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28.6.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE XXXV






Mudou-lhe a fralda, depois despiu-a, vestiu-lhe um pijama, e deitou-a. Aconchegou-lhe a roupa, e beijou-a, sob o olhar atento do amigo.
- Quero a mãe, - disse a menina.
-A mãe vem já, o pai, vai chamá-la.
Não precisou fazê-lo, pois nesse momento a porta abriu-se e Isabel entrou seguida de Natália. As duas beijaram a criança, e então ela pediu a boneca nova.
-Queres dormir com a boneca?- perguntou-lhe Ricardo.
-Sim.
-E o Tobias não se zanga? Ou queres dormir com os dois?  
-Sim, os dois.
-Então o pai vai buscar a boneca. Mas não te levantas nem destapas, está bem?
-Está.
Todos saíram do quarto. Ao chegar à sala, Ricardo pegou na boneca e foi levá-la ao quarto. Colocou-a na cama, debaixo da roupa, ao lado do corpo da menina, voltou a prender a roupa, deu-lhe um beijo e disse:
- Boa noite, Matilde.
- Boa noite… pai
Ricardo, que acabara de abrir a porta para sair, parou emocionado. Era a primeira vez que a menina lhe chamava assim. Pai. Uma palavra tão pequena, para uma emoção tão grande. Com os olhos brilhantes, voltou atrás e beijou de novo a criança, já quase adormecida.
Saiu, mas não se dirigiu imediatamente à sala. Ficou ali encostado à porta fechada, lembrando do tanto que amara e desejara, a criança que Ivone gerava, e que ele julgava ser dele. Por amor dela, aceitara o desprezo da mulher que amara e a dor daquele casamento falhado. E afinal nem chegara a conhecê-la, e teve que sepultar no coração o sentimento de amor que lhe tinha. Que importava que a criança não fosse dele, que a mulher o tivesse enganado. A raiva, o ódio dele, era para a mãe, não para aquele ser com que ele sonhara durante meses. Agora, quase sem se dar conta, esse sentimento voltara a apoderar-se dele. Durante aqueles quase dois meses que convivia com Matilde, rindo e brincando, ensinando-lhe novas palavras,e brincadeiras, ele descobrira que o amor sentido um dia e que julgara morto, se mantivera adormecido no seu coração, por quase vinte anos, e ressurgia agora em toda a sua plenitude. Era como se Matilde fosse a “sua criança” de então, que por um qualquer capricho da natureza, nascesse apenas agora. Nunca em nenhum momento se lembrava de que ele não era o pai biológico. 
E ali mesmo, ao lado da porta fechada, jurou a si mesmo, que acontecesse o que acontecesse com o seu casamento, nada nem ninguém no mundo, lhe roubaria o amor da filha, nem a emoção que ele sentia, a cada progresso dela. 
Quando chegou à sala, a mulher e os amigos conversavam animados. Porém quando os olhos de Isabel pousaram nos seus, ele leu claramente a preocupação quase instantânea. O que aconteceu? - parecia indagar o seu olhar.  “Nada. Está tudo bem”, pensou, enquanto sorria. Como se ela tivesse lido o seu pensamento, o olhar dulcificou-se-lhe e sorrindo disse:
- Vamos para a mesa?
Os quatro levantaram-se, e dirigiram-se para a casa de jantar.
- Sentem-se. Eu vou buscar a comida - disse Isabel.
- Eu ajudo - disse a amiga.
- Já ajudou muito - respondeu Ricardo. - Sentem-se. Nós tratamos de trazer a comida, - concluiu seguindo a mulher para a cozinha.




Nota, como sabem hoje dia 28 vou fazer novos exames e consultas. Depois irei ao hospital ver o cunhado que sofreu um AVC e continua internado. O mais certo é não visitar ninguém, peço desculpa. No dia 27 que está a acabar também não fiz muitas visitas, o sistema nervoso, tem estado alterado. 

17 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Mais um bonito e muito terno episódio.Amei!

Sei como é estar ansiosa. Tenha calma tudo vai correr bem.

Beijinhos

Janita disse...

A pequena Matilde está a adaptar-se bem à nova casa e ao...pai!
Também me foi gratificante verificar o entendimento, sem necessitar palavras, que começa a existir entre o casal. Foi bonito!

Oxalá o irmão não apareça para estragar esta harmonia.

Não se preocupe com as visitas, Elvira. Há coisas que exigem prioridade e a saúde é a principal.
As melhoras do cunhado.

Abraço.

noname disse...

Que tudo corra bem amanhã, deixe as visitas para outro dia, nós entendemos.

Boa noite e beijinho

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Muito bonito este episódio,assim como os sentimentos de Ricardo que revela muita sensibilidade, apesar do que já sofreu.
Desejo que encontre o seu cunhado melhor e que a sua consulta corra bem e que o médico lhe dê boas notícias.

Beijinhos,
Ailime

Sandra May disse...

Espero que tudo vá bem, Elvira.
O capitulo de hoje foi emocionante e terno.
Um abraço.

Tintinaine disse...

Calma, Elvira, que a vida é curta! Temos que viver o momento e esquecer o resto. O passado já não conta para nada e o futuro não nos pertence, só o agora conta.
Que corra tudo bem com os exames!!!

Maria João Brito de Sousa disse...

Não se preocupe com as visitas, amiga. Estou segura de que todos nós, seus leitores, compreendemos a delicada situação em que se encontra.

Que tudo corra o melhor possível e que depressa possa apaziguar esse sistema nervoso pontualmente afectado.

Abraço

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Mais um episodio para ler e reler , pois é muito emocionante.
É natural o seu estado de ansiedade , mas tenha fé , que vai correr tudo bem.
JAFR

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou a gostar e aproveito para desejar um bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Olinda Melo disse...


Olá, Elvira

O amor de pai a despontar no coração do Ricardo.
Para já, penso que esse casamento promete.

Que tudo corra bem com os seus exames e consulta.
E melhoras ao seu cunhado.

Bjs

Olinda

Os olhares da Gracinha! disse...

Uma ternura este capítulo!
Que tudo corra como deseja!
Bj

Isa Sá disse...

A passar para acompanhar a história.
Espero que corra tudo bem e que os exames sejam favoráveis!


Isabel Sá
Brilhos da Moda

Gaja Maria disse...

Que episódio lindo este :)

Meu Velho Baú disse...

Tudo indica que venha a ser uma Família Feliz com muito Amor
Elvira que corra tudo bem a nível de saúde
Beijinhos

Teresa Isabel Silva disse...

Fico a aguardar as novidades da consulta!

Bjxxx
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teresa dias disse...

Lido!
Bjs.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Lindo esse capítulo recheado de ternura e o acordar do amor adormecido no coração dele.
Beijos carinhosos!