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10.9.19
VIDAS CRUZADAS - PARTE II
Perdera o apetite, e em consequência, alguns quilos. Sentia-se cansado, nervoso, e uma estranha opressão instalara-se-lhe no peito. A princípio nem ligara, porém os sintomas foram-se tornando mais insistentes, e a mãe começou a insistir com ele para que fosse ao médico. Um seu irmão tinha morrido nos anos antes de tuberculose, e ela estava muito preocupada. Por isso Pedro decidiu que ia ao médico, mais para descansar a sua velha mãe do que por vontade própria.
Estava-se nos primeiros anos da década de cinquenta, do século XX e os meios de diagnóstico no Barreiro, onde nem um hospital havia, eram quase nulos. Havia alguns médicos que tratavam de tudo e mais alguma coisa, já que as especialidades médicas eram muito raras.Quando os médicos não se entendiam com a doença, ou o caso era grave, mandavam-no para um hospital na capital.
Todavia havia um médico que possuía um aparelho de radioscopia, no qual diziam que as pessoas se encostavam e o médico via logo o coração e pulmões. De modo que Pedro resolveu marcar consulta para esse dia, e por isso saiu mais cedo do escritório.
A consulta estava marcada para as cinco, e ele chegou ao consultório faltavam quinze minutos para a hora marcada.
Sentou-se na sala de espera e olhou em volta. A sala de espera era simples, toda pintada de branco, com cadeiras a toda a volta, de madeira clara. Pinho, talvez. Numa das paredes o juramento de Hipócrates, numa imitação de papiro emoldurada. Na outra um quadro com uma floresta em tons dourados e vários pássaros esquisitos espreitando entre as folhagens.
Sentadas, sete pessoas aguardavam a sua vez. Uma mulher de meia-idade, de luto pesado, ostentava no dedo anelar duas alianças. Uma viúva – pensou Pedro. Depois três homens. Um deles com um grande bigode de longas guias retorcidas. Vestia bem e devia ter um grande orgulho no seu bigode. Ridículo, pensou antes de afastar o olhar para o seguinte. Este era um homem baixinho, de olhos pequenos e vivos. Vestia mal e tinha mãos grosseiras. Trabalhador de uma qualquer das quintas que existiam na zona, - deduziu. O outro era segurança da C.U.F., bastava ver a farda. Teria saído do trabalho directo para o consultório. A seguir uma mulher ainda jovem grávida.
Ostentava uma enorme barriga, que a julgar pelo tamanho estaria muito perto dos nove meses.
De cabeça encostada à parede, tinha os olhos fechados e uma cor macilenta. As pernas esticadas estavam anormalmente inchadas. Coitada, deve ser um sacrifício caminhar, - pensou.
A seu lado uma mulher mais velha, vestida de preto, passava-lhe de vez em quando um lenço pelo rosto. Apesar de não encontrar entre as duas grande semelhança, Pedro pensou que devia ser a mãe da jovem ou talvez, quem sabe, a sogra.
E finalmente a seu lado um jovem, talvez um pouco mais novo que ele. Era alto, magro, de grandes olhos escuros, rodeados por profundas olheiras violáceas. As suas mãos de dedos longos, não paravam quietas.
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13 comentários:
Qual será o diagnóstico??
Novamente de saída para o hospital, conto cá estar amanhã para saber como se irá desenrolar este novo conto.
Abraço, amiga.
Estou a gostar e aproveito para desejar uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
O que teremos? Acompanhando e gostando! bjs, chica
Querida Elvira, em primeiro lugar, quero manifestar a minha alegria por saber que o teu marido está a recuperar bem e depois dizer-te que já conheço este conto, mas será bom recordá-lo, pois há certos pormenores que não me lembro. Um beijinho e os votos de que a saúde volte a essa casa por completo
Emilia
Gostei. Pode ser que não seja nada de grave!
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Nostálgica Viagem...
Beijos, e um excelente dia!
Boa tarde Elvira,
Estamos no início e já estou a gostar imenso.
Gosto da forma minuciosa como escreve
Um beijinho
Ailime
Uma bela e pormenorizada descrição da sala de espera, mas fiquei curiosa...qual será o diagnóstico?
Abraço Elvira
A passar para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Muito bem relatado ... será que vai ser afectado pela tuberculose ?
Minha mãe perdeu 3 irmãos com esse problema que na altura era muito difícil de controlar.
Beijinhos
Nos anos quarenta do século passado. Morria muito gente nos meios rurais por falta de assistência médica. Como morreu de parto a minha mãe. Nas aldeias não haviam médicos e, os que estavam nas cidades levavam uma eternidade para chegar às aldeias. Porque não haviam transportes como os que há agora.
Ainda há quem diga que nesse tempo é que era bom. Como é que podia ser bom se é que não havia nada de nada!
Tenha uma boa tarde amiga Elvira. Um abraço.
Bem... vamos ter de aguardar para saber um pouco mais. Estou de "livro na mão à espera que mude a página"
Beijinhos
As paradinhas em suspense faz parte do formato das suas histórias- eu gosto incita a voltar pra saber o que acontece na sua cabecinha inteligente rs
Tomra seja algo leve rs
grande abraço, Elvira
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