Seguidores

31.12.19

MENSAGEM DE ANO NOVO


O bebé que aqui representa o novo ano, é esta vossa amiga com 5 meses de idade.



A todos os AMIGOS que costumam passar por este cantinho. Aos que vêm aqui há anos, e aos que chegaram há dias. Aos que me lêem e comentam, e aos que partem sem dizer nada. Aos que vem todos os dias e aos que passam uma vez por outra. Aos que me conhecem pessoalmente e aos que apenas me conhecem virtualmente. A TODOS desejo que 2020 seja um ano muito feliz. Que ele vos traga ALEGRIA e SAÚDE.  
Deveria acrescentar PAZ, e FELICIDADE? Decerto que sim. Mas penso que ALEGRIA e SAÚDE resume tudo o que a humanidade precisa. Porque quem está alegre, é porque se  sente FELIZ, e tem PAZ, PÃO, e LIBERDADE, não é mesmo? E se a par disso tem SAÚDE, que pode desejar mais? A juventude é claro, mas já pensaram se estariam dispostos a perder tudo o que já viveram? Trocariam a alegria de serem pais e avós a troco da incerteza do que poderia ser o futuro que essa juventude vos daria?
Bom então que seja um ano excepcional para todos vós.

29.12.19

CONTOS DE NATAL - O PRESENTE DE NATAL ESPECIAL



Faz todo o bem que puderes, usando todos os meios que puderes,
de todas as formas que puderes…durante o maior tempo que puderes.
John W. Desley


Através da montra da drogaria onde ambos trabalhávamos como assistentes de gerência, conseguia ver que Lamar aguardava ansiosamente a minha chegada. Tínhamos acordado no mês de novembro anterior que ele trabalharia no dia de Natal e eu no dia de Ano Novo.
O tempo que fazia era típico de Memphis nesta altura do ano. Lamar e eu tínhamos sempre esperanças de ver um Natal branco, mas este estava a desenrolar-se exatamente como os dos últimos vinte anos: frio, enevoado, sem um único floco de neve à vista.
Quando me apressei a entrar no calor da loja, Lamar pareceu aliviado.
— O dia foi difícil? — perguntei.
Gesticulando na direção da caixa central, resmungou:
— Ontem chegámos a ter filas de quinze pessoas. Nunca tinha visto tanta gente a tentar comprar pilhas e películas fotográficas ao mesmo tempo. Suponho que é uma das alegrias de trabalhar no dia de Natal.
— O que queres que faça hoje? — perguntei.
— Acho que o movimento vai acalmar por volta das seis da tarde. A noite a seguir ao Natal é sempre muito parada. Talvez pudesses pôr em ordem toda a secção de brinquedos.
E, dito isto, inclinou-se para pegar num animal de peluche.
Aquele pequeno cão de peluche tinha-se tornado a nossa mascote. Parecia que estávamos sempre a apanhá-lo do chão. Cinco, talvez dez vezes por dia. Nunca tinha sido um brinquedo bonito e agora era-o ainda menos: o pelo longo e felpudo tinha-se tornado emaranhado e sujo, por causa da poeira do chão e da sujidade das mãos das crianças que lhe tinham pegado, enquanto as mães aviavam as receitas. O brinquedo já tinha baixado de preço muitas vezes, sem sucesso. Naquele mundo de bonecos brilhantes e mágicos, um pequeno cão de pelo sujo não era um brinquedo de eleição. No entanto, todos os miúdos de Memphis devem ter apertado aquele cachorrinho pelo menos uma vez naquele Natal.
A tarde passou-se rapidamente entre devoluções, trocas e vendas de decorações de Natal (com 50 por cento de desconto). Contudo, às seis horas, tal como Lamar tinha previsto, o negócio diminuiu e fui trabalhar para a secção dos brinquedos. O primeiro brinquedo que me veio parar à mão foi, evidentemente, aquele cãozinho peludo de orelhas cabisbaixas. Comecei por pô-lo no lixo e retirá-lo do inventário, mas mudei de ideias e coloquei-o de novo na prateleira. Por razões sentimentais, suponho. De repente, uma voz interrompeu as minhas divagações.
— Desculpe, é o gerente?
Virei-me e vi uma mulher jovem e franzina com um rapazinho de cinco anos junto dela.
— Sou assistente da gerência — disse. — Em que posso ajudá-la?
A mulher baixou os olhos por um momento, depois levantou o queixo e disse num tom de voz áspero:
— O meu filho não teve Natal. Tinha esperanças de que agora tivessem alguma coisa com desconto, algo que eu pudesse pagar.
Confesso que encarava com cinismo os ocasionais pedidos de moedas dos sem-abrigo, mas a voz dela continha um tal misto de sinceridade e mágoa por ser obrigada a fazer aquela pergunta que eu disse:
— Estou agora mesmo a remarcar os brinquedos com o desconto. O que procura?
O rosto da mulher iluminou-se, como se tivesse finalmente encontrado alguém disposto a ouvi-la:
— Não tenho muito dinheiro, mas gostaria de comprar ao meu filho algo de especial.
O rapaz ficou feliz ao ouvir as palavras da mãe. Dirigindo-me a ele, pedi:
— Pega no brinquedo que mais gostarias de ter neste Natal, está bem?
O menino olhou para a mãe, que acenou em concordância. Esperei, curioso por ver qual dos brinquedos mais populares daquela quadra ele iria escolher. Talvez um carro de corridas ou uma bola de basquetebol. Porém, em vez disso, dirigiu-se ao cão velho e peludo e apertou-o com força. Fiz de conta que estava a afastar o cabelo da frente dos olhos, enquanto limpava uma lágrima.
— Quanto custa aquele cão? — perguntou a mãe, abrindo o fecho de um pequeno porta-moedas preto.
— Não custa nada — disse eu. — Até me faz um grande favor se o levar.
— Mas eu quero pagar a prenda de Natal do meu filho — insistiu ela.
— É um dólar — disse eu.
Tirou da carteira uma nota amarrotada e estendeu-ma. Depois virou-se para o filho e disse:
— Agora podes levar o cãozinho para casa. É teu.
Uma vez mais, disfarcei a minha comoção, enquanto o rapazinho sorria, extático. A mãe sorriu também e murmurou um silencioso “Obrigada”, enquanto saíam da loja.
Através da janela, vi-os embrenhar-se na noite que começava a cair em Memphis. Ainda não se via um único floco de neve, mas, quando voltei para o corredor dos brinquedos, percebi que tinha acabado de viver um Natal branco.
Harrison Kelly



Com este conto, encerro este ciclo de contos de Natal. Espero que tenham gostado, escolhi-os porque em todos eles há um pouco de magia, que nos levam a sonhar com um  mundo melhor. 


Regressei há poucas horas. Espero que tenham passado um Natal muito feliz, e agradeço a todos as mensagens de boas festas recebidas. Hoje, domingo tentarei retribuir as vossas visitas.
Bem Hajam.

28.12.19

CONTOS DE NATAL - O ESPÍRITO DE NATAL





Estava o Senhor Teotónio, que era rico, muito gordo e grande fumador de charutos, a carregar o carro com os presentes que passara a manhã a comprar para os filhos, para os sobrinhos e para as muitas pessoas com quem fazia negócios, quando se aproximou dele um homem pobre, idoso e magro, que prontamente obteve dele esta resposta:
— Comigo não perca tempo porque não tenho dinheiro trocado, nem alimento falsos mendigos.
— Mas eu não lhe pedi nada — respondeu o homem idoso serenamente, com um sorriso que desarmou o Senhor Teotónio e a sua bazófia de novo-rico.
— Então se não me quer pedir nada, por que motivo está tão perto de mim enquanto eu carrego o meu carro? — perguntou o Senhor Teotónio entre duas baforadas de charuto que fizeram o homem idoso e magro tossir convulsivamente.
— Estou aqui, meu caro senhor — respondeu ele, já refeito da tosse — para tentar perceber o que as pessoas dão umas às outras no Natal.
— Com que então — concluiu ironicamente o Senhor Teotónio, grande construtor civil com interesses de norte a sul do País — temos aqui um observador! Deve ser, certamente, de uma dessas organizações internacionais que nós pagamos com o nosso dinheiro e que não sabemos bem para que servem.
— Está muito enganado. Mas já agora responda à minha pergunta: o que é que as pessoas dão umas às outras no Natal? — insistiu o homem pobre, idoso e magro.
— Bem, se quer mesmo saber, eu digo-lhe. Quem tem posses como eu pode comprar uma loja inteira, deixando toda a gente feliz, a começar nos comerciantes e a acabar nas pessoas que vão receber os presentes. Quem é pobre como você fica a assistir. Percebeu a diferença?
O homem magro e idoso reflectiu uns instantes sobre a resposta seca e sarcástica do Senhor Teotónio e depois respondeu-lhe com uma nova pergunta:
— Então e o espírito do Natal?
— O que vem a ser isso do espírito do Natal? — quis saber, cheio de curiosidade, o Senhor Teotónio.
— O espírito do Natal — respondeu o homem idoso e magro — é aquilo que nos vai na alma nesta altura do ano e que está muito para além dos presentes que damos. Para muitas pessoas, o melhor presente pode ser um telefonema, uma carícia ou um telefonema quando se está só.
— Era só o que me faltava agora — desabafou, enfastiado, o Senhor Teotónio, enquanto arrumava os últimos presentes na mala do automóvel — ter agora um filósofo, ainda por cima vagabundo, para aqui a debitar sentenças.
O homem magro e idoso afastou-se do carro, mostrando que não queria esmolas nem qualquer outra coisa que lhe pudesse ser dada pelo Senhor Teotónio, e encaminhou-se para um grupo de crianças que o esperavam.
Quando o Senhor Teotónio passou por eles no carro, ouviu uma voz de criança a dizer:
— Vamos, Espírito do Natal, porque hoje ainda temos muito que fazer.
Dizendo isto, o grupo ergueu-se no ar a esvoaçar com destino incerto, largando um pó luminoso enquanto ganhava altura no céu cinzento de Dezembro.



José Jorge Letria
A Árvore das Histórias de Natal
Porto, Ambar, 2006





27.12.19

CONTOS DE NATAL - A MANJEDOURA VAZIA





— Já não há mais nenhuma — disse Michael, empilhando a última caixa no átrio da minha casa.

Inspecionei as embalagens poeirentas com alguma expectativa. Estas decorações de Natal, que tinham sido guardadas depois da morte da mãe de Michael, simbolizavam, de alguma forma, o nosso futuro como casal. Tínhamos, até agora, partilhado todo o tipo de atividades típicas da quadra: festas, compras, decorações. Mas, como íamos casar dentro de alguns meses, eu queria criar algumas tradições que fossem só nossas.


Algo de significativo e de único para ambos.

Abrir estas caixas era o início dessa partilha.

— Olha só, o nosso velho presépio! — exclamou Michael, abrindo uma caixa embrulhada com cuidado. — A minha mãe punha-o sempre debaixo da árvore de Natal.

Com cuidado, desembrulhei Maria, José e a manjedoura. Enfiado dentro dos jornais estava um estábulo. Coloquei-o no chão, debaixo da árvore, e dispus os três Reis Magos, um pastor, uma ovelha e uma vaquinha. Estavam todos menos…

Verifiquei de novo os pacotes e procurei debaixo dos jornais empilhados a figura que faltava. Nada.

— Não encontro o Menino Jesus — disse para Michael, que estava ocupado na sala de jantar.

Quando chegou junto de mim, repeti:

— Não encontro o Menino Jesus do presépio.

A cara de Michael ficou tensa.

— Mas ele tem de estar aqui. Estava aqui no último Natal da minha mãe.

Horas mais tarde, depois de todas as caixas terem sido abertas, continuava a faltar o Menino Jesus. Michael sugeriu que voltássemos a embrulhar o presépio.

— Não — discordei. — Amanhã vou tentar encontrar um menino que condiga com o conjunto.

Despedimo-nos e Michael foi para casa.

No dia seguinte, coloquei a manjedoura na minha carteira e fui a uma loja temática na hora de almoço. Não havia nenhum Menino Jesus. Depois do trabalho, ainda procurei noutras lojas, mas nenhuma delas vendia o Menino Jesus em separado. Pensei comprar outro conjunto de figuras, mas nenhum dos meninos cabia na manjedoura do presépio de Michael.

Uns dias mais tarde. quando ele veio jantar a minha casa, contei-lhe o sucedido. Depois do jantar, comecei a arrumar as figurinhas na caixa. Michael interrompeu o meu gesto, colocando as suas mãos nas minhas.

— Penso que devemos deixá-lo como está.

— Mas não podemos ter um presépio sem Menino Jesus — retorqui.

— Vem comigo — pediu Michael.

Afastámo-nos da árvore e ele disse:

— Olha para o presépio. À primeira vista, nem sequer notamos que falta alguma coisa. Só quando olhamos com atenção é que vemos que não há Menino Jesus.

Inclinei a cabeça e contemplei a cena. Michael tinha razão.

— Mas ainda não percebo onde queres chegar — disse eu.

— No meio das decorações, das listas de compras e das festas, perdemos, muitas vezes, Jesus de vista. É como se ele se perdesse no meio do Natal.

Foi então que compreendi.

E, assim, demos início à nossa primeira tradição de Natal, uma tradição significativa e única para a nossa família. Todos os anos, quando colocamos as figuras do presépio, deixamos a manjedoura vazia.

É a forma de nos lembrarmos de procurar Cristo no Natal.

Stephanie Welcher Thompson

26.12.19

CONTOS DE NATAL- O PÁSSARO DE NATAL




Era um inverno frio e nevoso. A mãe de Katia punha a mesa para o jantar. Havia leite e pão acabado de sair do forno.
— Hoje, quando fui levar ovos ao estalajadeiro, vi uns forasteiros na aldeia — disse Katia.
— Ele contou-me que está a deixá-los dormir no estábulo. Porque já não tem lugar dentro de casa — respondeu o pai. — Ao menos ali, junto da palha e dos animais, estão aquecidos.
— Gostava de saber quem são — disse a mãe. — Porque é que andarão de viagem com este tempo?
Quando Katia foi para o quarto, ouviu passos fora de casa e sentiu logo depois o pai abrir a porta. Esgueirou-se até às escadas e ficou à escuta.
— Onde é que vão? — ouviu o pai perguntar.
— Estás a ver além aquela estrela brilhante? — respondeu alguém. — Um anjo falou-nos e disse que, se seguíssemos a estrela, encontraríamos o recém-nascido. Queremos ver o novo rei e levar-lhe estes cordeiros.
Katia correu à janela. Efetivamente, no céu estava uma estrela brilhante que ela nunca tinha visto, exatamente por cima do estábulo do estalajadeiro. De todos os lados afluíam pessoas que seguiam a luz.
Katia demorou a adormecer, pensando no que acabara de ouvir. Acordou com os primeiros raios de sol.
— Hoje vou ver o pequeno rei — disse ao seu gato. — Mas o que hei de levar-lhe?
Não tinha muitos brinquedos, mas tinha algo muito especial: um pássaro de madeira pintado que assobiava quando se lhe soprava.
— Vou oferecer-lho — pensou. — E também vou levar o gato para o aquecer.
Katia desceu à cozinha.
— Quero ir ver o pequeno rei — disse à mãe. — Posso levar-lhe algum pão?
A mãe deu-lhe um pão, dizendo:
— Calça as botas quentes. Está muito frio lá fora.
Katia saiu de casa apertando contra si o gato, o pão e o pássaro de madeira, e atravessou a aldeia, feliz. Ao chegar às últimas casas, o gato soltou-se dos braços, pulou para o chão e correu para casa. Katia ficou um pouco triste.
— Bem, ainda tenho duas prendas para o rei — disse, atravessando a ponte sobre o ribeiro gelado. Depois, subiu a custo o caminho, pois estava coberto de neve. Um veado aproximou-se. Estaria com fome? “Será que tem fome? O pão é grande”, pensou Katia, “porque não hei de dividi- lo com ele?” Enquanto o veado mastigava, satisfeito, também ela foi comendo do pão. De repente, o pão acabou. Katia ficou com remorsos.
— Ainda tenho o pássaro para oferecer ao pequeno rei — disse para si mesma. — E é a prenda mais bonita.
Começou a nevar. O frio mordia-lhe nos dedos dos pés e das mãos. De repente, tropeçou e o pássaro caiu-lhe das mãos. Katia procurou e cavou na neve, as lágrimas queimavam-lhe a cara. Katia saltitava para se aquecer e depois continuava. Finalmente, os dedos bateram em algo duro. Era o pássaro de madeira! Pegou nele e soprou, mas não saiu som algum. Voltou a soprar mas o pássaro continuava mudo.
— Agora já não tenho nada para oferecer ao pequeno rei. O melhor é voltar para casa.
Nesse momento, viu um clarão doirado. Da porta do estábulo saía uma luz, um caminho que Katia se apressou a subir. Dentro do estábulo encontravam-se muitas pessoas e animais reunidos em volta do colchão de palha. A senhora olhou com ternura para Katia e o menino sorriu. Katia aproximou-se timidamente, pois o gato tinha fugido, o pão desaparecera e o pássaro estava estragado. Mas, ao ajoelhar-se em frente ao novo rei, sentiu dentro de si uma alegria enorme. O pequeno rei fechou as mãos em volta do pássaro e, em seguida, abriu-as. E das suas mãos voou o passarinho!
Quando Katia deixou o estábulo, o pássaro acompanhou-a, voando por cima dela a cantar maravilhosamente.
Ao regressar a casa pela neve bem funda, levava com ela o calor do estábulo e uma felicidade que nunca antes sentira.


Bernadette
Der Weinhachatsvogel
Lüneburg, Findling Buchverlag
(Tradução e adaptação)

25.12.19

CONTOS DE NATAL - UM NATAL CHEIO DE TERNURA



Há já muitos anos que o ursinho se mantinha quieto na prateleira de madeira. A fita vermelha que trazia ao pescoço perdera a frescura de outrora e o pelo amarrotado e coberto de poeira começava a ficar cinzento. Os seus olhos, porém, continuavam a brilhar tanto como quando uma criança pegara nele ao colo pela primeira vez.

Naquela noite, o ursinho pôs-se a caminho. Saiu do quarto em silêncio e deixou a casa. O vento gelado que soprava na rua fê-lo estremecer, mas o pequeno urso apertou as pontas do laço e, com o passo acelerado, chegou ao armazém abandonado e esperou.
À semelhança dele, todos os ursinhos da cidade se tinham posto a caminho. Pé ante pé, tinham todos saído dos baús de brinquedos, das caminhas fofas, das caixas enfeitadas e das montras iluminadas para mergulhar na noite.
Foram chegando um a um: havia ursinhos elegantes, fofos, rechonchudos, magricelas, grandes, pequenos, e malandros com asas de anjo. Quando o último chegou, o sino da igreja bateu as doze badaladas.
O ursinho cumprimentou-os a todos e acenou com a cabeça. Era o sinal.
Centenas de patinhas de veludo atiraram-se ao trabalho: os ursinhos treparam a telhados, varandas, caleiras, chaminés, goteiras e correram para dentro das casas. Em seguida, aspiraram o ar com os seus delicados focinhos e foram direitos aos presentes que se encontravam debaixo dos pinheiros.
Começaram a abrir os embrulhos todos: em sacos muito grandes, guardaram frascos de perfume, lápis de cor, carrinhos e patins. Nada foi esquecido, nem sequer um lenço de seda ou uma gravata.
Depois, em cada caixa, em vez de prendas, deixaram um bilhete com frases escritas pelas suas patitas. Em seguida, foram esconder os verdadeiros presentes num local secreto. E, tão silenciosamente como tinham chegado, voltaram para as suas prateleiras, camas, caixas, montras e baús, como se nada tivesse acontecido.
No dia seguinte, as pessoas ficaram dececionadas com a partida que lhes fora pregada!
Ao encontrarem bilhetes escritos dentro dos embrulhos, as crianças desataram a chorar. Para onde teriam levado as prendas?
Mas, sentadas debaixo do pinheiro, a pouco e pouco começaram a reler os bilhetinhos, que diziam coisas como «Gosto muito de ti», «Penso em ti», «Em breve, irei visitar-te».
Foi então que todos pensaram nas pessoas que não podiam estar com eles naquela noite de festa e que deviam sentir-se ainda mais sós do que nos outros dias.
Decidiram vestir os casacos e pôr-se a caminho.
Foram ver a avó que vivia sozinha, uma tia que estava no hospital, um vizinho que tinha a família longe…
Ninguém ficou esquecido. Só depois se puderam ouvir risos nas casas iluminadas e uma cidade inteira a cantar “Feliz Natal!”
Depois da festa, as pessoas dormiram felizes e em paz, pois acabavam de viver um Natal maravilhoso. E, enquanto sonhavam, patinhas de veludo vieram repor os presentes debaixo dos pinheiros…
O ursinho de pelo desgrenhado e laço vermelho continua à espera na prateleira. Mas o pó do pelo cinzento desapareceu e os seus olhos brilham agora como nunca.
Bruno Hächler
Un Noël de tendresse
Zurich, Editions Nord-Sud, 2000
(Tradução e adaptação

FELIZ NATAL

24.12.19

CONTOS DE NATAL - A CAMINHO DO NATAL








O inverno tinha chegado e com ele a neve que caía em grandes flocos. A água deixara de correr nos ribeiros gelados, e as aves, empoleiradas nas árvores, já não cantavam, de cabeça recolhida debaixo das asas. Um vento glaciar obrigava as pessoas a manter-se em casa ao canto da lareira.
 Naquela terra corria o rumor de que o senhor de um reino longínquo andava à procura de alojamento para o seu filho.
 Simão, um mercador rico da cidade, que vivia sozinho com a mulher numa grande mansão, tinha ouvido falar disso. Esse tal rei vem de certeza bater-me à porta, pensava ele, pois a minha casa é a mais linda da região!
 E ficou no limiar da porta, à espreita, esperando o coche real.
 Mas a rua permanecia escura e deserta.
 A mulher de Simão entrou na sala. Caminhava com dificuldade, de costas curvadas, apoiada numa bengala. Tinha imensas dores de pernas. Trazia um castiçal que pousou em cima da mesa.
 — Uma vela só é muito pouco! — disse o marido em tom de crítica — Acende todas as lanternas da casa e põe uma em cada janela.
 — Tanta luz para quê? — admirou-se a mulher.
 — Vai vir um rei a nossa casa! — explicou Simão. — A casa tem de se ver ao longe, de noite. Se ficar cá, receberemos uma bela recompensa. É por isso que deves iluminar as janelas. Despacha-te! E prepara uma boa refeição, digna de um rei. Anda, despacha-te!
 A muito custo a mulher deu volta à casa a iluminar todas as janelas. Tinha chegado à última divisão quando alguém bateu à porta. Foi abrir muito devagar.
 O recém-chegado trazia um casaco já muito puído e, nos pés, uns sapatos rotos.
 — Boa noite, minha senhora — disse ele — Será que poderia alojar o meu filho só por esta noite? Está tanto frio cá fora!
 O homem tinha ar de mendigo, mas o seu rosto resplandecia. E os olhos emitiam um brilho estranho que parecia vir do mais profundo da alma.
 Mas Simão não deu por nada. Só via os farrapos do pobre.
 — Vai-te embora! — disse ele. — Esta casa não é para mendigos!
 — A minha recompensa será grande — disse o forasteiro. — E vale mais do que todo o ouro e todas as riquezas deste mundo.
 Simão desatou a rir, trocista:
 — E onde escondes tu os tesouros? Debaixo desses farrapos ou no teu saco roto?
 Entretanto a mulher de Simão tirara o xaile e entregara-o ao mendigo. Também lhe deu uma fatia de pão e uma chávena de leite.
 — É tudo o que lhe posso dar! — murmurou.
 — Muito obrigado! — disse o forasteiro.
 E pegando na bengala em que ela se apoiava, arrumou-a junto do armário.
 — Daqui em diante não vai precisar mais dela! — acrescentou, antes de desaparecer na noite. Envolvia-o um halo de luz.
 A mulher sentiu-se de imediato livre dos seus sofrimentos. As pernas já não lhe doíam. Endireitou-se e deu alguns passos.
 — Estás a andar como dantes! — exclamou Simão maravilhado. — E a bengala?
 — Já não preciso dela! — disse a mulher com voz trémula. — Foi um milagre. O forasteiro curou-me…
 — Um mendigo que faz milagres? Deixa-te de tolices! — resmungou Simão.
 — Aquele desconhecido irradiava uma luz especial… — prosseguiu ela — O Rei é ele, tenho a certeza, um Rei vindo de longe…
 Simão ficou pensativo. O desconhecido tinha falado numa recompensa que valia mais do que todo o ouro e todas as riquezas deste mundo. E acabava de realizar um milagre. Então Simão compreendeu…
 — O que eu fui fazer! Que miserável sou! — exclamou ele — Depressa, tenho de o encontrar!
 Enfiou as botas e o casaco e saiu a correr.
 Tinha parado de nevar. O vento glaciar deixara o céu a descoberto, agora semeado de estrelas. No silêncio da noite, Simão ouviu uma voz que o chamava ao longe. Mas não via ninguém. Descobriu pegadas na estrada, e pôs-se a segui-las, descendo em direção à igreja. Ali, encontrou uma mulher a chorar.
 — Que te aconteceu? — perguntou ele.
 — Tenho muito frio! — gemeu a idosa.
 Então, cheio de remorsos, Simão deu-lhe o casaco.
 Depois continuou a caminhar, seguindo as pegadas na neve. Um pouco mais à frente, viu um rapaz a soluçar. Também ele tinha frio, descalço na terra gelada, com os pés gretados. Simão descalçou as botas forradas e deixou-as ao miúdo.
 — Simão! — chamou de novo a voz. Parecia mais próxima do que da primeira vez, mas Simão continuou a não ver ninguém.
 Descalço, pôs-se a andar, guiando-se sempre pelas pegadas da neve.
 Mais longe, passou junto de um idoso que tremia, sentado junto de uma árvore. Vestia apenas uma camisa. Simão despiu o casaco e pô-lo sobre os ombros do mendigo. Também ele sentia agora o vento a morder-lhe a pele nua. Então, pela terceira vez, alguém o chamou:
 — Simão — disse o Rei, — passaste todas as provas que semeei no teu caminho. Continua a seguir o trilho e chegarás diante de uma pobre cabana. Aí encontrarás o meu filho deitado nas palhas de uma manjedoura. Está à tua espera.
 Simão obedeceu.
 E as pegadas na neve conduziram-no a um estábulo.
 Tal como o Rei dissera, um Menino estava deitado nas palhas de uma manjedoura.
 Uma grande luz iluminava aquele lugar e um calor suave aqueceu Simão até ao fundo da alma. Sentiu-se invadido por uma enorme felicidade e uma grande paz encheu-lhe o coração.
 Então, ajoelhou e pôs-se a rezar.

E o Menino sorriu-lhe.

Anneliese Lussert ; Loek Koopmans
Sur le chemin de Noël
Namur, NordSud, 1995
Tradução e adaptação)

UM SANTO E FELIZ NATAL PARA TODOS

23.12.19

CONTOS DE NATAL - O QUE É O NATAL





Ássia não conhece o Natal.
 Ássia veio de outro país onde se celebram festas muito diferentes.

 Natal!
 Feliz Natal!
 Ássia lê estas palavras por toda a parte.
 As ruas estão enfeitadas de mil e uma cores!
 Grupos corais entoam lindos cânticos de Natal.
 As lojas propõem:

 Bolos de Natal,
 Postais de Natal,
 Velas de Natal,
 Decorações de Natal,
 Peru de Natal…

À entrada dos grandes hipermercados ergue-se uma floresta de pinheiros de Natal.
 As montras oferecem mil coisas.
 “Será que as pessoas precisam disto tudo?”, interroga-se a menina, deslumbrada.
 Mas o mais extraordinário são os anjos que flutuam no ar.
 E Ássia pergunta-se como é que eles se tinham pendurado no céu.
 Os cabelos de Ássia são encaracolados e a pele é castanho-avermelhada.
 Um dia, ouvira os vizinhos dizer:
 — Quem é esta rapariga estrangeira? Onde vive? Donde veio?
 Ássia tinha vindo de um país em guerra onde as pessoas passavam fome e eram perseguidas. Ássia era uma refugiada.
 No primeiro dia de Dezembro, os alunos descobriram, em cima da secretária da professora, um arranjo com quatro velas entre pinhas douradas.
 — Oh! que lindo! Vamos celebrar o Advento! — exclamaram as crianças.
 Advento! Outra palavra que Ássia nunca tinha ouvido.
 “Deve ter alguma relação com o Natal”, pensa.
 Quando a professora acende a primeira vela, Ássia enchese de coragem e pergunta:
 — Natal, mas o que é o Natal?
 — Sim! O que é o Natal?! — repete a professora um pouco surpreendida.
 As crianças desatam a rir. Todos sabem o que é o Natal!
 Os alunos falam todos ao mesmo tempo:

— Natal é quando decoramos a casa.

— Natal é quando pintamos estrelas nas janelas.

— É quando a minha mãe faz bolos.

— É quando escrevo uma carta ao Pai Natal!

— Quando o Pai Natal põe presentes junto do pinheirinho.

— Quando vamos ao mar.

— Quando eu tenho uma bicicleta nova.

— Quando recebo uma boneca grande.

— Quando a minha avó me dá dinheiro.

— Quando os meus avós nos vêm visitar.

— Quando embrulho as prendas.

— Quando enfeito com o meu pai o pinheiro.

Os meninos contam tudo o que fazem no Natal.

Mas Ássia continua a não perceber o que é o Natal.

— É altura de vos contar uma história muito antiga. A história do nascimento de Jesus. A história da noite de Natal — diz a professora.

 Maria e José à procura de uma estalagem.
 O dono do albergue que os mandou embora, sem compaixão. A chegada dos pastores, o aparecimento dos anjos.
 Os três Reis Magos guiados pela estrela até Belém e, entre eles, Belchior, o rei de pele escura, como Ássia.

 Ássia ouve com toda a atenção.

— E — continua a professora —, quando representarmos esta história, um de vós terá de fazer o papel de Belchior.
 De repente, faz-se silêncio.
 O rapaz que está ao lado de Ássia acaricia suavemente a cabeça da menina.

Ássia sorri e murmura:

— Agora já sei. Natal, é quando eu sou feliz!



Max Bolliger
Noël?
Mont-Près-Chambord, Bilboquet, 2002
(Tradução e adaptação)