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25.4.16

25 DE ABRIL 42 ANOS DEPOIS...


Recém chegada do Parque da Cidade, onde assisti à inauguração deste painel de Azulejos, feito pelas crianças da pré e do 1º Ciclo e ao espectáculo do Jorge Palma, que marcaram o início das comemorações do aniversário do 25 de Abril.
Há 42 anos atrás, o 25 de Abril e a revolução dos cravos entrou na minha vida quando eu era uma jovem cheia de sonhos. Em África onde me encontrava a acompanhar o marido que era militar, eu sonhava com a Liberdade, com o fim da guerra, e sobretudo com uma vida melhor e mais igualitária para todos os portugueses. Nasci numa família muito pobre, numa barraca sem água e sem luz, não pude estudar, aos 11 anos fui trabalhar. Fazia recados, tocava o gado na nora da quinta do ti Pereira,  e carregava com a ti "Jaquina" a mulher do caseiro,  padiolas de estrume que chegavam em fragatas para adubar as terras. Mais tarde aos 14 anos fui trabalhar para a Seca do bacalhau. Como quase toda a gente que vive assim, o meu maior sonho na altura era viver numa casa de pedra, com água e luz. Quando casei concretizei enfim esse sonho, e vivi outros que nunca me atrevera a ter. Quando aconteceu o 25 de Abril pensei que a vida dos portugueses ia enfim tomar um novo rumo. Com a Liberdade, não íamos mais olhar o nosso vizinho com desconfiança cada vez que desabafávamos sobre as dificuldades da vida, já que até aí muitos iam presos um ou dois dias depois de certos desabafos. Pensei também que com o fim das guerras coloniais, a vida dos jovens portugueses ia melhorar muito. Iam deixar de ser obrigados a partir para a guerra, donde voltavam, os que voltavam, física e mentalmente estropiados.  Íamos enfim ter um País mais justo, mais igualitário. Íamos dar aos nossos pais uma velhice digna e aos nossos filhos um futuro melhor do que o nosso. Passaram 42 anos, e os nossos filhos são obrigados a procurar em terras estranhas, o futuro que o país lhes nega. Ou então amordaçam os sonhos e a esperança e limitam-se a sobreviver. Os mais velhos que trabalharam duramente toda a sua vida, vivem no permanente dilema de escolher entre comer, ou pagar a medicação quase sempre necessária à medida que os anos aumentam, e a saúde escasseia. Porque as reformas de miséria que grande parte dos idosos recebe não chega aos 300 € mensais. Somos um País cada vez mais idoso, e as esperanças do 25 de Abril nos darem uma vida mais digna já se esfumaram há muito. Resta-nos a Liberdade, sem dúvida a maior conquista de Abril. E a vida sem Liberdade não faz sentido é verdade. Mas ...E a Liberdade sem pão, faz?
 Perguntem aos idosos que trabalharam uma vida inteira e que morrem à mingua na solidão das suas casas, ou abandonados em lares, sem condições. Perguntem aos desempregados que não têm pão para os filhos famintos. A Liberdade é sim um bem muito importante, mas só por si não alimenta um povo. E já agora outra pergunta: Existe Liberdade sem independência? E nós somos independentes? Ou vivemos subjugados ao FMI? E à União Europeia? E à Alemanha? E aos mercados que nos vão apertando o garrote à volta do pescoço?
Temos é certo a liberdade de expressão. É muito bom. Só quem viveu o 24 de Abril sabe o seu real valor. Mas é muito pouco para quem tanto sonhou, e principalmente para aqueles que tanto lutaram, alguns sacrificando até a sua vida para que o 25 de Abril fosse uma realidade.

E o vermelho da festa 
vai ficando descorado
Ausentes do país
os jovens emigrados
Ausentes dos velhos
os sonhos adiados


 É o que eu penso. E se não estiverem de acordo relevem. Eu de 
politica nem percebo nada.


20 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito do seu relato, Elvira, testemunha viva da história. A questão da liberdade e da independência é, realmente, deveras controversa, pois há quem as compre já que tem os recursos para tanto. Como diria Rousseau, o homem nasce livre, mas vive a ferros.
Beijo, querida*

Pedro Coimbra disse...

não há comparação possível com o 24 de Abril de 74.
Com asneiras, com tropeções, com excessos, valeu a pena.
Boa semana

chica disse...

Gostei de ver como colocaste as tuas ideias. Bom feriado por aí! bjs, chica

Anónimo disse...

As suas ideias estão, aqui, bem expressas.
Não sinto, em 2016, no 25 de Abril de 1974.
O ideal de Abril. O que é isso? Estamos longe, muito longe, de vivermos esse ideal.
Um abraço

Bell disse...

Tu és uma guerreira!!!

bjokas =)

António Querido disse...

A única coisa que continua é a liberdade de expressão! De resto eu vejo o futuro dos jovens igual, como vi o meu Há 42 anos atrás, (ter que emigrar para ter uma vida melhor)! Vejo bastante melhor os cofres que os políticos conseguem arranjar em pouco tempo e as reformas que conseguem com 15 anos ao serviço deles, não dos seus concidadãos! Mas felizmente posso dizer bem alto que a maioria deles são uns corruptos, mentirosos e vigaristas! Tenho dito.

Que a LIBERDADE e a dita DEMOCRACIA, nos traga melhores dias!
Já agora o meu abraço, que ainda não paga imposto.

Gaja Maria disse...

Verdade Elvira, o 25 de Abril trouxe-nos muitas coisas boas mas algumas más também, no entanto ainda tenho esperança que esta é a última a morrer. Veremos

aluap disse...

Bom exercício de memória e bom retrato do nosso país, que apesar de muita coisa má evoluiu nestes 42 anos após a Revolução do Cravos.
Viva a Liberdade!

Edum@nes disse...

Estou de acordo e vivo contente, com a vida que tenho. Porque não sou daqueles que tudo querem sem trabalhar. comecei a trabalhar no campo deste muito novo. Não frequentei a escola diurna. Não gostei do regime do Salazar, mas tive que o gramar. Até ao dia 25 de Abril de 1974. Os ricos quanto mais tem à custa do suor dos outros mais querem. Os pobres que tem pouco, esses sim têm razão reclamar. E para terminar. VIVA PORTUGAL, VIVA BOA GENTE, VIVA O 25 DE ABRIL, LIBERDADE SEMPRE!
Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
LI AFOITAMENTE PORQUE AMO HISTÓRIA E A TUA ENTÃO, RICA EM VERDADES, LUTAS E REAL, AINDA ENVOLVENDO A TI, TUA FAMÍLIA E A HISTÓRIA SOFRIDA DE TEU PAÍS. SABE ELVIRA, MEU SOBRENOME POR PARTE DE PAI É SALAZAR E EU O PREZO MUITO POIS VEM DE UM HOMEM MARAVILHOSO, LUTADOR, E BOM PAI, EMBORA ELE SEMPRE TENHA DITO QUE A ORIGEM DE NOSSO NOME VEM DO ESPANHOL NÃO DO PORTUGUÊS, NUNCA ENTENDI PORQUE ELE TEIMAVA TANTO EM FALAR ISSO, DEPOIS, APRENDENDO A HISTÓRIA DE VCS, ENTENDI, ELE NÃO QUERIA TER NADA A VER COM ESTE DITADOR QUE TANTO FEZ SOFRER A ESTE POVO IRMÃO.
UM RELATO MAGNÍFICO, PRINCIPALMENTE DEVIDO A TEU GRANDE TALENTO AMIGA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Rosemildo Sales Furtado disse...

Belíssimo relato Elvira! Com ele tive oportunidade de conhecer um pouco mais de ti e dos teus. Viva a liberdade.

Abraços,

Furtado.

PS; Depois passo com mais tempo para ler o Manel da lenha.

Unknown disse...

Ah, Elvira que sua vida foi uma luta!
bjn amg

Isa Sá disse...

É bem verdade, a liberdade de expressão existe, mas há tanto por fazer...


Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

LopesCaBlog disse...

Tantos sonhos para esta realidade que podia dar mais :(

Anete disse...

Elvira, gostei de saber mais de você, de Portugal e do feriado de ontem!
O meu abraço carinhoso...

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Parabéns Elvira por este belo relato!
E pela guerreira que é.
Amei ler mais um pouco desta história.
Abraços,
Mariangela

maria disse...

Gostei de ler um pouco do seu historial de vida, Elvira. É por isso que muitos blogs fazem sentido, fazem sentido porque só assim conhecemos um pouco da vida de muitas pessoas que se encontram desse lado. Compreendo o seu desabafo, nem sei se não estarei a usar uma palavra demasiado leviana, talvez seja mais um grito de revolta que, evidentemente, tem todo o direito de deitar cá para fora, no entanto acho que cada qual avalia o 25 de Abril de forma muito pessoal, as pessoas tendem a avaliar a sua vida e eu acho muito bem, só que eu, e perdoe-me o atrevimento, penso que no geral o 25 de Abril trouxe a Portugal uma reviravolta muito positiva. Penso no que seria de todos nós se ainda vivêssemos debaixo de um ditadura Salazarista. Penso nas mulheres da sua geração que eram tratadas como se seres de segunda categoria se tratassem, nas pessoas que foram perseguidas e torturadas, penso no que seria isto de ninguém poder expressar livremente a sua opinião. Penso em muita coisa e gosto desta sensação de viver num país livre e poder respirar à vontade, nada é perfeito, com certeza que não, mas mesmo dentro de todas estas imperfeições Portugal está muito melhor agora, sem dúvida alguma.

Tenha uma boa noite, Elvira.

Odete Ferreira disse...

Gostei imenso de te ler. Estes relatos fazem parte da história.
Eu, felizmente, já faço parte da geração que, embora com dificuldades, já pude estudar; mas, quem vivia nas aldeias (exceto os que possuíam dinheiro para alugar uma casita ou quarto na vila) ou vivia com grande carência económica, não o pôde fazer.
Vivi intensamente o 25 de Abril. Acompanhei sempre a evolução dos acontecimentos... Poderia continuar a falar de tanta coisa mas vou abreviar: de facto, há problemas graves que já não deveriam existir, agravando-o até alguns (o meu filho de 35 anos, ainda não tem uma independência económica). Apesar de tudo, nada paga a Liberdade conquistada e muitos outros direitos conquistados.
Desalento-me, com frequência, mas, no fundo a "militância" que há em mim, não me deixa matar os sonhos...
BJO, amiga :)

Portuguesinha disse...

É tudo lamentavelmente verdade.
Havia esperança antes do 25 Abril. Sonhos num possível futuro.
Atualmente fica difícil ter esperança e "um possível futuro" não é sonhado com nada de extraordinário.

Sem dúvida, a liberdade é preciosa! Temos a de expressão... mas continuamos amarrados de tantas outras formas. A económica para não variar. A independência é MUITO necessária. Ela traz autonomia. E é outra forma de independência. Oiço muitas histórias sobre Salazar - como sabe não sou desse tempo e de vez em quando, apesar de saber que era um ditador e controlava com a censura qualquer forma de liberdade, só me interrogo se a sua postura de manter o país fechado em si mesmo - ou seja - não subjugado ou dependente de potências externas não terá um quê de sentido. Não debatendo os métodos, claro.

Quanto à mísera reforma... Elvira, eu acho que quando ficar mais velha do que já estou nem mísera ela vai ser. Será inexistente, isso sim. Regressar-se-à em muitos casos às vidas de trabalho até à morte. Com a enorme diferença de que é preciso encontrar o trabalho e que nos empreguem... Será que alguém vai empregar os idosos daqui a umas décadas? Pois seremos um país de muitos idosos!

Dorli Ramos disse...

Oi Elvira,
Ainda depois de tantos sofrimentos, procure não pensar muito no passado, ele machuca e dói o coração.
Beijos
Minicontista2