Na Seca do Bacalhau, da Parceria Geral de Pescarias, havia duas quintas, cada uma com o seu caseiro, onde se produzia tudo o que a terra dá. Das batatas às frutas e ao feno para os animais. Numa delas, havia um depósito de água que servia toda a Seca e vários tanques que serviam para regas e para lavagens de roupa. Na outra um poço e uma nora movida geralmente por uma vaca, completava as exigências. Havia uma casa grande, senhorial, com garagem, e quintal. Era a casa do senhor Capitão, o gerente deste pequeno mundo. Ficava isolada junto dum pequeno eucaliptal.
Depois mais afastadas ficavam meia dúzia de casas, habitadas por pessoas que viviam todo o ano na Seca,e que tratavam da manutenção para que tudo sempre estivesse em ordem quando começava a safra.
Os electricistas, os dois empregados de escritório, o ferreiro, os vigias, e o Ti'Abel.
Havia ainda uma casa em cada quinta, para os caseiros, uma casa junto ao portão principal, para a porteira e um barracão grande no portão junto à praia, para o pessoal do Barreiro que ia e vinha a pé para o trabalho pela "caldeira do alemão" O terceiro portão junto ao moinho de maré, para quem vinha de Palhais, atravessando a Quinta do Himalaia, era o próprio moleiro que abria e fechava à hora do pessoal entrar ou sair, sendo que à saída em qualquer dos portões tinham que mostrar a alcofa que traziam de manhã com o almoço, para ver se não levavam, alguma coisa que não lhes pertencesse. Havia ainda duas enormes camaratas, e o posto da guarda fiscal que ficava pegado a uma destas camaratas, que eram chamadas de "malta".
O Ti'Abel era o encarregado de ir todos os dias, levar a correspondência da firma, e também do pessoal que trabalhava nela, à estação dos correios no Barreiro. Na volta, trazia o correio, que havia para a Seca, e trazia também peixe, e carne do mercado, para quem lhe tinha encomendado. Tudo isto numa carroça, puxada por um manso cavalo. Os caseiros tinham também uma carroça, que usavam para levar para o mercado, os produtos da quinta que excediam os gastos da Seca.
A actividade da seca do bacalhau, decorria de Outubro até Abril. Durante esses meses a Seca chegava a ter quase meio milhar de trabalhadores, entre os residentes, aqueles que vinham do norte para fazer a safra e ficavam a viver nas camaratas, e o pessoal, maioria mulheres que vinham todos os dias das terras vizinhas, Telha, Quinta de Lomba, Barreiro, Baixa da Banheira, Alhos Vedros, Palhais, Santo António da Charneca, e Coina. Do Norte, vinham homens e mulheres, muitos dos quais casados. E então acontecia uma situação algo caricata.
A actividade da seca do bacalhau, decorria de Outubro até Abril. Durante esses meses a Seca chegava a ter quase meio milhar de trabalhadores, entre os residentes, aqueles que vinham do norte para fazer a safra e ficavam a viver nas camaratas, e o pessoal, maioria mulheres que vinham todos os dias das terras vizinhas, Telha, Quinta de Lomba, Barreiro, Baixa da Banheira, Alhos Vedros, Palhais, Santo António da Charneca, e Coina. Do Norte, vinham homens e mulheres, muitos dos quais casados. E então acontecia uma situação algo caricata.
É que os casais não podiam viver juntos. Os homens viviam numa das "maltas", que além dos imensos quartos colectivos, tinha um grande refeitório, mesas de vários metros com bancos corridos, e uma cozinha com um enorme fogão a lenha, com imensas bocas, e dois cozinheiros que cozinhavam para os homens. No extremo oposto, a "malta" das mulheres, era em tudo gémea da que acaba de se descrever, só que em vez de cozinheiros, tinha cozinheiras. A única concessão que era feita aos casais, era a de poderem comer juntos, num ou noutro edifício. Mas antes das onze da noite, todos tinham que estar recolhidos na respetiva "malta", sob pena de terem que dormir ao relento.
Bom, mas os casais precisavam de intimidade. Principalmente os homens, já que naquela época a sexualidade parecia ser privilégio deles.
Talvez porque os homens se preocupassem mais em desfrutar do ato sexual, do que em proporcionar à sua companheira qualquer satisfação, as mulheres, encaravam o mesmo, como "um frete a que não podiam fugir, porque era a sua obrigação satisfazer o marido". Não sei se a origem do nome de código "Aviar a caderneta" mas os homens usavam essa expressão para dizerem à mulher quando queriam ter sexo. Talvez pareça um tanto crua esta expressão, mas não me parece que se pudesse chamar aquilo fazer amor.
Na Seca havia também um pequeno pinhal com umas ribanceiras à volta, e um canavial que ladeava a vedação da Seca, estendendo-se até à Telha.
Então quando os casais, queriam "aviar a caderneta", recorriam a estas instalações. O pinhal, ou o canavial.
Parece que a pessoa que vos está a contar esta história, é filha de um "aviamento de caderneta". Corria o ano de 1946, já tinha acabado a II Guerra Mundial.Bom, mas os casais precisavam de intimidade. Principalmente os homens, já que naquela época a sexualidade parecia ser privilégio deles.
Talvez porque os homens se preocupassem mais em desfrutar do ato sexual, do que em proporcionar à sua companheira qualquer satisfação, as mulheres, encaravam o mesmo, como "um frete a que não podiam fugir, porque era a sua obrigação satisfazer o marido". Não sei se a origem do nome de código "Aviar a caderneta" mas os homens usavam essa expressão para dizerem à mulher quando queriam ter sexo. Talvez pareça um tanto crua esta expressão, mas não me parece que se pudesse chamar aquilo fazer amor.
Na Seca havia também um pequeno pinhal com umas ribanceiras à volta, e um canavial que ladeava a vedação da Seca, estendendo-se até à Telha.
Então quando os casais, queriam "aviar a caderneta", recorriam a estas instalações. O pinhal, ou o canavial.
Vou deixar para outro dia o trabalho de pôr o Bacalhau seco e salgado, como todos o conhecem.
Para todos uma excelente semana
20 comentários:
Deste lembro-me bem.
E da seca do bacalhau também.
Abraço
Bom dia
Que expressão mais estranha . nunca tal ouvi !!
JAFR
Sempre a aprender...
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Sempre bom ler o que, certamente, não aprendemos. Não me lembro. kkk
Hoje » Sou a hora perdida dentro do aconchego
Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira
Adorei esse termo,rs...Aprendemos com Elvira,rs...beijos, chica
Oh, Elvira, mande-nos também uma posta desse bacalhau!
O de agora é tão mal "acabado" que só os temperos o tornam comestível!
Gostei de ler este texto.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
¡Hola Elvira!
Es una muy interesante historia esta que nos cuentas, en esos años había muchos terratenientes que los pobres les trabajaban y cuidaban las fortunas si a penas ganar un duro, tan solo por la comida.
Gracias a Dios que eso hoy no pasa.
Yo acordé mucho de eso aunque no tuve que trabajar para nadie, a Dios gracias. Haber si te sigo para ver como trascurren las cosas.
Ha sido un placer leerte, gracias.
Un abrazo y mi gratitud por tu huella en mi espacio.
Se muy, muy feliz.
Bom dia!
Mais um interessante postagem (aula)!
Do amor ao infinito ...
Beijos e um excelente dia!
Tempos em que haviam os Senhores Feudais e os pobrezinhos que comiam batata com bacalhau ( e era muito bom)
Hoje existem os mesmos ricos - com outro nome - e os remediados
É a lei da vida
*
* Prepúcio colado à glande. O que NÂO fazer ... e o que fazer. ( Prepúcio ... Fimose ... Circuncisão ) *
***
Beijinho
Vidas bem duras..
No Alentejo a situação era muito semelhante aquando da época das ceifas.
Beijinho, bom resto de semana
Aviar a Caderneta, uma expressão diferente e gostei de ler...
Você é uma estudiosa e pesquisadora dedicada...
O meu abraço
Querida Elvira,
Achei muito interessante, obrigada por compartilhar.
bjokas =)
Uma bela história de um passado em texto bem interessante! Bj
Gostei tanto Elvira
Como tudo está tão diferente ...
Bejinhos
Adorei saber, não fazia a mínima ideia!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Boa noite Elvira,
Nunca tinha lido nem ouvido dizer que a seca do bacalhau era uma atividade tão intensa no Barreiro. Desde há tempos que sei pela Elvira.
Trabalhava-se muito e as mulheres muito sacrificadas e sem condições e ainda sujeitas a aos aviamentos. Quanto a mim tempos de má memória.
Beijinhos,
Ailime
Um relato precioso, cara Elvira, cheio de vida e em que a vida acontece.
Obrigada.
Bj
Olinda
Achei muito interessante o termo " aviar a caderneta ", mas creio já o ter conhecido quando nos contaste a vida dos teus pais na seca. Tempos muito duros esses, mas em todo o lado o trabalho era quase escravo. Na milnha aldeia as mulheres iam " ao jornal " para os lavradores ricos e alem de ganharem pouco a merenda era um pedaco de broa já ressequida e um copo de água pé; Nas vindimas comiam desse pão com as uvas que caissem ao chão. Uma miséria também. Obrigada, Elvira e ainda bem que as coisas mudaram e aqueles que teimam em continuar com esse tipo de tratamento tem que dar contas à justiça. Naquele tempo não havia quem protegesse os que precisavam de ganhar uns tostões para o caldo de couves que comiam. Beijinhos
Emilia
Gosto tanto destas historias antigas :) Faz-me bem aprender com quem sabe :)
Beijinhosss e boa semana*
https://matildeferreira.co.uk/
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