Foto DAQUI
A pé ou a cavalo, eles lá entravam, davam umas voltas entre o pessoal, reuniam com a guarda fiscal e partiam. Não consta que tenham havido por lá informantes, mas o pessoal tremia sempre que os via, e ficava mais calado. O Inverno decorreu como tantos outros sem nada de especial a assinalar. Desde o final de 65 que a filha mais velha se mudara para casa de um tio, guarda-florestal em Monsanto. É que o ordenado que recebia no laboratório, era pequeno, a rapariga queria fazer o enxoval e as passagens ficavam caras. Além disso entrava no trabalho às 8 horas da manhã, e para isso tinha de sair de casa às cinco e meia da manhã, para apanhar o autocarro que a levaria ao barco que nessa época levava trinta e cinco minutos a chegar a Lisboa. Depois ainda tinha que apanhar transportes no Terreiro do Paço, até ao trabalho. Cansativo e dispendioso. Assim ficava em casa da tia, só pagava o bilhete do autocarro, tinha mais horas de descanso, e só vinha à Seca ver os pais, dois fins de semana por mês.
Nesse ano de 66, a outra filha emprega-se também em Lisboa, mas essa como tinha estudos foi para um escritório, outro horário e quase três vezes o ordenado da irmã.
A vida ia-se compondo, com muito trabalho do Manuel que continuava a cavar e a semear cada vez mais.
Porém as notícias que ouve trazem-no cada dia mais preocupado. Sabe que desde Março, com o nascimento da UNITA, já são três os Movimentos de Libertação de Angola, e que a guerra de guerrilha cresce todos os dias.
Pela Seca, no rio Coina, todos os dias fuzileiros em exercícios nos seus barcos de borracha e ele não esquece o namorado da filha na Guiné e pensa no seu próprio filho actualmente com 16 anos. E apesar de estar sempre a dizer à mulher, que não se preocupe, ele teme o que o futuro reserva para o seu rapaz.
20 comentários:
Obrigada pela sua visita no meu blog. Eu sempre a devolvo e gosto de ler um pouco mais do seu Manel da Lenha. É fácil de entender a sua escrita e non cansa ja que vai em pequenas doses. Parabéms por tudo o que escreve e polo bem que o fai. Saudos dende Galiza.
Finalmente estou em dia, amiga.
Faltava-me o episódio anterior, que acabei de ler - quase senti o sabor do cabrito... :) - e agora já posso ir acompanhando sem atrasos de maior.
Vim cá várias vezes, como lhe disse no email, embora sem deixar rasto...
Estou a gostar imenso desta história, que sei verdadeira ( o que, para mim, tem grande valor), que está muito bem contada, recheada de pormenores interessantes e verídicos. É bom que determinadas coisas fiquem escritas para mais tarde serem recordadas.
Provavelmente na segunda feira não poderei ir ao correio (tenho três exames médicos para fazer) mas vou na terça feira. Entretanto já fiz a transferência.
Obrigada por tudo, querida amiga.
Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
E bem tinha que temer, pois a guerra ceifa vidas sem qualquer razão aparente, a não ser as lutas pelo poder. E, já se sabe, nestas guerras, os mais modestos são sempre carne para canhão.
Um bom fim de semana, Elvira :)
Quem tinha terra semeava e colhia. Quem não tinha terra, para a dos outros fica olhando. O ordenado encolhia mais do que estendia, ainda hoje isso acontece. Naquele tempo era o que eles nos queriam dar, sem direito a reclamação. Pois, se o fizesse estava sujeito a ir para a prisão!
Boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Pares de uma história vivida na primeira pessoa.
Tempos difíceis e muito penosos.
A sua escrita e a sua angustia leva.nos a recordar tempos passados.
Passei antes aqui, vi, mas não pude ler. Voltei agora pra fazê-lo com a calma que merece e não me arrependi. Adoro tuas narrativas!parabéns, sempre nos prendes! bjs, chica
Essa parte da filha mais velha, por ter estudos, ter ido para um escritório e ganhar quase 3 vezes mais - diz muito. Essa foi a ideia que essa geração tinha. E provavelmente era verdadeira na altura. Estudos=melhor emprego+ melhor salário. Mas hoje nada é mais assim. Tê-los ou não tê-los é igual. E bons ordenados esses... são raros de encontrar. Antes existia exploração de mão de obra mas também alguma solidariedade e gestos bondosos entre patrões e empregados. Uma espécie de código de honra. Hoje é raro todas estas últimas, só a exploração, por incrível que pareça diante das leis que entretanto foram criadas para proteger os trabalhadores, é que mantém-se e em alguns casos, bem disfarçadas nas próprias leis.
A passar para acompanhar a história e desejar um bom fim de semana!
Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt
Muitos acontecimentos e Manuel firme prosseguindo com a família...
A vida não para...
Bom domingo, Elvira! Bj
Ao menos nessa altura quem tivesse mais estudos acabaria sempre por ganhar mais. Hoje o facto de ter estudos já não é garantia de um salário compatível com o investimento nos estudos.
xx
¡Hola Elvira!
No cabe duda que es una historia real lo que expresan tus letras, mas de eso ya habrá pasado mucho tiempo, son penurias que tocó vivir a muchos seres humanos. Yo misma para ganar una peseta tenía que caminar seis kilolitros y con un fardo de costura en la cabeza. No deseo para nadie que vuelvan esos tiempos duros, pero tal como se está poniendo el mundo... Haber que es lo que le depara el destino a las nuevas generaciones.
Ha sido un encanto pasar por tu casa virtual y leerte.
Te dejo mi cálido abrazo, mi gran estima y gratitud.
Ten una feliz semana que comienza mañana.
Gostava de adquirir a sua obra.
Posso?
Um abraco.
Oi Elvirinha!
Estou acabando a leitura de um livro bem grandinho, e acho que logo vou ler o seu. Gostei demais do capricho da capa e da edição bilíngue.
Quanto a essa postagem, uma coisa que sempre me chama a atenção em seus escrotos, são as informações históricas e de comportamento que você coloca aqui e alí, no meio da trama. Coisa de gente que sabe escrever.
Vou usar a sua tática de colocar um poema aos poucos no blogue, hahahahaha. Vamos ver se dá certo.
Um beijão e tenha uma linda semana.
Que dura era a vida daquela !.
Esperemos que non se repita.
Un saúdo dende Galiza.
Quantas e quantas pessoas viveram o drama dessa guerra.... :(
Qualquer guerra é sempre dramática e traumática.
Beijo*
Estou super atrasada no conto! Estes dias têm sido mesmo terríveis.
Vou me pondo a par:) Bom Fim de semana Elvira.
Beijinhos
elisaumarapariganormal.blogspot.pt
A vantagem do estudar mais é obter melhores salários. Continuo gostando.
Abraços,
Furtado.
Meu Seus! Como sofreram os portugueses.
Belo relato
Minicontista2
OI ELVIRA!
ESTOU MUITO ATRASADA NA LEITURA, SENDO ASSIM, VOU AGILIZAR, IREI LENDO O QUE PUDER HOJE E SÓ DEIXAREI COMENTÁRIO NA ÚLTIMA POSTAGEM QUE LER POIS TALVEZ NÃO POSSA COLOCAR TUDO EM DIA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
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