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Antes de sair, bateu à porta da vizinha e pediu se podia
acompanhar o pai até que ela voltasse. Tinha medo de o deixar sozinho, mas só
uma pessoa podia seguir na ambulância.
No hospital, depois de vários exames, foi-lhe dito que a
mãe tivera um AVC, fruto talvez de uma diabetes descontrolada. Tinha sido feito
tudo o que era possível, mas a mãe estava em coma. Informaram-na, das horas a
que eram dadas as informações sobre os doentes na UCI e da hora a que podia
vê-la durante escassos minutos. Agradeceu, agarrou no saco que uma enfermeira
lhe trouxe com as roupas da mãe e chamou um táxi para regressar a casa.
Não sabia como dar a notícia ao pai. Ele estava quase a
fazer oitenta anos, e estava casado há mais de cinquenta. Desde que se
lembrava de ser gente, Isabel sempre notara o imenso amor que os unia. Na troca
de olhares cúmplices, no roçar das mãos, nos sorrisos, no adivinhar de certas frases
apenas afloradas por um e respondidas pelo outro, estava patente esse amor. E
ela? Estava preparada para a possível perda da mãe? Nunca ninguém está
preparado para semelhante facto, mas ela era nova e forte. O pai sim
preocupava-a. E tinha razão para isso.
Durante os quarenta dias que a mãe esteve no hospital,
foi muito difícil conseguir que o pai comesse alguma coisa. Felizmente a mãe
saiu do coma, e embora ficasse com o lado esquerdo paralisado, mentalmente
estava lá, e isso foi muito importante para todos.
Nada pior do que ter fisicamente
presente um familiar, cuja memória se perdeu por estranhos labirintos, dos quais
não esperança de retorno.
Isabel tinha muitos projectos para
a sua vida, após ter terminado o curso. Ia montar um escritório com duas amigas e
começar uma vida totalmente diferente daquela que tivera até ali. Mas... e agora?
O que fazer? A mãe precisava dela.
Foi a própria mãe que a encorajou
a realizar os seus sonhos. Ela precisava de cuidados sim. Mas contratariam uma
pessoa para cuidar dela e ajudar a tratar da lida da casa. O pai como sempre estava
de acordo.
15 comentários:
Esta rapariga só tem tido azares vamos lá a ver se algumas alegrias aparecem.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Olá Elvira...
A história da Elisa está ganhando "asas" e mais e mais emoções...
Seus contos são muito criativos e construtivos!
Beijos e boa 4ª feira.
Lindo dia!!!!!!!!! Beijos
Um mal nunca vem só, e para Isabel isso está confirmado. Primeiro a morte do marido, agora um AVC, quase que mata a sua mãe. Mas, na vida tem de se estar preparado para o bom e para o menos bom!
Tenha amiga Elvira, um bom dia, um abraço,
Eduardo.
Para tudo há solução. ainda bem que há pessoas dispostas a servir quem mais precisa. Com o tempo a recuperação é possivel.
Abraço
Estou por aqui :) adoro vir aqui :)
elisaumarapariganormal.blogspot.com
Oi Elvira, você é uma ótima escritora de contos.
Apesar de ter chegado atrasada para as leituras,
pude observar as dificuldades enfrentadas por Izabel!
Abraços, boa noite!
Mariangela
A Isabel sofreu muito na vida.
Mas agora, algo me diz que o dono desses olhos cinzentos ainda lhe vai dar muita felicidade.
Bjs
Imagine o que é viver a milhares de quilómetros dos pais, com quase oitenta anos, e de uma irmã deficiente profunda.
Temos que ter força, pensar positivo, ir em frente.
Que triste, sei bem como é cuidar de uma pessoa com AVC, minha querida mãe teve um e sofreu por longos nove meses desse mal, muito triste.
Um abraço querida Elvira.
Oi Elvira,
Eu cuidei da minha mãe durante 4 anos na cama. Tinha uma empregada, para arrumar a casa, fritar um bife para meu pai.Quando chegava do trabalho já era o segundo banho e papinha na boca fora a insulina que aplicava nela várias doses por dia.
Beijos
Minicontista2
Acredito que os sofrimentos que ora se apresentam para Isabel, sejam superados por futuros prazeres.
Abraços,
Furtado.
Vá lá, do mal, o menos...mas uma situação muito difícil!
xx
Uma situação difícil... que se conseguiu superar...
E a vida é mesmo assim... já tive muitas situações bem idênticas...
Adorando o texto, Elvira!
Beijinhos
Ana
Senti alívio por a mãe ter recuperado com a mente intacta. Senti o terror do que deverá ser ter alguém no corpo, mas não na mente. Embora eu seja da opinião que o entendimento está sempre lá, nunca abandona a consciência. O saber manifestá-lo é que muitas vezes desaparece.
E que bom que a mãe, os pais, disseram-lhe para fazer a sua vida e não se orientar pelo final das suas. Isso é verdadeiro amor.
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