Naquela noite, enquanto Gabriela jantava, e João fazia como
de costume companhia a Teresa, a conversa recaiu sobre a ecografia e a emoção
que ambos sentiram. E então ele perguntou-lhe se já tinha pensado nas suas vidas
quando os bebés nascessem, ao que ela respondeu que lhe prometera falar nisso quando passasse a barreira dos três meses. Faltavam quatro semanas e talvez fosse superstição sua, mas
antes das doze semanas não tomaria nenhuma decisão pensando no seu futuro e no
das crianças.
- Eu tenho fé que vai correr tudo bem e até já imagino os
três meninos…
- E se forem três meninas, - interrompeu Teresa. Fará
alguma diferença?
- Nenhuma, - respondeu prontamente. Penso que de forma
inconsciente, quando se espera um filho, uma pessoa tem sempre tendência a
falar no seu próprio sexo. Um homem fala em meninos, uma mulher em meninas, mas
na prática pouco importa. O que realmente conta, é que sejam saudáveis. E vão
ser felizes porque se vão ter uns aos outros, vão poder brincar juntos, amar-se
e apoiar-se. Crescer sozinho, é muito triste.
- Foi assim contigo?
-Foi. O meu pai era uma pessoa muito severa, e a única
amiga que eu tinha era a Olga, que vivia no mesmo pátio mesmo ao lado da minha
casa, mas ela tinha quase onze anos a mais que eu. Quando eu tinha cinco anos
ela já estava no secundário e tinha mais ou menos o mesmo corpo que tem hoje. É
fácil de perceber que as minhas brincadeiras não lhe interessavam.
- E a tua mãe?
É uma história muito complicada, não dá para ta contar
agora, a Gabriela deve estar a voltar do jantar. Mas prometo que ta conto em
breve.
-Eu também sou filha única, mas nunca fui uma criança solitária, pois na aldeia éramos todos muito unidos. Mas de certo modo tenho pena destas crianças. Eles nunca
vão ter o carinho de tios, primos ou avós. Eu não conheci o meu pai, nem o meu
avô, mas a minha avó era uma grande mulher e foi sempre um pilar de apoio para
a filha e neta. Os nossos filhos nunca vão ter esse apoio.
- Não. Mas vão apoiar-se entre si e vão contar com todo o
amor da nossa parte. E poderão vir a contar com o apoio de tios e primos, pois
acabo de saber que tenho um irmão, que me parece ser uma boa pessoa. Em breve
conto-te tudo. Desejo que saibas tudo sobre mim, para que, quando chegar a hora
de tomares uma decisão, não tenhas dúvidas.
Naquele momento a enfermeira regressou ao quarto, e isso
impediu Teresa de responder se é que o queria fazer. Ele despediu-se desejando
uma boa noite às duas, e saiu do quarto.
Já no escritório, olhou o relógio. Nove e dez da noite. Não eram horas de ligar ao irmão, provavelmente estaria com a noiva, mas podia mandar uma mensagem.
Escreveu:
“David, já li a carta. Queria estar contigo, gostava que me
falasses da mãe e de ti. Conhecer-te. E dar-me a conhecer. Quando puderes
dispor de umas horas, avisa-me. João”
Um quarto de hora depois chegou a resposta.
“Amanhã não tenho audiências. Tenho dois clientes de manhã,
e a tarde livre. Podemos almoçar juntos. Telefono-te quando estiver livre e
combinamos. David”
Pôs de lado o telemóvel, abriu o portátil e dedicou-se a
ler os emails recebidos, quase todos de felicitações pelo “Survive II”.
14 comentários:
A coisa vai dar-se. Ambos têm mais em comum do que pensam.
Boa noite, Elvira
Porque é que a perspectiva da paternidade amolece até o coração mais duro??
Lindo,Elvira e vamos antevendo bons momentos... beijos, chica
Os ingleses dizem, no news is good news (não haver notícias é uma boa notícia) e eu digo o mesmo, tudo corre lindamente na nossa novela.
Uma boa quarta-feira (fechada em casa)!
Estou a gostar muito do rumo que está a dar a este seu Ciladas da Vida, Elvira! :)
Obrigada e um forte abraço
Quando se termina, há a necessidade de encerrar as portas abertas e este conto tinha muitas. Agora a família com um tio que ganhou irmão e está prestes a ganhar sobrinhos(as)
Fantástico espisodio! :)
.
Mundo louco...
.
Beijo, e uma boa noite!
Depois de assistirmos à conversa entre os dois futuros pais, como se de um casal "de verdade" se tratasse, ficamos a aguardar até sexta para o encontro de irmãos.
A vida a acontecer por aqui...Gostei!
Um abraço e uma boa noite, Elvira
Boa noite Elvira,
Um capítulo lindo. Confidências que os aproximam e o encontro dos irmãos que decerto vai ser emocionante.
Um beijinho,
Ailime
Parece que João e Teresa, já começam a fazer planos para o futuro?
Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço,
Aplaudo a aproximação dos irmãos.
Veremos como correrá.
Beijo.
A família vai mudar, para maior.
Beijos, Elvira. Beijos.
Verdade, nas aldeias as crianças de ontem - mesmo sendo filhos únicos - brincavam na rua às escondidas, à cabra-cega, ao pião, com os primos, vizinhos e amigos. Presentemente os tempos são outros, houve evolução, apareceu nova tecnologia (ainda bem) e a diversão é outra, só que esta nova tecnologia não devia só servir de distracção, com jogos e mais jogos, que ocupa os tempos que são devidos às crianças para brincar.
3 crianças juntas vão ter muitas oportunidades de inventar!!
Bo fds.
Um abraço.
Maravilhoso este capítulo!
Abraços fraternos!
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