PARABÉNS A MIM

Pois é, há 70 anos atrás, às 11,20 da manhã eu nasci. Uma história atribulada, na Seca do bacalhau onde os meus pais trabalhavam, os casais não viviam juntos, os homens eram separados das mulheres e apenas podiam fazer juntos as refeições. O Manel da Lenha, meu pai tinha trabalho todo o ano no armazém da lenha. Minha mãe como todas as pessoas que apenas trabalhavam durante a safra, só vivia na Seca nessa altura. Eles se casaram a 9 de Novembro de 1946, e a Gravelina, minha mãe, se mudou da Seca do Seixal para a da Azinheira Velha.  Quando os casais se queriam amar, tinham que o fazer no pinhal ou no canavial que existia no caminho da Seca para a Telha, local onde existia uma taberna e mercearia que os abastecia. Não havia por perto nenhuma pensão, e ainda que a houvesse também não havia dinheiro para alugar um quarto. Naquele tempo as compras eram feitas com uma caderneta. Então o "avio da caderneta" passou a ser o nome de código entre os casais para significar o ato de fazer amor.  Então esta vossa amiga, é fruto de um avio de caderneta.
Quando a safra acabou minha mãe teria que ir para a terra, para casa da mãe dela, já que a malta das mulheres seria fechada e só com a chegada dos navios no final de Setembro, voltaria a abrir. Meu pai falou com o patrão e foi autorizado a habitar uma pequena barraca de madeira , debaixo de um pinheiro manso.  Na madrugada de 3 de Setembro de 1947, uma violenta trovoada de Verão, fez com que um raio caísse sobre o pinheiro, decepando-lhe um lado. O medo da minha mãe, foi tão grande que acabei nascendo nessa manhã, embora só fosse esperada para o fim do mês. E pronto, aqui estou hoje 70 anos depois a comemorar convosco este dia.