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17.9.19

VIDAS CRUZADAS PARTE VIII



Na manhã seguinte, assim que o patrão chegou, Pedro pediu para falar com ele. Este olhou-o com estranheza, mas mandou-o entrar para o seu gabinete. O mais sereno possível, o jovem pediu a sua demissão e contou-lhe o que se passava. Mais do que patrão, ele sempre fora ao longo dos dez anos que levava no escritório um bom patrão, quase um amigo.  Um amigo com quem não se tem uma grande intimidade é verdade, mas que se estima.  O patrão olhou-o incrédulo. Custava-lhe a acreditar, que um jovem como Pedro, que nunca em dez anos tinha perdido um dia por doença, viesse agora dizer-lhe aquilo que estava a ouvir. Parecia-lhe um absurdo.
- E é por isso que eu quero a demissão, e também peço ao senhor Costa, que não conte a ninguém no escritório o que acabo de lhe dizer. Como deve compreender, não quero manifestações de pesar, que só me constrangem. Também não quero que a minha mãe possa vir a saber do que se passa.
- Claro. Se esperar um pouco eu mesmo faço as suas contas e passo já o cheque.
- Muito obrigado, senhor. Eu aguardo no meu lugar, enquanto ponho tudo em ordem.
Menos de uma hora volvida, Pedro saía do escritório sem se despedir de ninguém, com o cheque no bolso. Na verdade bem mais do que pensava receber, já que o Sr. Costa generosamente acrescentara uma  indemnização, coisa que não era habitual, nem de lei. Depositou o cheque no banco e saiu descansado. A conta sempre fora conjunta
com a sua mãe, e embora ela nunca fosse ao banco, sabia-o. E como sabia ler e escrever, não teria problemas em movimentá-la, quando ele já não fizesse parte do seu mundo.
Voltou para casa e começou os preparativos para a viagem. Estranhou a mãe não estar em casa, mas ela chegou logo depois.
- Fui aos correios mandar um telegrama à Palmira dizendo que chegavas hoje.
- Mas porquê mãe? Não era mais fácil telefonar?
- Fico mais descansada assim. A tua tia é um pouco dura de ouvido e podia entender mal o telefonema.
- E a tia Rosa? Já falou com ela?
- Já. Ontem à noite. Deve estar por aí a aparecer. Disse que vinha de táxi, mal rompesse a manhã.
Ele suspirou aliviado. Não queria partir, sem que a tia Rosa chegasse. Assim podia continuar os preparativos. Depois de fechar a mala da roupa, escolheu criteriosamente alguns livros, entre os últimos que recebera de prenda de aniversário e que ainda não tivera tempo de ler e meteu-os num saco. Guardou também uma caneta e um bloco de notas. Quem sabe se lhe apeteceria escrever alguma coisa? Fechou o saco e juntou-o à mala de viagem que repousava em cima da cama. Saiu do quarto e encontrou a mãe atarefada na cozinha.
- Mãe vou com o carro à oficina do senhor Duarte. Há mais de três meses que não ando com ele, preciso saber se está tudo em ordem. Não tinha graça ficar empanado no caminho, e tenho que ir à bomba encher o depósito.
- Vai filho. É melhor que ele veja o carro, sim. A tua avó sempre dizia que "quem vai para o mar avia-se em terra."
- Até logo, mãe.
- Vai com Deus, filho.



18 comentários:

noname disse...

A vida puxa muitas vezes o tapete às vidas que governa. Vamos ver o que o espera.

Boa noite, Elvira

Pedro Luso de Carvalho disse...

"Na manhã seguinte, assim que o patrão chegou, Pedro pediu para falar com ele."

Assim Elvira inicia esta sua narrativa, que integra “Vidas Cruzadas” (Parte VIII).
Penso que quem ler esta narrativa ficará à espera de sua sequência.
Parabéns, amiga Elvira!
Uma excelente semana com saúde e paz.
Um abraço.
Pedro

Pedro Coimbra disse...

Curioso para ver o que aguarda o meu xará.
Boa semana

Os olhares da Gracinha! disse...

Estive a ler os capítulos até aqui!
Bom momento de leitura!
Bj

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Custou-me muito , mas tenho curiosidade , e la vou seguindo a historia .

JAFR

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está a ficar interessante minha amiga e aproveito para desejar uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Rosemildo Sales Furtado disse...

Está ficando interessante. Gostando e aguardando os próximos acontecimentos.

Abraços e uma ótima semana para ti e para os teus.

Furtado

João Santana Pinto disse...

Um quadro difícil, a vida na sua confrontação mais dura.

Cidália Ferreira disse...

Que corajoso!!

Beijos e um dia feliz!

Meu Velho Baú disse...

Depois da escrita em dia....
Fico a aguardar o desenlace deste romance que está um pouco triste :((
eijinhos

Anete disse...


Um grande suspense, mas vem surpresa pela frente... É bom recordar os capítulos lidos em outros tempos...
Por falar em recordação, no Fragmentos Poéticos estou fazendo isso hoje, também refiro a você por lá.
Um beijo e, vamos adiante...

Minas cap disse...

Achei este conteúdo interessante e compartilhei em meu facebook.
Resultado Vida cap

Teresa Isabel Silva disse...

Estou a gostar de acompanhar, vamos ver o que acontece daqui para a frente!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

Edum@nes disse...

O passado já passou. Já se sabe o que aconteceu. Resta agora esperar para saber o que poderá acontecer a Pedro?

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Emília Pinto disse...

Querida Elvira, ainda lembro da outra edição, mas não vou revelar. Estou sossegada! Espero que, finalmente, a saúde tenha voltado a tua casa e cá estarei para acompanhar a história. Um beijinho, amiga.
Emilia

Kique disse...

De volta, depois de férias, cá estou para mais uma visita….

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - O que levamos no peito

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um capítulo muito bem escrito como já nos tem vindo a habituar.
Contínuo a seguir com muito interesse.
Um beijinho,
Ailime