Tanto que a pobrezinha sofreu por amor do Chico. Quando
percebeu quão falsas tinham sido as suas promessas desinteressou-se da vida.
Era costureira. Deixou a costura. E olhe que tinha muita freguesia. E foi para
o Terreiro do Paço vender cartas. Penso que junto ao mar, tinha a ilusão de estar mais perto dele. E de tanto olhar o mar, os seus olhos foram perdendo a cor, e ficando assim. É como se o próprio mar se instalasse dentro dela, e lhe assomasse aos olhos. Ou como se eles quisessem manter viva a esperança, que o seu
coração já sepultara.
Escutava a voz de Rita, enquanto velávamos o cadáver da
infeliz Esperança. Desde aquele dia em que a vira doente, e aproveitando as minhas
férias, tinha ido todos os dias visitá-la, e fizera amizade com a Rita, a vizinha , que era talvez
a sua única amiga.
Mas só hoje, depois da sua morte, e ali na presença do seu
corpo, Rita me contara a história da pobre mulher.
Não pude evitar as lágrimas. E pensei que se há amores que
são a nossa razão de viver, outros pelo contrário tiram-nos a vida….
**************************************************
Depois de muito procurar o Chico conseguira finalmente saber
onde vivia agora a Esperança, e ansioso seguiu num táxi a caminho de sua casa.
Estava nervoso, e emocionado. Ia finalmente rever a “sua” Esperança, depois de
quase trinta anos. Dava-se conta que apesar do seu casamento, do abandono a que a
votara, ele sempre sentira a doce rapariga como algo seu. Durante todos os anos
em que remoeu o seu remorso, sempre o fez convicto de que ela estava à sua
espera. Se passava pela sua cabeça, que a jovem podia ter casado, ter
filhos, uma família enfim, logo afastava esse pensamento, como quem tira um obstáculo do seu caminho.
O carro acabara de parar junto a uma modesta habitação.
Pagou a corrida, e bateu à porta. Depois reparou que estava só encostada, e
como ninguém vinha abrir, empurrou-a e entrou. Quedou-se na ombreira,
paralisado pela surpresa, o rosto lívido.
13 comentários:
Pronto!
E eu agora vou dizer o quê?
A esperança anda pelas horas da morte, Elvira.
Belo relato!
Abraço
A passar para acompanhar a história e desejar um bom domingo!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Um retrato de época...adorei relembrar o ambiente no Terreiro do Paço...achei muito interessante, o facto da Esperança, vender cartas, era sem dúvida, na altura, um bem, quase precioso, porque era praticamente o único meio de comunicação à distância... histórias, como a do Chico e da Esperança, infelizmente,também não devem faltar exemplos reais ...o final...lamento muito que a Esperança tenha morrido.. talvez preferisse que passadas três décadas o Chico tivesse reencontrado uma Esperança, feliz,e com uma condição de vida superior à dele ... mas não tenho dúvidas que o final escolhido pela Autora é bem mais, realista!
Gostei muito, parabéns, querida Amiga e um enorme obrigado pelo tempo e carinho que nos dedica... Venha o Próximo, abraço e Feliz Domingo!
Já de volta das férias e lendo alguns capítulos por aqui...
Com dizem, "a esperança é a última que morre"... Vamos adiante, seguindo os acontecimentos seguintes...
Bom domingo! Obrigada pelos comentários na minha viagem, maravilhosa viagem...
Triste ficará arrependido,
de antes a não ter ido ver
o que será feito do Chico
quando a Esperança morrer?
Tenha um bom dia de domingo amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Bom domingo, Elvira!
Escreva, produza, mais.
Beijo
O Chico encontrou em Lisboa muitas mudanças, fruto duma evolução, só é pena que chegue após o falecimento da Esperança (confesso, a sua morte, deixou-me os olhos cheios d´água) e não veja a cor dos seus olhos (quando as pessoas morrem cerram-lhe as pálpebras).
Bom domingo.
Assim se perdeu a possibilidade de uma vida feliz a dois ! :((
Quem sabe, se apenas algumas semanas ou alguns meses o poderiam ter evitado ? ... ... mas chegou tarde, o Chico e certamente cheio de remorsos pelo seu passado relativamente à Esperança !
Foi um fim possível e natural, Elvira.
Nem tudo pode acabar bem ! :(
Esteve muito bem o conto pela sua realidade e ao fim e ao cabo, também naturalidade ! Quantos casos destes acontecem !?...
Abraço
Um grande amor de perdição, foi o que foi! Amar demais pode trazer muita infelicidade. Lamento a vida triste da Esperança, e só lhe posso dizer, Elvira: Ninguém deve amar mais alguém do que amar-se a si própria.
Veremos o que o Chico fará face ao cadáver da Esmeralda. Quem sabe ela esteja apenas desmaiada e possa voltar a si, quando sentir a presença amada? Nada nesta vida é impossível...
Um abraço, boa semana
Para a morte não existe sorriso
Talvez uma lágrima de dor
Beijos
Minicontista2
Ele prosseguiu com a sua vida,mas esperava que a moça ficasse eternamente à sua espera?
Bjn
Márcia
Adoto o silêncio. Prefiro aguardar os acontecimentos.
Abraços,
Furtado
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