amo-te, para nada que o pudesse consolar naquela hora.

-Deve ter sido extremamente doloroso, para ti, mas devia consolar-te a certeza de que ele não sofreu. E já se passaram mais de três anos. O teu coração começa a abrir-se de novo para o amor. Não podes deixar que esse medo irracional te vença.

A vida é mesmo assim acontece a qualquer um a qualquer hora. De um aneurisma, de um ataque cardíaco, de um acidente de automóvel. Pega o telemóvel e toma nota do número da minha amiga psicóloga. Ou abre o teu coração para o Fernando, ele pode ajudar-te.

- Mas o que fazem vocês as duas, aí a cochichar? - disse Gonçalo entrando na cozinha.

- Não sentes as orelhas a arder? – perguntou Fernando rindo-se atrás dele.

26.6.22

HUMOR AOS DOMINGOS.




Dois grupos alugaram um autocarro de dois andares para irem passear até ao jardim zoológico, era um grupo de loiras e o outro de uma casa de reformados. O grupo de reformados ficou no andar de baixo e as loiras ficou no andar superior.

Logo que a viagem começa, o grupo de baixo sempre muito animado está a divertir-se imenso. Um dos velhinhos apercebe-se que não ouve nada do andar superior e, sendo ele um perfeito cavalheiro, decide ir até lá investigar. Quando chega ao andar de cima, vê as loiras todas com um ar muito assustado, espantadas e agarradas ao banco da frente. Ele pergunta:
- Que diabo se passa aqui? Lá em baixo estamos a divertir-nos imenso!

Uma das loiras olha e diz:
- Sim, mas vocês têm um condutor!




A jornalista tenta iniciar uma entrevista com um alentejano, que minuciosamente estudava o firmamento, debaixo do chaparro. Então, virando-se para o alentejano, diz:
- Aquele monte além dá trigo?

E o alentejano:
- Nã dá nada…

E, continua a jornalista:
- E dá batata?

E o alentejano:
- Nã dá batata não…

E, mais uma tentativa, a jornalista:
- Então dá centeio?

O alentejano:
- Nã dá nada porra!!

A jornalista, para não desistir da entrevista, faz mais uma tentativa:
- E semeando milho?

E o alentejano responde:
- Ahhh! Semeando já é outra conversa…



Numa cidade do interior, todas as mulheres que traiam o marido, ao se confessarem ao padre, diziam que haviam caído no buraco. O velho padre morreu, e entrou um padre novo que não tinha conhecimento do buraco. E varias mulheres durante a confissão diziam-lhe todas o mesmo: que tinham caído no buraco. O padre como desconhecia a história, ia dizendo:

- Mas isso não é pecado minha filha.

Certo dia o padre foi falar com o Presidente da Câmara. Disse-lhe que ele deveria fechar as ruas da cidade, porque estavam com muitos buracos. O Presidente como já sabia da história por conversas anteriores com o antigo padre, começou a rir-se. Então o padre respondeu-lhe:

Não sei porque se ri. A sua mulher esta semana já caiu três vezes...




O sexo visto por diferentes profissionais: 

Para os médicos, é uma doença, porque acaba sempre na cama.

Para os advogados, é uma injustiça, porque há sempre um que fica por baixo.

Para os alentejanos, é uma máquina perfeita, porque é a única em que se trabalha deitado.

Para os arquitetos, é um erro de projeto, porque a área de lazer fica muito próxima da área de saneamento.

Para os políticos, é um ato de democracia perfeito, porque todos gozam independentemente da posição.

Para os economistas, é um efeito perverso, porque entra mais do que sai. Às vezes, nem se sabe bem o que é ativo, ou passivo, ou se há valor acrescentado.

 Para os contabilistas, é um exercício perfeito: entra o bruto, faz-se o balanço, tira-se o bruto e fica o líquido. Em alguns casos, pode ainda gerar dividendos.

Para os matemáticos, é uma equação perfeita. A mulher coloca a unidade entre parênteses, eleva o membro à potência máxima e extrai-lhe o produto, reduzindo-o à sua mínima expressão.

 Para os psicólogos, é f***** de explicar.




Numa convenção subordinada ao tema "sexualidade", o orador a páginas tantas questiona a audiência:

- Quem é que daqui, faz amor todos os dias, levante o braço.
Vários braços se levantaram.
De seguida, continua o orador:
- Podem baixar. Quem é que daqui, faz amor uma vez por semana, levante o braço.
Mais alguns braços se levantaram.
- E quem é que daqui, faz amor uma vez por mês, levante o braço.
Mais alguns braços se levantaram.
Podem baixar. E quem é que daqui, faz amor uma vez por ano?
Ninguém se mexia. Nisto um homem bem no fundo da audiência levantou o braço todo contente e disse:
- Eu! Eu faço amor uma vez por ano! Eu!...
Diz-lhe então o orador:
- Então o senhor faz amor uma vez por ano e está todo contente?
- É que calha hoje!...  calha hoje!...- respondeu o homem.



24.6.22

A MINHA REFLEXÃO, LEMBRANDO O S. JOÃO DE OUTRORA

 



O S. João que hoje se comemora um pouco por todo o país, com maior intensidade no Porto e em Braga, que o têm por padroeiro.
 A verdade é que os maiores festejos - exceto os religiosos - ocorreram ontem dia 23, véspera do dia do Santo. Há uns sessenta anos atrás, não existia TV, embora ela tivesse chegado a Portugal, em mil novecentos e cinquenta e sete, só uma escassa minoria possuía a  caixinha mágica, que iria alterar os costumes e tradições. E para falar verdade, nem sentíamos na altura que fizesse muita falta. Nas noites quentes de Verão, o povo sentava-se à porta de casa, olhando as estrelas, sonhando com um futuro melhor para os catraios que brincavam na rua, saltando ao eixo, jogando à macaca, ou correndo atrás de uma bola feita de trapos, ou de bexiga de porco.
Pelos santos populares, na Seca da Azinheira, o pessoal residente, juntava-se no início da rua das "casas novas". Era assim que nós chamávamos ao grupo de casas que existiam na Seca e onde habitavam os empregados de escritório, os encarregados, os eletricistas e os ferreiros. Nós vivíamos a uns trezentos metros, num barracão de madeira isolado, mas um dos eletricistas era irmão do meu pai, e tinha dois filhos um pouco mais velhos que eu, daí que no Verão, quando o pai não aproveitava a noite para cavar ou regar o quintal, íamos para as "casas novas" brincar com os primos e as outras crianças aí residentes, enquanto os pais se entretinham em conversas sobre a vida e os seus problemas. 
No S. João, o meu pai, fazia todos os anos. um enorme balão de papel colorido.  
Lembro-me que levavam umas tochas feitas com desperdícios, embebidas em petróleo, que enquanto ardiam mantinham os balões no ar. Quando se apagavam o balão começava a perder o ar quente que o mantinha lá em cima e acabava por cair atraído pela gravidade.
 Os mais velhos faziam uma fogueira no meio da rua, e sentados junto ao muro, do quintal da casa mais próxima, contavam histórias, enquanto davam um olhinho pelos mais novos. E nós, crianças, corríamos atrás dos grandes besouros, que sempre apareciam nesta altura do ano. E fazíamos rodas à volta da fogueira e quando ela ficava mais fraca, obtínhamos permissão dos pais para a saltar. Convivíamos. 
Todos se conheciam, todos se ajudavam. No dia seguinte cumprimentavam-se, comentavam a noite anterior, e acabavam com um "No São Pedro lá estaremos".  
Eu tenho saudades desse tempo. Não da repressão, nem da miséria em que vivíamos, mas da ligação que havia entre as pessoas.
 Hoje  juntam-se às centenas, às vezes milhares, todas no mesmo espaço, em concertos, ou no futebol, saltam, gritam, mas não se conhecem, e quando o evento acaba, são de novo desconhecidas. Estão juntas e simultaneamente estão sozinhas. Estão ligados ao mundo, através dos seus telemóveis e das redes sociais, mas não sabem o nome de quem têm ao lado.  
 É como se as pessoas se tivessem transformados em ilhas. Podem estar distantes, ou mesmo ali ao lado, mas não se tocam. Vivem em prédios de vários andares e não conhecem às vezes nem o vizinho do lado. Não há convívio. Não se respeita o outro, a vida humana deixou de ter valor, os homens  matam-se pelos motivos mais fúteis. Apetece perguntar "Quo vadis, Humanidade?"
É urgente que a Humanidade pense em ser ponte. Em união. Em AMOR.
Bom S. João, e bom fim de semana.

22.6.22

MEDO DE AMAR - PARTE XXII




O verão terminou, as folhas das árvores trocaram o verde pelos tons alaranjados e depois começaram a cair, o céu deslumbrava com ocasos que pareciam paletas de cores, apareceram as primeiras chuvas e o sol deixou de aquecer. Era o outono em todo o seu esplendor. O ano aproximava-se do fim a passos largos. Miguel adaptou-se muito bem à creche, todavia começou a fazer perguntas incómodas, como porque é que ele não tinha pai. Laura achava que ele ainda era muito pequenino para uma explicação correta sobre a vida e a morte, então disse-lhe que o pai estava no céu, era uma daquelas estrelinhas que ele via à noite a brilhar lá em cima no espaço. Mas então o menino perguntou porque é que ele não era filho de um homem, e sim de uma estrela. E quanto mais a mãe explicava mais o menino queria saber.

Então Sara, pegou na fotografia do pai e disse-lhe:

- Este é o nosso pai. Lembras do Bobi? Ele adoeceu e morreu. Lembras-te que a mãe abriu uma cova no jardim e o enterrou? Pois bem, o pai também ficou doente, e morreu. Mas como era um homem e não um cão em vez de ser enterrado no jardim foi para o céu e lá transformou-se numa estrela.

 Claro que Sara sabia o que tinha acontecido. Já tinha nove anos quando o pai morrera, estivera no funeral, ia ao cemitério com a mãe de vez em quando, levar flores à campa do pai.

Felizmente o menino pareceu ficar satisfeito com a explicação da irmã e acabou com as perguntas. Até quando ninguém sabia.  

Sara continuava a boa aluna de sempre, e cada vez tinha uma ligação maior à prima. 

Laura também se adaptou muito bem ao trabalho na clínica, estabeleceu uma boa relação de amizade com Diana com quem conversava todos os dias pelo telefone, e gostava de trabalhar com Fernando cuja faceta profissional lhe agradava bastante.

A meio de outubro, Rita a sócia da sua cunhada Helena, deu à luz uma bela menina, e no início de novembro foi a vez de Diana ter um lindo rapagão de quase quatro quilos e meio. Sara e a prima estavam doidas de alegria, queriam ir ver os bebés todos os fins de semana, mas Miguel não mostrava grande interesse, e dizia com uma certa graça:

“Que interesse tem ir ver os bebés? Estão quase sempre a dormir, não falam, não brincam, quando abrem a boca ou é para chorar ou para comer.”

-És tonto, Miguel, -dizia-lhe a irmã a rir. Falas como se já tivesses nascido assim. Há bem pouco tempo eras como eles.

A família também adquirira um novo hábito. Todos os sábados, Laura e os filhos jantavam com o irmão e a família dele. Uma semana na sua casa, outra em casa de Gonçalo. Um sábado, Gonçalo convidou Fernando, e a partir daí a presença dele tornou-se habitual nos jantares de sábado, fortalecendo assim os laços de amizade com as crianças que aliás o adoravam. 

Também ganhara o hábito de ficar um pouco mais com Laura depois das crianças irem para a cama, aproveitando para se despedir com beijos que se iam tornando cada vez mais intensos e apaixonados, a que Laura correspondia cada vez com mais intensidade. Porém apesar de reconhecer que se tinha apaixonado por Fernando, continuava a não querer ouvir falar de casamento.

 Uma semana antes do Natal, que seria celebrado na quinta dos pais de Helena, na aldeia, não só porque a casa era grande e podiam juntar as duas famílias, bem como Rita o marido e a filha, que tanto a cunhada como os seus pais e irmão, consideravam como mais um membro da família. Matilde e Sara estavam radiantes, porque teriam a companhia dos primos, o que lhes permitiria organizar jogos e outros programas sem os mais velhos.

Naquela noite, Laura e a cunhada arrumavam a cozinha enquanto na sala, Gonçalo e Fernando discutiam os problemas da escassez de médicos de determinadas especialidades no SNS.

21.6.22

POESIA ÀS TERÇAS - JOSÉ SARAMAGO



 Balança

Com pesos duvidosos me sujeito
À balança até hoje recusada.
É tempo de saber o que mais vale:
Se julgar, assistir, ou ser julgado.
Ponho no prato raso quanto sou,
Matérias, outras não, que me fizeram,
O sonho fugidiço, o desespero
De prender violento ou descuidar
A sombra que me vai medindo os dias;
Ponho a vida tão pouca, o ruim corpo,
Traições naturais e relutâncias,
Ponho o que há de amor, a sua urgência,
O gosto de passar entre as estrelas,
A certeza de ser que só teria
Se viesses pesar-me, poesia.



- José Saramago, em "Os poemas possíveis". 3ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 1981




Ontem passei a manhã com o marido em exames, à tarde teve uma consulta no hospital do Barreiro com o neurologista que confirmou o diagnóstico feito na 6ª feira. Trata-se do síndrome vertiginoso do ouvido interno, conhecido como síndrome de Méniére. Saímos do hospital às 17 horas apanhámos um táxi para o centro médico onde ia fazer o penso à ferida que tem no pé e mostrar o doppler dos membros inferiores à médica de família, que disse que as artérias estão bem piores do que em 2019 e o ia encaminhar para uma consulta de cirurgia vascular no hospital de Santa Marta. Chegámos a casa cansados eram quase 20 horas.
Ando como se costuma dizer com a cabeça em água. 

20.6.22

MEDO DE AMAR - PARTE XXI

 


Quando o carro parou à porta de casa da jovem, Fernando saiu do carro e acompanhou-a à porta, mas quando ela se voltou para lhe estender a mão, ele passou-lhe uma mão pela cintura, atraiu-a a si e baixando a cabeça beijou-a.  Foi um beijo suave, cheio de ternura, não o beijo apaixonado que gostaria de lhe ter dado, todavia ele sabia que que se queria ter sucesso na difícil tarefa de ganhar o seu coração tinha que ter paciência. Por isso soltou-a.

-Até amanhã. Não te peço que sonhes comigo, mas pensa com carinho em tudo o que te disse.

Esperou que ela entrasse em casa e só então virou costas e dirigiu-se ao seu automóvel.

Laura entrou em casa e encontrou-a às escuras e em silêncio, sinal de que os seus filhos e os avós já dormiam.  Subiu as escadas, mas antes de entrar no seu quarto, passou primeiro pelo quarto de Miguel, depois pelo de Sara. Depois de verificar que os filhos dormiam tranquilamente, entrou então no seu quarto e dirigiu-se à casa de banho onde trocou a roupa que vestira, pelo pijama, escovou os dentes e os cabelos, apagou a luz e foi para a cama.

Estava cansada, tinha que se levantar cedo, mas apesar disso levou muito tempo para adormecer, relembrando tudo o que acontecera naquela noite.  Principalmente tudo o que Fernando lhe dissera e o beijo que mal lhe aflorara os lábios, mas que apesar disso não conseguia esquecer.

E pela primeira vez desde há mais de três anos, esqueceu da sua habitual conversa com o falecido antes de adormecer.

Apesar de ter adormecido tarde, acordou cedo. Saltou da cama, tomou o duche matinal, vestiu-se, prendeu o magnífico cabelo loiro num carrapito. Não se maquilhou, há anos que não o fazia a não ser para um jantar especial, ou no casamento do irmão, apenas passou um corretor para atenuar as olheiras que denunciavam a noite mal dormida.

Saiu do carro e dirigiu-se à cozinha a fim de preparar os pequenos almoços. Pouco depois os pais juntavam-se-lhe.

Depois de comer um iogurte e engolir uma chávena de café, Laura deixou os pais a comer e foi chamar a filha. Depois foi acordar o filho, vestiu-o, calçou-o, e levou-o para a cozinha a fim de lhe dar a taça de cereais que ele costumava comer de manhã.

Três quartos de hora depois estavam todos prontos para saírem de casa. Laura disse aos filhos que se despedissem dos avós que iam para casa, depois meteu o filho na sua cadeirinha e enquanto Sara se sentava ao lado do seu irmão, Laura abraçava os pais e recomendava ao pai que não exagerasse na velocidade e à mãe que telefonasse assim que chegassem a casa pois ficava em cuidado.

Terminou desejando-lhes boa viagem, entrou no seu carro e acenando um último adeus, pôs o carro em movimento dirigindo-se primeiro à creche para deixar o filho e depois à Escola a fim de deixar a filha. Olhou o relógio. Tinha que abrir a clínica às nove, não sabia se conseguiria chegar a horas. Tudo dependia da intensidade do trânsito. Provavelmente no dia seguinte teria que sair de casa uns dez minutos mais cedo.

18.6.22

PORQUE HOJE É SÁBADO



Svetlana zakharova - Giselle 💜


Desejo-vos um ótimo sábado.  O meu veremos como será. Internet já tenho, mudaram toda a instalação e o router. 
Dia 16, 11 da noite o marido sentiu-se mal. Não se segurava de pé estava nauseado . Fiquei aflita a pensar que era uma recidiva do AVC de há 3 anos.  A consulta de urgência, deu como resultado que se tratava de síndrome vertiginoso do ouvido interno. Fiquei feliz por não ser o que temia, mas apesar de já estar a fazer o Betaserc, ele continua sem se segurar de pé sem estar agarrado a alguém ou a alguma coisa. Também não consegue estar deitado, pois diz que anda tudo à roda e fica nauseado. Dormiu sentado no sofá e esta noite vai pelo mesmo caminho. Espero que isto não leve muito tempo a passar.

17.6.22

MEDO DE AMAR - PARTE XX

 



Tinham chegado ao restaurante. Fernando estacionou o carro no parque, saiu e dava a volta ao carro, todavia Laura saiu sem esperar que ele se aproximasse para lhe abrir a porta.

- Vamos entrar? - perguntou pegando-lhe no braço pelo cotovelo. Já estão todos à nossa espera.

Não era difícil saber porquê. Afinal ele tomara o caminho mais longo a fim de prolongar o tempo a sós com a jovem.

Durante o jantar, Aníbal, o pai de Laura; e Fernando fizeram as honras da conversa, enquanto a jovem se mantinha atenta ao jantar do pequeno Miguel e  Sara contava à sua avó o quanto tinha gostado de passar aquela semana com a prima e de como Matilde se sentia feliz por ter enfim o pai e a mãe juntos.

- Sabes, avó, eu tenho muitas saudades do meu pai, mas sei que ele foi para o céu, não voltará. Mas eu e a Matilde estivemos a conversar. Ela diz que o tio Fernando gosta da mãe, e que se eles se casassem, podíamos voltar a ser uma família completa.

- E tu não te importavas se a mãe casasse com o tio Fernando? - perguntou a avó

- Claro que não. Eu gosto muito dele. Mas parece que a mãe não.

- Não te preocupes. A tua mãe também gosta dele. Só que ainda se lembra do teu pai. E isso faz com que não se dê conta do que sente pelo tio Fernando.

- Sabes o que eu penso, avó? Os adultos são muito complicados. Não sei se algum dia  vou querer ser adulta.

Perante a risada da avó, todos os olhares se viraram para ela.

-A minha neta acaba de me dizer que não vai querer ser adulta, pois os adultos são muito complicados, - disse Teresa perante os olhares surpresos dos restantes.

 Naquele momento o empregado trouxe as sobremesas.

Pouco depois, pediam os cafés e a conta, entretanto Miguel já cabeceava os olhitos fechados, morto de sono. Laura levantou-se e pegou-lhe ao colo, mas logo Aníbal estendeu os braços e retirou o neto do colo da mãe, dizendo:

-Nós deitamos as crianças não te preocupes. É melhor que vás com o Fernando, amanhã é o teu primeiro dia de trabalho, podem ter alguma coisa a conversar sobre isso.

Laura não disse nada, embora no seu rosto fosse bem visível o quanto as palavras do pai a contrariavam, enquanto Fernando dizia sorrindo.

-Bom, então despedimo-nos aqui, para que vocês também se possam recolher e descansar.

Abraçou o casal com o mesmo carinho com que um filho o faria, deu um beijo no bebé adormecido, e depois baixou-se para ficar ao nível de Sara, e abraçou a menina dizendo:

- Até outro dia, princesa. Dorme bem. Prometo que levo a tua mãe para casa, sã e salva, daqui a pouquinho.

Esperou até que entraram no carro, e só então se dirigiu ao seu automóvel, seguido pela jovem. Não lhe tocou, pois sabia que ela reagiria mal, zangada como estava com os pais.

Ligou o motor mas em vez de pôr o carro a trabalhar, virou-se para ela e disse:

-Vamos, desabafa essa raiva que sentes. Embora não tenha tido culpa nenhuma na situação, eu aguento.

- Parece que sou um traste de quem eles se quem livrar, - disse ela magoada. E tu também tens culpa. Podias dizer que tinhas um compromisso inadiável, e eu teria ido com eles.

- Mas não tinha e não me agradam as mentiras. E tu sabes tão bem como eu, que eles te querem muito, que não lhes agrada a solidão em que vives e se estão sempre a tentar juntar-nos é porque me conhecem de toda a vida, sabem que nunca amei outra mulher que não fosses tu, e que serei um bom pai para os teus filhos. 

Sei que não te sou indiferente, senti o teu coração bater em uníssono com o meu, senti o teu corpo tremer nos meus braços, quando dançámos juntos no casamento do teu irmão e sinto-o sempre que te toco. Se assim não fosse já te tinha deixado em paz, como o fiz quando me mandaste embora, há quase dois anos.

Também sei que ainda não estás preparada para te entregares a um novo amor, mas eu sou paciente.  E quero que saibas que enquanto estiveres na clínica, podes estar descansada, que não terei nenhuma atitude diferente daquela que teria com qualquer outra assistente.

 Pôs o carro em movimento e dirigiu-se para a residência da jovem.

15.6.22

MEDO DE AMAR - PARTE XIX


Preparavam-se para sair de casa quando um carro estacionou à porta Laura olhou os pais e inquiriu:

-Quem será? Não estava à espera de ninguém, e vocês?

- Nós também não. Ou pensas que combinávamos jantar fora se estivéssemos à espera de alguém? – respondeu a mãe com um ar de inocência muito convincente

Naquele momento a campainha tocou, e Sara apressou-se a ir abrir.

-É o tio Fernando, - gritou antes de se pendurar no pescoço dele para o beijar.

- Se vinhas ver os noivos, eles já foram – disse Laura aparecendo junto deles.

- Olá -respondeu ele sorrindo. Eles passaram por minha casa, e disseram-me que os teus pais se iam embora amanhã. Vinha despedir-me, mas vejo que vão sair.

- Vamos jantar fora, - apressou-se a dizer dona Teresa. Mas vem connosco, estás convidado, ou já jantaste?

- Na verdade, não.

- Então não se fala mais nisso.  Na verdade, podes levar a Laura contigo, nós levamos as crianças, escusamos de ir tão apertados.

- Mãe! – disse Laura envergonhada. Não seria melhor irem vocês os três, e eu jantava em casa com as crianças? Afinal o Fernando vinha despedir-se de vocês.

-Era só o que faltava. Tens o ano inteiro para jantar com as crianças. Hoje vamos jantar todos juntos, e acabou-se a conversa, - respondeu a mãe.

Vencida, mas não convencida, logo que entraram no carro Laura disse:

-Meu Deus, a minha mãe não faz mais do que empurrar-me para os teus braços. Sinto-me envergonhada

- Porquê?

-Parece que eu sou uma mercadoria que ninguém quer, encalhada na Loja.

- Nada disso. Toda a tua família como a minha sabem de há muito tempo, do meu amor, por ti.  A minha mãe, fartou-se de chorar quando casaste e vivia desgostosa por saber que não conseguia esquecer-te e ia morrer sem chegar a conhecer os netos.

-Mas, eu nunca soube dos teus sentimentos. Para mim eras um irmão, embora não fossemos do mesmo sangue o meu sentimento por ti era o mesmo que tinha pelo Gonçalo.

-Eu sei. Por isso mesmo não lutei por ti na época. Mas hoje é diferente. Estás viúva há mais de três anos, não me podes impedir de ter esperanças.

- Mas eu ainda não esqueci o Quim…

-Nem eu espero que o esqueças. Foi o teu primeiro amor e o pai dos teus filhos.

Mas Laura, eras uma jovem mimada que nada sabia da vida, quando o conheceste e casaste. Hoje és uma mulher que conhece as alegrias e tristezas que a vida acarreta. Sofreste a dor da perda, amadureceste. A jovem que casou com o Quim ficou lá no passado, tenho a certeza que a mulher que és hoje, será capaz de me amar como eu te amo se abrires o coração a uma nova oportunidade.

Laura estava espantada consigo própria. Como é que ela se permitia falar assim abertamente com ele. Será que Fernando tinha razão? Estaria ela a transformar-se numa nova mulher?  



Vejamos se hoje o técnico consegue acabar com a Internet "vai e vem" que tenho há mais de 10 dias

14.6.22

POESIA ÀS TERÇAS - JOSÉ SARAMAGO


 Na ilha por vezes habitada...

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, 
manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer. 
Então sabemos tudo do que foi e será. 
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, 
e dizem-se as palavras que a significam. 
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos. 
Com doçura. 
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites. 
Podemos então dizer que somos livres, 
com a paz e o sorriso de quem se reconhece 
e viajou à roda do mundo infatigável, 
porque mordeu a alma até aos ossos dela. 
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres 
como a água, a pedra e a raiz. 
Cada um de nós é por enquanto a vida. 

Isso nos baste.


- José Saramago, em "Provavelmente alegria". Lisboa: Editorial Caminho, 1985.