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10.1.18

ESCRITO NAS ESTRÊLAS - PARTE III







A partir daí, durante uma semana, todos os dias se falavam pelo telefone, cada um abrindo um pouco mais, a janela da sua alma para o outro.
Na Sexta-feira, Ema anunciou que ia passar o fim-de-semana a Lisboa. Não informou quando chegaria, nem como, apenas pediu para ele ir ter com ela ao centro comercial para onde se dirigia no momento, às quatro da tarde de Sábado.
Nessa noite, Abílio quase não dormiu de tanta excitação. O cabelo embranquecera, o rosto enrugara, mas o coração mostrava-se tão apaixonado, como se mantivesse os vinte anos. Abriu a velha caixa que o acompanhara toda a vida, mirou e remirou o monte de cartas amarelecidas pelo tempo, presas com um laço azul, sem saber se devia ou não levá-las para o encontro.  No Sábado perto da hora do almoço, sentiu-se mal. Tinha ido à rua buscar o pão e o jornal e de súbito, no regresso a casa, o dia escureceu de repente, o chão fugiu-lhe debaixo dos pés, sentiu que devia segurar-se a qualquer coisa, mas não foi capaz e depois de um estranho bailado acabou estatelando-se junto da porta do vizinho.
Incomodado com o barulho, este abriu a porta, e vendo o que se passava apressou-se a chamar os bombeiros que o levaram para o hospital, onde foi medicado, fez uma série de exames e ficou em observação. Sem ter como avisar Ema, temia que desiludida, ela voltasse para Braga sem se encontrarem. Finalmente já depois das dez da noite, convencidos os médicos, de que tudo não passara de um episódio provocado pela ansiedade e que não havia a temer, nenhum mal maior, foi-lhe dada alta.
Regressou a casa num táxi, e lá chegado mandou uma mensagem a Ema explicando-lhe  o sucedido. Ela respondeu-lhe que relaxasse, dormisse descansado e se encontrariam no mesmo local no dia seguinte às onze horas para almoçarem juntos.
Fosse pela resposta, ou pela medicação tomada no hospital o certo é que adormeceu rápido.
A meio da noite, sentiu que não estava sozinho. Abriu os olhos e a figura de Fernanda envolta num manto tão branco que feria os olhos, sorria-lhe junto da cabeceira.  Transpirando, sentindo que estava a morrer, estendeu-lhe a mão. Mas ela não lhe pegou. Com uma voz doce, disse:
“Não meu querido, ainda não. Ainda tens um pedaço de vida para cumprir. Vim para te libertar desse remorso, que parece querer levar-te,  antes que o teu tempo se cumpra. Sempre soube que no teu coração havia outro amor. Mas nem por isso fui infeliz. Porque apesar disso, do jeito que podias e sabias, sempre me amaste, como amaste os nossos filhos, e nunca em momento algum senti que não estavas comigo. Fui muito feliz contigo, não tens que pedir perdão nem recriminar-te. Agora é hora de te libertares e viveres esse grande amor que já estava escrito nas estrelas, muito antes de eu chegar à tua vida. E quando pensares em mim, que eu seja uma doce lembrança. Agora vou, mas estarei por perto para te proteger e dar força. Na brisa que te acaricia o rosto, na espuma que te molhe os pés na praia, no sorriso de uma criança no desabrochar de uma flor. Vai meu amor, vai ser feliz”
Acordou sobressaltado, com um raio de sol sobre a face. Oito horas? Mas como era possível ter dormido tanto? E a presença de Fernanda no quarto, afinal não passara de um sonho? Mas parecia tão real.
Levantou-se, tomou banho, vestiu umas calças de ganga, e uma suéter azul, uns ténis e saiu para a rua. Ia à padaria, mas antes tinha que bater à porta do vizinho para lhe agradecer tê-lo socorrido no dia anterior.
Às onze em ponto entrou no centro combinado e o coração acelerou quando a viu. Ema tinha sessenta anos, mas não aparentava mais de cinquenta. Era uma bela mulher, e ao olhá-la, sentiu aumentar os seus receios. Sentia-se como se em vez de cinco anos os separassem vinte. Nesse momento sentiu uma impressão no rosto, como o suave roçar de uma pena, lembrou do que Fernanda lhe dissera no sonho e avançou confiante.
- Desculpa o atraso, querida. Nunca me tinha acontecido uma coisa assim- disse depositando na bela face um suave beijo.
- Esperei por ti toda a vida, - disse ela sorrindo. Mesmo quando ainda não tinha consciência disso. Que diferença faz, meia dúzia de horas mais?
Sem mais explicações, deram as mãos e afastaram-se de dedos entrelaçados.

Fim


Maria Elvira Carvalho




Bom dia, Gente do meu chão.  Este final saiu mais cedo para dar notícias áqueles que me têm manifestado a sua preocupação com a minha saúde, quer no blogue quer em mensagens particulares. 
Desde a manhã de ontem que estou melhor, não tive subidas de tensão, nem enauseamentos, muito menos vómitos, a dor do ciático está bem mais brandinha, e hoje vou começar a comer como gente. Uma maravilha. Depois do duche já tomei o pequeno almoço e agora vou até ao Barreiro. Há mais de oito dias que só saí de casa duas vezes para o médico. Preciso de apanhar ar, mesmo que frio. Obrigado a todos pelo carinho

27 comentários:

Tintinaine disse...

Bela história e com um final fulminante!
Se a Elvira quiser copiar o Rodrigues dos Santos, pega na história e estica-a até dar um romance de 300 páginas (pelo menos). Só a ida para Moçambique, a passagem por Nampula e a vida no norte do Niassa garantem-lhe logo metade do livro.
Mas o melhor episódio de todos é a melhoria do seu estado de saúde!!!

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!


Isabel Sá
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei do final.
Um abraço e continuação de boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Larissa Santos disse...

Bom dia.Lindo final de mais um lindo conto. Obrigada.

Desejo que se encontre melhor.

Hoje:- Saudade, com cor e presença.
.
Bjos
Óptima quarta-feira

chica disse...

Lindo final esse! Gostei! E gostei de saber que te sentes melhor hoje e que vais passear um pouco, novos ares... bjs praianos,tuuuuuuuudo de bom,chica

No Reino do Infinito disse...

E um final feliz também traz um pouco de melhoras à saúde. Que bom, sair de casa. Bom passeio, mesmo com frio.

Infinitos desejos de continuação de melhoras :)

António Querido disse...

Mas cuidado amiga, o pico da gripe ainda anda no ar! Ainda bem que melhorou, eu também já saí dos antibióticos, estou bem melhor mas não abuso nas saídas com este tempo.

O meu abraço e rápidas melhoras.

noname disse...

Ufa! Ainda bem :-)
E sim,vá dar ar à pluma, que também+em faz falta.
Continuação de boas melhoras, beijinho

Joaquim Rosario disse...

boas
um final feliz e espetacular ao qual já estamos habituados .
continuação de uma boa recuperação .
venha outro quando puder.
JAFR

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Um conto que acabou bem depois de vários desacertos do destino.
Gostei!
beijo
;)

Edum@nes disse...

Esta é mesmo de mestra,
gostei dela sim senhora
escreva mais como esta
porque já é vencedora!

A saúde não a abandone,
as dores se vão embora
por onde quer que ande
seja feliz a toda a hora!

Um abraço amiga Elvira.

Ana disse...

fico contente por saber que está melhor.
A história foi curtinha mas interessante.
Abraço

Cantinho da Gaiata disse...

Lindo este final, tão bom que alguns romances de outros tempos tivessem acabado assim.
Fiquei contente de saber as novidades de hoje, assim é que é Rua é a solução...😁
Abracinhos

Anete disse...


Elvira querida, fico muito contente em saber que está bem melhor! Um passeio só faz melhorar ainda mais, com certeza.
Li os três capítulos agora e gostei do final feliz!...
Obrigada pela boa visita por lá...
Beijinhos e carinhos

Gaja Maria disse...

Que bom que já passou e que está finalmente bem. Gostei do fim da história. Abraço

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Graças a Deus você está melhor!!! Esse final foi lindo e bem romântico, amei!
Beijos!

Kique disse...

Um bonito final... e um final de doença tb....
bjs
Kique
https://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt

lis disse...

Oi Elvira
Li os três episódios e gostei muito da historinha que teve um final tão feliz!
E feliz de sabe-la bem melhor, agora é crer(isso é essencial) rs Força e Fé ok ?
Um grande abraço

Diná Fernandes de Oliveira Souza Souza2 disse...

Olá Elvira, bom saber que estás melhor e que abençoada seja a sua saúde.Faz bem dar um passeio e respirar novo ar!
Desejo breve recuperação!
Abraço!

Lua Singular disse...

Elvira, Saúde em primeiro lugar.
Pare se não estiver bem, a gente esperas e ora por você se recuperar logo.
Beijos
Lua Singular

Odete Ferreira disse...

Antes de mais, o meu regozijo por já te sentires bem melhor!
Isso, sai e sente o pulsar da vida!
Quanto à história: gostei, sobretudo pela mensagem; de facto, o amor não tem idade...
Bjinhos

Pedro Coimbra disse...

E chegamos ao epílogo, ao reencontro anunciado.
Abraço, fico feliz por já estar (quase) restabelecida.

Os olhares da Gracinha! disse...

Perdi este conto mas vou em busca dos episódios anteriores!
Tenho andado um pouco atarefada daí só aparecer de vez em quando!
bj

Rui disse...

Um conto a acabar bem, bem diferente destes últimos ! :)

... Mas o mais importante são as boas notícias sobre a saúde !!! ... Ainda bem que os males já lá vão, Elvira ! Agora, há que recuperar o perdido nestes dias de doença ! :)
Tudo de bom !!!
Abraço

lourdes disse...

Estava escrito que haveriam de acabar junos e felizes.
Nunca é tarde.
Bjs.

Duarte disse...

A minha amiga, criadora de historias, todas lindas.
Nós lá vamos lendo, a tua Maria Paula. Com a paragem do Natal, que duros até Reis, mais lento do que desejo.
Também gostei desta, sinceramente gosto de todas.
Beijinhos aqui de casa.

Fá menor disse...

Mais um belo conto!
Agora vou começar a ler o próximo.
Muita força, para que continue a escrever tão maravilhosamente.
Beijinhos.