I
O homem estacionou o carro e entrou no centro comercial apressado.
Tinha sessenta e cinco anos, era alto e delgado. O rosto emoldurado por uma
farta mas bem curta cabeleira completamente branca, apresentava ainda uma certa
beleza apesar da idade. Os olhos azuis, qual pedaço de céu em dia ensolarado, o
nariz pequeno e a boca bem desenhada, eram parte do seu encanto. Apesar da
idade, e das rugas, era ainda um homem muito interessante.
No olhar inquieto e no movimento das mãos, notava-se que
apesar da sua presença forte, estava nervoso. Vinha para um encontro, que podia
mudar toda a sua vida, mas… com quase vinte e quatro horas de atraso.
Quando Abílio tinha vinte anos, namorara Ema, uma
rapariga da vizinhança, cinco anos mais nova. Ele sabia que ela era uma menina,
mas gostava do jeito da gaiata, da sua personalidade, e pensara que como tinha
uma vida à sua frente, podia esperar uns anos para que a rosa que se adivinhava
naquele botãozinho, crescesse e desabrochasse esplendorosa. Porém o pai da
jovem não esteve pelos ajustes, proibiu o namoro, e ameaçou que o denunciaria
às autoridades como pedófilo, se voltasse a vê-lo com a filha. Por essa altura
Abílio foi para a tropa, e poucos meses mais tarde partiu no paquete Vera Cruz para
uma comissão no norte de Moçambique.
Abílio não esquecia a sua pequena Ema, e tinha esperança
de quando acabasse a comissão e regressasse à Metrópole, o pai dela tivesse
mudado de ideia, e não pusesse obstáculos ao seu namoro com a filha.
Isso mesmo escreveu numa carta amorosa, em que lhe falava
das saudades que tinha dela, e lhe pedia uma fotografia para o acompanhar
naquele tempo de provação.
A carta veio devolvida pouco tempo depois, como vieram as
restantes que escreveu durante seis meses, até se convencer que era tempo
perdido.
Então um dia numa revista de espetáculos viu umas páginas
em que vários soldados pediam madrinhas de guerra, e resolveu escrever para a
revista com o mesmo pedido. Nunca esperou receber tantas respostas, mas recebeu
mais de dez. Ou era chique, ou moda, as moçoilas terem um afilhado de guerra. De
todas as cartas, ele escolheu a de Fernanda, uma jovem de Santar, uma vila beirã
de que nunca tinha ouvido falar até à data, mas cuja carta lhe pareceu a mais atilada
de todas.
De regresso à Pátria, ansioso por ver a sua amada Ema,
sofreu o desgosto de saber que se tinham mudado para parte incerta, logo após a
sua partida para África. Guardou no coração, todos os seus sonhos do futuro, e a
recordação de um amor que nada mais lhe dera do que um terno e ingénuo beijo, e
decidiu levar a vida em frente.
continua
Nota: Ainda convalescente, mas francamente melhor começo hoje uma nova
história, que se prolongará pelos próximos dois dias.
Uma história como vocês gostam, para amenizar as três histórias-denuncia com que iniciei o ano.
continua
Nota: Ainda convalescente, mas francamente melhor começo hoje uma nova
história, que se prolongará pelos próximos dois dias.
Uma história como vocês gostam, para amenizar as três histórias-denuncia com que iniciei o ano.
17 comentários:
Graças a Deus estás melhorando e nos brindando com essa bela história, sim, porque vai ser uma ótima história, pelo primeiro capítulo já chego a perceber.
Abraços carinhosos!
:)... Não me diga que a Fernanda é a Ema, que poderá ter "fugido" de casa por causa da atitude do pai !?...
Que bem me lembro desse período ! Fiz o serviço militar em plena "Guerra Colonial", mas por sorte não tive que sair de cá ! ... Era normal isso das "madrinhas de guerra" ! :)
Abraço e a continuação das melhoras :)
Tomara consiga passar aqui pra ler até final.. Que fiques bem boa! bjs praianos,chica
Melhoras Elvira.
Já à espera do próximo capítulo eheheheh
Boa convalescença.
Cumps
Já viajei nesse barco,
com o vento pelo proa
no camarote acomodado
de Nacala até Lisboa!
De Abílio e Ema,
o que deles será feito
não desiste, vale sempre a pena
lutar por aquilo que se tem direito!
Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
As melhoras Elvira
bjs
Kique
https://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt
Oi Elvira
Já começo com tristeza que com certeza que sua imaginação não tem limites
Beijos
Lua Singular
Que bom regressar às novelas em episódios diários. E com Moçambique pelo meio e ainda o Vera Cruz não podia ser melhor!
Pelo que consigo intuir, uma história de desencontros e reencontros.
Um abraço
bom dia
ainda não dá para fazer grandes analises , mas vai ser com certeza mais uma historia de amor !!
JAFR
A passar por cá para acompanhar mais uma história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Ora aqui vamos nós partir para mais uma história.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Espero que ele a encontre.
As rápidas melhoras.
Oh, ainda bem amiga, já começava a ficar com pavor de tal mudança tão radical.
Agora sim entramos no que gostamos de ver e ler.
Beijinho e as melhoras.
Ainda bem que está melhor. Já gostei do início da história. Parece-me que mais uma de amor :)
Um início de uma história que, pelos "ingredientes" já aflorados, promete ser interessante.
Continuação das melhoras.
Bom fim de semana, amiga Elvira.
Beijo.
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