Quedei-me surpreendida ao ouvir aquele pregão numa voz
masculina. Procurei com o olhar, o dono da voz, e deparei com o Chico que de
cartas na mão, andava de um lado para o outro apregoando:
- Cinco cartas dez tostões!
Durante os dias que se seguiram ao funeral da pobre Esperança,
e aproveitando o resto das minhas férias, tinha conseguido saber que o Chico
tinha voltado do Brasil, viúvo e muito rico. Vinha com a intenção de se fazer
perdoar, e recuperar enfim aquele amor que tinha ficado perdido no passado.
Devo acrescentar que me foi fácil descobrir isto. Bastou seguir o Chico no
próprio dia do funeral, e apresentar-me como amiga da Esperança. Cheio de remorsos, sentindo o peso da solidão, e tendo-me visto em casa e no funeral de pobre mulher, não foram difíceis as confidências.
Mas então que história era aquela? Porque estava ali a
vender cartas no Terreiro do Paço, junto à gare fluvial da travessia Lisboa –
Barreiro? E que roupas eram aquelas tão simples e tão semelhantes às dos outros
vendedores?
Correndo o risco de chegar atrasada ao emprego
interroguei-o. Ele então contou-me, que os remorsos, não o deixavam em paz,
depois de saber da sofrida espera da amada. Pensara acabar com a vida. Mas era demasiado cobarde para o fazer.
Assim resolvera doar em nome da falecida, toda a sua fortuna, para
instituições de caridade. Afinal toda aquela riqueza só servira para fazer dele um homem infeliz, a quem Deus nem se dignara dar descendência, que o pudesse consolar na velhice.
E agora ali estava no sítio onde ela vivera e fazendo o que
ela fizera. Procedendo assim sentia-se mais perto da mulher a quem tanto amara, e que
desgraçara por ambição.
- “Talvez quem sabe, seja mais fácil obter o seu perdão, e
viver este amor numa outra dimensão”
Apertei-lhe o braço, tentando dar-lhe algum consolo e
afastei-me, acompanhada pelo pregão tão conhecido:
- Cinco cartas dez tostões!
Fim
Maria Elvira Carvalho
Pronto, acabou.
Acabei de escrever "Uma história de amor" que irei publicar no princípio do ano. Porque não há melhor maneira de começar um ano que com amor, não é mesmo?
Até lá, terão aqui publicações alusivas à época em que nos encontramos.
Obrigada a todos que têm paciência para me ler. Tenham um bom dia, e sejam felizes.
Pronto, acabou.
Acabei de escrever "Uma história de amor" que irei publicar no princípio do ano. Porque não há melhor maneira de começar um ano que com amor, não é mesmo?
Até lá, terão aqui publicações alusivas à época em que nos encontramos.
Obrigada a todos que têm paciência para me ler. Tenham um bom dia, e sejam felizes.
15 comentários:
Gostei do final um final muito "budista".
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Com os seus pregões,
é que o Chico vive agora
cinco cartas dez tostões
apregoado pela Esperança outrora!
Tenha um bom dia amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Final de semana maravilhoso, obrigado pela visita, tenha uma semana abençoada.
Blog: https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br/
Canal:https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM
Muito bom, Elvira ! ... Afinal, no meu último comentário não errei por muito.
A sua chegada a casa da Esperança coincidia com o velório ! ... Poderia ser um fim,... mas surpreendeu-me com esse "volte face" dos remorsos do Chico e das suas consequências !
Abraço e parabéns pelo conto ! :)
A verdade é que nem tudo pode ter um fim feliz !
Pois fico a aguardar a sua publicação.
Uma maneira de se redimir.
Bjs.
Irene Alves
Elvira
uma estória muito bem engendrada e que prende o leitor do princípio até ao fim.
nem todos os finais podem ser digamos felizes, e este final, confesso que me surpreendeu, pois foi um final que não estava à espera.
boa semana
beijinhos
:)
Gostei da história.
Bjn
Márcia
Quem abusa da vida das pessoas, enlouquece, foi o que aconteceu com ele.
Vê se faz um conto com um final feliz, não sei por quanto poderei ler seus contos( vista, já fiz 5 cirurgias).
Beijos
Minicontista2
Talvez para o Chico - depois do que ele aprontou - este tenha sido um final mais feliz, por ter-se redimido dos pecados, e adotado um estilo de vida que o faz lembrar da Esperança para sempre. Gostei do final. Belo conto amiga Elvira.
Abraços,
Furtado.
Não é sacrifício algum ler o que escreve, Elvira. Pelo menos para quem gosta de ler, como é o meu caso.
Tenha uma óptima semana.
Um final surpreendente... não esperava!
Mais uma vez, parabéns e fico à espera da próxima história de amor (só em 2017? e se acabassemos e começassemos com amor? :D Beijinhos e até amanhã!
Um final inesperado, mas remissor. Não entendo o fim de vida do Chico como um castigo, e sim, como tantas outras decisões que se tomam na vida e acabam por fazer sofrer tanto os inocentes quanto os culpados.
Gostei muito e parabenizo-a por ser 'aquela máquina' no fabrico de contos interessantes.
Um abraço, tudo de bom.
Oi, Elvira... Triste e reflexivo final! A vida tem dessas coisas, pessoas "pesadas" por não usarem o seu tempo, oportunidades da melhor forma possível... Confesso, que pelas minhas férias, li seus textos corridamente...
Um beijo
Gostei muito do conto, Elvira, da partida do destino e da possibilidade que deu ao Chico de se redimir.
Num tempo em que se ia par o Brasil em busca de fortuna e em que se comprava papel de cartas...
Muito bom.
Abraço.
~~~~
Afinal, a narradora quis deixar ao leitor uma espécie de mensagem: há sempre uma forma de nos redimirmos dos nossos erros ou de os expiarmos...
Bjo, amiga :)
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