A partir daí, durante uma semana, todos os dias se falavam pelo telefone, cada um abrindo um pouco mais, a janela da sua alma para o outro.
Na Sexta-feira, Ema anunciou que ia passar o fim-de-semana
a Lisboa. Não informou quando chegaria, nem como, apenas pediu para ele ir ter com ela ao
centro comercial para onde se dirigia no momento, às quatro da tarde de Sábado.
Nessa noite, Abílio quase não dormiu de tanta excitação.
O cabelo embranquecera, o rosto enrugara, mas o coração mostrava-se tão
apaixonado, como se mantivesse os vinte anos. Abriu a velha caixa que o acompanhara
toda a vida, mirou e remirou o monte de cartas amarelecidas pelo tempo, presas
com um laço azul, sem saber se devia ou não levá-las para o encontro. No Sábado perto da hora do almoço, sentiu-se
mal. Tinha ido à rua buscar o pão e o jornal e de súbito, no regresso a casa, o
dia escureceu de repente, o chão fugiu-lhe debaixo dos pés, sentiu que devia
segurar-se a qualquer coisa, mas não foi capaz e depois de um estranho bailado
acabou estatelando-se junto da porta do vizinho.
Incomodado com o barulho, este abriu a porta, e vendo o
que se passava apressou-se a chamar os bombeiros que o levaram para o hospital,
onde foi medicado, fez uma série de exames e ficou em observação. Sem ter como
avisar Ema, temia que desiludida, ela voltasse para Braga sem se encontrarem.
Finalmente já depois das dez da noite, convencidos os médicos, de que tudo não passara de um episódio provocado pela ansiedade e que não havia a temer, nenhum mal maior,
foi-lhe dada alta.
Regressou a casa num táxi, e lá chegado mandou uma
mensagem a Ema explicando-lhe o sucedido. Ela respondeu-lhe que relaxasse, dormisse
descansado e se encontrariam no mesmo local no dia seguinte às onze horas para
almoçarem juntos.
Fosse pela resposta, ou pela medicação tomada no hospital
o certo é que adormeceu rápido.
A meio da noite, sentiu que não estava sozinho. Abriu os
olhos e a figura de Fernanda envolta num manto tão branco que feria os olhos,
sorria-lhe junto da cabeceira.
Transpirando, sentindo que estava a morrer, estendeu-lhe a mão. Mas ela
não lhe pegou. Com uma voz doce, disse:
“Não meu querido, ainda não. Ainda tens um pedaço de vida
para cumprir. Vim para te libertar desse remorso, que parece querer levar-te, antes que o teu tempo se cumpra. Sempre soube que no teu coração havia outro
amor. Mas nem por isso fui infeliz. Porque apesar disso, do jeito que podias e
sabias, sempre me amaste, como amaste os nossos filhos, e nunca em momento
algum senti que não estavas comigo. Fui muito feliz contigo, não tens que pedir
perdão nem recriminar-te. Agora é hora de te libertares e viveres esse grande
amor que já estava escrito nas estrelas, muito antes de eu chegar à tua vida. E
quando pensares em mim, que eu seja uma doce lembrança. Agora vou, mas estarei
por perto para te proteger e dar força. Na brisa que te acaricia o rosto, na
espuma que te molhe os pés na praia, no sorriso de uma criança no desabrochar
de uma flor. Vai meu amor, vai ser feliz”
Acordou sobressaltado, com um raio de sol sobre a face. Oito
horas? Mas como era possível ter dormido tanto? E a presença de Fernanda no
quarto, afinal não passara de um sonho? Mas parecia tão real.
Levantou-se, tomou banho, vestiu umas calças de ganga, e uma
suéter azul, uns ténis e saiu para a rua. Ia à padaria, mas antes tinha que
bater à porta do vizinho para lhe agradecer tê-lo socorrido no dia anterior.
Às onze em ponto entrou no centro combinado e o coração
acelerou quando a viu. Ema tinha sessenta anos, mas não aparentava mais de
cinquenta. Era uma bela mulher, e ao olhá-la, sentiu aumentar os seus receios.
Sentia-se como se em vez de cinco anos os separassem vinte. Nesse momento
sentiu uma impressão no rosto, como o suave roçar de uma pena, lembrou do que
Fernanda lhe dissera no sonho e avançou confiante.
- Desculpa o atraso, querida. Nunca me tinha acontecido
uma coisa assim- disse depositando na bela face um suave beijo.
- Esperei por ti toda a vida, - disse ela sorrindo. Mesmo
quando ainda não tinha consciência disso. Que diferença faz, meia dúzia de horas
mais?
Sem mais explicações, deram as mãos e afastaram-se de
dedos entrelaçados.
Fim
Maria Elvira Carvalho
Bom dia, Gente do meu chão. Este final saiu mais cedo para dar notícias áqueles que me têm manifestado a sua preocupação com a minha saúde, quer no blogue quer em mensagens particulares.
Desde a manhã de ontem que estou melhor, não tive subidas de tensão, nem enauseamentos, muito menos vómitos, a dor do ciático está bem mais brandinha, e hoje vou começar a comer como gente. Uma maravilha. Depois do duche já tomei o pequeno almoço e agora vou até ao Barreiro. Há mais de oito dias que só saí de casa duas vezes para o médico. Preciso de apanhar ar, mesmo que frio. Obrigado a todos pelo carinho
Bom dia, Gente do meu chão. Este final saiu mais cedo para dar notícias áqueles que me têm manifestado a sua preocupação com a minha saúde, quer no blogue quer em mensagens particulares.
Desde a manhã de ontem que estou melhor, não tive subidas de tensão, nem enauseamentos, muito menos vómitos, a dor do ciático está bem mais brandinha, e hoje vou começar a comer como gente. Uma maravilha. Depois do duche já tomei o pequeno almoço e agora vou até ao Barreiro. Há mais de oito dias que só saí de casa duas vezes para o médico. Preciso de apanhar ar, mesmo que frio. Obrigado a todos pelo carinho
27 comentários:
Bela história e com um final fulminante!
Se a Elvira quiser copiar o Rodrigues dos Santos, pega na história e estica-a até dar um romance de 300 páginas (pelo menos). Só a ida para Moçambique, a passagem por Nampula e a vida no norte do Niassa garantem-lhe logo metade do livro.
Mas o melhor episódio de todos é a melhoria do seu estado de saúde!!!
A passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Gostei do final.
Um abraço e continuação de boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Bom dia.Lindo final de mais um lindo conto. Obrigada.
Desejo que se encontre melhor.
Hoje:- Saudade, com cor e presença.
.
Bjos
Óptima quarta-feira
Lindo final esse! Gostei! E gostei de saber que te sentes melhor hoje e que vais passear um pouco, novos ares... bjs praianos,tuuuuuuuudo de bom,chica
E um final feliz também traz um pouco de melhoras à saúde. Que bom, sair de casa. Bom passeio, mesmo com frio.
Infinitos desejos de continuação de melhoras :)
Mas cuidado amiga, o pico da gripe ainda anda no ar! Ainda bem que melhorou, eu também já saí dos antibióticos, estou bem melhor mas não abuso nas saídas com este tempo.
O meu abraço e rápidas melhoras.
Ufa! Ainda bem :-)
E sim,vá dar ar à pluma, que também+em faz falta.
Continuação de boas melhoras, beijinho
boas
um final feliz e espetacular ao qual já estamos habituados .
continuação de uma boa recuperação .
venha outro quando puder.
JAFR
Um conto que acabou bem depois de vários desacertos do destino.
Gostei!
beijo
;)
Esta é mesmo de mestra,
gostei dela sim senhora
escreva mais como esta
porque já é vencedora!
A saúde não a abandone,
as dores se vão embora
por onde quer que ande
seja feliz a toda a hora!
Um abraço amiga Elvira.
fico contente por saber que está melhor.
A história foi curtinha mas interessante.
Abraço
Lindo este final, tão bom que alguns romances de outros tempos tivessem acabado assim.
Fiquei contente de saber as novidades de hoje, assim é que é Rua é a solução...😁
Abracinhos
Elvira querida, fico muito contente em saber que está bem melhor! Um passeio só faz melhorar ainda mais, com certeza.
Li os três capítulos agora e gostei do final feliz!...
Obrigada pela boa visita por lá...
Beijinhos e carinhos
Que bom que já passou e que está finalmente bem. Gostei do fim da história. Abraço
Graças a Deus você está melhor!!! Esse final foi lindo e bem romântico, amei!
Beijos!
Um bonito final... e um final de doença tb....
bjs
Kique
https://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt
Oi Elvira
Li os três episódios e gostei muito da historinha que teve um final tão feliz!
E feliz de sabe-la bem melhor, agora é crer(isso é essencial) rs Força e Fé ok ?
Um grande abraço
Olá Elvira, bom saber que estás melhor e que abençoada seja a sua saúde.Faz bem dar um passeio e respirar novo ar!
Desejo breve recuperação!
Abraço!
Elvira, Saúde em primeiro lugar.
Pare se não estiver bem, a gente esperas e ora por você se recuperar logo.
Beijos
Lua Singular
Antes de mais, o meu regozijo por já te sentires bem melhor!
Isso, sai e sente o pulsar da vida!
Quanto à história: gostei, sobretudo pela mensagem; de facto, o amor não tem idade...
Bjinhos
E chegamos ao epílogo, ao reencontro anunciado.
Abraço, fico feliz por já estar (quase) restabelecida.
Perdi este conto mas vou em busca dos episódios anteriores!
Tenho andado um pouco atarefada daí só aparecer de vez em quando!
bj
Um conto a acabar bem, bem diferente destes últimos ! :)
... Mas o mais importante são as boas notícias sobre a saúde !!! ... Ainda bem que os males já lá vão, Elvira ! Agora, há que recuperar o perdido nestes dias de doença ! :)
Tudo de bom !!!
Abraço
Estava escrito que haveriam de acabar junos e felizes.
Nunca é tarde.
Bjs.
A minha amiga, criadora de historias, todas lindas.
Nós lá vamos lendo, a tua Maria Paula. Com a paragem do Natal, que duros até Reis, mais lento do que desejo.
Também gostei desta, sinceramente gosto de todas.
Beijinhos aqui de casa.
Mais um belo conto!
Agora vou começar a ler o próximo.
Muita força, para que continue a escrever tão maravilhosamente.
Beijinhos.
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