Pedro saiu do consultório como se fosse perseguido por mil demónios. Três meses eram tudo o que lhe restava. E a mãe? Tinha que pensar na mãe. Entrou num café e pediu uma água. Precisava acalmar-se. A mãe não podia vê-lo assim. De uma coisa tinha a certeza. A mãe não ia saber o que se passava. Ele não ia fazer a mãe passar por esse sofrimento. Uma boa ideia seria uma viagem. Queria que a mãe o recordasse assim como era hoje e não que o visse no sofrimento final. Morrer jovem já era mau suficiente, para não querer ver o sofrimento da sua velha e amada mãe.
Finalmente, mais calmo, pagou a água e dirigiu-se a casa.
- Olá mãe, que tal o seu dia? - perguntou com estudada naturalidade, enquanto se inclinava para a beijar.
- Que disse o médico das análises filho? Foste lá, não foste? - perguntou ansiosa.
- Claro que fui, mãe. E não te preocupes está tudo normal. Disse que ando nervoso, preciso de me distrair, talvez mudar de ares durante uns tempos. Nada que já não me tivesse dito antes.
Sentia remorsos da maneira como estava a enganar a mãe, mas consolava-o o pensamento de que assim ela não sofreria tanto.
- Estive a pensar que vou tirar umas férias e vou para qualquer lado, descansar.
- Acho bem, filho. Claro que me custa estar longe de ti, mas se é pela tua saúde, acho bem.
- Mas a mãe não fica longe. Vai comigo - disse antevendo a resposta da mãe.
- Isso não, filho. Eu só seria um estorvo para ti. Nunca estarias descansado, e acabarias por levar a mesma vida que aqui. Vou escrever à minha irmã Rosa, para que venha passar um tempo comigo. E tu poderias ir para a casa da Palmira, a irmã do teu pai. A casa é grande e ela está sempre a convidar-nos. E aqueles ares de lá são muito bons para a saúde.
De repente Pedro pensou que nunca tinha ouvido a mãe dizer a palavra falecido, quando se referia a seu pai. Dizia sempre o teu pai, ou o meu homem, como se nunca tivesse aceitado a sua morte e continuasse à espera que ele chegasse a qualquer momento. Lembrou da tia Palmira, da sua simpatia e pensou que talvez fosse boa ideia ir para lá. Depois se não se desse bem poderia sempre recorrer a um hotel.
- Seja minha mãe. Amanhã falo com o patrão e peço férias.
13 comentários:
Vou seguindo...
Muito bem escrito. Parabéns pela paciência.
Tudo pelo melhor.
Abraço
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Acho que começo a recordar-me da história, mas, mesmo assim, pode contar com visita diária, há coisas que já não lembro.
Boa noite, Elvira
A passar para acompanhar a história e desejar uma ótima semana!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Estou a gostar e aproveito para desejar uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Passando para pôr a leitura em dia, deixo um forte abraço, Elvira.
Agora cheguei num ponto onde reconheci a leitura... Mesmo assim,passarei de vez em quando ,nem seja pra te deixar beijos,chica
Pois eu, contrariamente a outros comentadores, continuo sem me recordar desta história, pelo que deduzo não a ter lido.
Dada a importância do tema, recordá-la-ia certamente.
Um abraço e boa semana.
Vai viajar... Mas Deus é grande, que sabe não encontra a cura!?
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Fragrância ilusória...
Beijos e um excelente semana
Enquanto há vida há esperança. No caso de Pedro, que possa acontecer um milagre?
Tenha uma boa tarde amiga Elvira. Um abraço.
Até eu estou a ficar com o coração partido!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Boa noite Elvira,
Pode ser que a mudança de ares e o descanso ajudem Pedro na sua doença.
Um beijinho e boa noite.
Ailime
Um choque, a visão de proteger a mãe, a luta psicológica com o manter em silêncio e sufocado enquanto todo o seu mundo desabou e a escolha consciente em viver o que lhe resta, vamos continuar a seguir como
Revivendo a história.
Abraço Elvira
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