foto da Igreja de Santo António da Chaneca
jardim com a imagem do Santo como terá sido visto pelo escravo
Lenda do Santo António da Charneca
Havia no Alentejo um rico proprietário que tinha feito a sua fortuna nas Índias, de onde trouxe uma filha e um escravo. D. Aires de Saldanha tinha um feitio difícil e ideias fixas: obrigava o seu escravo Macumba a ir todos os dias recolher lenha por serras distantes e guardava bem fechada no seu solar a sua bela filha Ana. A partir de um certo momento, o escravo Macumba passou a cruzar-se com um frade franciscano que provocava uma estranha perturbação nos bois que puxavam o carro de lenha: os bois tremiam e curvavam-se diante do frade em obediência ritual. A princípio o escravo irritou-se mas quando descobriu que se tratava de Santo António tremeu de emoção e julgou-se indigno da sua presença. Macumba deveria transmitir ao patrão o desejo de Santo António de ver construída uma capelinha e de dizer à jovem Ana que esta sofria porque não tinha fé suficiente. Quando Macumba contou a Ana o sucedido esta não acreditou nele e impediu-o de falar com o seu pai. Então, Santo António falou com Ana e transmitiu-lhe o seu desejo e também que ela realizaria em breve o seu sonho de se casar. No dia seguinte, e segundo as instruções de Santo António, os bois foram largados e no lugar onde pararam e começaram a escavar a terra surgiram cal e areia. A população construiu nesse mesmo lugar a capelinha mais bonita de toda a região. Ana casou-se com um mensageiro que na semana seguinte chegou ao solar e Macumba, agora homem livre, dedicou-se para sempre ao culto do seu santo protector.
Fonte
Fonte: http://lendasdeportugal.no.sapo.pt/distritos/setubal.htm
E uma vez que Lagos é a cidade do mais-que-tudo e também minha por adoção, aqui vai uma lenda da zona
A Fonte Coberta
Em um sítio chamado a Fonte Coberta, nas proximidades de Lagos, existe encantado um mouro ou uma moura. Em certa ocasião foi uma pobre mulher buscar água à fonte, e ao afastar-se viu duas esteiras com belos figos secos a enxugar ao sol.
No Algarve há por assim dizer duas diversas exposições de figos:
uma por ocasião de seca geral, e é quando o figo, apanhado já muito maduro, pincre, lhe chamam os algarvios, é conservado ao sol até secar de todo, e capaz de entrar nas tulhas de cana ou gamão, onde é acalcado e conservado; a outra, para consumo da família, sendo previamente lavado e posto ao sol a enxugar.
Não pôde a pobre mulher resistir ao desejo de lançar mão a alguns figos e apanhou cinco. A certa distância reparou que era seguida de uma criancinha a chorar, chamando pela mãe.
Perguntou a mulher à criança por que razão chorava, a criança porém em vez de dar qualquer resposta chorava cada vez mais.
Comoveu-se ela, e na suposição de que a criança tinha fome, meteu a mão nos bolsos e tirou dois figos para lhe dar. Qual não foi o seu espanto quando em lugar do figos se encontrou com cinco peças de ouro!… Nesse mesmo momento a criança desapareceu, aparecendo em seu lugar um homem trigueiro, vestido ao modo dos maltezes, de barrete vermelho e com um varapau na mão.
Atemorizou-se a mulher do súbito aparecimento do homem; este, porém, respondeu-lhe:
— Bruta, que não soubeste aproveitar-te dos figos, podendo apanhar os que quisesses!
E ao mesmo tempo que disse estas palavras também desapareceu.
Em outra ocasião passou junto da mesma fonte uma tendeira, chamada Mariana, e viu próximo uma criancinha de barrete encarnado. A tendeira ficou naturalmente surpreendida e atemorizada, porque já a esse tempo ouvira dizer que ali apareciam mouros encantados.
A criancinha, porém, sem fazer reparo na surpresa da tendeira, aproximou-se-lhe e disse:
— Dou-te uma boa porção de feijões, se me prometeres não os distribuires por outras pessoas.
E ao mesmo tempo mostrou-lhe uma boa porção de feijão branco.
A mulher prometeu à criança cumprir a condição e encheu uma alcofa do referido legume.
Mais adiante encontrou ela um homem e pediu-lhe com muitas instâncias que lhe desse os feijões, que levava consigo. Respondeu-lhe a mulher que lhos não podia dar, pois os recebera com a condição de os não distribuir por ninguém. Impôs-se-lhe o homem dizendo que a criança era seu filho, e que este lhe oferecera os feijões sem a sua autorização. A mulher abriu a alcofa e ficou admirada de encontrar os feijões substituídos por belos pintos antigos de prata.
O homem disse-lhe:
— Não te aconselharam a que não desses a ninguém os feijões?…
Quando a mulher ia a dar a resposta, já não viu o homem: tinha desaparecido como o fumo.
Estes dois casos e muitos outros andam na memória de toda a gente que reside próximo da fonte. Os velhos contam-nos por os ter ouvido contar aos seus avós, e estes aos seus avoengos. Como em muitas outras lendas de mouras encantadas, desconhece-se a razão por que ali se encontram encantados os tristes mouros.
Estes contos são sempre ouvidos com o profundo respeito de quem assiste à narração de um milagre autêntico.
No Algarve há por assim dizer duas diversas exposições de figos:
uma por ocasião de seca geral, e é quando o figo, apanhado já muito maduro, pincre, lhe chamam os algarvios, é conservado ao sol até secar de todo, e capaz de entrar nas tulhas de cana ou gamão, onde é acalcado e conservado; a outra, para consumo da família, sendo previamente lavado e posto ao sol a enxugar.
Não pôde a pobre mulher resistir ao desejo de lançar mão a alguns figos e apanhou cinco. A certa distância reparou que era seguida de uma criancinha a chorar, chamando pela mãe.
Perguntou a mulher à criança por que razão chorava, a criança porém em vez de dar qualquer resposta chorava cada vez mais.
Comoveu-se ela, e na suposição de que a criança tinha fome, meteu a mão nos bolsos e tirou dois figos para lhe dar. Qual não foi o seu espanto quando em lugar do figos se encontrou com cinco peças de ouro!… Nesse mesmo momento a criança desapareceu, aparecendo em seu lugar um homem trigueiro, vestido ao modo dos maltezes, de barrete vermelho e com um varapau na mão.
Atemorizou-se a mulher do súbito aparecimento do homem; este, porém, respondeu-lhe:
— Bruta, que não soubeste aproveitar-te dos figos, podendo apanhar os que quisesses!
E ao mesmo tempo que disse estas palavras também desapareceu.
Em outra ocasião passou junto da mesma fonte uma tendeira, chamada Mariana, e viu próximo uma criancinha de barrete encarnado. A tendeira ficou naturalmente surpreendida e atemorizada, porque já a esse tempo ouvira dizer que ali apareciam mouros encantados.
A criancinha, porém, sem fazer reparo na surpresa da tendeira, aproximou-se-lhe e disse:
— Dou-te uma boa porção de feijões, se me prometeres não os distribuires por outras pessoas.
E ao mesmo tempo mostrou-lhe uma boa porção de feijão branco.
A mulher prometeu à criança cumprir a condição e encheu uma alcofa do referido legume.
Mais adiante encontrou ela um homem e pediu-lhe com muitas instâncias que lhe desse os feijões, que levava consigo. Respondeu-lhe a mulher que lhos não podia dar, pois os recebera com a condição de os não distribuir por ninguém. Impôs-se-lhe o homem dizendo que a criança era seu filho, e que este lhe oferecera os feijões sem a sua autorização. A mulher abriu a alcofa e ficou admirada de encontrar os feijões substituídos por belos pintos antigos de prata.
O homem disse-lhe:
— Não te aconselharam a que não desses a ninguém os feijões?…
Quando a mulher ia a dar a resposta, já não viu o homem: tinha desaparecido como o fumo.
Estes dois casos e muitos outros andam na memória de toda a gente que reside próximo da fonte. Os velhos contam-nos por os ter ouvido contar aos seus avós, e estes aos seus avoengos. Como em muitas outras lendas de mouras encantadas, desconhece-se a razão por que ali se encontram encantados os tristes mouros.
Estes contos são sempre ouvidos com o profundo respeito de quem assiste à narração de um milagre autêntico.
OLIVEIRA, Francisco Xavier d’Ataíde As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve Loulé, Notícias de Loulé, 1996 [1898] , p.245-246
24 comentários:
Gosto de lendas e gostei das tuas, muito bem trazidas! Lindo fds! bjs, chica
Isto é que é um verdadeiro 2 em 1 :)
Se Santo António é santo milagreiro, e disso ninguém duvida, também em Lagos aconteciam muitos milagres por obra de mouros ou mouras encantadas que compensavam a honestidade e boa índole das pessoas.
As LENDAS, para além de nos fazer sonhar... também servem como momentos de reflexão.
Gostei muito Elvira!
Obrigada... e já lá está o link no nosso LEGENDEIRO! :)
Beijinhos e bom fim de semana
(^^)
Oi Elvira
Aqui nós chamamos de "causos que o povo conta"
A minha mãe tinha um Santo Antonio no quarto de visitas e um dia quando cheguei da escola, cansada, pois era noutra cidade queria dormir, foi quando vi o Santo Antônio no meu quarto. Fiquei doida, peguei o santo Antônio e voltei no outro quarto e lhe disse: e quem é que quer se case.
Eu me casei duas vezes.Pode?
Beijos
Lua Singular
bom dia
gosto sempre de ouvir lendas.
bom fim de semana
JAFR
Não conhecia...
Isabel Sá
Brilhos da Moda
A mim apetece-me criar uma lenda que explique a origem do nome da aldeia onde nasci, Macieira. Não sei é se uma lenda que nunca foi ouvida por ninguém terá algum crédito.
Vou pensar nisso!
Ouvia várias lendas aos meus antepassados! Esqueci todas porque apesar de gostar de as ouvir, (no caso destas aqui contadas), nunca acreditei muito em lendas, porque os portugueses sempre foram grandes inventores!
Não quero dizer que não acredite no que vejo e no que me aconteceu durante a vida, «O destino marca a hora», já dizia Tony de Matos.
Gostei das lendas, mais daquela dos figos de ouro. Pensei logo na Figueira do nosso estimado António Querido, carregada de figos de ouro. Terá ele de contratar um batalhão de soldados, para não acontecer o, mesmo, que aconteceu em Tancos!
Odemira, teve origem em Ode. Havia lá um fidalgo, quando estava com a sua amante no palácio, dizia para o guarda, do palácio, que se chamava Ode. Ode mira!
Abrantes, antes de se chamar Abrantes era. Abre antes que eu arrombe a porta do palácio, porque, lá dentro estava a sua mulher amante do fidalgo!
Tenha um bom fim de semana amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Amiga Elvira! Antes de tudo, apresento minhas desculpas pela ausência, pois o tempo tem sido muito escasso. Passando para agradecer o amável comentário que deixas-te no nosso humilde espaço que hoje comemora os meus 75 aninhos. Rsrs. Prometo que em breve voltarei para me atualizar na leitura dos teus posts.
Abraços e um ótimo final de semana para ti e para os teus.
Furtado
Gostei de ler.
Beijinhos
Obrigado, Elvira.
Logo duas ! :)) Barreiro e Lagos !
Acho interessante mantermos este sistema de Lendas sobre localidades que nos dizem alguma coisa !
Gostei de ambas! ... Como não gostar de as ler ? ...
... e o "Legendeiro" a crescer ! :)
Abraço
Muito interessante, não conhecia esta lenda.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Em vez de uma, duas lendas. Muito bem!! Ainda fazemos o tal LEGENDEIRO.... eh eh eh eh eh...
Beijinhos
Gosto muito de lendas . Gostei muito destas.
Bjn
Márcia
Das duas Lendas não saberia escolher de qual gostei mais! :)
Adoro estas histórias que terão algum fundo de verdade e em Lendas se transformaram, passando de geração em geração!
De santos ou mouras encantadas, todas elas são de encantar!
Um abraço, Elvira.
Oi Elvirinha! Tudo bem aí?
Gostei das lendas. Normalmente eu gosto muito disso, porque as lendas mexem com a nossa imaginação e crença né?
Um grande abraço!
Tenha um lindo final de semana.
Duas interessantes lendas, Elvira!
Um abraço GG... Que o seu domingo seja lindo...
Desconhecia mas gostei...bj
Grata pela partilha. Não conhecia nenhuma delas.
Bjinho, Elvira
Amei essas duas partilhas!
Beijos carinhosos!
Mas que duas lendas tão bonitas. Não há dúvida que o nosso país, mesmo que pequenino, tem muitas e grandes histórias.
Beijinho
Trago-lhe um mimo :-)
Há mais donde veio este.
Beijinho
https://noname-metamorphosis.blogspot.pt/2016/03/sem-tempo-pra-voltar.html
Duas bonitas lendas, Elvira! Uma delas do meu Algarve... :)
Boa semana.
Um cheirinho que, ás vezes, chega do lado de lá do mar
https://metamorphosis-mussitografias.blogspot.pt/2012/11/234-africa4_1.html
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