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31.12.19
MENSAGEM DE ANO NOVO
O bebé que aqui representa o novo ano, é esta vossa amiga com 5 meses de idade.
A todos os AMIGOS que costumam passar por este cantinho. Aos que vêm aqui há anos, e aos que chegaram há dias. Aos que me lêem e comentam, e aos que partem sem dizer nada. Aos que vem todos os dias e aos que passam uma vez por outra. Aos que me conhecem pessoalmente e aos que apenas me conhecem virtualmente. A TODOS desejo que 2020 seja um ano muito feliz. Que ele vos traga ALEGRIA e SAÚDE.
Deveria acrescentar PAZ, e FELICIDADE? Decerto que sim. Mas penso que ALEGRIA e SAÚDE resume tudo o que a humanidade precisa. Porque quem está alegre, é porque se sente FELIZ, e tem PAZ, PÃO, e LIBERDADE, não é mesmo? E se a par disso tem SAÚDE, que pode desejar mais? A juventude é claro, mas já pensaram se estariam dispostos a perder tudo o que já viveram? Trocariam a alegria de serem pais e avós a troco da incerteza do que poderia ser o futuro que essa juventude vos daria?
Bom então que seja um ano excepcional para todos vós.
29.12.19
CONTOS DE NATAL - O PRESENTE DE NATAL ESPECIAL
Faz todo o bem que puderes, usando todos os meios que puderes,
de todas as formas que puderes…durante o maior tempo que puderes.
John W. Desley
Através da montra da drogaria onde ambos trabalhávamos como assistentes de gerência, conseguia ver que Lamar aguardava ansiosamente a minha chegada. Tínhamos acordado no mês de novembro anterior que ele trabalharia no dia de Natal e eu no dia de Ano Novo.
O tempo que fazia era típico de Memphis nesta altura do ano. Lamar e eu tínhamos sempre esperanças de ver um Natal branco, mas este estava a desenrolar-se exatamente como os dos últimos vinte anos: frio, enevoado, sem um único floco de neve à vista.
Quando me apressei a entrar no calor da loja, Lamar pareceu aliviado.
— O dia foi difícil? — perguntei.
Gesticulando na direção da caixa central, resmungou:
— Ontem chegámos a ter filas de quinze pessoas. Nunca tinha visto tanta gente a tentar comprar pilhas e películas fotográficas ao mesmo tempo. Suponho que é uma das alegrias de trabalhar no dia de Natal.
— O que queres que faça hoje? — perguntei.
— Acho que o movimento vai acalmar por volta das seis da tarde. A noite a seguir ao Natal é sempre muito parada. Talvez pudesses pôr em ordem toda a secção de brinquedos.
E, dito isto, inclinou-se para pegar num animal de peluche.
Aquele pequeno cão de peluche tinha-se tornado a nossa mascote. Parecia que estávamos sempre a apanhá-lo do chão. Cinco, talvez dez vezes por dia. Nunca tinha sido um brinquedo bonito e agora era-o ainda menos: o pelo longo e felpudo tinha-se tornado emaranhado e sujo, por causa da poeira do chão e da sujidade das mãos das crianças que lhe tinham pegado, enquanto as mães aviavam as receitas. O brinquedo já tinha baixado de preço muitas vezes, sem sucesso. Naquele mundo de bonecos brilhantes e mágicos, um pequeno cão de pelo sujo não era um brinquedo de eleição. No entanto, todos os miúdos de Memphis devem ter apertado aquele cachorrinho pelo menos uma vez naquele Natal.
A tarde passou-se rapidamente entre devoluções, trocas e vendas de decorações de Natal (com 50 por cento de desconto). Contudo, às seis horas, tal como Lamar tinha previsto, o negócio diminuiu e fui trabalhar para a secção dos brinquedos. O primeiro brinquedo que me veio parar à mão foi, evidentemente, aquele cãozinho peludo de orelhas cabisbaixas. Comecei por pô-lo no lixo e retirá-lo do inventário, mas mudei de ideias e coloquei-o de novo na prateleira. Por razões sentimentais, suponho. De repente, uma voz interrompeu as minhas divagações.
— Desculpe, é o gerente?
Virei-me e vi uma mulher jovem e franzina com um rapazinho de cinco anos junto dela.
— Sou assistente da gerência — disse. — Em que posso ajudá-la?
A mulher baixou os olhos por um momento, depois levantou o queixo e disse num tom de voz áspero:
— O meu filho não teve Natal. Tinha esperanças de que agora tivessem alguma coisa com desconto, algo que eu pudesse pagar.
Confesso que encarava com cinismo os ocasionais pedidos de moedas dos sem-abrigo, mas a voz dela continha um tal misto de sinceridade e mágoa por ser obrigada a fazer aquela pergunta que eu disse:
— Estou agora mesmo a remarcar os brinquedos com o desconto. O que procura?
O rosto da mulher iluminou-se, como se tivesse finalmente encontrado alguém disposto a ouvi-la:
— Não tenho muito dinheiro, mas gostaria de comprar ao meu filho algo de especial.
O rapaz ficou feliz ao ouvir as palavras da mãe. Dirigindo-me a ele, pedi:
— Pega no brinquedo que mais gostarias de ter neste Natal, está bem?
O menino olhou para a mãe, que acenou em concordância. Esperei, curioso por ver qual dos brinquedos mais populares daquela quadra ele iria escolher. Talvez um carro de corridas ou uma bola de basquetebol. Porém, em vez disso, dirigiu-se ao cão velho e peludo e apertou-o com força. Fiz de conta que estava a afastar o cabelo da frente dos olhos, enquanto limpava uma lágrima.
— Quanto custa aquele cão? — perguntou a mãe, abrindo o fecho de um pequeno porta-moedas preto.
— Não custa nada — disse eu. — Até me faz um grande favor se o levar.
— Mas eu quero pagar a prenda de Natal do meu filho — insistiu ela.
— É um dólar — disse eu.
Tirou da carteira uma nota amarrotada e estendeu-ma. Depois virou-se para o filho e disse:
— Agora podes levar o cãozinho para casa. É teu.
Uma vez mais, disfarcei a minha comoção, enquanto o rapazinho sorria, extático. A mãe sorriu também e murmurou um silencioso “Obrigada”, enquanto saíam da loja.
Através da janela, vi-os embrenhar-se na noite que começava a cair em Memphis. Ainda não se via um único floco de neve, mas, quando voltei para o corredor dos brinquedos, percebi que tinha acabado de viver um Natal branco.
O tempo que fazia era típico de Memphis nesta altura do ano. Lamar e eu tínhamos sempre esperanças de ver um Natal branco, mas este estava a desenrolar-se exatamente como os dos últimos vinte anos: frio, enevoado, sem um único floco de neve à vista.
Quando me apressei a entrar no calor da loja, Lamar pareceu aliviado.
— O dia foi difícil? — perguntei.
Gesticulando na direção da caixa central, resmungou:
— Ontem chegámos a ter filas de quinze pessoas. Nunca tinha visto tanta gente a tentar comprar pilhas e películas fotográficas ao mesmo tempo. Suponho que é uma das alegrias de trabalhar no dia de Natal.
— O que queres que faça hoje? — perguntei.
— Acho que o movimento vai acalmar por volta das seis da tarde. A noite a seguir ao Natal é sempre muito parada. Talvez pudesses pôr em ordem toda a secção de brinquedos.
E, dito isto, inclinou-se para pegar num animal de peluche.
Aquele pequeno cão de peluche tinha-se tornado a nossa mascote. Parecia que estávamos sempre a apanhá-lo do chão. Cinco, talvez dez vezes por dia. Nunca tinha sido um brinquedo bonito e agora era-o ainda menos: o pelo longo e felpudo tinha-se tornado emaranhado e sujo, por causa da poeira do chão e da sujidade das mãos das crianças que lhe tinham pegado, enquanto as mães aviavam as receitas. O brinquedo já tinha baixado de preço muitas vezes, sem sucesso. Naquele mundo de bonecos brilhantes e mágicos, um pequeno cão de pelo sujo não era um brinquedo de eleição. No entanto, todos os miúdos de Memphis devem ter apertado aquele cachorrinho pelo menos uma vez naquele Natal.
A tarde passou-se rapidamente entre devoluções, trocas e vendas de decorações de Natal (com 50 por cento de desconto). Contudo, às seis horas, tal como Lamar tinha previsto, o negócio diminuiu e fui trabalhar para a secção dos brinquedos. O primeiro brinquedo que me veio parar à mão foi, evidentemente, aquele cãozinho peludo de orelhas cabisbaixas. Comecei por pô-lo no lixo e retirá-lo do inventário, mas mudei de ideias e coloquei-o de novo na prateleira. Por razões sentimentais, suponho. De repente, uma voz interrompeu as minhas divagações.
— Desculpe, é o gerente?
Virei-me e vi uma mulher jovem e franzina com um rapazinho de cinco anos junto dela.
— Sou assistente da gerência — disse. — Em que posso ajudá-la?
A mulher baixou os olhos por um momento, depois levantou o queixo e disse num tom de voz áspero:
— O meu filho não teve Natal. Tinha esperanças de que agora tivessem alguma coisa com desconto, algo que eu pudesse pagar.
Confesso que encarava com cinismo os ocasionais pedidos de moedas dos sem-abrigo, mas a voz dela continha um tal misto de sinceridade e mágoa por ser obrigada a fazer aquela pergunta que eu disse:
— Estou agora mesmo a remarcar os brinquedos com o desconto. O que procura?
O rosto da mulher iluminou-se, como se tivesse finalmente encontrado alguém disposto a ouvi-la:
— Não tenho muito dinheiro, mas gostaria de comprar ao meu filho algo de especial.
O rapaz ficou feliz ao ouvir as palavras da mãe. Dirigindo-me a ele, pedi:
— Pega no brinquedo que mais gostarias de ter neste Natal, está bem?
O menino olhou para a mãe, que acenou em concordância. Esperei, curioso por ver qual dos brinquedos mais populares daquela quadra ele iria escolher. Talvez um carro de corridas ou uma bola de basquetebol. Porém, em vez disso, dirigiu-se ao cão velho e peludo e apertou-o com força. Fiz de conta que estava a afastar o cabelo da frente dos olhos, enquanto limpava uma lágrima.
— Quanto custa aquele cão? — perguntou a mãe, abrindo o fecho de um pequeno porta-moedas preto.
— Não custa nada — disse eu. — Até me faz um grande favor se o levar.
— Mas eu quero pagar a prenda de Natal do meu filho — insistiu ela.
— É um dólar — disse eu.
Tirou da carteira uma nota amarrotada e estendeu-ma. Depois virou-se para o filho e disse:
— Agora podes levar o cãozinho para casa. É teu.
Uma vez mais, disfarcei a minha comoção, enquanto o rapazinho sorria, extático. A mãe sorriu também e murmurou um silencioso “Obrigada”, enquanto saíam da loja.
Através da janela, vi-os embrenhar-se na noite que começava a cair em Memphis. Ainda não se via um único floco de neve, mas, quando voltei para o corredor dos brinquedos, percebi que tinha acabado de viver um Natal branco.
Harrison Kelly
Com este conto, encerro este ciclo de contos de Natal. Espero que tenham gostado, escolhi-os porque em todos eles há um pouco de magia, que nos levam a sonhar com um mundo melhor.
Regressei há poucas horas. Espero que tenham passado um Natal muito feliz, e agradeço a todos as mensagens de boas festas recebidas. Hoje, domingo tentarei retribuir as vossas visitas.
Bem Hajam.
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28.12.19
CONTOS DE NATAL - O ESPÍRITO DE NATAL
Estava o Senhor Teotónio, que era rico, muito gordo e grande fumador de charutos, a carregar o carro com os presentes que passara a manhã a comprar para os filhos, para os sobrinhos e para as muitas pessoas com quem fazia negócios, quando se aproximou dele um homem pobre, idoso e magro, que prontamente obteve dele esta resposta:
— Comigo não perca tempo porque não tenho dinheiro trocado, nem alimento falsos mendigos.
— Mas eu não lhe pedi nada — respondeu o homem idoso serenamente, com um sorriso que desarmou o Senhor Teotónio e a sua bazófia de novo-rico.
— Então se não me quer pedir nada, por que motivo está tão perto de mim enquanto eu carrego o meu carro? — perguntou o Senhor Teotónio entre duas baforadas de charuto que fizeram o homem idoso e magro tossir convulsivamente.
— Estou aqui, meu caro senhor — respondeu ele, já refeito da tosse — para tentar perceber o que as pessoas dão umas às outras no Natal.
— Com que então — concluiu ironicamente o Senhor Teotónio, grande construtor civil com interesses de norte a sul do País — temos aqui um observador! Deve ser, certamente, de uma dessas organizações internacionais que nós pagamos com o nosso dinheiro e que não sabemos bem para que servem.
— Está muito enganado. Mas já agora responda à minha pergunta: o que é que as pessoas dão umas às outras no Natal? — insistiu o homem pobre, idoso e magro.
— Bem, se quer mesmo saber, eu digo-lhe. Quem tem posses como eu pode comprar uma loja inteira, deixando toda a gente feliz, a começar nos comerciantes e a acabar nas pessoas que vão receber os presentes. Quem é pobre como você fica a assistir. Percebeu a diferença?
O homem magro e idoso reflectiu uns instantes sobre a resposta seca e sarcástica do Senhor Teotónio e depois respondeu-lhe com uma nova pergunta:
— Então e o espírito do Natal?
— O que vem a ser isso do espírito do Natal? — quis saber, cheio de curiosidade, o Senhor Teotónio.
— O espírito do Natal — respondeu o homem idoso e magro — é aquilo que nos vai na alma nesta altura do ano e que está muito para além dos presentes que damos. Para muitas pessoas, o melhor presente pode ser um telefonema, uma carícia ou um telefonema quando se está só.
— Era só o que me faltava agora — desabafou, enfastiado, o Senhor Teotónio, enquanto arrumava os últimos presentes na mala do automóvel — ter agora um filósofo, ainda por cima vagabundo, para aqui a debitar sentenças.
O homem magro e idoso afastou-se do carro, mostrando que não queria esmolas nem qualquer outra coisa que lhe pudesse ser dada pelo Senhor Teotónio, e encaminhou-se para um grupo de crianças que o esperavam.
Quando o Senhor Teotónio passou por eles no carro, ouviu uma voz de criança a dizer:
— Vamos, Espírito do Natal, porque hoje ainda temos muito que fazer.
Dizendo isto, o grupo ergueu-se no ar a esvoaçar com destino incerto, largando um pó luminoso enquanto ganhava altura no céu cinzento de Dezembro.
José Jorge Letria
A Árvore das Histórias de Natal
Porto, Ambar, 2006
A Árvore das Histórias de Natal
Porto, Ambar, 2006
27.12.19
CONTOS DE NATAL - A MANJEDOURA VAZIA
— Já não há mais nenhuma — disse Michael, empilhando a última caixa no
átrio da minha casa.
Inspecionei as embalagens poeirentas com alguma expectativa. Estas
decorações de Natal, que tinham sido guardadas depois da morte da mãe de
Michael, simbolizavam, de alguma forma, o nosso futuro como casal. Tínhamos,
até agora, partilhado todo o tipo de atividades típicas da quadra: festas,
compras, decorações. Mas, como íamos casar dentro de alguns meses, eu queria
criar algumas tradições que fossem só nossas.
Algo de significativo e de único para ambos.
Abrir estas caixas era o início dessa partilha.
— Olha só, o nosso velho presépio! — exclamou Michael, abrindo uma caixa
embrulhada com cuidado. — A minha mãe punha-o sempre debaixo da árvore de
Natal.
Com cuidado, desembrulhei Maria, José e a manjedoura. Enfiado dentro dos
jornais estava um estábulo. Coloquei-o no chão, debaixo da árvore, e dispus os
três Reis Magos, um pastor, uma ovelha e uma vaquinha. Estavam todos menos…
Verifiquei de novo os pacotes e procurei debaixo dos jornais empilhados a
figura que faltava. Nada.
— Não encontro o Menino Jesus — disse para Michael, que estava ocupado na
sala de jantar.
Quando chegou junto de mim, repeti:
— Não encontro o Menino Jesus do presépio.
A cara de Michael ficou tensa.
— Mas ele tem de estar aqui. Estava aqui no último Natal da minha mãe.
Horas mais tarde, depois de todas as caixas terem sido abertas, continuava
a faltar o Menino Jesus. Michael sugeriu que voltássemos a embrulhar o
presépio.
— Não — discordei. — Amanhã vou tentar encontrar um menino que condiga com
o conjunto.
Despedimo-nos e Michael foi para casa.
No dia seguinte, coloquei a manjedoura na minha carteira e fui a uma loja
temática na hora de almoço. Não havia nenhum Menino Jesus. Depois do trabalho,
ainda procurei noutras lojas, mas nenhuma delas vendia o Menino Jesus em
separado. Pensei comprar outro conjunto de figuras, mas nenhum dos meninos
cabia na manjedoura do presépio de Michael.
Uns dias mais tarde. quando ele veio jantar a minha casa, contei-lhe o
sucedido. Depois do jantar, comecei a arrumar as figurinhas na caixa. Michael
interrompeu o meu gesto, colocando as suas mãos nas minhas.
— Penso que devemos deixá-lo como está.
— Mas não podemos ter um presépio sem Menino Jesus — retorqui.
— Vem comigo — pediu Michael.
Afastámo-nos da árvore e ele disse:
— Olha para o presépio. À primeira vista, nem sequer notamos que falta
alguma coisa. Só quando olhamos com atenção é que vemos que não há Menino
Jesus.
Inclinei a cabeça e contemplei a cena. Michael tinha razão.
— Mas ainda não percebo onde queres chegar — disse eu.
— No meio das decorações, das listas de compras e das festas, perdemos,
muitas vezes, Jesus de vista. É como se ele se perdesse no meio do Natal.
Foi então que compreendi.
E, assim, demos início à nossa primeira tradição de Natal, uma tradição
significativa e única para a nossa família. Todos os anos, quando colocamos as
figuras do presépio, deixamos a manjedoura vazia.
É a forma de nos lembrarmos de procurar Cristo no Natal.
Stephanie Welcher Thompson
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26.12.19
CONTOS DE NATAL- O PÁSSARO DE NATAL
Era um inverno frio e nevoso. A mãe de Katia punha a mesa para o jantar. Havia leite e pão acabado de sair do forno.
— Hoje, quando fui levar ovos ao estalajadeiro, vi uns forasteiros na aldeia — disse Katia.
— Ele contou-me que está a deixá-los dormir no estábulo. Porque já não tem lugar dentro de casa — respondeu o pai. — Ao menos ali, junto da palha e dos animais, estão aquecidos.
— Gostava de saber quem são — disse a mãe. — Porque é que andarão de viagem com este tempo?
Quando Katia foi para o quarto, ouviu passos fora de casa e sentiu logo depois o pai abrir a porta. Esgueirou-se até às escadas e ficou à escuta.
— Onde é que vão? — ouviu o pai perguntar.
— Estás a ver além aquela estrela brilhante? — respondeu alguém. — Um anjo falou-nos e disse que, se seguíssemos a estrela, encontraríamos o recém-nascido. Queremos ver o novo rei e levar-lhe estes cordeiros.
Katia correu à janela. Efetivamente, no céu estava uma estrela brilhante que ela nunca tinha visto, exatamente por cima do estábulo do estalajadeiro. De todos os lados afluíam pessoas que seguiam a luz.
Katia demorou a adormecer, pensando no que acabara de ouvir. Acordou com os primeiros raios de sol.
— Hoje vou ver o pequeno rei — disse ao seu gato. — Mas o que hei de levar-lhe?
Não tinha muitos brinquedos, mas tinha algo muito especial: um pássaro de madeira pintado que assobiava quando se lhe soprava.
— Vou oferecer-lho — pensou. — E também vou levar o gato para o aquecer.
Katia desceu à cozinha.
— Quero ir ver o pequeno rei — disse à mãe. — Posso levar-lhe algum pão?
A mãe deu-lhe um pão, dizendo:
— Calça as botas quentes. Está muito frio lá fora.
Katia saiu de casa apertando contra si o gato, o pão e o pássaro de madeira, e atravessou a aldeia, feliz. Ao chegar às últimas casas, o gato soltou-se dos braços, pulou para o chão e correu para casa. Katia ficou um pouco triste.
— Bem, ainda tenho duas prendas para o rei — disse, atravessando a ponte sobre o ribeiro gelado. Depois, subiu a custo o caminho, pois estava coberto de neve. Um veado aproximou-se. Estaria com fome? “Será que tem fome? O pão é grande”, pensou Katia, “porque não hei de dividi- lo com ele?” Enquanto o veado mastigava, satisfeito, também ela foi comendo do pão. De repente, o pão acabou. Katia ficou com remorsos.
— Ainda tenho o pássaro para oferecer ao pequeno rei — disse para si mesma. — E é a prenda mais bonita.
Começou a nevar. O frio mordia-lhe nos dedos dos pés e das mãos. De repente, tropeçou e o pássaro caiu-lhe das mãos. Katia procurou e cavou na neve, as lágrimas queimavam-lhe a cara. Katia saltitava para se aquecer e depois continuava. Finalmente, os dedos bateram em algo duro. Era o pássaro de madeira! Pegou nele e soprou, mas não saiu som algum. Voltou a soprar mas o pássaro continuava mudo.
— Agora já não tenho nada para oferecer ao pequeno rei. O melhor é voltar para casa.
Nesse momento, viu um clarão doirado. Da porta do estábulo saía uma luz, um caminho que Katia se apressou a subir. Dentro do estábulo encontravam-se muitas pessoas e animais reunidos em volta do colchão de palha. A senhora olhou com ternura para Katia e o menino sorriu. Katia aproximou-se timidamente, pois o gato tinha fugido, o pão desaparecera e o pássaro estava estragado. Mas, ao ajoelhar-se em frente ao novo rei, sentiu dentro de si uma alegria enorme. O pequeno rei fechou as mãos em volta do pássaro e, em seguida, abriu-as. E das suas mãos voou o passarinho!
Quando Katia deixou o estábulo, o pássaro acompanhou-a, voando por cima dela a cantar maravilhosamente.
Ao regressar a casa pela neve bem funda, levava com ela o calor do estábulo e uma felicidade que nunca antes sentira.
Quando Katia deixou o estábulo, o pássaro acompanhou-a, voando por cima dela a cantar maravilhosamente.
Ao regressar a casa pela neve bem funda, levava com ela o calor do estábulo e uma felicidade que nunca antes sentira.
Bernadette
Der Weinhachatsvogel
Lüneburg, Findling Buchverlag
(Tradução e adaptação)
Der Weinhachatsvogel
Lüneburg, Findling Buchverlag
(Tradução e adaptação)
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Contos de Natal- o pássaro de Natal
25.12.19
CONTOS DE NATAL - UM NATAL CHEIO DE TERNURA
Há já muitos anos que o ursinho se mantinha quieto na prateleira de madeira. A fita vermelha que trazia ao pescoço perdera a frescura de outrora e o pelo amarrotado e coberto de poeira começava a ficar cinzento. Os seus olhos, porém, continuavam a brilhar tanto como quando uma criança pegara nele ao colo pela primeira vez.
Naquela noite, o ursinho pôs-se a caminho. Saiu do quarto em silêncio e deixou a casa. O vento gelado que soprava na rua fê-lo estremecer, mas o pequeno urso apertou as pontas do laço e, com o passo acelerado, chegou ao armazém abandonado e esperou.
À semelhança dele, todos os ursinhos da cidade se tinham posto a caminho. Pé ante pé, tinham todos saído dos baús de brinquedos, das caminhas fofas, das caixas enfeitadas e das montras iluminadas para mergulhar na noite.
Foram chegando um a um: havia ursinhos elegantes, fofos, rechonchudos, magricelas, grandes, pequenos, e malandros com asas de anjo. Quando o último chegou, o sino da igreja bateu as doze badaladas.
O ursinho cumprimentou-os a todos e acenou com a cabeça. Era o sinal.
Centenas de patinhas de veludo atiraram-se ao trabalho: os ursinhos treparam a telhados, varandas, caleiras, chaminés, goteiras e correram para dentro das casas. Em seguida, aspiraram o ar com os seus delicados focinhos e foram direitos aos presentes que se encontravam debaixo dos pinheiros.
Centenas de patinhas de veludo atiraram-se ao trabalho: os ursinhos treparam a telhados, varandas, caleiras, chaminés, goteiras e correram para dentro das casas. Em seguida, aspiraram o ar com os seus delicados focinhos e foram direitos aos presentes que se encontravam debaixo dos pinheiros.
Começaram a abrir os embrulhos todos: em sacos muito grandes, guardaram frascos de perfume, lápis de cor, carrinhos e patins. Nada foi esquecido, nem sequer um lenço de seda ou uma gravata.
Depois, em cada caixa, em vez de prendas, deixaram um bilhete com frases escritas pelas suas patitas. Em seguida, foram esconder os verdadeiros presentes num local secreto. E, tão silenciosamente como tinham chegado, voltaram para as suas prateleiras, camas, caixas, montras e baús, como se nada tivesse acontecido.
No dia seguinte, as pessoas ficaram dececionadas com a partida que lhes fora pregada!
Ao encontrarem bilhetes escritos dentro dos embrulhos, as crianças desataram a chorar. Para onde teriam levado as prendas?
Mas, sentadas debaixo do pinheiro, a pouco e pouco começaram a reler os bilhetinhos, que diziam coisas como «Gosto muito de ti», «Penso em ti», «Em breve, irei visitar-te».
Foi então que todos pensaram nas pessoas que não podiam estar com eles naquela noite de festa e que deviam sentir-se ainda mais sós do que nos outros dias.
Decidiram vestir os casacos e pôr-se a caminho.
Decidiram vestir os casacos e pôr-se a caminho.
Foram ver a avó que vivia sozinha, uma tia que estava no hospital, um vizinho que tinha a família longe…
Ninguém ficou esquecido. Só depois se puderam ouvir risos nas casas iluminadas e uma cidade inteira a cantar “Feliz Natal!”
Depois da festa, as pessoas dormiram felizes e em paz, pois acabavam de viver um Natal maravilhoso. E, enquanto sonhavam, patinhas de veludo vieram repor os presentes debaixo dos pinheiros…
O ursinho de pelo desgrenhado e laço vermelho continua à espera na prateleira. Mas o pó do pelo cinzento desapareceu e os seus olhos brilham agora como nunca.
Bruno Hächler
Un Noël de tendresse
Zurich, Editions Nord-Sud, 2000
(Tradução e adaptação
Un Noël de tendresse
Zurich, Editions Nord-Sud, 2000
(Tradução e adaptação
FELIZ NATAL
24.12.19
CONTOS DE NATAL - A CAMINHO DO NATAL
O inverno tinha
chegado e com ele a neve que caía em grandes flocos. A água deixara de correr
nos ribeiros gelados, e as aves, empoleiradas nas árvores, já não cantavam, de
cabeça recolhida debaixo das asas. Um vento glaciar obrigava as pessoas a
manter-se em casa ao canto da lareira.
E o Menino sorriu-lhe.
Anneliese Lussert ; Loek Koopmans
Sur le chemin de Noël
Namur, NordSud,
1995
Tradução e
adaptação)
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Contos de Natal - a caminho do Natal
23.12.19
CONTOS DE NATAL - O QUE É O NATAL
Ássia não conhece
o Natal.
Ássia veio de
outro país onde se celebram festas muito diferentes.
Natal!
Feliz Natal!
Ássia lê estas
palavras por toda a parte.
As ruas estão
enfeitadas de mil e uma cores!
Grupos corais
entoam lindos cânticos de Natal.
As lojas propõem:
Bolos de Natal,
Postais de Natal,
Velas de Natal,
Decorações de
Natal,
Peru de Natal…
À entrada dos
grandes hipermercados ergue-se uma floresta de pinheiros de Natal.
As montras
oferecem mil coisas.
“Será que as
pessoas precisam disto tudo?”, interroga-se a menina, deslumbrada.
Mas o mais
extraordinário são os anjos que flutuam no ar.
E Ássia
pergunta-se como é que eles se tinham pendurado no céu.
Os cabelos de
Ássia são encaracolados e a pele é castanho-avermelhada.
Um dia, ouvira os
vizinhos dizer:
— Quem é esta
rapariga estrangeira? Onde vive? Donde veio?
Ássia tinha vindo
de um país em guerra onde as pessoas passavam fome e eram perseguidas. Ássia
era uma refugiada.
No primeiro dia
de Dezembro, os alunos descobriram, em cima da secretária da professora, um
arranjo com quatro velas entre pinhas douradas.
— Oh! que lindo!
Vamos celebrar o Advento! — exclamaram as crianças.
Advento! Outra
palavra que Ássia nunca tinha ouvido.
“Deve ter alguma
relação com o Natal”, pensa.
Quando
a professora acende a primeira vela, Ássia enche‑se de coragem e pergunta:
— Natal, mas o
que é o Natal?
— Sim! O que é o
Natal?! — repete a professora um pouco surpreendida.
As crianças
desatam a rir. Todos sabem o que é o Natal!
Os alunos falam
todos ao mesmo tempo:
— Natal é quando
decoramos a casa.
— Natal é quando
pintamos estrelas nas janelas.
— É quando a
minha mãe faz bolos.
— É quando
escrevo uma carta ao Pai Natal!
— Quando o Pai
Natal põe presentes junto do pinheirinho.
— Quando vamos ao
mar.
— Quando eu tenho
uma bicicleta nova.
— Quando recebo
uma boneca grande.
— Quando a minha
avó me dá dinheiro.
— Quando os meus
avós nos vêm visitar.
— Quando embrulho
as prendas.
— Quando enfeito
com o meu pai o pinheiro.
Os meninos contam
tudo o que fazem no Natal.
Mas Ássia
continua a não perceber o que é o Natal.
— É altura de vos
contar uma história muito antiga. A história do nascimento de Jesus. A história
da noite de Natal — diz a professora.
Maria e José à
procura de uma estalagem.
O dono do
albergue que os mandou embora, sem compaixão. A chegada dos pastores, o
aparecimento dos anjos.
Os três Reis
Magos guiados pela estrela até Belém e, entre eles, Belchior, o rei de pele
escura, como Ássia.
Ássia
ouve com toda a atenção.
— E — continua a
professora —, quando representarmos esta história, um de vós terá de fazer o
papel de Belchior.
De repente,
faz-se silêncio.
O rapaz que está
ao lado de Ássia acaricia suavemente a cabeça da menina.
Ássia sorri e
murmura:
— Agora já sei.
Natal, é quando eu sou feliz!
Max Bolliger
Noël?
Mont-Près-Chambord, Bilboquet, 2002
(Tradução e
adaptação)
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