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21.12.19

CONTOS DE NATAL - O PORQUINHO-DA-ÍNDIA DO JOSÉ







Desde os seis anos de idade que José ansiava ter um porquinho-da-Índia, mas, de cada vez que começava a falar do assunto, a mãe dizia imediatamente:
— Os porquinhos-da-Índia cheiram mal.
Ou:
— O lugar dos porquinho-da-Índia é no Parque Biológico.
Ou:
— Pobre bichinho, numa casa tão pequena…
E coisas semelhantes…
Nesse ano, José tinha jurado a si mesmo que o seu desejo iria finalmente realizar-se.
— Apostas em como recebo um porquinho-da-Índia pelo Natal? — disse ao seu amigo Tiago. — Vais ver…
E arranjou um plano.

Finalmente chegou dezembro.
— Já só faltam 24 dias para o Natal — disse a mãe. — É altura de colocares à janela a tua carta para o Pai Natal.
José assentiu, mostrando uma expressão o mais inocente possível, e começou a tarefa.

“Querido Pai Natal,” escreveu, “gostava muito, muito de ter um hipopótamo.”
Colocou ordeiramente a carta do lado de fora da janela e esperou, com expectativa, o que iria seguir-se. Logo na manhã seguinte constatou que o plano tinha resultado. Ao abrir a janela bem cedo para ver se o bilhete fora levado, encontrou algo muito estranho.
“Deves estar maluco!” tinha alguém escrito a letras vermelhas fluorescentes num papel de carta, que vinha assinado a vermelho com letras grandes “Pai Natal”.
“Ótimo!”, pensou José. Guardou a carta e escreveu um novo bilhete. “E um crocodilo? Podia nadar na banheira.”
Mais uma vez o resultado foi excelente. Uma nova carta de Pai Natal saltou-lhe à vista na manhã seguinte.
“Infelizmente não fazemos envios de crocodilos,” vinha escrito, desta vez a letras verdes.
“Tanto melhor!” pensou José. Pegou na carta e escreveu o novo pedido no bilhete: “Um casal de cangurus”.
“Não trabalhamos com marsupiais”, foi a resposta.
Dali para a frente, foi tudo muito simples. José só teve de pensar em alguns animais esquisitos e tudo decorreu sem problemas.
“Três preguiças”, escreveu no dia seguinte.
“Que palermice”, foi a resposta.
E continuou. Durante doze dias esteve ocupado a escrever novos bilhetes e a recolher as respostas do Pai Natal. A troca de bilhetes durou precisamente até à noite de Natal. Todos os pedidos foram recusados deste modo:
Dia 12 de dezembro pediu “ Um chimpanzé.” E a resposta que recebeu foi “E quem compra as bananas?”; no dia 13 “ Um leão do Atlas.”, logo veio “Já ouviste falar de felinos que comem humanos?”; no dia 14 “Então uma hiena malhada.”, com direito a “E onde é que ela vai dormir?”; no dia 15 “Uma ovelha merino.”, para ler “Tu é que me saíste uma boa ovelha…”; no dia 16 “ Um cachalote.”, de imediato ”Ficaste doido?”; no dia 17 “Uma cobra piton.” e obteve “Animais rastejantes não são bem-vindos…”; no dia 18 “Uma cabra doméstica.”, seguido de “O leite de cabra tem um sabor horrível.”; no dia 19 “Peço então urgentemente uma zebra-da-montanha.”, argumentado com “E onde é que há montanhas por cá?”; no dia 20 “De certeza que um dromedário não se ia sentir mal aqui…”, negado ironicamente “E, já agora, um camelo, não achas?”; no dia 21 “Tudo bem. Decidi-me por uma girafa.”
No dia seguinte aconteceu finalmente o que José há muito esperava. No parapeito da janela não só estava a habitual resposta curta, como também uma carta séria, de quase meia página, escrita à pressa com uma banal esferográfica azul.

Querido José, – estava escrito – como podes ver no calendário, depois de amanhã é Natal. Até agora não me fizeste um único pedido razoável e todos os animais que mencionaste não cabem num apartamento. Venho pedir-te imediatamente que sejas mais simples e te restrinjas a espécies animais mais pequenas.
Muitos cumprimentos
O Pai Natal

José soube imediatamente o que fazer. Centenas de vezes treinara em pensamentos a palavra que escreveria agora. Pegou na folha mais limpa que encontrou e escreveu o seu melhor bilhete desde há vinte e dois dias:

Querido Pai Natal, – escreveu – por favor, desculpa ter sido tão impertinente. Reconheço ter exigido muito de ti e juro portar-me melhor. Assim, peço somente um minúsculo porquinho-da-índia, de preferência um como o do Tiago, branco com pintas pretas. O Tiago diz que os porquinhos-da-Índia não dão trabalho nenhum. Além do mais, eu acho-os tão queridos! Desde já, muito obrigado.
José, Rua do Vale do Moinho, nº 7

No dia seguinte, José foi à janela mais cedo do que nunca, porque, com a excitação, não conseguia esperar mais. Será que, desta vez, o Pai Natal também lhe iria responder? Mas o parapeito da janela estava vazio. Só viu alguns flocos de neve, pois tinha começado a nevar.
— Então? — perguntaram os pais quando foi tomar o pequeno almoço. — Já estás ansioso pelo dia de amanhã?
— E de que maneira! — respondeu José.
Com a excitação, não conseguiu dizer mais.

Finalmente chegou o grande dia.
24 de dezembro, estava escrito no calendário por cima da cama.
José olhou fixamente para a folha por um momento, pensando no seu porquinho-da-Índia.
Será que o Pai Natal ia finalmente compreender o seu pedido?
E o momento chegou.
A porta para a sala foi aberta, e José viu algo que era mais bonito do que todas as bolas do pinheirinho e as velas de Natal e bolachas e nozes juntas! Viu um minúsculo porquinho-da-Índia preto, às pintinhas, dentro de uma caixa por baixo da árvore de Natal. Farejava, curioso, o aroma do pinheiro, e era tão parecido com o porquinho do Tiago!
— Esperemos que não cheire mal — disse a mãe.
— Sempre é melhor do que dromedários e girafas! — disse o pai.
Mas José não ouvia o que diziam. Estava demasiado ocupado a pegar no seu porquinho-da-índia e a agradecer ao Pai Natal — em pensamento, claro.
E sentia que o Pai Natal sabia do truque que usara: um Pai Natal sabe tudo, ou não?
E o porquinho-da-índia chiava baixinho…
Parecia mesmo que estava a sorrir…

Roswitha Fröhlich

Sophie Härtling (org.)
24 Weihnachtsgeschichten zum Vorlesen
Frankfurt am Mein. Fischer Schatzinser, 2001
(Tradução e adaptação)

9 comentários:

chica disse...

Que amor! Lindo e doce conto! beijos,chica

teresa dias disse...

Obrigada Elvira, pela partilha de mais um conto lindo!
Confesso que não li todos os contos que publicou. Talvez os leia em voz alta para a minha netinha Carolina, nos próximos dias.
Querida amiga, desejo-lhe um SANTO NATAL e um NOVO ANO com muita saúde, felicidade, paz e amor. Continue escrevendo. As suas palavras chegam ao coração de quem as lê. Ao meu, chegam todas!
Beijo.

Maria João Brito de Sousa disse...

Foi com muita dificuldade - cada vez vejo pior... - mas com um grande sorriso nos lábios que li este conto de Roswitha Fröhlich, amiga.

Para si e para todos os seus, um muito Feliz Natal!

esteban lob disse...

Gran cuento, excelentemente adaptado, Elvira.

(Feliz Navidad, amiga, junto a toda tu familia).

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de quadra natalina, querida amiga Elvira!
O Menino Deus esteja presente em seu lar.
Conto muito bonitinho e alegre para o dia que se inicia.



Tenha dias lindos e abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Rogério G.V. Pereira disse...

:-)

João Santana Pinto disse...

É difícil não sorrir com um conto de natal tão simpático e engraçado. DE facto, o natal é mesmo para as crianças…

Clara disse...


Querida Elvira,

E o que eu hoje lhe conto é que lhe vim trazer o meu CARTÃO DE BOAS FESTAS 🎄
(por favor clicar no link)

Beijinhos Natalícios
(^^)

Tintinaine disse...

Se queres muito uma coisa deves insistir, insistir e nunca desistir.